“Vai falar de Bitcoin?”
A provocação de José Luiz Goldfarb, diretor da EDUC (Editora da PUC-SP), reflete a visão limitada que a população tem sobre a tecnologia blockchain. Isto, quando se tem qualquer noção sobre ela!
É verdade que, de longe, o uso mais popular do blockchain recai sobre as chamadas “criptomoedas”, métodos de troca de valores descentralizados, cujo maior expoente é o Bitcoin. Mas, como ficou claro na transmissão moderada por Goldfarb no dia 15, essa tecnologia possui muitas outras aplicações, tão ou mais interessantes que essas moedas digitais.
O evento marcou o lançamento do livro “A Expansão Social do Blockchain” pela EDUC. A obra foi organizada por Lucia Santaella, coordenadora do programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP.
“Embora o tema seja jovem, penetrar em seus meandros se torna imperativo, quando seus efeitos começam a se fazer sentir na vida”, justificou Santaella. “A expectativa era que essa tecnologia fosse capaz de criar um novo modelo de internet, porque esse que está aí, principalmente no que diz respeito a redes sociais, fracassou”, explicou.
A obra aborda usos do blockchain em áreas como a crise de confiança da sociedade, “fake news”, integridade de dados pessoais nas redes, aprendizagem e –claro– criptomoedas e meios de pagamento digitais. Trata-se de uma compilação de artigos dos membros do grupo Sociotramas, organizado por Santaella, que reúne pesquisadores de diferentes áreas e instituições para discutir temas ligados a redes sociais (conheça aqui os coautores e detalhes da publicação).
Quatro dos coautores participaram da transmissão, abordando o tema de seus respectivos artigos. Magaly Prado, por exemplo, falou sobre como o blockchain pode ser usado para combater as “fake news”, as infames notícias falsas. “Uma plataforma descentralizada visando usar a tecnologia blockchain em nome do jornalismo é louvável e torna as informações de uma rede independente de redações mais confiáveis, preponderante em tempos de reputação baixa por conta da desinformação desembestada”, explicou.
Confiança, “fake news” e integridade
Marcelo de Mattos Salgado trouxe uma análise sobre a crise de confiança que afeta, de modo geral, o mundo ocidental –e como o blockchain se encaixaria neste cenário. Segundo ele, “talvez a crise de confiança seja movida, pelo menos em parte, pela referida automatização dos processos de segurança, como o blockchain, que efetivamente substitui os elos de confiabilidade, tão humanos”.
O combate às “fake news” também foi abordado por Kalynka Cruz-Stefani. “O meu trabalho tem uma visão analítica sobre esse sistema de propagação de ‘fake news’”, explicou. “Estudos mostram que, a partir de 2023, 30% delas serão descobertas e combatidas pelo blockchain”,
Por fim, Paulo Silvestre esclareceu como essa tecnologia pode ajudar na integridade de informações pessoais nas redes, hoje totalmente pulverizadas e controladas por grandes empresas e instituições. “Nós garantimos, usando o blockchain, não só a integridade dos dados, como também que temos o controle de nossa própria informação”, explicou. Além disso, usos criativos fazem com que isso esteja de acordo com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que entrou em vigor no Brasil em setembro.
O livro já está disponível como e-book ou para ser lido no leitor eletrônico Kindle. A versão impressa estará disponível a partir de janeiro, pela EDUC.
“A inteligência humana tem caminhos misteriosos”, disse Santaella. Em linha com os outros autores, ela acrescentou que “o grande afetado pelas redes sociais, “fake news” e pós-verdade é o jornalismo, e nós não podemos viver sem jornalismo”. A professora concluiu dizendo que “quando nós perdemos a confiança nele, o que nos resta para conhecer o que de fato aconteceu?”
Você pode acompanhar a íntegra em vídeo do lançamento do livro “A Expansão Social do Blockchain” na TV PUC. Ainda, saiba como foi a apresentação de Maria Collier de Mendonça sobre o livro no XIII Simpósio Nacional da ABCiber.
* colaborou Marcelo de Mattos Salgado