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Um dos problemas derivados da queda na confiança na imprensa é a crescente agressão a jornalistas – Foto: reprodução

As razões para mordermos a mão que nos alimenta

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Um dos sinais da falência de uma sociedade é quando as pessoas deixam de acreditar nas instituições democráticas. Quando não se confia em nada ou em ninguém, perde-se a capacidade essencial de se buscar o bem comum com o outro. Por isso, pesquisas recentes do prestigioso instituto Pew Research Center, que demonstram a baixa confiança da população na imprensa, me impactam, mas não me surpreendem. E isso é um sintoma que deveria preocupar todo mundo.

Segundo os levantamentos, apenas 38% dos americanos adultos se informam “o tempo todo ou quase o tempo todo”. Além disso, só 15% acreditam “muito” e 46% “um pouco” nos veículos jornalísticos nacionais. Em compensação, 14% buscam notícias no TikTok (32% entre os que têm de 18 a 29 anos), que ainda fica atrás do Instagram (16%), do YouTube (26%) e do Facebook (30%).

O mesmo instituto já havia indicado que o aumento de informações nas redes sociais é inversamente proporcional a sua qualidade, e que o público que as utiliza como principal fonte de informação é menos engajado, informado e capaz de demonstrar bom discernimento, se comparado a quem se informa pela imprensa.

Pelas minhas observações, arriscaria dizer que temos números semelhantes no Brasil.

Todos perdem muito com esse divórcio entre a imprensa e seu público, e cada um tem seu papel e razões. Mas isso precisa ser revertido! As bolhas de pensamento único, que nos maltratam diariamente, impedem que vivamos em uma sociedade com cidadãos mais conscientes e capazes de se desenvolver.


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Há mau jornalismo hoje, como sempre houve, porém, há mais bom jornalismo que mau na mídia profissional. Entretanto parte da população aprendeu a ver só o que a desagrada, generalizando como se toda a imprensa fosse pouco confiável.

Vale notar que, até o início do século, não se questionava a importância do jornalismo para o desenvolvimento pessoal. Uma boa informação era um diferencial que resultava em melhores empregos e outras oportunidades na vida. Ler jornais era sinônimo de pertencer à elite intelectual, mesmo que não fosse da elite econômica. E ser jornalista era uma das profissões mais desejadas pelos jovens.

A grande diferença é que, com a ascensão das redes sociais, os veículos de comunicação deixaram de ser os únicos capazes de trazer notícias. Todos nós nos tornamos mídia e somos capazes de produzir enormes quantidades de informação (o que é muito diferente de notícia). Diante disso, muitos grupos de poder descobriram uma nova maneira de dominar as massas, mas, para isso, precisavam usar o meio digital para desacreditar a imprensa, que teima em lhes fiscalizar.

O combate à mídia pelos poderosos não é algo novo: apenas ganhou escala com o meio digital. Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, foi essencial para seu poder, ao criar uma máquina de silenciar a imprensa e vozes dissonantes. Décadas depois, o venezuelano Hugo Chávez contribuiu com o processo, criando a ideia de que, se a mídia fosse contra ele, seria “contra o povo”. E demonstrando que o combate à imprensa não segue ideologia, Donald Trump se notabilizou por ignorar solenemente a verdade e usar o meio digital para impor seus interesses como fatos.

O Brasil também deu suas contribuições. Lula, desde seu primeiro mandato, desqualifica a imprensa e tenta lhe impor seu “controle social”. Jair Bolsonaro, por sua vez, instituiu ataques explícitos a jornais e jornalistas, especialmente mulheres, incendiando a população contra a mídia.

Como resultado, as pessoas só querem ver conteúdos que afaguem seu ego e concordem com seus pensamentos. E essa é uma perigosa zona de conforto.

 

Desagradando seu público

Mas o jornalismo não é feito para agradar. Na verdade, se estiver desagradando alguém, deve estar fazendo um bom trabalho.

Todo governo gostaria de ter uma imprensa dócil. Mas, se fizer isso, não é jornalismo: é relações públicas. Ela deve informar e formar o cidadão e protegê-lo dos interesses de grupos políticos, econômicos ou ideológicos, fiscalizando o poder.

Como disse certa vez o grande cartunista e jornalista Millôr Fernandes, “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados.”

Às vezes, o jornalismo deve desagradar até seu próprio público, para forçá-lo a sair daquela zona de conforto perversa. Mas quando tudo vira “pão e circo”, isso coloca os veículos em uma situação delicada: como fazer isso se as pessoas –cada vez mais intransigentes– já estão “com um pé para fora” do jornalismo?

Os veículos têm sua culpa, ao se desconectar dos anseios e da linguagem do público. A distribuição e até seu modelo de negócios também estão ultrapassados. Diante disso, não é de se estranhar que tão pouca gente confie no jornalismo e menos ainda esteja disposto a pagar por ele. Os veículos de comunicação e seu público não conseguem mais ler os sinais uns dos outros.

Permitam-me aqui uma analogia abusada: um animal de estimação amoroso pode morder quem o alimenta como forma extrema de comunicar seu descontentamento. Um dos principais motivos é o animal não entender os sinais do tutor. Nesse caso, fica difícil saber quem é o cachorro e quem é o tutor, pois público e imprensa dependem um do outro, e nenhum está conseguindo entender os sinais alheios.

Mas em tempos tão sombrios e confusos, ambos precisam reaprender isso. Como qualquer atividade humana, o jornalismo é imperfeito, e essa atual situação faz com que sua margem de erro esteja reduzidíssima. Ele precisa ouvir novamente as demandas e falar a linguagem do público.

As pessoas, por sua vez, precisam colaborar, reconhecendo que, sem jornalismo profissional, perderiam elementos essenciais no seu cotidiano. Não saberiam, por exemplo, dos escândalos do governo atual, do anterior e de qualquer outro, ou as diferentes perspectivas sobre a guerra na Ucrânia e o conflito entre Israel e o Hamas. Não teriam se vacinado contra a Covid-19 (e muitíssimo mais gente teria morrido), e não conheceriam as potencialidades da inteligência artificial ou os riscos das redes sociais. Não saberiam dos bastidores dos filmes importantes, e nem compreenderiam a crise da Seleção Brasileira. Tudo isso se fala nas redes sociais, mas é o jornalismo que descobre, noticia e explica.

Não há atalho: a imprensa precisa se reconectar com o seu público e vice-versa. É preciso reconquistar a confiança perdida! Isso não se faz com “caça-cliques”, mas com seriedade e transparência.

O jornalismo não pode se render à lógica perversa das redes sociais, que disseminam ódio, intransigência e o pensamento único. A confiança é uma via de mão dupla e benéfica para toda sociedade. Mas ela só existe quando todos estiverem dispostos a falar e ouvir civilizadamente, sem morder a mão um do outro.

 

Apoiadores de Trump no Congresso americano para tentar impedir que Joe Biden fosse declarado presidente, por não confiarem nas eleições

Como superar a era da desconfiança

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A desconfiança se tornou o sentimento padrão de nossa sociedade. Se o bom senso e até a legislação definem que todos são inocentes até que se prove o contrário, a maioria das pessoas hoje rejeita algo novo até que se demonstre confiável. Como resultado, elas estão perdendo a sua capacidade de debater e de colaborar em torno de temas que discordem. E elas discordam de muitas coisas em um mundo que se tornou absurdamente polarizado.

Essas são algumas das principais conclusões do recém-lançado relatório anual Trust Barometer, da consultoria americana Edelman. A pesquisa global, que está na sua 22ª edição, provoca algumas importantes reflexões sobre como chegamos a um ponto de ruptura da democracia e possíveis caminhos para melhorarmos.


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A Edelman entrevistou mais de 36 mil pessoas de 26 países, inclusive do Brasil. Desse total, 59% afirmam desconfiar até ver evidências de que algo é confiável e 64% disseram não conseguir debater construtivamente sobre questões sobre as quais discordam. Entre as diferentes categorias profissionais pesquisadas, os cientistas são aqueles em quem as pessoas mais confiam, enquanto os políticos são os menos confiáveis, números claramente em linha com as ações de cada um durante a pandemia.

A pesquisa identificou quatro forças desestabilizando a sociedade e impedindo o progresso: o constante embate entra mídia e governo, a confiança excessiva nas empresas, a polarização do povo e as falhas de liderança.

“As pessoas ainda querem que o governo enfrente os grandes desafios, mas apenas quatro em cada dez dizem que ele pode executar e obter resultados”, explica Richard Edelman, CEO da consultoria. Além disso, as preocupações com notícias falsas bateram um recorde histórico na média global, alcançando 76% dos entrevistados. No Brasil, isso chega a 81%, dois pontos a mais que no ano anterior.

No relatório, “mídia” se refere não apenas a veículos de comunicação tradicionais, mas também a buscadores, publicações próprias de diferentes instituições e redes sociais. Esses dois últimos puxam a média do grupo para baixo e são vistos como pouco confiáveis, enquanto os outros são neutros.

Quase metade dos entrevistados vê o governo e a mídia como divisores na sociedade: 48% e 46% respectivamente. Além disso, líderes governamentais têm a confiança de apenas 42% da população, enquanto jornalistas ficam com 46%. No Brasil, 47% confiam na mídia e apenas 34% no governo, esse último com uma expressiva queda de 5 pontos em um ano. Por outro lado, empresas e ONGs são vistas como entidades unificadoras.

“Temos um governo que está semeando a divisão, porque leva a votos. A mídia infelizmente segue com informações que se adequam às polaridades, e está causando instabilidade social entre divisão e desinformação”, explica Edelman. “O que temos que fazer é encontrar uma maneira de quebrar esse ciclo com informações de qualidade.”

A pesquisa indica que há um colapso de confiança nas grandes democracias. Entre os brasileiros, ela se manteve em 51% de 2020 para 2021, ano de coleta dos dados dessa edição. O país em que a população é mais confiante é a China, que crava 83%. Já os Estados Unidos, autoproclamado a maior democracia do mundo, amargam uma queda de 10 pontos desde 2017, e, nesse último ano, a confiança caiu de 48% para apenas 43% por lá.

Vale destacar que, em nenhum país desenvolvido, a população acha que estará melhor em cinco anos! Os medos sociais estão se tornando mais fortes, com 85% preocupados em perder o emprego e 75% tensos com as mudanças climáticas.

 

O papel das empresas

Dos quatro grandes grupos estudados, governo, mídia, ONGs e empresas, essas últimas são as em que a população mais confia, com um índice de 61%. As empresas superam o governo em elásticos 53 pontos no quesito competência e em 26 pontos na ética. Por isso, as pessoas querem que as companhias assumam um papel maior em questões como mudanças climáticas, desigualdade econômica, qualificação da força de trabalho e injustiça racial. E ainda esperam que se posicionem publicamente sobre esses temas.

“O fracasso do governo criou uma dependência excessiva das empresas para preencher o vazio, um trabalho que a iniciativa privada não foi projetada para entregar”, diz Edelman. Assim, ações e posicionamentos nessas áreas impactam até na escolha de profissionais sobre onde querem trabalhar.

As pessoas acham que as companhias fazem pouco nessas áreas. Os negócios devem reconhecer que seu papel social veio para ficar e as lideranças devem assumir esse discurso. Por isso, ganham pontos personalidades como Luiza Trajano, por exemplo com suas iniciativas de apoiar a vacinação contra Covid-19 e combater desigualdades raciais no Magazine Luiza. Do outro lado, perdem líderes como Mark Zuckerberg, com suas respostas frequentemente evasivas, mesmo diante de graves acusações contra o Facebook, como as feitas em 2021 por Frances Haugen, ex-gerente da empresa.

Não chega a ser, portanto, uma surpresa que, dos 16 setores da economia avaliados, a mídia social é a única que apresentou queda (de 2%) e a única que está na faixa de desconfiança, com apenas 44% da população lhe dando crédito.

 

Como sair desse atoleiro

Para revertermos esse quadro, precisamos de união, seriedade e de informações bem apuradas. “O governo deve finalmente se comprometer contra a pandemia e a mídia precisa voltar a um modelo de negócios que substitua a indignação pela sobriedade, o caça-clique pela autoridade”, afirma Edelman. “Achamos que a qualidade da informação é o construtor de confiança mais poderoso entre as instituições.”

Segundo o Trust Barometer, mesmo pessoas com baixa renda confiam mais nas instituições (um ganho de 10%) se forem bem informadas. Por outro lado, uma pessoa com alta renda porém mal informada perde sete pontos na confiança. Segundo o executivo, “se você lê três ou quatro fontes de notícias por dia e também verifica a informação com outras fontes, você está, em suma, diminuindo a divisão social, está ajudando a reparar a sociedade.”

Está claro que a distribuição de informações confiáveis deixou de ser trabalho só da mídia. Todos nós temos hoje o poder de combater as fake news, algo crucial para a democracia.

De toda forma, como sempre digo, a imprensa precisa resgatar o vínculo com seu público, em seu papel fundamental de fiscalizar o poder, mas prestando atenção nas demandas e mudanças da sociedade.

Entendo que às vezes fique difícil para a imprensa manter o equilíbrio quando se vive sob ataques constantes, cada vez mais violentos. Mas, ao partir para o conflito aberto, seu agressor vence, pois esse embate mina a confiança do seu público. E não há jornalismo sem confiança do público.

A manutenção de uma sociedade que ofereça boas condições de vida a todos está sob seríssimo risco, e a imprensa tem um papel central em resgatar a confiança da população em quem a merece. Sem isso, continuaremos nessa espiral de destruição, que só deve piorar nesse ano eleitoral.

 

Para a sociedade dar certo, precisamos acreditar em algo

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A vida tem um jeito especial de eventualmente nos jogar em um turbilhão de fatos e tarefas que nos tiram a perspectiva de qual é nosso lugar no mundo. Passamos a viver um dia após o outro sem refletir sobre o que poderíamos fazer para melhorar. Quando isso acontece, para reconstruirmos nosso caminho, às vezes temos que primeiramente chegar ao fundo do poço.

É o caso da falta de confiança generalizada em nossa sociedade. Ela deriva de uma crise política e econômica que já dura sete anos, e que só vem piorando. A pandemia, que nos apresentou desafios nunca antes enfrentados, nos tirou ainda mais do nosso eixo. É o que demonstram os recentes estudos globais Digital News Report, do Instituto Reuters e da Universidade de Oxford, e o Trust Barometer, da consultoria Edelman.

O fato é que, se não confiamos em mais nada, ou quando apenas as nossas convicções pessoais guiam nossos atos, a sociedade se dissolve. Passamos a viver dentro de um eterno “diálogo de surdos”, em que ninguém mais constrói nada com o outro, indo cada vez mais para o fundo.

Temos que romper esse círculo vicioso!


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A desconfiança é um sentimento natural diante do desconhecido ou de alguém que dá mostras de praticar atos questionáveis. É um sentimento de autopreservação legítimo contra quem potencialmente pode nos fazer algum mal. Mas ela não pode crescer sem limites. Caso contrário, chegamos no ponto em que estamos, com uma polarização irracional, o que afeta nosso próprio desenvolvimento ao excluirmos possibilidades sociais.

Por exemplo, será que só podemos comprar de quem pensa igual a nós? Se a pessoa tiver outras ideias, será que tudo que ela faz é necessariamente ruim? Por outro lado, será que tudo feito por quem pensa como nós é bom? Contratar pessoas que são diferentes de nós seria uma ameaça ao nosso estilo de vida?

Claro que nenhuma dessas ideias extremistas é verdadeira! Mas pensamentos como esses estão guiando a nossa vida.

As pessoas acreditam no que elas quiserem, no que lhes for mais conveniente. Sempre foi assim! Mas algo mudou em nossos cérebros há alguns anos, com o apoio das redes sociais.

Para nos vender todo tipo de coisa, seus algoritmos nos mantêm enjaulados em uma zona de conforto de pensamento único. Qualquer ideia que tivermos parece ser corroborada pelo mundo, quando, na verdade, é apenas um recorte da sociedade filtrado pelo sistema, escondendo de nós pensamentos divergentes. Trata-se do que o ativista digital americano Eli Pariser chamou, há uma década, de “filtro bolha”.

Tanto é assim que, em 2016, o renomado Dicionário Oxford elegeu “pós-verdade” como a “palavra do ano”. Na sua definição, ela é “relativa ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais.”

Eu me pergunto se os organizadores da obra imaginavam quão proféticos estavam sendo ao escolher essa palavra.

 

O papel do jornalismo

Os veículos de informação têm um papel decisivo nesse resgate da verdade e da confiança. E, se alguém tinha alguma dúvida, isso ficou claro durante a pandemia: quando a situação ficou realmente crítica, a população correu para eles em busca de notícias confiáveis. Ou seja, apesar de toda a campanha de difamação que sofrem, eles conseguem manter uma boa reputação, especialmente quando as fontes “alternativas” de conteúdo carregam demais na pós-verdade.

O Digital News Report demostrou que a confiança aumentou em plena pandemia. Com informações de 46 países, que representam metade da população global, o relatório indica que a confiança no jornalismo cresceu seis pontos percentuais em 2021, chegando a 44%, mesmo índice de 2018. Além disso, aumenta a distância entre a confiança em veículos jornalísticos e em conteúdos nas redes sociais, que estacionaram em 24%.

O Brasil ficou em sétimo lugar entre esses países na confiança da população na imprensa, com 54%, empatado com Bélgica e Nigéria. O país em que a população mais acredita no jornalismo é a Finlândia, com 65%. Já nos Estados Unidos, que têm uma das melhores imprensas do mundo, apenas 29% da população acredita nos veículos de comunicação.

Isso é explicado pelos dados do Trust Barometer, que indica que eleitores de políticos conservadores e que abusam da pós-verdade confiam pouco na imprensa. A péssima colocação dos EUA deriva, portanto, da cruzada do ex-presidente Donald Trump contra o jornalismo.

Pela metodologia desse relatório, a confiança global na imprensa chegou a 51%, 2% a mais que em 2020. No Brasil, a confiança é de 48%, 4% a mais que no ano anterior.

 

Linguagem e formato

O levantamento do Instituto Reuters e da Universidade de Oxford traz duas coisas importantes. A primeira é que alguns grupos sociais não se sentem bem representados pelos veículos jornalísticos, como negros, mulheres e eleitores conservadores. A outra é que apenas 18% dos jovens se informam assim, enquanto 60% fazem isso nas redes sociais, sendo cada vez mais atraídos por redes visuais, como Instagram e TikTok.

Muitos veículos tradicionais ensaiam distribuir seus conteúdos nessas plataformas, até mesmo no TikTok. Mas como passar a informação necessária e não perder sua credibilidade nesses formatos? O tradicional Washington Post, com 143 anos, contratou Dave Jorgenson como editor dedicado ao TikTok. Ele consegue um bom engajamento, mas não dá notícias na plataforma.

Os veículos precisam encontrar o caminho para se reconectar com o público. Eles não podem esquecer seus valores, que os tornaram respeitados, mas talvez tenham que abandonar boa parte do seu formato e da sua linguagem.

O jornalismo só é viável se estiver representando o público! Caso contrário, a pós-verdade de políticos mequetrefes manipulará ainda mais as massas, destruindo a confiança das pessoas em todas as instituições, o que, a médio prazo, colocará em risco a própria existência da democracia.

O historiador israelense Yuval Noah Harari afirma que o ser humano só alcançou a dominância do planeta por ser o único ser vivo com a capacidade de acreditar em desconhecidos para construir algo com eles. A isso, damos o nome de “sociedade”. Não podemos perder esse recurso essencial de construir algo em grupo.

Será que chegamos ao fundo do poço da confiança para começar a reconstruí-la? Eu espero que sim, ou o que será do Brasil e do mundo daqui a 20 anos? Os que hoje são jovens precisam aprender o valor do bom jornalismo, tornando-se melhores cidadãos. Já os veículos de informação precisam reassumir seu protagonismo. Para isso, devem lembrar para quem trabalham, que é o público, e não seus acionistas, nem os anunciantes e muito menos os grupos de poder.

Como disse certa vez o jornalista e artista Millôr Fernandes, “jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados.”

Quanto a nós, todos nós, temos que reaprender a confiar no outro, mesmo em quem pensa diferentemente de nós. Só assim tiraremos nossa sociedade desse atoleiro em que está metida.

 

A hora das empresas mostrarem seu valor

By | Educação | No Comments

Estamos completando um ano de pandemia de Covid-19, que jogou empresas, profissionais e clientes em um turbilhão que pôs em xeque fórmulas consagradas de relacionamento entre esses grupos. Isso deixou um vazio que agora todos tentam preencher com um marketing reformulado para esses novos tempos.

Surge então uma pergunta com ares quase freudianos: o que, afinal, as pessoas querem?

Essa não é uma pergunta retórica. Alguém ainda duvida que o mundo é muito diferente do que há apenas 12 meses? Mesmo para aqueles que já voltaram a suas atividades normais (ou talvez nunca as tenham abandonado), as transformações foram grandes. As pessoas agora se preocupam consideravelmente com novos valores e esperam que as companhias estejam juntas a elas nisso.

Empresas e profissionais precisam identificar e abraçar tais mudanças, para seu posicionamento. Mas a grande transformação é que essas informações não devem ser usadas em modelos tradicionais de marketing e muito menos com as irritantes e acefálicas “formulinhas de lançamento” que inundam as redes sociais. Isso precisa nutrir transformações reais no negócio para que ele genuinamente se aproxime dos valores do consumidor.


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Não é pouca coisa! A edição mais recente do “Trust Barometer”, aponta que as pessoas esperam que as empresas se engajem e solucionem temas sociais, que, a princípio, não seriam de sua responsabilidade. Essa pesquisa, feita pela consultoria americana de marketing Edelman há 20 anos, mede o índice de confiança do público em empresas, governo, mídia e ONGs.

Nessa edição, foram ouvidas 33 mil pessoas de 28 países, inclusive o Brasil, de 19 de outubro a 18 de novembro de 2020. Ela aponta que, dessas instituições, as empresas são as únicas em que o público deposita mais confiança no momento. E, no Brasil, esse traço é ainda mais forte.

O relatório indica que 86% dos entrevistados no mundo esperam que marcas solucionem problemas sociais. No Brasil, esse índice bate incríveis 97%! Isso acontece porque a população quer que as empresas atuem onde o governo falha, e a percepção que o governo vem falhando aumentou muito em 2020 no Brasil, especialmente em questões sociais.

Isso se explica, pelo menos em parte, porque as pessoas passaram a viver e fazer mais coisas em casa: ela ganhou muita importância frente ao mundo externo. Por isso, necessidades pessoais e da família se sobrepõem agora a status e imagem externa.

Globalmente, as maiores preocupações são o sistema de saúde (mencionado por 62% dos entrevistados), a pobreza (53%), a educação (53%), as mudanças climáticas (51%) e as fake news (50%).  No Brasil, a pobreza aparece em primeiro lugar (indicada por 58% dos respondentes), seguida por questões trabalhistas (52%), mudanças climáticas (51%) e racismo estrutural (51%).

 

Confiança se transforma em vendas

Como já dito, segundo o “Trust Barometer”, praticamente todos os brasileiros esperam que companhias solucionem problemas sociais. No vácuo deixado pela inoperância governamental, 72% almejam que as empresas tomem medidas para ajudar comunidades em tempos de crise.

Uma pergunta que muitos gestores podem se fazer nesse momento é: “o que eu ganho fazendo isso?” E, de uma maneira bastante simples, a resposta é: mais clientes e mais vendas.

As pessoas estão crescentemente atentas ao que as empresas pregam e também ao que elas fazem. É necessário que o discurso seja corroborado por ações. No Brasil, ainda há um grande espaço a ser ocupado nisso, o que representa uma incrível oportunidade para empresas que estejam dispostas a sair de sua zona de conforto.

A pesquisa mundial indica que os consumidores com alta confiança na marca são mais fiéis (75%) e mais engajados, o que implica em compartilhar seus dados (60%) e até defender e recomendar a marca (78%). Mas apenas 37% dos brasileiros acham que as marcas que usam estão fazendo um excelente trabalho em ajudar o país e o povo a enfrentar os desafios atuais.

Para obter essa confiança, palavras não bastam. Na verdade, se elas não forem verdadeiras, isso pode trazer enorme prejuízo à marca, pois a decepção pode significar a fuga dos clientes.

No Brasil, 72% dos entrevistados afirmam ser mais efetivo a empresa tomar medidas para ajudar trabalhadores e comunidades locais em tempos de crise, contra 28% que acreditam que isso acontece quando ela assume o compromisso publicamente. E, para demonstrar como as companhias por aqui ainda têm um longo caminho para fazer isso direito, 62% dos brasileiros afirmam que as marcas usam questões sociais e políticas importantes apenas como manobra para vender mais produtos.

Isso é um tiro no pé! Tanto que 64% dos entrevistados no Brasil afirmam que as marcas devem pensar primeiro na segurança do público, tendo cuidado ao encorajar as pessoas a voltar a lojas, restaurantes e outros locais públicos.

 

A vez das empresas

Todos nós queremos retomar a economia. O fim do auxílio emergencial em dezembro e a incapacidade do governo de encontrar uma maneira de reeditá-lo abre uma crise humanitária que jogará milhões de brasileiros para baixo da linha da pobreza. A crise das vacinas, também decorrente da crônica inoperância de Brasília no tema, piora ainda mais a situação.

Com isso, o país “trava nas quatro rodas”. A volta a uma “vida normal” é desejo de todos. Mas a discussão do “novo normal”, que, a essa altura, já parece velha, passa necessariamente por resolver esses e outros problemas sociais com a máxima urgência. A economia simplesmente não reagirá sem isso.

Diante de um poder público claudicante, a população espera que as empresas ocupem esse espaço. Felizmente temos visto alguns bons exemplos, que podem inspirar outros.

No início da pandemia, quando tudo estava ainda mais desestruturado que hoje, empresas produziram itens urgentemente necessários. A Ambev, por exemplo, produziu álcool em gel para ser doado a hospitais. Outras empresas produziram máscaras de pano e face shields para profissionais da saúde e a população em geral.

O Magazine Luiza vem se destacando em ações concretas que demonstram o alinhamento de seus valores aos da maioria da população. Há duas semanas, a empresa liderou a ação “Unidos Pela Vacina”, que visa incentivar a imunização, ajudar (e pressionar) o governo e até trabalhar na logística de distribuição das doses. Algumas ações chegam a criar polêmica, como o programa de trainees apenas para negros, uma ação afirmativa lançada em setembro passado e criticada por muita gente. Nem por isso, a empresa voltou atrás com o que precisa ser feito.

Essas ações estão diretamente ligadas à liderança de Luiza Trajano, presidente do conselho do Magalu. E isso é algo que também precisa ser mencionado. Essas decisões devem ser abraçadas por todos na organização e dependem do apoio dos gestores. Caso contrário, podem se reduzir a meras ações midiáticas vazias, exatamente o que as pessoas condenam.

É importante que fique claro que não são apenas ações grandiosas que funcionam aqui. Ações simples e bem intencionadas, mesmo de empresas pequenas ou profissionais autônomos, podem produzir resultados expressivos dentro de sua esfera de influência, e são igualmente bem-vindas.

Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, disse que o “lucro não é a explicação, causa ou razão de comportamento de negócios e decisões de negócios, mas o teste de sua validade.” Apesar de essa frase ter mais ou menos meio século, ela serve perfeitamente para esse momento. Afinal, a empresa que trabalha apenas para ter lucro eventualmente chega lá. Por outro lado, as companhias que entendem que são entidades ativas dentro de uma sociedade e percebem que trabalham para a melhoria dela tendem a ter um lucro maior e a colher benefícios que as primeiras nem imaginam existir.

Portanto, se você é um gestor de uma empresa ou de sua própria carreira solo, preste atenção no que você está fazendo para a sociedade, de uma maneira genuína. Por outro lado, se você é um cliente, não tenha dúvida em exercitar seus direitos ao escolher produtos e serviços daqueles que efetivamente estão trabalhando para melhorar toda a sociedade.

Essa não é uma visão dourada ou irreal do mundo. É o caminho mais moderno para ser bem sucedido nos negócios.

Público exige cada vez mais a verdade na comunicação das empresas

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Você fala com o seu público? Eu me refiro a uma conversa franca, tratando dos interesses dessas pessoas, e não dos da empresa. Um diálogo em que o porta-voz da empresa fala, mas também escuta e responde ao que lhe for dito.

A combinação de smartphones e redes sociais transformou o relacionamento entre consumidores e empresas. As pessoas não querem mais “falar com a marca”, e sim com pessoas que as representam, de preferência pessoas com rosto e nome. Companhias que escolhem bem seus representantes, seguindo esses novos anseios, recebem em troca consumidores fiéis e até fãs entre clientes e funcionários!

Algumas perguntas legítimas surgem na hora que os gestores decidem fazer isso. A primeira é quem é a pessoa mais adequada para ser o porta-voz do negócio. Segundo a pesquisa Trust Barometer, da consultoria Edelman, o CEO não é o melhor. No Brasil, o preferido, segundo o relatório, é “alguém como você”, o que reforça o desejo do brasileiro de se relacionar com a empresa de uma maneira bastante pessoal.

Outras perguntas são o que dizer e como se comportar com o público. Respondo todas elas no meu vídeo abaixo.

E a sua empresa, como fala com seu público? Conte para todos aqui nos comentários!



Ficou interessando no estudo Trust Barometer, da Edelman? Você pode saber mais sobre ele e baixar alguns relatórios gratuitamente em https://www.edelman.com/trust-barometer

Assista ao inspirador discurso de Steve Jobs para os formandos de Stanford em 2005: https://www.youtube.com/watch?v=DgfodqUcNhI

Quer ouvir as minhas pílulas de cultura digital no formato de podcast? Basta procurar por “O Macaco Elétrico” no Spotify, no Deezer ou no Soundcloud. Se preferir, pode usar seu aplicativo preferido: é só incluir o endereço http://feeds.soundcloud.com/users/soundcloud:users:640617936/sounds.rss

Videodebate: esse é o fim da verdade?

By | Jornalismo | No Comments

Você já teve a sensação de não saber mais se o que acabou de ver nas redes sociais é verdadeiro ou falso?
Vivemos um momento em que todos querem ter opinião sobre tudo, não importa quão descolada da realidade ela seja. E “ai” de quem discordar dela! Desse jeito, fica difícil…
Há três anos, o filósofo italiano Umberto Eco chegou a dizer que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Será que ele estava certo?
O problema é que não conseguimos viver em um ambiente no qual não podemos confiar em nada ou ninguém. Como resolver isso então? Veja minhas sugestões abaixo, no meu vídeo mais recente  E depois compartilhe suas impressões aqui nos comentários.



 

Quem merece a sua confiança hoje?

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O Gato da animação “Alice no País das Maravilhas” (1951): “se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve” - Foto: reprodução

O Gato da animação “Alice no País das Maravilhas” (1951): “se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”

Pela nossa natureza humana, nós precisamos viver com outras pessoas.  Somos seres gregários. Compartilhamos o que temos e o que sabemos com o outro, e, dessa forma, a sociedade e cada um de seus membros se desenvolvem. Mas isso só é possível quando existe confiança entre as partes.  Assim eu lhe pergunto: em quem você confia atualmente? Quais são seus modelos?

Essas não são perguntas retóricas, e não trazem nenhuma carga religiosa ou política. Entretanto são essenciais! Observo, com grande apreensão, um forte movimento de descrença global, e isso ganha contornos mais agudos no Brasil, devido à crise profunda que persiste há tantos anos. O problema é que, quando deixamos de acreditar, perdemos grande parte da nossa iniciativa, da capacidade de inovar, de sermos empáticos, de construirmos algo com quem estiver a nossa volta.

Esses questionamentos apareceram para mim com bastante força na semana passada, durante as primeiras aulas do meu mestrado na PUC-SP. Discutimos o impacto social e as causas das “fake news”, as infames notícias falsas que inundam as redes sociais, o conceito de “pós-verdade” e até mesmo o que define a verdade. Pois, em um mundo em que as versões valem mais que os fatos, em que nossa própria capacidade de escolha fica prejudicada, como é possível escolher qual caminho devemos seguir?

E como dizia o Gato de Cheshire, em “Alice no País das Maravilhas”, “se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”

 

Alguém sempre vai ocupar o espaço

Grande parte dessa nossa atual descrença se deve à falência moral de muitas instituições essenciais da comunidade. Nem vou falar da classe política, pois chutar cachorro morto não vale. Mas as pessoas também têm acreditado pouco na imprensa, justamente quem guarda o papel de fiscalizar diferentes grupos da sociedade, além de informar o cidadão. E, pelo ralo da confiança perdida, também descem religiões, empresas, escolas, entre outros pilares da civilização.

O curioso na nossa falta de confiança é que, por mais que ela cresça, paradoxalmente mantemos a necessidade de acreditar em alguém. Entretanto, se os atores acima não se prestam mais a isso, em quem acreditaremos?

Aí é que mora o perigo.

Nesse vácuo criado pela ausência daquele pessoal, surgem os aventureiros, os demagogos, a turma de fala vazia, porém encantadora. Nós compramos esses “cantos da sereia” e as redes sociais, a despeito de todos seus pontos positivos, têm um papel essencial em espalhar esse tipo de mensagem.

Por exemplo, tenho realizado palestras em eventos da área de saúde, e conversado com profissionais de diferentes especialidades desse segmento. De maneira geral, a maioria já percebeu a importância de se comunicar com o seu público, mas não sabe como fazer isso. Pior: muitos deliberadamente não querem fazer isso!

Esses mesmos profissionais estão em pé de guerra com blogueiras e youtubers “fitness”, que dão “dicas de saúde” ou que ensinam “dietas” ou “novas formas de alimentação”. O problema é que a maioria delas não tem qualquer formação para orientar ninguém nesse aspecto. Pior: quase tudo do que falam não tem nenhum embasamento científico, sua eficácia é questionável e -o mais grave- pode colocar a saúde das pessoas em risco. Mas elas falam com grande segurança e têm milhares (às vezes milhões) de seguidores, que espalham e repercutem o que disserem.

Resultado: aquelas versões ou ideias acabam se tornando “verdade’, por mais que sejam, em alguns casos, a mais rotunda porcaria!

A culpa principal do desserviço à saúde público é dessas meninas? Claro que não! A culpa vem daqueles que detêm a informação correta, mas se recusam a compartilhá-la! Entretanto as pessoas querem ter acesso à informação sobre isso, e consumirão o que estiver disponível. Quando o negócio der errado, toda a instituição pode perder o crédito. Se não for pela informação errada, será pela omissão.

 

Nem tudo está perdido

Recentemente a agência Edelman publicou o seu relatório anual “Trust Barometer”, onde analisa o grau de confiança das pessoas em diferentes instituições da sociedade. O levantamento foi feito a partir de mais de 33 mil questionários respondidos por cidadãos de 28 países (inclusive o Brasil) no final do ano passado. Interessantíssimo: vale olhar suas conclusões!

Algumas delas merecem destaque. Do ano passado para esse, a confiança no jornalismo subiu cinco pontos percentuais, enquanto que o conteúdo originado de “plataformas” (redes sociais e buscadores) caiu dois. A credibilidade de “pessoas como você” chegou ao menor nível desde que o estudo começou a ser feito, em 2001 (mas ainda marca expressivos 54 pontos), enquanto que a de “especialistas” aumentou: os jornalistas subiram 12 pontos (mas ainda marcam apenas 39) e os CEOs cresceram 7. Especialistas técnicos e acadêmicos (os mais confiáveis), analistas financeiros e empreendedores de sucesso ficaram todos com pelo menos 50% de aprovação.

O país em que a população mais perdeu a confiança foram os Estados Unidos: incríveis 37% de queda, claramente ligada ao presidente Donald Trump. O Brasil foi o terceiro país que mais perdeu entre os 28 pesquisados: queda de 17%. Quem mais ganhou foi a China, com 27% de crescimento.

E por falar em Brasil, apesar de a confiança nas “plataformas” ter caído cinco pontos, as pessoas ainda confiam ligeiramente mais nelas que no jornalismo (64 pontos versus 63). Dos países pesquisados, essa preferência só aparece também na Malásia, no México e na Turquia.

O “Barômetro da Confiança” indica uma interessante mudança em seu eixo: os chamados “especialistas” (inclusive a imprensa) ficam cada vez mais confiáveis que a turma que fala muito, mas contribui pouco para a sociedade. Mesmo entre os influenciadores digitais, observa-se uma crescente divisão entre os “especialistas” e os “populares”.

Isso é muito bem-vindo, especialmente graças ao avanço das “fake news”. Na verdade, pode-se atribuir pelo menos parte desse movimento ao crescimento explosivo das notícias falsas. As pessoas estão conscientes disso, e querem se proteger, mesmo porque 63% dos entrevistados disseram que não sabem como diferenciá-las de bom jornalismo e 59% acreditam que isso está cada vez mais difícil de ser feito. Como resultado, 59% dos entrevistados não sabem o que é verdade e o que não é, 56% não sabem em que políticos confiar e 42% sentem o mesmo quanto a empresas ou marcas.

Entretanto, nesse mar de incertezas, decepções e notícias falsas, não somos vítimas inocentes e passivas.

 

O que devemos fazer

Qual o nosso papel para melhorar o cenário geral? É importante ressaltar que o poder para resgatar a confiança está principalmente nas mãos de cada um. Peguemos como exemplo as “fake news”: elas só explodiram porque seus criadores perceberam que as pessoas disseminariam as mentiras se elas fossem habilmente construídas para atender aos anseios de parcelas da população, que fariam isso sem questionar o conteúdo.

Temos, todos nós, que desenvolver um aguçado senso de desconfiança saudável!

Desde a redemocratização do Brasil, nos anos 1980, assistimos ao crescimento constante dos demagogos, dos populistas e dos “salvadores da pátria”, tanto do lado de conservadores, quanto de liberais. Chegamos provavelmente ao seu ápice, no que eu chamo de “escala messiânica”.

Estamos em um ano de eleições. Em 2016, no pleito anterior, as notícias falsas promoveram uma polarização na sociedade brasileira sem precedentes, e isso só tem piorado. Um estudo do BuzzFeed do ano passado chegou a demonstrar que as notícias falsas sobre a Operação Lava-Jato geraram mais engajamento que as verdadeiras. Nos EUA, aconteceu o mesmo, com as fake news engajando mais que o jornalismo na reta final da campanha presidencial.

Portanto, prepare-se para um banho de sangue nesse ano. Mas prepare-se para fazer a sua parte para que seja, pelo menos, um pouco menos terrível. Sim, as instituições -especialmente a imprensa- precisam colocar de sua parte e fazer um trabalho (muito) melhor, mais transparente e comprometido com a verdade que o observado atualmente. Mas cabe a nós cobrar isso de todas elas. E premiar quem fizer isso bem, compartilhando seus conteúdos, ao invés de qualquer coisa.

Se não fizermos a nossa parte, podemos nos afundar ainda mais no perigoso fosso da descrença, em que nada parece bom, entrando em um ciclo destrutivo de nos tornarmos mais isolados, egoístas, e menos colaborativos. E ainda podemos contaminar quem estiver a nossa volta, prejudicando a sociedade como um todo.

Precisamos reverter esse ciclo de descrença. Preste atenção no que o Gato disse à Alice, e escolha o seu caminho conscientemente. Acredite e vá em frente!


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