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Videodebate: seus dados continuam vazando!

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Você sabia que o Brasil é o país em que as pessoas mais se preocupam com crimes cibernéticos?

A conclusão é da Affinion, que acaba de publicar um estudo que entrevistou 13 mil pessoas de 12 países. Segundo ele, 87% dos brasileiros se dizem atentos ao problema, contra um média global de 61% dos entrevistados.

E sabe o que fazemos com toda essa preocupação?

NADA!

Ou muito pouco.

A verdade é que falta ao brasileiro conhecimento sobre como se proteger. Até sabemos quais são os principais problemas, mas continuamos “caindo como patos”, até mesmo em coisas básicas, como o uso inadequado de redes sociais, acesso descuidado a redes públicas de WiFi e senhas displicentes.

Conversei com o César Medeiros, country manager da Affinion, na semana passada e ele me contou outra coisa interessante: as pessoas estão propensas a fazer negócio com empresas que as ajudem a se proteger, mesmo que esse não seja o “core business” da companhia.

Faz sentido: cada vez mais, as pessoas compram uma “experiência” com a marca, indo além do produto.

Sua empresa, está pronta para oferecer isso? E você, como profissional, sabe como lidar com essa situação?



Para fazer o download do relatório de crimes cibernéticos da Affinion, visite a página oficial: https://affinion.com.br/insight/cybercrimesos/?download=1

Se quiser saber mais sobre o vazamento de dados do Facebook mais recente, visite a reportagem do G1: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2019/04/04/dados-de-540-milhoes-de-usuarios-do-facebook-ficam-expostos-em-servidor.ghtml

A reforma da Previdência é um vespeiro que ninguém coloca a mão de verdade

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Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado/Creative Commons

Estamos às vésperas da eleição mais polarizada da história do Brasil.  Grande parte disso se deve ao uso eficiente das redes sociais por parte dos candidatos, que aproveitaram os recursos dessas plataformas para realizar comunicações incrivelmente assertivas com o público, jogando a TV para escanteio na importância do processo de tomada de decisão, como expliquei no vídeo abaixo. A questão é: quanto do que dizem é verdade e quanto é “encenação eleitoral”?


Vídeo relacionado (de 24 de setembro de 2018):


Pode-se argumentar, com muita tranquilidade, que isso “faz parte do jogo”, que sempre foi assim e sempre será. Mas a combinação de fatos, “fake news”, “bolhas” nas redes sociais e sistemas de coleta de informações de usuário tem sido tão eficiente, que os eleitores de um candidato, qualquer que seja sua linha, estão acreditando que o que diz (e até o que não diz) é a mais pura verdade. Portanto, não se trata de “direita” ou “esquerda”, conservadores ou liberais: todos (ou pelo menos os mais espertos) estão usando os meios digitais para fazer valer seus argumentos e, dessa forma, conseguir votos.

Peguemos, como exemplo, um tema absolutamente espinhoso: a reforma de Previdência, um dos maiores angus de caroço da República. Esse é um tema essencial para o futuro da Nação, mas não vejo nenhum candidato com uma proposta que demonstre seriedade para descascar esse abacaxi. Vejo um monte de “sou a favor” ou “sou contra”, de acordo com seu alinhamento político, e depois um monte de cortinas de fumaça (mais ou menos eficientes, de acordo com o caso), para fazer o eleitorado acreditar naquilo.

Claro! A resolução do problema necessariamente passa por medidas muito impopulares ou aumentar ainda mais o já grotesco rombo nas contas públicas para manter o sistema funcionando. E fazer isso em período de campanha é um verdadeiro suicídio político.

A importância disso se deve ao fato de a aposentadoria ser um direito de todos que está quebrando o país. É uma situação de “se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”.

Para pagar um aposentado, precisamos de vários trabalhadores na ativa, contribuindo com o sistema. Isso funcionou por décadas, pois a balança sempre pendia fortemente para o lado dos que ainda trabalhavam.

Mas a população brasileira (assim como a da maioria dos países) está envelhecendo: de um lado, as pessoas estão vivendo mais; do outro, a taxa de natalidade vem caindo (às vezes, muito). Ou seja, o sistema começou a falhar lá atrás, quando as contribuições dos que ainda trabalham já não eram suficientes para pagar os aposentados.

Esse saldo negativo gera um rombo nos cofres públicos que o Tesouro precisa cobrir todos os meses. E esse buraco cresce mês a mês.

As soluções para o problema, como disse acima, são impopulares. Criar regras que dificultam a aposentadora, como aumentar a idade mínima para isso, ou aumentar a contribuição de quem está na ativa, diminuir o valor recebido de quem já se aposentou, estão entre elas. Outra possibilidade é o governo continuar bancando essa conta crescente, mas, para isso, precisa de mais dinheiro. E, quando o governo precisa de mais dinheiro (especialmente MUITO dinheiro), dificilmente ele remaneja isso de outras áreas: ele aumenta os impostos. E a experiência mostra que esse dinheiro acaba indo para outro lugar, no final das contas.

Outra forma de conseguir mais dinheiro é combatendo a corrupção. Estima-se que metade do PIB brasileiro “desapareça” nos esgotos da corrupção. É muito dinheiro! Poderia resolver o problema da Previdência.

Mas quem vai mexer verdadeiramente nesse outro vespeiro? É melhor adotar as medidas impopulares!

A reforma da Previdência é só um exemplo. Escolha o seu tema e veja como os candidatos estão usando os meios digitais como um eficientíssimo canto da sereia. Portanto, não se deixe levar cegamente pelo que lê nas redes sociais: procure fazer uma análise crítica e desapaixonada. Isso o ajudará a tomar uma melhor decisão neste domingo.


E aí? Vamos participar do debate? Role até o fim da página e deixe seu comentário. Essa troca é fundamental para a sociedade.


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Fique de olhos nos meus próximos eventos públicos:

Nesse ano, elegeremos o presidente em um videogame

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Mario Bros para presidente do Brasil? Muita calma nessa hora! Imagem: composição com imagens de divulgação

Mario Bros para presidente do Brasil? Muita calma nessa hora!

Esse será o ano da eleição-videogame! Ganhará o pleito o candidato que souber as regras de jogo e como usar os recursos digitais das diferentes plataformas para “coletar moedas”, “vencer os chefes” e “passar as fases”. Não estou brincando, não! Os votos serão conquistados principalmente no meio digital, usando conceitos de jogabilidade. A parte chata é que nós teremos a ilusão de ter algum controle dessa narrativa, mas é grande a chance de acabarmos apenas como personagens secundários desse enredo. Como não sermos então manipulados nesse game?

Não se engane: a campanha já começou para valer, e há bastante tempo! Pré-candidatos de todo o espectro político já estão nas redes sociais coletando os nossos dados, analisando comportamentos de grupos, categorizando os eleitores e fazendo movimentos muito bem calculados, plantando informações de seu interesse nos lugares certos para mover as peças desse tabuleiro.

O mais incrível é que as pessoas não percebem isso, e participam alegremente do jogo. Em grande parte, isso acontece pela disseminação dos smartphones e pelo nosso uso permanente das redes sociais. A combinação desses fatores cria o ambiente perfeito para essa eleição feita de bits em três frentes principais.

A primeira é que o conceito de jogabilidade já foi totalmente assimilado por grande parte da população, mesmo entre pessoas que nunca ouviram esse termo. Graças aos joguinhos casuais nos smartphones e principalmente nas redes sociais –com destaque especial aos infames “brinquedinhos” do tipo “com qual celebridade você se parece” que inundam o Facebook– as pessoas já se acostumaram a ter algum benefício imediato se conseguirem cumprir alguma tarefa proposta pelo sistema. E as tarefas mais comuns consistem em prosaicamente entregar seus dados pessoais e depois compartilhar o resultado do jogo nas redes sociais.

Além disso, por carregarmos os smartphones conosco o tempo todo e aos aplicativos das redes sociais, nós estamos constantemente online. Não saímos nunca da Internet (ou é a Internet que não sai de nós?).

O que nos leva à terceira frente: somos permanentemente rastreados, seja o lugar onde estamos nas 24 horas do dia (e com quem estamos), nossos interesses em todos os campos, nossas ações e qualquer outra coisa que as marcas vejam valor. E muitas dessas informações são coletadas sem que tenhamos que tomar qualquer ação: o sistema se encarrega de tudo, muitas vezes (muitas mesmo!) sem que sequer tenhamos consciência disso.

O “Big Brother”, aquele Grande Irmão do livro “1984”, de George Orwell, era um amador com seu tosco controle da sociedade a partir de câmeras.

 

Criando cabos eleitorais superengajados

Você também sente que, nos últimos anos, as discussões políticas ficaram muito polarizadas e até mesmo radicais? É um tal de “se não estiver comigo, está contra mim”, amizades de muitos anos sendo desfeitas.

Isso é reflexo do game!

Os candidatos mais espertos já perceberam como ajustar o seu discurso para atender aos formadores de opinião nas redes. Transformam-se em personagens que vão de encontro aos anseios desses grupos e, dessa forma, cooptam esses usuários para espalhar suas mensagens, às vezes com grande virulência, radicalização e até agressividade. Graças às dinâmicas das redes sociais, esse comportamento agrupa uma grande quantidade de pessoas que pensam no mesmo, e o sistema vai se retroalimentando. Com isso, a visão do candidato sobre qualquer assunto rapidamente ganha ares de verdade incontestável, mesmo que seja a mais rotunda porcaria.

Uma versão mais sofisticada disso usa sistemas e algoritmos para coletar dados dos incautos usuários para classificá-los em grupos seguindo preferências nos mais diferentes campos. Com isso, a tarefa acima fica ainda mais eficiente!

É exatamente o que a empresa Cambridge Analytica fez para ajudar na eleição de Donald Trump, no escândalo que foi exposto em março. Em primeiro lugar, criou o “joguinho” “This Is Your Digital Life”, que foi baixado por cerca de 270 mil usuários, que compartilharam alegremente, via Facebook, não apenas os seus dados, mas também os de seus amigos. Como resultado, a Cambridge Analytica colocou as mãos em informações pessoais de 87 milhões de pessoas, que foram usadas para conhecer profundamente alguns desejos dessas pessoas. A partir disso, a campanha de Trump conseguiu ajustar seu discurso para se tornar mais convincente, fazendo uso até mesmo de “fake news”, habilmente plantadas seguindo as conclusões do sistema.

Pode-se argumentar que a política sempre foi um jogo, e sempre ganhou quem conseguiu construir uma mensagem mais adequada aos anseios do eleitorado. Mas nunca os candidatos tiveram recursos nem de longe tão poderosos para isso. O ganho de escala, de inteligência e de capacidade de processamento nos últimos anos são quase inacreditáveis!

E tem ainda quem distribua “santinhos”. Coitados!

 

“Política não se discute”

Lembra daquele velho ditado: “política, futebol e religião não se discute”? A sabedoria dos “antigos” estava certa: são temas que naturalmente causam polêmica.

Mas sempre discutimos tudo isso nas mesas de bar, em casa, no trabalho. E, por mais que um fosse Corinthians e o outro fosse Palmeiras, por mais que piadinhas infames fossem comuns, as pessoas não deixavam de ser amigas umas das outras por terem opiniões diferentes. Pelo contrário: as divergências eram construtivas, até aprendíamos com o pensamento do outro, por mais que continuássemos discordando dele.

Entretanto, graças aos algoritmos das redes sociais, às “fake news”, aos “candidatos player 1”, a radicalização está matando essa convivência pacífica. E, com isso, levando embora, a inestimável habilidade de aprender com o outro.

Portanto, deixo aqui um apelo: todos têm o direito de ter sua opinião, sua ideologia, seu alinhamento político, seu candidato preferido. Mas não se radicalize! Além disso, por mais que o seu candidato lhe pareça perfeito (e isso não existe em lugar nenhum), não acredite piamente em tudo que ele disser. Busque informações em diferentes fontes, especialmente em fontes com opiniões divergentes.

Em 11 de novembro de 1947, Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido e considerado um dos maiores estadistas da história, proferiu uma de suas célebres frases: “Ninguém espera que a democracia seja perfeita ou infalível. Na verdade, tem sido dito que a democracia é a pior forma de governo, excetuando-se todas as demais formas.”

Entre muitas outras coisas sobre a democracia, Churchill sabia que ela só funciona bem pela contraposição de ideias. Pois não existe verdade absoluta. O que mais se aproxima disso está no meio das opiniões divergentes.  Quanto mais nos afastarmos do diálogo pluralista, mais nos enfiaremos na escuridão.

Portanto, nesse ano de eleição-videogame, agarre o joystick e seja o “jogador 1” da sua vida. Não se deixe enganar pelo canto da sereia nem dos candidatos, nem dos algoritmos. É o futuro de todos que está em jogo.


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O que você ganha com a briga da Folha com o Facebook

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Se nos recusamos a ver o problema, isso não implica que ele deixará de existir - Foto: Creative Commons

Se nos recusamos a ver o problema, isso não implica que ele deixará de existir

Pouco antes do Carnaval, a Folha de S.Paulo surpreendeu o mercado com o anúncio de que estava abandonando o Facebook. Por mais que esse movimento tenha passado despercebido pela maioria das pessoas, ele é um sintoma enorme de algo que afeta a vida de todos, impactando significativamente o desenvolvimento da sociedade. Por exemplo, você prefere o Lula na cadeia ou na presidência? Apoia ou condena as reformas trabalhista e da Previdência? E o que pensa do Bolsonaro? Acha que Luciano Huck deveria ter insistido na sua aventura presidencial?

Qualquer que seja seu posicionamento, ele é construído a partir de informação e influência. Mas quem informa e influencia você? Em outras palavras, em quem você acredita e por quê? Goste ou não, aceite ou não, partimos da imprensa e das plataformas digitais para decisões críticas de nossa vida. Então, é bom prestar bastante atenção nessa bagunça informativa.

O fato de a Folha não mais atualizar a sua página na rede do Mark Zuckerberg desde o dia 8 é reflexo de uma grotesca falência da mídia, especialmente dos veículos mais tradicionais, no seu relacionamento com o público. Demonstra também como as grandes plataformas digitais estão se debatendo contra o avanço das “fake news”, as infames notícias falsas, que inundaram as redes sociais. No meio disso tudo, estamos todos nós: podemos ser os maiores beneficiados ou prejudicados dessa briga. O que ganhamos ou perdemos depende também das nossas atitudes.

Não há mais vítimas inocentes nesse cenário, nem nós mesmos!

 

Os motivos da Folha

A Folha argumenta que saiu do Facebook porque as mudanças em seu algoritmo, anunciadas no dia 11 de janeiro, prejudicariam o “jornalismo profissional” e privilegiariam as “fake news”. Além disso, faz um pouco caso da audiência que, por mais que esteja em queda, ainda vem daquela rede social. Na prática, ela se dá importância e se coloca acima disso tudo.

Seria lindo, se não passasse de uma cortina de fumaça.

Sim, é verdade que as mudanças nos algoritmos do Facebook vêm reduzindo a audiência das páginas das empresas, mas de todas elas, e não só das de comunicação (e muito menos só do “jornalismo sério”). Também é verdade que as “fake news” estão crescendo como um câncer com a ajuda das mesmas redes sociais.

O que esses veículos de comunicação que vivem um eterno chororô diante da sua crescente irrelevância no meio digital não dizem é que os principais responsáveis por sua derrocada e pelo crescimento das “fake news” são eles mesmos! Sim, as redes sociais têm sua indiscutível e gigantesca culpa no cartório, por serem incapazes de separar automaticamente jornalismo de qualidade de notícia falsa. A partir daí, seus algoritmos de relevância fazem o trabalho sujo de replicar aquilo com que as pessoas se engajam mais. Mas isso só acontece porque a imprensa está deixando essa bola quicando na área.

Como expliquei no artigo que publiquei logo após a mudança no algoritmo ter sido anunciada, as pessoas compartilham aquilo que lhes dê prazer imediato, e de preferência o que lhes causa grandes emoções (positivas ou negativas) e não lhes faça pensar demais. Sem nenhum julgamento moral, é assim que o cérebro humano funciona.

Oras, os produtores das “fake news” se valem justamente disso, para criar e “plantar” conteúdos que atendam a essas expectativas de parcelas significativas do público. Dando o que as “pessoas certas” (formadores de opinião alinhados a seus objetivos) querem ouvir, elas começarão o trabalho de espalhar a mentira, que será ampliado pelos algoritmos. Vale dizer que os criadores das notícias falsas também conhecem muito bem o “seu público” e sabem como usar os recursos das plataformas digitais, o que torna o seu trabalho ainda mais eficiente.


Vídeo relacionado:


É óbvio que o que a imprensa deveria fazer seria combater fogo contra fogo. Ou seja, produzir conteúdo de qualidade cada vez melhor e ampliar ainda mais a sua presença em todas as plataformas digitais possíveis, usando seus recursos inteligentemente! Entretanto, já no artigo e no vídeo acima, expressei o meu temor que os veículos partissem para o caminho mais fácil, de piorar seu conteúdo, criando “caça-cliques”, para tentar salvar sua audiência! Mas não previ um movimento tão inusitado, como entregar o campo de batalha à “turma do mal”.

É como um avestruz, que enfia a cabeça na areia para não ver mais o problema, que continua existindo.

 

Por que os veículos falham nas redes sociais

Os produtores de “fake news” prosperam porque eles sabem jogar esse jogo, enquanto os veículos tradicionais continuam presos a fórmulas que funcionaram por um século, mas que perderam a sua eficiência há pelo menos 15 anos. Acusam as redes sociais e os buscadores de serem os causadores de sua derrocada, quando, na verdade, seus produtos perdem relevância diante de novos concorrentes sérios (e não apenas das “fake news”) que sabem usar essas plataformas a seu favor. Esperam que as pessoas continuem pagando pelo seu conteúdo (porque “produzir jornalismo de qualidade custa caro”), quando os modelos de negócios se transformaram completamente.

E custa caro mesmo! Mas o binômio assinatura mais publicidade como fonte de renda ruiu completamente. Apesar disso, tem gente boa ganhando dinheiro com jornalismo, usando outras formas de financiamento. Mas todos eles têm duas características: conteúdo de qualidade superior e bom relacionamento com seu público.

Os grandes veículos, e isso inclui a Folha, vêm sofrendo de descrédito junto à opinião pública, devido a seus próprios erros. Noticiário mal apurado ou irrelevante, reportagem limitada, caça-cliques, cerceamento de opiniões contraditórias e vínculos (às vezes escandalosos) a grupos políticos e econômicos têm abalado séria e continuamente a sua reputação. E imprensa sem reputação não existe!

Isso não vem de hoje. Em sua coluna do dia 24 de junho de 2012, a jornalista Suzana Singer, então ombudsman da própria Folha, escreveu: “O jornal precisará oferecer conteúdo de qualidade superior à que o site tem hoje. Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do ‘mundo B’, ninguém precisa gastar um centavo.” Era uma análise diante do início da cobrança pelo conteúdo do site, que até então era aberto.

Além disso, todos os veículos precisam entender, de uma vez por todas, que precisam se relacionar verdadeiramente com seu público. Eu me lembro que, quando eu iniciei minha carreira na Folha: depois que “fechava” uma notícia, aquilo já era passado, e eu não tinha nenhuma relação com o leitor. Mas isso era nos anos 1990!

Agora as pessoas querem se relacionar com os jornalistas e as empresas, e para isso as redes sociais são excelentes! Os veículos de sucesso (e as “fake news”) hoje sabem como fazer esse relacionamento muito bem, e colhem os frutos disso. Já os veículos tradicionais fazem posts como se fossem chamadas para a primeira página do jornal impresso, e têm zero interação com seu público, o que é inadmissível.

Advinha só para quais veículos as pessoas correm?

 

Todos têm que melhorar!

Meu trabalho não é fazer a imprensa feliz!” A frase é de Campbell Brown, executiva do Facebook, que cuida curiosamente das parcerias com os veículos de comunicação, que concluiu: “se alguém acha que o Facebook não é a plataforma para ele, então não deveria estar no Facebook.” Com sua sutileza paquidérmica, Brown deixou clara a posição do Facebook no caso e ainda sugeriu que “grande parte do melhor jornalismo atualmente é feito por pequenos veículos, mais nichados”.

Mas os pequenos também estão sofrendo com as mudanças, pois a eficiência de sua presença no Facebook se tornou um alvo em movimento. A falta de transparência da plataforma dá a impressão que só é possível ter algum destaque ali pagando. Por isso, assim como a Folha, empresas de todo tipo e porte estão investindo menos na plataforma e buscando alternativas. Como tenho ouvido o tempo todo desde janeiro, “o Facebook deu um tiro no pé”. Até a Unilever ameaçou cortar anúncios no Facebook e no Google, se não houver mais transparência.

Como se pode ver, nesse complexo cenário de interesses, todos têm sua parcela de culpa e, portanto, também a obrigação de melhorar. Se a imprensa quiser realmente combater as “fake news” e aumentar suas receitas e sua audiência, eles devem primeiramente resgatar os princípios do bom jornalismo e estar presentes em cada vez mais canais (e não sair deles). Precisam também aprender que o relacionamento com o seu público mudou, pois as pessoas mudaram. Por isso, as redes sociais e os buscadores podem ser muito mais aliados que predadores. Entretanto, eles possuem dinâmicas que precisam ser entendidas, aceitas e praticadas pelos veículos.

Já essas plataformas digitais precisam ser mais transparentes e se esforçar genuinamente para combater as “fake news” com todos seus recursos. Além disso, devem também identificar quem realmente produz jornalismo de qualidade, e privilegiar esses parceiros em uma troca justa. Não podem ignorar o seu gigantesco papel social como replicadores de todo tipo de conteúdo.

Quando a nós, usuários, precisamos assumir o nosso papel de protagonismo nisso tudo, desenvolvendo uma desconfiança saudável. Não podemos ser inocentes e acreditar em tudo que lemos, seja nas redes sociais, seja em um veículo de comunicação. Portanto, antes de compartilhar qualquer coisa, pensemos se aquilo é mesmo verdade e no impacto de nossas ações!

Se todos fizerem bem a sua parte, ganharemos uma sociedade mais desenvolvida, mais justa e mais igualitária. Qualquer coisa fora disso nos fará rumar mais e mais para a barbárie que inunda o noticiário.


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É incrível, mas tem gente que ainda não sabe usar o LinkedIn

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“Quem não comunica se trumbica!” A célebre frase de Chacrinha define um bom uso do LinkedIn - Foto: divulgação

“Quem não comunica se trumbica!” A célebre frase de Chacrinha define um bom uso do LinkedIn

Você já pensou seriamente sobre o que você faz no LinkedIn? Mais que recursos exclusivos entre as redes sociais, a maior plataforma de caráter profissional do mundo oferece conteúdo de qualidade e um ambiente ótimo para se construir uma boa reputação profissional, até mesmo sem investir um centavo, resultando em empregos e negócios! Então responda honestamente a você mesmo: está tirando o máximo proveito que essa ferramenta lhe oferece?

Não é segredo que o LinkedIn ocupa um espaço importante em minha vida. Posso afirmar categoricamente que o tempo investido na rede tem se revertido em muitos contatos interessantíssimos e consequentes trabalhos. Não estou sozinho nisso: afinal são 31 milhões de usuários no Brasil! Mas eu fico impressionado ao notar que a imensa maioria dessas pessoas faz um uso limitadíssimo da rede. E também me questiono por que o Facebook tem 130 milhões de usuários no país e o LinkedIn tem “apenas” um quarto disso.

De forma alguma estou desmerecendo a rede do Mark Zuckerberg: também a uso intensamente. Mas é inegável que os propósitos das pessoas nas duas redes são diferentes, por mais que tenha ouvido, cada vez mais, que o LinkedIn esteja sendo “facebookado”, tese depreciativa que rejeito. No LinkedIn, os usuários têm um foco em aprender e compartilhar assuntos profissional ou socialmente relevantes, criar vínculos profissionais, promover produtos sem necessariamente investir em publicidade. Essa é a sua grande força, desperdiçada e até mesmo desconhecida pela massa de usuários.

Não me refiro às várias técnicas para criar um bom perfil, conhecer pessoas interessantes e ser visto por elas: elas existem mesmo e são muito úteis, até mesmo essenciais! Mas isso é apenas o começo da sua presença na rede. Limitar-se a buscar um bom perfil é como construir uma casa com uma fundação incrível, mas colocar nela as paredes.

 

Quem tem boca vai a Roma

O erro mais comum que observo é o de as pessoas acharem que o LinkedIn é um “site de currículos”, que serve apenas para procurar emprego. Acredito que esse seja um dos principais motivos para tanta gente boa não participar dele: afinal não estão procurando emprego.

Bem… o LinkedIn não é só isso!

Talvez em sua gênese, fosse. E é verdade que os dois empregos mais bem remunerados que já tive vieram dele. Mas tudo isso foi antes do “novo LinkedIn”, aquele que permitiu publicarmos conteúdo e elevaram os níveis de relacionamento qualificado a um patamar inédito.

Portanto, aqui vai uma grande dica, construída sobre aquelas obviedades da vida que todo mundo sabe, mas poucos praticam: rede social serve para sociabilizar!

Ridículo dizer isso? Nem tanto! A maioria dos usuários cria (bem ou mal) o seu perfil e nunca mais aparece ali. Não lê ou curte o que as pessoas estão publicando, não fala com ninguém, não recomenda seus amigos em seus perfis.

Sabe o que essa pessoa ganha com sua (falta de) participação no LinkedIn? NADA!

O motivo é muito simples. Quando não se tem nenhuma atividade na rede, a “relevância” do perfil para os algoritmos do LinkedIn desaba. Falando em português, sem atividade na plataforma, quando alguém procurar por um profissional com seu perfil, ele até será selecionado, mas ficará tão embaixo na relação de candidatos criada pelo sistema, que será a mesma coisa que não estar lá.

Então, se você já não faz isso, comece a desenvolver o saudável hábito de dar uma passadinha no LinkedIn todos os dias, ver o que as pessoas estão publicando ou comentando, participar das conversas, curtir o que acha que vale a pena, e ser generoso com seus contatos.

Afinal, já dizia o Chacrinha: “quem não comunica se trumbica!”

 

Mostre a que veio ao mundo

Mas o grande diferencial para criar uma boa reputação no LinkedIn e ficar sempre em evidência depende de seu altruísmo.

Isso mesmo! Poucas coisas são tão poderosas quanto participar da rede compartilhando o que você sabe, dando opiniões (embasadas) sobre publicações dos outros, conversando com as pessoas sobre esses temas e ajudando-as da melhor maneira possível.

A verdade é que a maioria das pessoas quer consumir algo (ou muito) na rede, mas poucos são aqueles que estão dispostos a oferecer algo em troca. E não estou dizendo aqui que é necessário ficar horas todos os dias no LinkedIn: claro que não! Mas todos os dias ficamos sabendo ou pensamos em algo que poderia ser útil a outras pessoas. Por que guardar tudo para si?

Compartilhe! Pode ser artigos, um material bem trabalhado, feito com pesquisa e mais longo, ou comentários rápidos a partir de algo que ficou sabendo. Os dois são importantes para construir uma boa reputação na rede, por diferentes motivos.

Os artigos têm vários pontos positivos. O primeiro deles é que você tem liberdade para desenvolver sua tese plenamente: não há restrição de espaço ou de uso de recursos multimídia, como vídeos, áudios e imagens. Além disso, eles ficam permanentemente associados aos nossos perfis no LinkedIn, sendo facilmente resgatados. Por conta de tudo isso, eles normalmente têm excelente engajamento (curtidas comentários, compartilhamentos). Mas a sua audiência é normalmente baixa, inclusive porque os algoritmos do LinkedIn diminuíram imensamente as suas ocorrências nos feeds de notícias dos usuários. Mesmo assim, os artigos são a melhor ferramenta para fundamentar a sua autoridade no seu campo de atuação.

Já as atualizações (ou posts) são o contraponto perfeito. Graças ao algoritmo de relevância, eles costumam ter uma audiência bastante grande, apesar de apresentarem engajamento proporcionalmente baixo. Além disso, são como estrelas cadentes: brilhantes, porém fugazes. Se os outros usuários os virem no dia em que foram publicados, ótimo! Caso contrário, provavelmente nunca mais terão essa chance. Portanto, as atualizações são ótimas para manter você em evidência na rede.

Dessa forma, o ideal é publicar artigos de vez em quando e atualizações frequentemente. Essa é a melhor combinação de qualidade com evidência!

Claro que ainda há a questão de o que e como escrever os artigos e as atualizações. Mas nem mesmo esse artigo seria suficiente para explicar. Fica para uma conversa comigo pessoalmente. É só marcar!

Com tudo isso, o LinkedIn é certamente a melhor ferramenta para você atingir seus objetivos profissionais e até pessoais. Pode ser seguramente a sua melhor mídia (e você nem precisa pagar por ela). Mas não existe almoço grátis: é necessário um perfil bem construído, relacionamento com as pessoas e produção de conteúdo.

Parece muito trabalhoso, parece demasiadamente difícil. Você pode até achar que não é para você. Mas acredite: é como aprender a andar de bicicleta! Todos podem fazer isso e, quando se aprende (e não demora), a coisa fica bem prazerosa. E recompensadora! O que está esperando?


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Já que sua privacidade morreu, como tirar algo de bom disso?

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Foto: reprodução

De algumas semanas para cá, tenho visto pessoas andando pelos corredores do supermercado com o olhar fixo no celular. Lembram até a febre do Pokémon Go, quando, há um ano, multidões de jogadores invadiram as ruas para caçar os monstrinhos virtuais. Mas, dessa vez, não são pokémons: estão procurando ofertas criadas para elas, resultantes de algoritmos que trouxeram a análise de consumo dos usuários para o varejo físico. Sim, em um tempo em que a privacidade zerou no estoque, até as lojas nos rastreiam. Mas, longe de ser motivo de preocupação, essa pode ser uma boa notícia.

O responsável por isso é o Pão de Açúcar, que lançou no dia 29 de junho aplicativos para suas duas bandeiras: Extra e Pão de Açúcar. A ideia é trazer, para o celular dos clientes que fazem parte dos seus programas de fidelidade, ofertas criadas sob medida para cada indivíduo. Se o cliente colocar no carrinho um desses produtos, o desconto acontece automaticamente quando passar pelo caixa.


Vídeo relacionado:


Mas o funcionamento do programa vai muito além de simplesmente dar descontos em produtos que o consumidor está acostumado a comprar. Isso seria só uma evolução linear do modelo de descontos convencional, em que varejista e fornecedor abrem mão de parte de suas margens para ganhar no volume.

Na nova proposta, o fabricante ou distribuidor cria ofertas associadas a regras diretamente no sistema. Elas são executadas em cima das informações dos clientes. Por exemplo, é possível pedir ao algoritmo para dar um desconto a clientes que sempre compram produtos de uma dada categoria, mas nunca o da sua marca. Ou então para quem está acostumado a comprar um produto mais popular do fornecedor, na expectativa que passe a adquirir uma versão premium. E até oferecer algo que o Big Data sugira ser de interesse do cliente. É possível definir ainda características demográficas e a quantidade de clientes que devem ser impactados pela promoção.

As ofertas entram no ar imediatamente, pois não dependem de intermediação ou aprovação do Pão de Açúcar. Isso só é possível porque, ao contrário do modelo tradicional, todo o desconto sai do bolso do fornecedor, que pode acompanhar em tempo real a aceitação da sua oferta. E o desconto só é aplicado nos itens que forem efetivamente comercializados. Ou seja, se o fornecedor quiser “promocionar” 50 mil itens de um dado produto, mas apenas 15 mil forem comprados pelo consumidor-final, os outros 35 mil que ficaram no estoque do varejista continuarão com o preço “cheio”.

No final das contas, é um jogo em que todos ganham: o cliente pode ter um desconto apreciável na conta final; o varejista aumenta as suas vendas e o “wallet share” (os consumidores passam a comprar mais nele e menos nos concorrentes), sem prejudicar sua margem; o fornecedor tem acesso a uma base riquíssima para criar ofertas mais assertivas, criando um marketing muito mais eficiente, com um controle refinado dos custos. Vale dizer que o Pão de Açúcar garante que os dados dos consumidores não são repassados aos fornecedores, pois todas as regras são executadas dentro de seu próprio ambiente.

Sabe o que é mais incrível nessa história? Esses dados estão lá “desde sempre”. O programa Pão de Açúcar Mais existe há 17 anos. Mas faltavam duas coisas para que isso acontecer: um poder computacional imenso e a cultura de que nossos dados têm valor e podem ser convertidos em benefícios para nós mesmos.

Agora temos tudo.

 

Dados do consumidor em toda parte

Principal concorrente do francês Casino, controlador do Pão de Açúcar, o Carrefour também trouxe novidades nesse segmento para o Brasil.

Depois de surpreender o mercado brasileiro e encerrar seu e-commerce no final de 2012, o site nacional do gigante francês do varejo foi relançado em julho do ano passado, desenvolvido pela também francesa Keyrus. Agora a empresa começa a venda online de produtos perecíveis, algo que traz desafios adicionais.

O e-commerce do Carrefour também trabalha na análise de comportamento do consumidor, valendo-se dos recursos da plataforma SAP Hybris Marketing Cloud em que foi construído. Conversei com Stephan Samouillhan, vice-presidente de comércio digital na Keyrus, e ele me falou da importância disso para realizar ofertas mais assertivas para cada consumidor. Mais que isso, Samouillhan explicou que o grande desafio do varejo hoje é ter o acesso aos dados do consumidor e dos produtos a toda hora e em todo lugar, para incrementar as vendas.

Em outras palavras, a expectativa é que o vendedor de uma loja física tenha acesso a todo o perfil de compra de alguém que esteja atendendo para que possa fazer as melhores ofertas para aquele cliente. Seria quase como se o vendedor fosse o algoritmo, só que em carne e osso. Pois, com toda essa integração de sistemas, fica cada vez mais difícil aceitar que uma venda seja perdida porque o vendedor não tinha informação sobre o cliente, sobre o produto ou sobre as ofertas que poderiam ser oferecidas para aquela pessoa especificamente.

Foi-se o tempo em que essas decisões precisavam ser autorizadas por um gerente, com base apenas em sua intuição.

 

Produtos que ajudam na venda

As informações sobre o consumo das pessoas podem vir também dos próprios produtos, enquanto são usados! Elia Chatah, especialista em varejo da SAP, me falou sobre a experiência da fabricante de produtos esportivos Under Armour. A empresa desenvolveu um aplicativo capaz de coletar informações de diferentes “wearables” (equipamentos “vestíveis”, como relógios inteligentes) para rastrear padrões de consumo das pessoas, além de seus níveis de atividade física, qualidade de sono, entre outras métricas.

Graças a um sistema desenvolvido pela empresa com a SAP, a fabricante consegue, por exemplo, identificar o momento em que um dado consumidor precisa trocar seu tênis, pois ele já percorreu mais de 650 km com ele, distância em que o calçado já não protege mais o organismo do atleta adequadamente. Dessa forma, o consumidor pode ser informado que está na hora de comprar um novo.

Da mesma forma, o sistema pode identificar alterações no comportamento esportivo de uma dada população, tomando decisões de negócios a partir disso. Por exemplo, se a prática de corrida aumenta muito em uma dada cidade, a Under Armour saberá que precisa aumentar a venda de tênis de corrida para as lojas dessa região, pois mais pessoas procurarão por esse produto.

Como se vê, corremos a passos largos para um mundo em que nossos dados dizem muito sobre nós.

 

E a privacidade?

Diante de tudo isso, a pergunta natural é: como fica a nossa privacidade? Bom, o que posso dizer é: aceita que dói menos.

Não estou dizendo que temos que ser displicentes com nossos dados. Já escrevi aqui sobre a importância de cuidarmos muito bem das nossas informações pessoais, especialmente porque existem um monte de pilantras tentando nos enganar para práticas condenáveis e até criminosas usando nossas informações. Portanto, não podemos dar mole com isso.

Mas isso é diferente de inciativas com as descritas acima e tantas outras que já fazem parte do nosso cotidiano. Ou alguém aqui vai parar de usar o Facebook só porque ele nos conhece mais que nós mesmos, e usa essa informação para vender anúncios assertivos que aparecem no nosso feed de notícias? Ou vamos abandonar o Waze, só porque ele informa ao Google onde nós estamos em tempo real, não apenas para o próprio sistema funcionar, mas também para nos mandar ofertas baseadas em geolocalização?

Claro que não, certo?

O fato é que vivemos em uma época em que temos produtos e ofertas cada vez mais personalizados. Temos acesso a serviços que nos oferecem descontos no supermercado, fugir de congestionamentos, encontrar as informações que precisamos, falar rapidamente com qualquer pessoa, promover nossos serviços, e uma infinidade de outras coisas. Facilidades simplesmente inimagináveis há apenas dez anos, e que parecem nos ser ofertadas de graça.

Só que não existe almoço grátis. Pagamos, sim, por tudo isso. Mas a moeda são as nossas informações. E achamos isso uma troca justa!  Todos esses avanços tecnológicos estão promovendo, portanto, não apenas mudanças culturais maiúsculas, mas redefinindo alguns pilares do próprio capitalismo.

Precisamos apenas ficar atentos se o uso de nossas informações continua dentro daquilo que foi combinado. Se for assim, esse é realmente um jogo em que todos podem ganhar.


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A reputação digital pode promover ou arruinar sua carreira e seu negócio: saiba como conquistá-la

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Imagem: reprodução

Você fez o que lhe disseram para fazer para sua careira ou seu negócio decolar nos meios digitais: montou um site moderno e amigável, criou perfis em várias redes sociais e faz muitas publicações neles, paga campanhas de marketing online… Talvez até tenha um aplicativo para smartphones só seu! Mesmo assim, o retorno não vem: parece que ninguém percebesse a sua existência. O que pode estar errado?!?!

O problema é que ter uma boa presença digital, como explicado acima, já não é mais suficiente. Com o barateamento dos custos e a melhoria nas ferramentas, qualquer um pode fazer tudo isso. E acredite: tem um monte de gente fazendo! Então, trocou-se a dificuldade de se diferenciar no mercado físico por uma dificuldade de se diferenciar no mercado digital.

A solução para fugir desse mar de mesmice é desenvolver outra característica: a reputação digital. Ontem realizei uma transmissão ao vivo no Facebook (um Facebook Live) sobre o tema. Caso queira também ver sua íntegra, ela está logo abaixo (47 minutos):


Vídeo relacionado:


Reputação –digital ou qualquer outra– não é algo que pode ser comprado. Ela precisa ser conquistada. E isso só acontece quando o profissional ou a empresa começam a se relacionar genuinamente, demonstrando empatia verdadeira com seu público. Pode parecer óbvio –e, de certa forma, é mesmo. Mas, como tantas outras obviedades da vida, ela é muito conhecida e pouco praticada.

Acontece que a maioria continua fazendo marketing como nos anos 1980. As faculdades –e até cursos de pós-graduação– ainda se dedicam a ensinar o conceito dos “4 Ps do marketing” (Produto, Preço, Praça, Promoção). Ou seja, manipulando essas quatro variáveis você supostamente conseguiria posicionar bem qualquer coisa no mercado.

No final das contas, quem acaba, de certa forma, sendo manipulado é o consumidor. As campanhas de marketing tentam empurrar goela abaixo do público sua mensagem, na expectativa que as pessoas mordam a isca e paguem pelo produto.

Mas Kotler, já no final do século XX, dizia que esse formato começava a se esgotar, que as empresas precisavam criar maneiras alternativas de se posicionar, parando de empurrar a sua mensagem e criando algo que fizesse com que as pessoas quisessem vir até a empresa espontaneamente.

O guru máximo do marketing disse isso uns dez anos antes do surgimento das primeiras redes sociais. Agora, com esses sistemas praticamente onipresentes no cotidiano das pessoas e das empresas, algo incrível aconteceu.

As pessoas ganharam voz e, com isso, muito poder.

 

De público a fã

Se desde os tempos de Orson Welles, as pessoas acreditavam muito facilmente no que a mídia dizia, as coisas têm mudado dramaticamente, especialmente nos últimos dez anos. A explosão do uso de smartphones e a virtual onipresença das redes sociais foram fatores decisivos para isso, pois o acesso e o compartilhamento de  informações têm crescido freneticamente.

Além disso, as pessoas agora têm capacidade de publicação que rivaliza, em alguns aspectos, com o que antes se via apenas na grande imprensa. Isso tirou o público de sua situação de passividade, colocando-o no centro das ideias. Mas a maioria dos profissionais (que curiosamente constituem o mesmo grupo citado no parágrafo anterior) e das empresas ainda tem dificuldade de perceber isso, insistindo em manter seu público fora da conversa, na velha posição de passividade.

Grande erro! Ao fazer isso, perdem justamente a melhor oportunidade que têm de se diferenciar na mesmice de ofertas e concorrentes.

Claro que qualquer um pode criar sofisticadas (e caras) campanhas de marketing para promover sua marca e aumentar suas vendas: nenhum problema nisso. Mas, como dito anteriormente, isso não gera reputação, ela não pode ser comprada. Quando acaba o dinheiro do marketing, o residual pode ser decepcionante, especialmente diante de concorrentes mais modernos e ágeis.

É preciso transformar o público em admiradores e até em fãs: nessa hora, o caminho para consolidar uma boa reputação está aberto. Mas ainda há algo mais a fazer.

Você precisa conversar com as pessoas.

 

De fã a amigo

Profissionais e empresas precisam aprender a conversar com seu público, principalmente com aqueles que já gostam do que eles fazem. E, como explicado acima, as pessoas querem falar. Mais que isso: querem ser ouvidas e respondidas! Querem, mas como isso ainda é algo raro, não esperam. Isso abre uma oportunidade de ouro para quem a souber aproveitar.

Justamente por essa tradicional apatia empresarial, que plantou uma baixa expectativa entre os clientes, quando alguém recebe uma resposta, chega a ser quase uma surpresa. Afinal, alguém do outro lado investiu seu tempo para escrever algo. Infelizmente, na maioria das vezes, essa resposta não atende as expectativas de cliente, por ser burocrática e fria. E aí vem a dica de ouro: dê adeus às respostas prontas e automatizadas.

Se receber uma resposta –qualquer uma- já traz uma boa sensação à pessoa, receber uma resposta que genuinamente demonstra interesse no que foi dito, propondo uma solução, uma opinião, ou até mesmo um singelo agradecimento pode ter um efeito incrível!

“Empatia”, “gentileza”, “honestidade” são palavras poderosíssimas, capazes de fazer toda a diferença no posicionamento de qualquer um, seja no meio digital ou não. Portanto, invista nisso! Tenha pessoas inteligentes, com a mente aberta e um bom coração prontas para se relacionar com seu público: ele reage muito bem a pessoas assim.

Quando se chega nesse ponto, o profissional ou a empresa mudam de patamar. Seu público seus clientes se transformam em fãs, em alguns casos (quando se trata de profissionais) até mesmo em amigos. E essas pessoas ficarão felizes não apenas de comprar seu produto, como também de compartilhá-lo com sua rede.

É importante que fique claro que isso não pode ser uma manipulação maquiavélica, nada de ser bacana esperando algo em troca desde o começo. As pessoas percebem a diferença. E gentileza deve ser dada de graça, para que o retorno seja positivo.

Acha que isso é inviável? Pois saiba que eu sou um case para mim mesmo. No momento em que estou escrevendo isso, tenho quase 148 mil seguidores no LinkedIn, com uma taxa de crescimento de mil novos por dia. Antes do fim da semana, chegarei a emblemática marca de 150 mil. Além disso, em dezembro tive a alegria de ser considerado o sétimo brasileiro com mais destaque na mesma rede, pelo prêmio LinkedIn Top Voices. Isso foi conquistado sem investir um único centavo: é fruto do meu desejo de compartilhar ideias e ajudar as pessoas na própria rede, seja com artigos como esse, seja respondendo a todos os comentários e mensagens que recebo.

Isso consome muito tempo? Razoavelmente: aproximadamente uma hora por dia. Eu mesmo faço isso, pois quero ter o prazer de conversar com as pessoas. Como se pode ver, longe de ser algo humanamente impossível.

O que eu ganho com isso? Mais que milhares de seguidores, eu construí uma rede de pessoas que –acredito– gostem do que eu faço. Elas me ajudaram a construir e agora me ajudam a manter essa minha reputação digital. Isso me tira do mar da mesmice de concorrentes, me dá uma posição de destaque. E, dessa forma, quando eu promovo algum serviço meu, as vendas acontecem de uma maneira muito mais fácil e natural.

Portanto, quer ver seu investimento nos meios digitais dar retorno? Comece a fazer amigos.


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Use o Inbound Marketing para transformar seus visitantes em clientes fieis

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Na semana passada, expliquei aqui como o Marketing de Conteúdo faz com que as pessoas procurem sua marca, que pode se tornar referência no seu segmento. Mas há um jeito de aumentar ainda mais as suas vendas, acelerando a transformação desses visitantes em clientes: o Inbound Marketing. Só que, apesar de estar na moda, pouca gente sabe realmente o que ele é.

O Marketing de Conteúdo subverte a lógica do marketing tradicional, que tenta empurrar o produto para o cliente, algo cada vez menos eficiente, pois as pessoas ganham cada vez mais poder no processo de decisão de compra. Com esse novo formato, as pessoas se relacionam espontaneamente com a marca em busca da informação, podendo, assim, se transformar em clientes. Já o Inbound Marketing é uma metodologia que aplica sobre esses visitantes uma boa dose de pragmatismo, fortalecendo esse relacionamento e tornando-o ainda mais eficiente nas vendas.


Vídeo relacionado:

O vídeo acima é um resumo (10 minutos) da palestra sobre Marketing de Conteúdo e Inbound Marketing, realizada no Campus São Paulo do Google no dia 28 de julho. Você pode assistir gratuitamente a íntegra do evento, incluindo todos os slides da apresentação, nesta página (1 hora e 32 minutos).


O Inbound Marketing é tradicionalmente dividido em cinco etapas: “atrair”, converter”, “relacionar”, “vender” e “analisar”. O Marketing de Conteúdo está justamente no começo do processo, pois um ótimo conteúdo –que pode ser artigos, reportagens, vídeos, serviços– é essencial para atrair pessoas para a marca. Dessa forma, pode-se dizer que o Marketing de Conteúdo é a semente do Inbound Marketing.

Mas fazer um excelente conteúdo não é suficiente: é preciso que os potenciais clientes saibam de sua existência. Dessa forma, além de publicá-lo, é preciso que ele seja devidamente promovido, o que pode ser feito com um bom trabalho nas redes sociais e com um bom SEO (técnicas para o material aparecer melhor nos resultados de buscadores). Em alguns casos, pode até ser justificável algum investimento em publicidade, principalmente quando o site ou aplicativo for recém-lançado.

Ao final dessa etapa inicial de atração, o que se tem são apenas visitantes. Por mais que um bom Marketing de Conteúdo já cumpra a importante função de aproximar essas pessoas da marca, quase sempre elas são anônimas. Por isso, a etapa seguinte do Inbound Marketing visa converter esses visitantes em “leads”. Ou seja, a marca deve oferecer algo a mais para que o visitante concorde em entregar informações pessoais para reforçar esse relacionamento. Um exemplo cada vez mais comum nos meios digitais é a oferta de e-books sobre os mais diferentes assuntos, entregues gratuitamente a qualquer um que forneça seus dados.

 

Criando laços duradouros

Essa ação é essencial para a etapa seguinte do Inbound Marketing, quando a empresa começa a se relacionar com o cliente. O objetivo é claro: conhecer mais cada uma dessas pessoas. Não quero dizer conhecer amplamente, mas naquilo que interessa ao negócio. Por exemplo, de todos os produtos da empresa, quais podem interessar ao cliente? Informações demográficas que podem ajudar a tomar decisões futuras também são bem-vindas, como sexo, idade, local de residência, estrutura familiar, profissão, nível educacional, renda familiar, entre tantos outros.

Como se pode imaginar, esse relacionamento não se constroi de uma hora para outra: a empresa deve coletar continuamente essas informações em diferentes ações promocionais. O cliente deve sentir como se a empresa fosse uma parceira, em uma relação em que os dois lados efetivamente ganham algo com isso.

Não é algo que se faz rapidamente: é um processo contínuo e duradouro, e quanto mais o relacionamento se fortalecer, melhor para a tomada de decisões empresariais. Isso fica claro em pesquisa da Forrester Research que indica que é possível vendar 50% a mais com custos 33% menores se existir previamente um bom relacionamento com o potencial cliente.

O motivo disso é simples: quando se chega à etapa seguinte, a da venda, ela será muito mais fácil se a empresa promover um produto para quem estiver realmente interessado em comprá-lo (ou pelo menos aberto a ouvir a proposta). E, se a etapa anterior tiver sido bem feita, a companhia saberá separar o joio do trigo dentro de sua base de possíveis clientes. O resultado são mais vendas com menos investimentos.

Mas se engana quem pensa que o processo acaba depois da venda: essa é uma visão do marketing tradicional. No Inbound Marketing, há ainda mais uma etapa, a da análise, em que a empresa continua o relacionamento com os clientes. Isso significa não apenas continuar coletando e atualizando a base de informações pessoais, mas também tratando de identificar os acertos e os erros de cada venda, para refinar continuamente o processo. Isso é fundamental, pois a experiência pós-venda é a base para futuras compras do mesmo cliente e de outras pessoas.

É um processo sem fim, mas, longe de ser algo penoso, traz resultados tão melhores quanto mais refinado e contínuo for.

 

Fugindo das armadilhas

Mas nem tudo são flores. Tanto o Marketing de Conteúdo quanto o Inbound Marketing possuem algumas armadilhas que podem pegar aqueles que não dominam essas metodologias.

A primeira e mais comum é sair criando conteúdo sem ter uma estratégia de relacionamento clara. Não há nenhum problema em se oferecer conteúdo de boa qualidade às pessoas, mas se não houver um objetivo claro, ele será “apenas bom conteúdo”, e a empresa não ganhará nada com isso. Da mesma forma, quando cria o conteúdo, a companhia deve ter claro o que quer ensinar ao consumidor. Ou seja, o conteúdo deve ter o seu próprio objetivo.

Isso nos leva a outro erro comum: não criar “personas” para identificar os diferentes públicos das campanhas. Naturalmente, esses públicos devem ter alguma relação com o negócio: de nada adianta ficar produzindo material sobre, por exemplo, moda, se a empresa for uma indústria de máquinas pesadas. As “personas” também são importantes porque a maioria dos negócios tem vários grupos de clientes. Portanto, é provável que cada conteúdo produzido interesse apenas a alguns deles por vez: é muito difícil querer mirar em todos e ter sucesso de uma só tacada. O melhor é produzir conteúdo diferente para cada segmento.

Os responsáveis pelas campanhas também devem definir métricas para avaliar o seu sucesso. E isso não significa ficar medindo quantos page views ou visitantes únicos a campanha teve, as primeiras coisas que se pensa quando se trata de campanhas digitais. Essas informações interessam muito mais ao administrador do servidor. Para pessoas de negócios, as métricas que realmente valem são àquelas relacionadas ao Inbound Marketing, como, por exemplo, quantos leads foram gerados, como está a coleta de informações do público ou quantas vendas surgiram no processo. E, claro, uma vez definidas as métricas, elas devem ser continuamente analisadas, resultando em ações para melhorar o processo.

Como o objetivo de tudo isso são vendas, as campanhas de Inbound Marketing devem oferecer aos clientes “landing pages” e “call to action” eficientes. Traduzindo o jargão, as páginas e as frases usadas para tentar convencer o cliente a aumentar ainda mais o relacionamento ou efetivar compras devem ser adequadas ao público da campanha, para que as pessoas fiquem motivadas a fazer isso.

Por fim, a criação desse conteúdo deve ser algo regular, constante, com frequência definida. E isso deve ser respeitado! Afinal, quando se produz um grande conteúdo com o objetivo de fazer com que as pessoas voltem sempre, isso eventualmente dará certo. E não se pode decepcionar esse novo público, seus novos fãs.

 

Vieram para ficar

O Marketing de Conteúdo e o Inbound Marketing apontam a maneira moderna do relacionamento das empresas com seus clientes, em um mundo cada vez mais conectado, em que consumidores têm voz poderosa, onde cada pessoa pode influenciar a decisão de compra de um desconhecido que pode estar do outro lado do globo. É uma realidade em que não se pode querer simplesmente empurrar produtos ou serviços goela abaixo das pessoas, pois o consumidor não aceita mais isso.

Você pode assistir gratuitamente à íntegra da minha palestra no Campus São Paulo do Google para entender melhor sobre essas duas incríveis técnicas, e saber ainda mais como aplicá-las agora mesmo ao seu negócio, qualquer que seja sua natureza e o seu porte. É uma excelente maneira de obter resultados melhores com investimentos menores, algo que todos nós queremos.


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Marketing de Conteúdo e Inbound Marketing podem levar seu negócio às estrelas

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Felix Baumgartner se prepara para seu salto da estratosfera, em evento patrocinado pela Red Bull - Foto: divulgação

Felix Baumgartner se prepara para seu salto da estratosfera, em evento patrocinado pela Red Bull

Você já pensou em produzir artigos e reportagens para atrair potenciais clientes para o seu negócio? Se não fez isso, deveria! Essa é a base do Marketing de Conteúdo, uma maneira moderna, eficiente e proporcionalmente barata de promover produtos e serviços de qualquer natureza e qualquer porte.

No último dia 28, tive a oportunidade de conversar sobre Marketing de Conteúdo e Inbound Marketing com uma plateia bastante qualificada no Campus São Paulo do Google. Um resumo em vídeo da palestra (10 minutos) pode ser visto abaixo (para assistir à íntegra, é só clicar aqui).


Vídeo relacionado:

O vídeo acima é um resumo da palestra realizada no Campus São Paulo do Google (10 minutos). Você pode assistir gratuitamente a íntegra do evento, incluindo todos os slides da apresentação, nesta página (1 hora e 32 minutos).


Apesar do grande interesse em torno dessas técnicas e de estarem “na boca do povo”, pouca gente sabe realmente o que elas significam e como fazer isso. O erro mais comum é achar que escrever artigos os fazer postagens em redes sociais sobre sua empresa e seus produtos é Marketing de Conteúdo. Só que isso simplesmente não funciona, pois contaria um de seus conceitos básicos: não falar sobre si mesmo! E o motivo é simples: por mais que você ache que o que você faz é incrível (e pode ser mesmo), as pessoas, de maneira geral, não estão nem aí para sua empresa ou seu produto. Portanto, se o objetivo é atrair o público, o caminho deve ser outro.

Na verdade, a proposta do Marketing de Conteúdo é criar conteúdo de alta qualidade sobre qualquer tema de interesse dos clientes em potencial, e que guarde alguma semelhança ou vínculo com o que a empresa faz. A ideia é que, se esse material for realmente bem produzido e promovido, as pessoas começarão a visitar o site, aplicativos e publicações da empresa em busca desse tipo de informação.

Se o trabalho for feito com consistência, essas visitas podem se tornar recorrentes, e a marca pode até mesmo se tornar referência no assunto. Então, se tradicionalmente as empresas buscam fidelizar seus clientes, no Marketing de Conteúdo o sujeito pode ser fidelizado pela marca antes mesmo de comprar um único produto.


Red Bull: muito sobre esportes; nada sobre energéticos - Imagem: reprodução

Home page do site da Red Bull: muito sobre esportes; nada sobre energéticos


Um excelente exemplo de marketing de conteúdo é o produzido pela Red Bull. Um visitante incauto do site da empresa poderia imaginar que se trata de uma publicação especializada em esportes radicais, automobilismo, motociclismo, games e música, pois é só isso que existe ali, e material de ótima qualidade. Curiosamente quem estiver procurando informação sobre seus energéticos, terá dificuldade de conseguir isso lá. Além disso, a empresa é grande patrocinadora de eventos dessas naturezas, como atletas e equipes de mais diferentes esportes (até mesmo de Fórmula 1). Também promove iniciativas de grande apelo na mídia, como o salto de paraquedas de Felix Baumgartner, que pulou a partir de um balão atmosférico na estratosfera, gerando na época a transmissão do YouTube com mais audiência da história:



 

O assunto certo para o público certo

A Red Bull é um caso realmente emblemático de uma empresa que faz um investimento fenomenal na criação de conteúdo para não falar nada sobre o próprio produto. Mas todo esse conteúdo costuma interessar pessoas que são seu target. Dessa forma, a marca da empresa está sempre na mente desse pessoal. Quem sabe, até mesmo, toque seus corações? Não por acaso é impossível não pensar em Red Bull quando se pensa em energético.

Mas a beleza do Marketing de Conteúdo é que ele pode ser feito com investimentos mínimos, ao alcance de qualquer empresa. Patrocinar um salto do limite do espaço é muito bacana, mas produzir artigos de qualidade e com consistência sobre assuntos de interesse dos consumidores de seus produtos e serviços também funciona muito bem.

O segredo, nesse caso, é, além de identificar assuntos que realmente interessem a essas pessoas, produzir esse material e fazer com que eles cheguem até seus olhos. Para isso, fazer um bom trabalho nas redes sociais pode trazer excelentes resultados para que o assunto certo impacte o público certo, não apenas com campanhas em coisas como o Facebook, mas com um genuíno interesse em querer interagir com as pessoas. E fazer publicações aqui no LinkedIn pode gerar resultados muito positivos para a marca, pois este é um ambiente em que as pessoas estão predispostas a discutir grandes ideias.

Quando digo que isso serve para qualquer empresa, é qualquer empresa mesmo! Na palestra da semana passada, citei o caso da Foiled Cupcakes, uma microempresa de Chicago especializada em vender esses bolinhos. Criada em 2008, eles estiveram muito perto de fechar as portas porque, após seis semanas de funcionamento, não havia vendido um cupcake sequer! Foi quando sua proprietária, Mari Luangrath decidiu começar a produzir conteúdo sobre esses quitutes e publicá-los em redes sociais, e a conversar com potenciais consumidores.

Resultado: nas seis semanas seguintes, Mari ganhou mais de 2.000 seguidores e superou as metas originais de vendas em mais de 600%! A Foiled Cupcakes havia sido salva pelo conteúdo editorial. A um custo virtualmente nulo.

Por isso mesmo, se você está em uma startup, o Marketing de Conteúdo deve ser observado com muito carinho. Afinal, esses negócios normalmente têm uma verba bastante restrita para marketing.

Para eles, o Marketing de Conteúdo também traz outras vantagens bastante interessantes. Por serem marcas recém-criadas e, portanto, desconhecidas, essa técnica permite que os investimentos para sua divulgação atinjam de maneira bastante assertiva não apenas potenciais clientes, mas também possíveis parceiros e fornecedores alinhados com o projeto. Isso evita perder tempo e dinheiro com quem não tem essas características necessárias.

Um porém que se pode colocar no Marketing de Conteúdo é que ele é um processo de longo prazo. Se está buscando consumidores para a semana que vem, ele não é o caminho! Como toda forma de relacionamento, ele exige tempo para construir e fortalecer os laços entre a empresa e seu público. A boa notícia é que, se ele for bem feito e consolidado, o caminho fica bem pavimentado para futuras vendas mais fáceis.

O mercado afirma que o ROI de campanhas de marketing de conteúdo chega a ser cinco vezes maior que equivalentes de marketing tradicional. Ou seja, para cada real investido na campanha, as de Marketing de Conteúdo chegam a trazer cinco vezes mais retorno. Além disso, pesquisa da Forrester Research sugere que é possível vendar 50% a mais com custos 33% menores se existir previamente um bom relacionamento com o potencial cliente.

 

E o Inbound Marketing?

Em cima disso tudo, há ainda o Inbound Marketing, um conjunto de técnicas que ajudam a transformar os visitantes de seu conteúdo em clientes fiéis. Mas isso é para outro artigo, dedicado a esse tema. Até lá, assista à íntegra da minha palestra no Campus São Paulo do Google para saber mais sobre essas duas incríveis técnicas.

O que está esperando para embarcar no Marketing de Conteúdo? Você certamente tem muito a falar! E acredite: existe muita gente que quer ouvir você.


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Você consegue ignorar o que Facebook joga na sua cara?

By | Jornalismo, Tecnologia | 11 Comments

Foto: Visualhunt / Creative Commons

Há alguns dias, o Facebook foi acusado de censurar conteúdos conservadores. Mais que uma cisma política, a gritaria daqueles produtores era pela queda na audiência que isso lhe causaria. Tudo porque as pessoas devoram, quase sem pensar, o que ganha destaque no seu feed de notícias ou nas suas listas. Mas o fato é ainda mais delicado que parece.

Ele reabriu o debate sobre a influência que o Facebook tem sobre seus 1,65 bilhão de usuários. Mas também expôs que, além dos seus algoritmos, a empresa teria um grupo de editores com poder de censura (o que a empresa nega), o que seria gravíssimo, por conta desse poder. Além disso, escancarou a dependência que os veículos de comunicação têm da rede, que se transformou no maior distribuidor de jornalismo do mundo.


Vídeo relacionado:


O Facebook afirma que sua missão é “fazer do mundo um lugar mais aberto e conectado”. Apesar disso, de aberto, ele tem muito pouco: ninguém sabe exatamente quais seus critérios para destacar algo na infinidade de conteúdos publicados nele por pessoas e por empresas.

Agora considere que, segundo o respeitado Pew Research Center, 63% dos usuários do Facebook e do Twitter leem notícias nessas redes. Mas onde mais importa –nos smartphones– o Facebook é, de longe, quem mais manda pessoas para os sites dos veículos de comunicação. E o instituto ainda diz que quanto mais as pessoas ficam no Facebook, mais notícias elas consomem.

Como os veículos perderam sua capacidade de sedução, cada vez mais eles dependem das redes sociais para atingir o público que um dia já foi seu. Por isso, fazem tudo o que o Facebook manda. Parece até que o algoritmo ficou mais importante que seus próprios clientes.

É aí que mora o perigo!

 

Escrevendo para o sistema

Quantas vezes você não clicou em um post no Facebook e caiu em uma página que tratava muito pouco daquele assunto?  Ou viu algo que propunha um mistério “irresistível” para você clicar e descobrir o que era? Ou ainda teve a impressão de que um veículo “sério” parecia ter muito mais notícias “divertidas” nas suas publicações no Facebook que no próprio site? Bem, você não está sozinho nesses sentimentos: essas práticas são “caça-cliques”.

No final das contas, o que vemos são os veículos não mais promovendo aquilo que importa para a sociedade, mas o que é mais adequado ao algoritmo ou o que cria mais apelo à audiência fácil, em um novo “sensacionalismo de rede social”. Fazendo isso, os veículos abalam ainda mais a sua já bastante corroída credibilidade junto ao público, jogando na lata do lixo a sua nobre função de, além de informar, formar o cidadão.

O Facebook já percebeu que está com a faca e o queijo na mão, e não está disposto a perder a oportunidade de reforçar ainda mais a sua posição de “maior banca de jornal do mundo”. E, até agora, seus esforços estão dando ótimos resultados, fazendo até a Apple comer poeira, com seu malfadado serviço Apple News não conseguindo decolar.

Além de algoritmos que dão cada vez mais aquilo que o leitor quer saber, a rede social vem lançando alguns recursos para amarrar ainda mais os veículos, como a capacidade de as pessoas obterem notícias a partir do Messenger ou os Artigos Instantâneos, que carregam reportagens e artigos muito rapidamente, desde que não se saia do próprio Facebook.

Os veículos de comunicação, por não conseguir mais falar ao coração do seu público, abraçam tudo isso, como tábuas de salvação. Ótimo para o Facebook: cada vez mais as pessoas consomem noticiário dentro da sua plataforma. Péssimo para quem produz esse material: pesquisa da Digital Content Next indica que, nas redes sociais, 43% das pessoas já não sabem quem produz o que consomem.

E assim a rede de Mark Zuckerberg dita mais e mais o que cada um de nós deve ler.

 

Moldando mentes

Apesar de toda essa relevância na indústria da notícia, o Facebook não é um veículo de comunicação. Dessa forma, seu objetivo é tão somente fazer com que as pessoas naveguem mais pelos seus produtos. Ele não tem a função social que os veículos têm (ou deveriam ter) de informar e formar.

Se o seu algoritmo tenta entregar apenas aquilo que a pessoa quer ver, eliminando o que lhe desagrada (mesmo aquilo que ela precisa saber), e os veículos de comunicação ficam fazendo o “joguinho” do Facebook, o resultado a médio prazo é uma população desinformada, desengajada e socialmente deformada. É a combinação do pior de dois mundos.

E quando se fala disso, não há como não mencionar o estudo que Adam Kramer, pesquisador do Facebook, realizou em 2012, demonstrando que é possível “transferir estados emocionais” a pessoas simplesmente manipulando o que elas veem online. No experimento, os feeds de notícias de 689.003 usuários (1 a cada 2.500 na época) foram manipulados pelo sistema por uma semana. Metade deles ficou sem receber posts negativos; a outra metade não viu nada positivo.

Análises automatizadas comprovaram que usuários expostos a posts neutros ou positivos tendiam a fazer posts mais positivos, enquanto os expostos a posts neutros ou negativos tendiam a fazer posts mais negativos! Trocando em miúdos, Kramer atuou decisivamente no humor de quase 700 mil pessoas deliberadamente manipulando seus feeds de notícias. O paper foi publicado na prestigiosa “Proceedings of the National Academy of Sciences of USA”. Vale lembrar que o mesmo Kramer, em outra ocasião, já tinha aumentado o comparecimento dos americanos às urnas, também manipulando seus feeds. Isso em um país em que não é obrigatório votar.

No final das contas, o que temos aqui é um poderosíssimo algoritmo capaz de embrutecer e manipular a população (apesar de o Facebook negar que faça isso) e uma mídia fragilizada, que fica dançando a música da rede social em troca de migalhas de atenção. Então, se a empresa realmente tiver editores censurando conteúdos específicos, como foi dito, isso seria o menor dos problemas.

Não temos como exigir que o Facebook encampe os valores de cada sociedade e passe a fazer o trabalho no qual os veículos de comunicação têm fracassado miseravelmente, pois ele não é um deles. Mas podemos pelo menos tentar fazer com que as pessoas usem a rede social de uma maneira mais consciente e criativa.

Para isso, debates em torno de assuntos como esse são fundamentais para a conscientização de todos! Ninguém precisa parar de usar o Facebook: é só não ceder ao prazer imediato e fugaz de conteúdos rasos, e sair clicando, curtindo e compartilhando tudo o que o Facebook joga na sua cara. E desconfiar sempre! Nessas horas, ignorar pode ser a ação mais efetiva.


Vamos falar sobre a linguagem certa para público certo na Social Media Week? Esse é o segredo do sucesso nas redes sociais. É só entrar nesta página e clicar no botão verde de CURTIR abaixo da minha foto.


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Existe uma ética verdadeira nas redes sociais?

By | Educação | 7 Comments

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Quais os direitos e deveres que uma empresa tem sobre as informações que seus clientes lhe confiam? Em tempos em que as redes sociais ocupam um papel central em nossas vidas, essa pergunta é fundamental e serve como base para outras, como até que ponto ela pode se recusar a ajudar a Justiça, alegando proteção à privacidade dos seus usuários? Mais que isso: um sistema pode manipular as pessoas?

As empresas podem dizer que tudo está descrito nos seus “termos de uso”, documentos com os quais todos nós concordamos ao começar a usá-las. Mas sejamos sinceros: ninguém lê aquilo! E, caso leia, nem sempre fica claro o que está escrito ali. Por exemplo, você sabia que, de acordo com os termos do Facebook, ele tem direito a usar qualquer coisa que publiquemos na sua rede (incluindo fotos e vídeos), sem nos pagar nada?


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Há alguns dias, o WhatsApp anunciou que toda a comunicação entre seus usuários passou a ser criptografada de ponta a ponta. Em tese, isso significa que ninguém, além dos próprios interlocutores, podem entender o que está sendo dito, mesmo que a informação seja interceptada.

A empresa afirma que, com isso, nem ela mesma é capaz de decodificar essa informação. É um álibi técnico muito interessante contra as constantes determinações judiciais para informar às autoridades o conteúdo de conversas entre usuários que estão sendo investigados. O Facebook, dono do WhatsApp, tradicionalmente se recusa a cooperar, alegando respeito à privacidade dos usuários. E isso regularmente evolui para batalhas jurídicas, como a que tirou o WhatsApp do ar no Brasil por 12 horas, em dezembro passado.

O cuidado com a privacidade e a integridade dos dados de usuários é mais que bem-vinda: é fundamental! Então, se as empresas estão cumprindo a promessa de não os compartilhar com ninguém, nem mesmo com o governo, isso deve ser comemorado!

Entretanto, sem entrar no mérito de que podemos supor que nem todas fazem isso, é razoável perguntar: o que as próprias empresas fazem com tanta informação pessoal, inclusive muitas intimidades, que lhes entregamos graciosamente?

 

Apaixonando-se pelo sistema

Psicólogos diriam que qualquer relação em que apenas um dos lados sabe muito do outro é desequilibrada, e potencialmente condenada por isso. Mas é exatamente assim que nos relacionamos com as redes sociais, que provavelmente nos conhecem melhor que nossas próprias mães.

Isso foi brilhantemente ilustrado no filme “Ela” (“Her”, 2013), de Spike Jonze. Para quem não viu o filme (que recomendo fortemente), ele conta a história, que se passa em um futuro próximo, do romance entre o protagonista Theodore (Joaquin Phoenix) e Samantha (voz de Scarlett Johansson).

Acontece que Samantha não é uma pessoa: é o sistema operacional que controla o computador e o smartphone de Theodore, tendo acesso a todo tipo de informação dele. O humano se apaixona pelo sistema de inteligência artificial, e é correspondido por ela! Alguns podem achar isso impossível ou até mesmo uma perversão. Mas, ao assistir ao filme, é muito difícil não se apaixonar também! E não pense que Samantha faz tudo que Theodore queira: ela também diz não e demonstra sentimentos como insegurança, ciúmes e raiva. Mas tudo isso é feito de acordo com o que Theodore espera de uma mulher.

Pobre Theodore! Samantha sabe tudo sobre ele, e ele não sabe nada sobre ela.

 

Não é pessoal, são apenas negócios

De volta ao mundo real, várias empresas são candidatas a nossas “Samanthas”. Facebook e Google são, de longe, as que mais sabem sobre nós, mas Apple e Amazon não fazem feio nesse pelotão de elite. E há uma infinidade de outras empresas que também são capazes de traçar nossos perfis psicológicos e de consumo a partir de nossas pegadas digitais, que, cada vez mais abundantemente, deixamos por aí.

Essas empresas certamente podem nos influenciar para, por exemplo, comprar um produto, em uma nova e eficientíssima forma de marketing. E são capazes até de manipular algumas emoções nossas. Não como Samantha! Mas o Facebook já fez algo nessa linha.

Em 2012, Adam Kramer, pesquisador da empresa, demonstrou ser possível “transferir estados emocionais” a pessoas simplesmente manipulando o que elas veem online. Por análise semântica, os feeds de notícias de 689.003 usuários foram manipulados pelo sistema por uma semana. Metade deles ficou sem receber posts negativos; a outra metade não viu nada positivo. Ao final, o cientista concluiu que pessoas expostas a posts positivos tendiam a fazer posts mais positivos, enquanto as expostas a posts negativos tendiam a fazer posts mais negativos! Ou seja, Kramer atuou decisivamente no humor de quase 700 mil pessoas, apenas manipulando o que viam no Facebook! O estudo foi publicado na prestigiosa “Proceedings of the National Academy of Sciences of USA”.

Mas as empresas não querem que nos apaixonemos por elas: querem apenas que compremos os produtos e serviços que elas promovem.

Como diz o ditado, “não existe almoço grátis”. Todas essas empresas nos oferecem uma infinidade de produtos incríveis aparentemente sem nenhum custo. Mas não se engane, se você não está pagando, você não é o cliente: você é o produto!

Somos influenciados, conduzidos, e sabemos disso. Mas continuamos cedendo nossa informação e usando os produtos, pois não dá mais para imaginar a vida sem eles. Ou alguém deixará de usar o seu smartphone, a mais perfeita máquina de coleta de dados pessoais, que carregamos conosco o tempo todo?

Tais empresas estão erradas em fazer isso? Provavelmente não. Elas realmente nos oferecem produtos e serviços incríveis (e um outro tanto de quinquilharias) sem que tenhamos que explicitamente pagar por eles. Mas isso tem um custo. Pagamos contando-lhes o que somos.

Se existe realmente uma ética, tudo tem limite. E é esse limite que diz se o que elas fazem é certo ou errado. Não há problema em fazer uma publicidade muito assertiva. O que não é aceitável é a manipulação das pessoas.

Então, da próxima vez que estiver usando seu smartphone ou a sua rede social preferida, tente manter o controle da sua experiência e não acredite piamente em tudo que vir. Será que você consegue?


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Como o Facebook ficou “maior” que a Internet e como isso afeta você

By | Educação, Jornalismo, Tecnologia | 4 Comments

Foto: Philippe Put/Visualhunt.com/Creative Commons

Não é novidade dizer que o Facebook é a maior rede social do mundo, com mais de 1,5 bilhão de usuários. Para muita gente, ele é maior que a própria Internet! Mas esse erro de análise não é inócuo: ele está causando impactos decisivos na vida de todos nós, e pouca gente parece perceber isso.


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Hoje pouco mais de 20% da população mundial acessa a rede de Mark Zuckerberg pelo menos uma vez por mês. Mas estudos feitos em países em desenvolvimento pela LIRNEasia e pela Geopoll indicam algo bizarro: pessoas estão afirmando que usam o Facebook mas NÃO usam a Internet, ignorando o fato de que o primeiro roda sobre a segunda, seja na Web, seja em um app no smartphone.

Até seria legítimo pensar que usuários do aplicativo do Facebook, por não precisarem de um navegador Web, vejam aquilo como algo apartado da Internet. Mas o fato é que, mesmo em países desenvolvidos, para muitos usuários, o Facebook parece ser tudo o que eles precisam de conteúdo online.

Bom, e daí? Como isso pode afetar você ou eu?

Acontece que isso é apenas um reflexo de como o Facebook se tornou um elemento central em nossas vidas. Ele é a página inicial do navegador de muita gente e é acessado nos smartphones onde estiverem, a qualquer momento. Aliás, é a coisa mais acessada no geral.

Entram em cena os algoritmos de relevância no feed de notícias.

Nem todo mundo sabe que o Facebook não mostra na página de abertura de cada usuário tudo que seus amigos e páginas que segue publicaram no dia: isso nem seria possível, dado o enorme volume de conteúdo. O sistema então seleciona aquilo que ele considera relevante para mostrar a cada um de nós.

E aí é que mora o perigo.

 

Dono da “verdade”

A escolha do que é exibido a cada usuário é um dos segredos mais bem guardados do Facebook. Claro que coisas como ser amigo de alguém e se relacionar bem com essa pessoa (coisas como clicar, curtir, comentar e compartilhar o que ela publica) têm enorme peso nessa decisão. Mas não é tudo: há um “molho secreto” temperando as zilhões de combinações possíveis.

O problema é que isso pode ser manipulado. E a própria empresa já admitiu ter feito isso pelo menos uma vez.

Em 2012, o pesquisador do Facebook Adam Kramer e sua equipe realizaram um estudo, demonstrando que é possível “transferir estados emocionais” a pessoas simplesmente manipulando o que elas veem online. Por análise semântica, os feeds de 689.003 usuários (1 a cada 2.500 na época) foram manipulados pelo sistema por uma semana. Metade deles ficou sem receber posts negativos; a outra metade não viu nada positivo.

O resultado foi assustador: análises automatizadas comprovaram que pessoas expostas a posts neutros ou positivos tendiam a fazer posts mais positivos, enquanto as expostas a posts neutros ou negativos tendiam a fazer posts mais negativos!

Ou seja, Kramer atuou decisivamente no humor de quase 700 mil pessoas deliberadamente manipulando seus feeds de notícias. O paper foi publicado na prestigiosa “Proceedings of the National Academy of Sciences of USA”. A despeito do resultado impressionante, ele admitiu que fez a pesquisa sem pedir autorização prévia das “cobaias”, o que é antiético. Na época, isso provocou uma enorme gritaria. O Facebook foi obrigado a vir a público pedir desculpas: “não queríamos magoar ninguém”, disse a porta-voz.

Mas eles quiseram, sim! Bom, pelo menos com metade da amostra.

 

O mundo inteiro cabe aqui

Apesar daquele deslize ético pontual, quero crer que os algoritmos do Facebook trabalham para realmente identificar conteúdos que sejam relevantes para cada um dos seus usuários. Isso porque o sucesso da empresa depende de as pessoas usarem mais e mais os seus produtos, e isso só acontecerá se eles se demonstrarem úteis a elas.

Assim, o Facebook precisa, de alguma forma, demonstrar comprometimento com os interesses das pessoas. O que não quer dizer que tenha que fazer o mesmo com as marcas que utilizam a plataforma para promover seus produtos e serviços.

O sucesso dessa empreitada pode ser medida por outro comportamento dos usuários: cada vez mais, eles consomem todo tipo de conteúdo dentro do próprio Facebook. A plataforma se transformou em uma gigantesca banca que promove de tudo. Ou seja, as pessoas começam a ver um mundo filtrado pelo algoritmo do feed de notícias.

É verdade que, desde sempre, nós vemos notícias filtradas. Antes dos algoritmos, esse trabalho era feito pelos jornalistas dos grandes veículos de comunicação. A vantagem é que, por essa curadoria ser feito por pessoas, ela evita destacar alguma grande barbaridade. A desvantagem é que todos recebem o mesmo “recorte” do mundo, independentemente de seus interesses pessoais. Os consumidores é que têm que se adequar à linha editorial dos veículos que escolherem.

Com todo o conteúdo sendo consumido “dentro” do Facebook –e isso é reforçado pelos “artigos instantâneos” e pelo comportamento de carregar páginas de qualquer fonte encapsulado no seu próprio aplicativo nos smartphones– quanto faltará para as pessoas deixarem de dizer, por exemplo, “vi na Folha” para começar a dizer “vi no Facebook”, mesmo para conteúdo da própria Folha?

Não cabe aqui apontar o dedo para o Facebook: ele está colhendo os resultados de seu trabalho bem feito. Não há dúvida que isso é ruim para os produtores de conteúdo, que veem suas marcas perdendo força. Mas eles estão exatamente na posição em que se puseram, por não conseguir se adaptar à nova realidade de seus públicos. Não lhes resta muito a fazer agora além de dançar as músicas do Facebook, do Google e da Apple, com suas plataformas de publicação hiperpopulares.

Fica a dúvida se isso é bom ou ruim para cada um de nós, usuários. Se os algoritmos forem “bonzinhos”, sorte nossa! Entretanto, ser capaz de se informar por fontes distintas e aprender a interpretar criticamente o que se consome deveria ser uma das competências mais importantes a ser ensinadas nas escolas, para a formação de um cidadão consciente. Pois é assustador imaginar uma empresa ditando o que 1,5 bilhão de pessoas devem ver, e todas elas consumindo isso cegamente.


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O Google+ superará o Facebook?

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A nova rede social do Google traz inovações interessantes, mas ainda precisa preencher lacunas antes de ameaçar o Facebook

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Você já aderiu ao Google+? Quando ouvi falar da nova rede social do gigante de buscas pensei: “mais uma…” Pois bem: ela ainda não completou seu primeiro mês no ar e nem foi lançada oficialmente -o que está previsto para o dia 31 de julho- mais de 10 milhões de pessoas, inclusive eu, já aderiram a ela.

As comparações com o Facebook aparecem em toda parte e a mais comum é afirmar que a rede de Mark Zuckerberg demorou cerca de dois anos para atingir a mesma marca. Mas elas não são justas, pois o Facebook surgiu a partir de um conceito de exclusivismo elitista, em contraste com o de completa abertura inicial do Google+. Além disso, esse último foi para o ar empurrado pela gigantesca expectativa em torno de um produto dessa natureza na família do Google, enquanto o Facebook nasceu das mentes de um bando de estudantes então desconhecidos.

A pergunta que realmente merece ser feita é: o Google+ superará o Facebook? Por enquanto, a carteira de 10 milhões de usuários do Google+ está longe de ameaçar a de 750 milhões do rival. Pesa contra o Google também um Orkut, que fez sucesso apenas no Brasil e uns poucos países sem muita expressão, e dois fracassos em produtos da mesma natureza: o Google Wave e o Google Buzz.

Mas a turma de Larry Page parece ter aprendido com os seus erros: o Google+ tem recebido muitos elogios da imprensa especializada e de seus entusiasmados primeiros usuários. Soube aproveitar o melhor dos concorrentes: como li por aí, “se o Facebook e o Twitter tivessem um filhote, ele seria o Google+”.

Apesar de boas idéias e uma construção esmerada, a nova rede ainda tem, entretanto, muito pouco a oferecer. O Google está se apressando em integrar todo o seu portfólio ao novo produto: já fez isso muito bem com o Google Talk e com o Picassa (agora Google Photos), além do próprio buscador; na sequência, virão o Blogger (rebatizado de Google Posts) e o Google Docs.

Mas mesmo quando todos os produtos estiverem bem costurados, o problema do Google+ é que ele será “apenas” uma rede social bem concebida e com recursos interessantes. E isso está longe de ser suficiente para ameaçar o Facebook. Isso só acontecerá quando o Google fizer o mesmo que seu concorrente, que se transformou em uma plataforma de desenvolvimento de aplicativos de toda natureza. Desde os aclamados jogos sociais da Zynga, como FarmVille ou CityVille, até inofensivos aplicativos, o Facebook ofereceu a uma legião de milhares de desenvolvedores a possibilidade de terem acesso a informações de seus 750 milhões usuários, que graciosamente as oferecem em troca de funcionalidades que tornam a sua experiência online mais divertida e poderosa. Isso sem falar nos recursos de integração do Facebook aos sites de qualquer pessoa, tornando-os mais funcionais.

Não há nenhuma dúvida que esses são os grandes responsáveis pelo sucesso do Facebook, o que dá mais sabor e cor à rede de Zuckerberg. Sem eles, seria apenas mais uma rede social das “antigas”, como o decadente MySpace ou o finado Friendster. Se o Google+ não seguir essa linha, não superará  o Facebook, ficando restrito a um “nicho” de alguns milhões de usuários.