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Elon Musk chegou ao Twitter carregando uma pia, em um trocadilho em inglês que significa “deixe isso afundar (“let that sink in”)

Megademissões expõem o poder e a fragilidade das redes sociais

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No dia 4, o Twitter demitiu sumariamente metade de sua força de trabalho global, algo como 3.700 funcionários. Cinco dias depois, foi a vez da Meta, empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, colocar na rua nada menos que 11 mil profissionais, equivalente a 13% de seu quadro no mundo. Isso vem deixando muita gente apreensiva com um possível novo “estouro da bolha ponto-com”, como o que aconteceu no ano 2000. Afinal, esses números maiúsculos demonstram que mesmo empresas poderosíssimas são suscetíveis a erros de administração.

A diferença é que, no caso das plataformas digitais, se elas quebrarem, impactarão profundamente a vida de incontáveis usuários e empresas no planeta, fazendo com que a crise do ano 2000 se pareça a um soluço. Hoje, em um mundo hiperconectado, o cotidiano dessas pessoas –incluindo você– é muito ligado aos feeds dessas redes.

Entretanto, apesar da proximidade dessas megademissões, não vejo um novo “estouro de bolha” ou muito menos um caos no mercado de tecnologia. Sim, Meta e Twitter estão com problemas seríssimos –ainda que diferentes– que precisam ser resolvidos, mas é pouco provável que quebrem. O que há de comum entre elas é a íntima ligação de suas crises com suas respectivas lideranças.


Veja esse artigo em vídeo:


No ano 2000, eu trabalhava na America Online (AOL), a mais reluzente ponto-com que o mundo havia visto até então. Em janeiro daquele ano, a empresa iniciou a compra do grupo Time Warner, uma fusão de US$ 360 bilhões, a maior da história, criando um conglomerado que cobriria virtualmente todos os pontos da “nova” e da “velha mídia”.

Parecia o casamento perfeito, até que, dois meses depois, a “bolha ponto-com” estourou, motivada pela desconfiança do mercado com incontáveis negócios digitais que não passavam de ideias brilhantes, mas altamente deficitários. Muitos grandes nomes subitamente desapareceram, arrastando centenas de outras empresas.

As ações da America Online derreteram! Além disso, decisões empresariais equivocadas e a resistência das empresas originais da Time Warner ao novo modelo minaram a fusão, que acabou desfeita em 2009. A AOL sobrevive até hoje, com um modelo de negócios completamente diferente do daquela época. Em 2015, a Verizon comprou a empresa por US$ 4,4 bilhões e ela agora é uma sombra do que já foi.

Como se pode ver, ninguém está imune a más decisões e ao humor do mercado.

É o caso do “novo Twitter”, sob a direção de Elon Musk. Depois de uma conturbada aquisição da companhia por US$ 44 bilhões, concluída no dia 28 de outubro, as ações do homem mais risco do mundo e também CEO da fabricante de carros elétricos Tesla e da companhia aeroespacial SpaceX têm sido no mínimo polêmicas.

Suas primeiras decisões foram demitir por e-mail os principais executivos e metade dos funcionários da empresa, com o apoio de pessoas de seus outros negócios. Isso fez com que vários sistemas do Twitter parassem de funcionar, fazendo com que alguns demitidos fossem convidados a voltar. Mas o que se vê é o êxodo de mais funcionários e de anunciantes de peso. Além disso, outras decisões provocaram a explosão de notícias falsas na plataforma nesses dias.

Já o negócio de Zuckerberg vem sofrendo –assim como outros que dependem da publicidade online– com a crise americana e a guerra na Ucrânia. Além disso, o TikTok vem se demonstrando um concorrente implacável e mudanças nos controles de privacidade dos iPhones feriram profundamente o modelo de negócios da Meta.

Mas o maior problema tem sido sua incapacidade de avançar no metaverso, caminho em que Zuckerberg apostou suas fichas há um ano. Por isso, suas ações perderem 76% do valor no período, equivalente a US$ 730 bilhões! A Reality Labs, unidade de produtos do metaverso, apresentou sozinha um prejuízo de US$ 12 bilhões.

 

Negócios inchados

Zuckerberg fez um mea culpa, dizendo que exagerou no otimismo durante a pandemia, contratando mais gente que deveria. Esse é, de fato, um problema de muitas dessas empresas, que incharam com o distanciamento social e agora sofrem com um choque de realidade.

Outro exemplo é a Amazon, que viu suas ações caírem após o anúncio de lucros menores que o esperado, fazendo seu valor ficar abaixo de US$ 1 trilhão pela primeira vez desde o início de 2020. Com isso, no dia 3, a companhia anunciou que interromperia todas as contratações até segunda ordem e agora iniciou a demissão de dez mil funcionários.

Notícias assim amedrontam mercados, mas é uma situação bem diferente da “bolha ponto-com” do ano 2000. A crise atual impacta negócios firmemente estabelecidos e resulta de decisões ruins de suas lideranças, que podem corrigir seus rumos. Além disso, o mercado de tecnologia continua aquecido, com uma acelerada digitalização de negócios de todos os setores. Essa é uma excelente notícia para os profissionais da área, inclusive no Brasil.

O que se deve prestar atenção é que redes sociais não são empresas comuns. Como já explicado, qualquer movimento que façam tem o potencial de provocar grande alegria ou tragédias a seus bilhões de usuários, e isso não é um exagero. Nos últimos anos, em eleições ao redor do mundo (inclusive no Brasil), essas plataformas digitais foram decisivas para o abalo nas democracias, a partir de polarização da sociedade pela enxurrada de fake news e do discurso de ódio em suas páginas.

Por isso, o mundo está de olho em Elon Musk, que prometeu afrouxar os controles do Twitter sobre o conteúdo publicado na plataforma, em nome de sua ideia de “liberdade de expressão”. Até agora, o que se viu com suas atabalhoadas decisões foi o aumento de desinformação em torno das “eleições de meio de mandato”, que elegeram governadores, senadores e deputados nos EUA na terça passada.

Musk levou os carros elétricos a um novo patamar e criou o conceito de corrida espacial privada, que são feitos memoráveis. Mas pode descobrir que o impacto de centenas de milhões de usuários na sociedade pode representar um desafio muito mais difícil de ser superado.

Quanto a nós, os referidos usuários tão dependentes dessas plataformas, precisamos entender que estamos na mão dos algoritmos. Temos que aprender a nos beneficiar deles, mas não de uma maneira umbilical. Afinal, mesmo que hoje brilhemos nas redes, amanhã eles podem nos tornar irrelevantes online. Sem falar que as próprias empresas podem desaparecer, com ou sem estouro de bolha.

 

Videodebate: o que estudar para ter trabalho

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Em tempos de crise brava e desemprego em alta como estamos vivendo, cada um busca a sua maneira para se manter relevante e garantir o seu lugar ao sol.

Nesse cenário, uma das melhores maneiras de aumentar a tal da empregabilidade é voltar aos bancos escolares para adquirir novas competências, se reciclar, pois todas as profissões vêm sofrendo profundas mudanças graças à tecnologia digital. Então, confiar seu futuro apenas no que aprendeu na faculdade não é mais possível.

Mas o que estudar então? Hoje temos cursos para todos os gostos e todos os bolsos. Cada um deles lhe oferece benefícios particulares. Veja no meu vídeo abaixo as vantagens e desvantagens de cada um, para tomar uma decisão mais acertada. E depois vamos debater aqui nos comentários sobre o assunto. Aproveite e compartilhe com todos as suas experiências.


Videodebate: o robô vai substituir até o seu corpo

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A crise está brava! Se isso já não bastasse para criar incertezas e grandes dificuldades para todos, os robôs e os sistemas de inteligência artificial estão cada vez mais eficientes na execução de tarefas que antes eram exclusivas dos humanos. Em alguns casos, são até mesmo capazes de simular os corpos dos trabalhadores!

O que vai sobrar para nós fazermos?

Muita calma nessa hora! Sim, é verdade que a substituição de trabalhadores por robôs só cresce. Mas nem tudo está perdido.

Nesse cenário, despontam duas certezas: o que puder ser automatizado será, e não dá para continuar na zona de conforto. Quem quiser não apenas sobreviver a essa nova revolução, como ainda aproveitar o momento para se destacar precisa fazer as coisas de maneira diferente.

Quer saber como? Veja no meu vídeo abaixo! E depois compartilhe aqui com todos como você vê esse avanço da tecnologia sobre os trabalhos, e como superar isso.

Ou então fique continue na mesma, e aguente as consequências.


A alegria do seu sucesso pode virar seu pior pesadelo, e de graça!

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Vídeo em que Nilson Izaías “Papinho” consegue fazer sua “slime”, que o transformou em uma estrela instantânea – Foto: reprodução

Vídeo em que Nilson Izaías “Papinho” consegue fazer sua “slime”, que o transformou em uma estrela instantânea

Imagine a cena: você está tocando sua vida normalmente, quando tem a felicidade de fazer algo inesperadamente incrível, que lhe garante uma grande fama instantânea! Subitamente você é catapultado de uma vida convencional para o estrelato, com milhões de pessoas acompanhando seus passos. A repentina exposição lhe garante muitos novos amigos, negócios e dinheiro. Grande alegria! Mas de repente, quando tudo parecia estar maravilhosamente bem, você se vê envolvido em uma lista de denúncias infundadas, que destroem a sua reputação. E aí toda aquela euforia legítima dá lugar a medo e depressão.

Está achando que isso é roteiro de filme B? Pois saiba que pode acontecer de verdade! E, em tempos de redes sociais, onde tudo é mais rápido e mais intenso, qualquer um pode ser uma vítima desse pesadelo, inclusive você, sua carreira, seu negócio. De uma hora para a outra, toda aquela euforia se transforma em um transtorno que pode ter sequelas graves.

Como isso é possível? Dá para se proteger?

Há poucos dias, um caso desses se tornou emblemático. Aconteceu com Nilson Izaías “Papinho”, que vive em Juquiá, município de menos de 20 mil habitantes a 170 km de São Paulo. O pacato aposentado de 72 anos criou, há 11 meses, um canal no YouTube, onde publica singelos vídeos domésticos de seu cotidiano, como o que come no café da manhã ou as frutas de seu quintal.

Há um mês, “Papinho” encarou um desafio: fazer, na frente da câmera, uma “slime” caseira, que são aquelas massas gelatinosas que fazem sucesso entre as crianças. Depois de quatro tentativas frustradas, no dia 22 de janeiro, ele publicou um vídeo de seu sucesso na empreitada. Tudo muito singelo e despretensioso. O vídeo, que pode ser visto abaixo (10’57’’) “viralizou” e já passou de dez milhões de visualizações! Antes dele, o canal tinha pouco mais de mil inscritos; hoje já são cerca de 4,4 milhões, que vieram no espaço de apenas duas semanas!


Vídeo relacionado:


Trata-se provavelmente do crescimento mais rápido do YouTube no Brasil! O “vovô da slime”, que até então tinha feito apenas 18 vídeos praticamente sem audiência, se tornou um fenômeno literalmente do dia para noite.

E aí começaram os seus problemas.

 

Por que isso acontece?

“Papinho” não tinha nenhuma pretensão de atingir fama ou ganhar dinheiro. Segundo ele, gravava seus vídeos para fazer novos amigos, e ficaria satisfeito se atingisse mil inscritos no canal.

Mas a grande fama veio. E, com ela, a grande infâmia!

“Papinho” começou a ser acusado de vários comportamentos inadequados e até de pedofilia, além de ter sua imagem violentada em “memes”. Subitamente, várias pessoas e perfis falsos apareceram nas redes sociais, com grandes teorias e histórias sobre o aposentado que, até havia alguns dias, só familiares e amigos conheciam. Pior que isso: “Papinho” viu seu nome e sua imagem usados em uma briga suja entre grupos políticos conservadores e liberais. Felizmente, ele recebeu o apoio de várias pessoas, que o ajudaram a passar por isso.

Por que alguém faria isso com um pacato aposentado, que ficou famoso ao fazer “slime” caseira?

Os primeiros nisso são os “trolls”, pessoas que se divertem criando e espalhando esse tipo de confusão. Motivados por inveja, discordância ou simplesmente falta do que fazer, não pensam duas vezes antes de destruir a imagem de alguém que nunca lhes fez nada. Há também um grupo ainda mais odioso, que são aqueles que usurpam a imagem de famosos para atingir seus próprios objetivos, não se preocupando se isso lhes causará problemas.

“Papinho” foi vítima de ambos.

 

Pode acontecer com todo mundo?

Claro que sim!

Convenhamos, se um singelo senhor que ficou famoso fazendo “slimes” foi vítima, qualquer um pode ser. E, quanto maior a sua influência, pior pode ser o estrago.

Sem desmerecer as qualidades humanas e a capacidade de gerar engajamento de “Papinho”, é pouco provável que o mau uso de sua imagem provoque grandes crises políticas ou econômicas. Mas, se a vítima for um grande empresário, por exemplo, muita gente pode embarcar nas “fake news” e tomar decisões muito ruins e equivocadas.

Mas uma coisa é comum a todos: seja “Papinho”, seja um grande empresário, esse tipo de atentado à reputação é sempre desagradável e um desrespeito inaceitável ao indivíduo, que se vê envolvido gratuitamente em uma trama com a qual não tem nada a ver.

E ainda tem que limpar a lama que lhe foi jogada de graça.

 

Como se proteger?

Não há proteção absoluta contra esse tipo de maldade. Mas podemos fazer coisas que podem ajudar bastante caso o abuso aconteça.

A primeira delas é não tocar tambor para maluco dançar! Em muitos casos, o ataque acontece apenas para desestabilizar a vítima, esperando que ela revide na mesma moeda. Jamais faça isso! Caso contrário, o agressor terá atingido seu objetivo de arranhar (às vezes profundamente) sua reputação. Fique no campo das ideias e do respeito.

Outra coisa que ajuda muito é construir previamente uma boa reputação. Partindo do princípio constitucional de que todos são inocentes até que se prove o contrário, ter uma boa imagem construída junto a seu público é um importante aliado contra esses ataques, pois as pessoas tendem a acreditar menos no agressor a até mesmo defender a vítima.

Por fim, cultive sempre bons relacionamentos na rede: converse com as pessoas, ajude-as no que puder, compartilhe conhecimento. Mas faça isso genuinamente! Essa doação é percebida por quem se beneficia dela. E acredite: amor com amor se paga!

Mas isso tudo tem que ser feito antes do problema acontecer. Dessa forma, eventuais ataques terão um impacto muito menor. Não passarão de “slime”, que não gruda e é descartável.


E aí? Vamos participar do debate? Role até o fim da página e deixe seu comentário. Essa troca é fundamental para a sociedade.


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Reflexão: o novo dono pode salvar a Abril?

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Logo da Editora Abril no seu edifício na Marginal Tietê

Na sexta, às vésperas do Natal, a família Civita acertou a venda da Editora Abril ao empresário Fábio Carvalho, especialista em recuperar empresas em crise. A Abril, no bico do corvo há anos, está em recuperação judicial desde agosto.

Com o valor da transação, dá para comprar um carro: R$ 100 mil. Carvalho assume as dívidas (cerca de R$ 1,6 bilhão), mas esse passivo deve encolher com negociações com os bancos, que precisam aprovar o negócio, assim como o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Espera-se que o negócio seja concluído até fevereiro.

Vejo com bons olhos a mudança. Primeiro porque os atuais Civita se demonstraram incompetentes para gerir o negócio criado pelo avô Victor Civita (1907-1990) em 1950, sendo os responsáveis por essa situação horrorosa. Depois porque Carvalho tem feito declarações interessantes sobre o futuro da mídia (leia em http://bit.ly/2T1Gtiq). Faço votos que ele salve a Abril.

É inevitável pensar em Jeff Bezos, dono da Amazon, que comprou, com US$ 250 milhões do seu bolso, o The Washington Post, e deu nova vida ao jornalão. Não mexeu na parte editorial, mas investiu e mudou seu modelo de negócios para melhor! Agora, se o negócio da Abril será um presente de Natal para os envolvidos, só o tempo dirá. 

O jornalismo está morto! Vida longa ao jornalismo (e ao seu negócio)!

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O personagem “Puro Osso”, da animação “As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy” - Imagem: reprodução

O personagem “Puro Osso”, da animação “As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy”

O jornalismo morreu! Pelo menos é o que tenho ouvido cada vez mais insistentemente de comunicadores, professores e estudantes de Jornalismo, além do público, cansado da qualidade cada vez mais baixa dos veículos tradicionais. Informações erradas, pautas desinteressantes, erros de português e, em cima de tudo isso, alinhamentos políticos e ideológicos exagerados, que comprometem a credibilidade, estão entre as principais críticas. Isso tudo é terrível, pois coloca em xeque uma instituição essencial para a vida de cada um de nós.

Mas vou lhes contar uma coisa: o jornalismo nunca esteve tão vivo! Então por que tanta gente está deixando de acreditar na imprensa?

A causa é uma incrível incapacidade que essas empresas de comunicação demonstram em se atualizar. E, como em qualquer outro negócio, quem fica parado acaba levando uma surra de concorrentes mais ágeis e ousados, mais cedo ou mais tarde. Portanto, apesar de esse artigo falar de jornalismo, os ensinamentos valem para virtualmente qualquer um.

Debati sobre isso há alguns dias no 8º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo, que tive a honra de abrir. Para mim, a história da morte do jornalismo faz parte de uma tríade de bobagens que me incomodam há alguns anos. As outras duas são que as pessoas não leem mais, e que elas não querem mais pagar por conteúdo.

Mentiras!

O fato é que as pessoas nunca consumiram tanto conteúdo, inclusive jornalístico. E, apesar do avanço do vídeo digital, a maior parte de todo esse conteúdo chega de forma escrita. A responsável por isso é a combinação dos smartphones com as redes sociais, que começou a se desenhar há uns dez anos. O primeiro é um computador poderoso, permanentemente online, que carregamos em nosso bolso para onde formos. Já as segundas cumprem o papel de selecionar e entregar o conteúdo de acordo com as nossas necessidades.

Ou seja, as pessoas nem precisam ir até as notícias: elas vêm até o público.

 

O risco de não ser relevante

O problema disso é que as pessoas consomem cada vez mais o que os algoritmos de relevância das redes sociais consideram interessante, o que não é necessariamente bom. Perde força a curadoria feita pelos editores, sendo substituída pelas curtidas dos nossos amigos, que ajudam o Facebook e afins a determinar o que deve ser promovido.

Sem entrar no mérito de que isso aumenta enormemente o risco de deixarmos de consumir conteúdo que deveríamos, isso nos leva à terceira das bobagens acima, aquela que diz que as pessoas não querem mais pagar por conteúdo.

Sim, as pessoas pagam por conteúdo, desde que faça sentido para elas!

Acontece que, pelos problemas indicados no primeiro parágrafo desse texto, os veículos tradicionais não têm conseguido despertar o interesse do público. Vejam o exemplo abaixo, com primeiras páginas recentes do Estadão e da Folha (mas poderia ser de qualquer outro veículo tradicional):

O fato de serem incrivelmente parecidas não é coincidência. Resulta do fato de que os veículos têm investido pouco em reportagem, que é a alma do bom jornalismo. Ao invés disso, vivem de denúncias, de “jornalismo palaciano” (acompanhamento de acontecimentos de fontes oficiais), de denuncismo. Ou seja, uma mesmice crônica resultante de uma apuração rasa, feita por uma mão de obra cada vez menos qualificada e barata (os mais experientes -e caros- foram quase todos demitidos nos últimos anos).

Não precisa ser gênio para saber que isso é pouco atraente para o público. As pessoas não são trouxas! Para um conteúdo assim, existem várias opções gratuitas. Como resultado, as receitas dessas empresas estão em queda livre, como visto no gráfico (compare com as curvas de receita do Google e do Facebook).

Agora comparemos com o cinema. Nos anos 1980, quando o VHS foi popularizado, muita gente achava que aquilo seria o fim das salas de cinema. E, em um primeiro momento, parecia ser verdade, pois o público começou a assistir aos filmes em casa, enquanto as salas esvaziavam.

A causa não eram os videocassetes: a qualidade e o som do VHS eram ruins, e as TVs naquela época tinham telas pequenas (uma TV de 20 polegadas era um luxo). O problema estava nas próprias salas de cinema, que eram pequenas, também tinham imagem e som ruins, poltronas rasgadas, cheiravam a mofo e vendiam uma pipoca rançosa.

Oras, para ter uma experiência “meia-boca”, melhor ter isso no conforto do lar e pagando menos.

Diante da morte iminente, as salas de cinema se reinventaram. Hoje oferecem uma qualidade incrível em todos os aspectos. Ir ao cinema é mais que ver um filme: é uma experiência de conteúdo! Em outras palavras, aumentaram a sua relevância. E -vejam só- as pessoas pagam por isso!

Alguns podem dizer: mas isso não é jornalismo. Pois eu respondo: funciona tudo do mesmo jeito.

 

Criando reputação com conteúdo

É verdade que o modelo que mantém a mídia tradicional, baseado em assinatura e publicidade, está evaporando. Não apenas porque o antigo público não vê mais valor no produto, mas também porque surgem alternativas mais interessantes.

Empresas mais modernas já perceberam que hoje é melhor ganhar dinheiro graças ao conteúdo que com o conteúdo. Em outras palavras, ele serve para ajudar a construir uma ótima reputação, que depois serve para vender outros produtos, como consultorias ou eventos.

Há também empresas que nem são de comunicação produzindo jornalismo de alta qualidade, como a Nestlé e a Red Bull (veja sua home page na imagem). Elas perceberam que bom conteúdo é um recurso valiosíssimo para atrair e conquistar clientes para seus produtos.

Quer dizer então que as empresas tradicionais de comunicação estão condenadas? Claro que não!

Temos ótimos exemplos de veículos centenários que encontraram o seu caminho nesse novo cenário da comunicação. Um deles para mim é emblemático: o The Washington Post. Criado em 1877, esse, que é um dos mais importantes jornais do mundo, estava ladeira abaixo até bem pouco tempo atrás. Foi quando Jeff Bezos comprou a publicação, em 2013.

O criador e CEO da Amazon não interferiu na parte editorial, exceto pelo fato que contratou dezenas de novos jornalistas, reforçando o time. Em compensação, mexeu em todo o resto: injetou muita tecnologia, colocou o pessoal de TI trabalhando em pé de igualdade com os jornalistas na redação (para lhes oferecer dados para as reportagens e sobre o público) e reinventou o modelo de negócios do título, tornando sua versão digital quase ubíqua nos EUA. Como resultado, o gráfico do Post, que era uma queda livre, inverteu-se para um crescimento acelerado em pouco tempo.

Bezos aplicou ao jornalão duas de suas máximas mais conhecidas: “preste mais atenção
em seus consumidores que em seus concorrentes” e “se você dobra seus experimentos, você
duplica sua inventividade”. Em outras palavras, foi necessário um mogul do e-commerce para meter o dedo na ferida do jornal e fazer as mudanças necessárias, inclusive correndo riscos. Tudo para se aproximar de seu cliente, tornar o seu produto mais relevante.

Portanto, o jornalismo está morrendo? De forma alguma! Está se transformando em algo novo e incrível, isso sim!  E, nesse novo cenário, não há espaço para quem quiser continuar fazendo tudo como sempre fez, só porque antigamente dava certo. E essa dica vale para qualquer empresa de qualquer segmento.

Está sentindo que há espaço para tornar sua empresa mais relevante? Está esperando o que para começar a agir?


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A desgraça do nosso país passa por reduzir sua profissão mais importante a um “bico”

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Anúncio da rede Anhanguera, oferecendo formação de professores como “segunda carreira” - foto: reprodução

Anúncio da rede Anhanguera, oferecendo formação de professores como “segunda carreira”

A terrível crise que draga o Brasil há pelo menos quatro anos continua firme e forte. A sociedade bate cabeça tentando explicar como chegamos a isso e principalmente como sair dessa situação. Nesse cenário, duas péssimas notícias ligadas à educação brasileira, que ganharam as manchetes recentemente, servem para nos ajudar a entender tudo isso.

A primeira delas se refere a dois infames anúncios publicados recentemente pelas redes Anhanguera Educacional e Unopar, ambas da Kroton Educacional. A outra se refere à agressão a uma professora de Santa Catarina por um aluno adolescente. Não proponho aqui uma simples defesa dos professores, mas sim trazer para o debate como a má educação está na raiz das mazelas do nosso país, e como uma boa educação pode nos levar a vencer tudo isso.


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Desde sempre, defendo como a educação é o melhor caminho para que o país resolva os seus problemas. A explicação é simples: qualquer país que tem uma população (e isso vale para todos seus cidadãos) bem educada, conhecedora de seus direitos e também de seus deveres, com consciência cívica e responsabilidade social, progride a passos largos. E isso acontece porque cada um sabe e cumpre seu papel, e também cobra adequadamente que todos –e não apenas os governantes– façam o mesmo.

A realidade é, entretanto, muito mais complexa, e nos afastamos cada vez mais do bom caminho. Nossa educação, do ensino infantil à pós-graduação, coleciona indicadores vergonhosos. Mas ela é apenas o reflexo de uma sociedade que se orgulha e folcloriza o ‘jeitinho brasileiro”, um nome “fofo” para a corrupção que cada um de nós pratica no dia a dia. É o país que criou a “Lei do Gerson”, onde “esperto” é aquele que tira vantagem de tudo, mesmo que isso inevitavelmente signifique prejudicar o próximo. Essa também é a sociedade cada vez mais radical em suas visões políticas, em que “você está comigo ou contra mim”, quando, na verdade, são todos farinha do mesmo saco (e, pior, sabemos disso).

E por falar em farinha, se o que manda é o conceito de que “farinha pouca, meu pirão primeiro”, como esperar que a boa educação, capaz de formar cidadãos que queiram construir uma sociedade justa para todos, seja valorizada?

 

Por que o professor vale tão pouco

Nos anúncios da Anhanguera e da Unopar, a mensagem é contundente: “torne-se professor e aumente sua renda”. Em outras palavras, a atividade de professor é vendida como um “bico”.

As peças publicitárias provocaram uma enxurrada de críticas, a ponto de as terem que ser retiradas de circulação, com um pedido de desculpas pela nota abaixo:


“Erramos. Nós, da Anhanguera, pedimos desculpas pela mensagem equivocada sobre a função e a importância dos professores. A campanha de marketing que causou mal-estar não representa o que nós, como instituição de ensino, acreditamos, e foi retirada do ar. Nossa intenção com o curso de Formação Pedagógica é incentivar que profissionais já formados possam ter também essa habilitação e contribuir para a resolução do déficit de professores que o Brasil enfrenta. Acreditamos que, promovendo a docência, temos o caminho para o desenvolvimento social e econômico do país. Por fim, esclarecemos que, esta campanha, em específico, não foi submetida à análise prévia do Luciano Huck e de sua equipe”.


Não vejo problema de outros profissionais investirem seu tempo livre na sala de aula. Muito pelo contrário: nada melhor que pessoas capacitadas compartilhando o que sabem! Mas que façam isso por vocação, por prazer, não apenas para “ganhar uns trocados”.

O mais triste nessa história toda não é a péssima mensagem passada pelas peças, mas o fato de alguém ter pensado nelas. Não nos enganemos: se a equipe criativa da agência bolou a campanha e alguém do grupo educacional a aprovou é porque, ainda que no seu subconsciente, essas pessoas realmente acreditam que ensinar pode ser um “bico”.

E nem podemos crucificar esses indivíduos, pois eles pensam assim porque a sociedade brasileira, de uma maneira geral, pensa exatamente dessa forma! Qual professor nunca ouviu a infame pergunta de seus alunos: “além de dar aula, você trabalha?” Eu mesmo já ouvi isso várias vezes.

Por que um médico, um engenheiro, um advogado (só para ficar em algumas das carreiras mais desejadas pelos jovens) nunca ouvem uma pergunta dessa? Porque o inconsciente coletivo brasileiro “sabe” que é necessário estudar muito para exercer tais profissões. Já o professor é visto como uma segunda carreira ou –e isso é de lascar– vai ser professor aquela pessoa que “não consegue ser mais nada”.

Essa ideia é reforçada pelas péssimas políticas educacionais, pela crescente e constante desvalorização do professor por todos os governos municipais, estaduais e federal, por condições deploráveis de trabalho e salários obscenos. Some tudo isso a esse inconsciente coletivo, e você começa a ter, na média, profissionais com nível cada vez mais baixo nas salas de aula. Claro! Haja vocação para insistir nessa carreira!

Como podemos esperar um país melhor se o profissional responsável por formar todos os demais profissionais não tem nenhum valor?

Não podemos.

 

Como construir um tigre asiático

Diante de tamanha desvalorização, vemos casos recorrentes de agressões contra professores, realizadas por pais e até mesmo por alunos. Foi o que aconteceu com a professora Marcia Friggi, de 51 anos, esbofeteada por um aluno de 15, cujo caso foi mencionado no início desse artigo. Mas o pior veio depois: nas redes sociais, muitas pessoas apoiaram a professora, mas também muitos outros a insultaram, dizendo que ela mereceu a agressão!

Difícil dizer o que é mais bizarro nesse caso.

A desvalorização do professor pela sociedade, culminando tanto nas agressões quanto na desmotivação dos docentes, foi brilhantemente explicado no documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, de João Jardim (2005), que pode ser visto na íntegra abaixo (88 minutos):



Cria-se, portanto, um círculo vicioso: a sociedade não consegue melhorar e valorizar os professores, por isso eles ficam cada vez piores, e isso torna a sociedade ainda pior, desvalorizando mais e mais os docentes.

Olhando de fora, parece que não temos saída. É possível romper isso? Sim! Basta ver o exemplo da Coreia do Sul.

Trabalhei alguns anos na Samsung, onde aprendi muito sobre a cultura e a história do seu país de origem. Algumas coisas me surpreenderam, e poderiam ser aplicadas aqui.

Por exemplo, antes da guerra civil (1950 a 1953), que dividiu o país em dois, a Coreia era a nação mais pobre do mundo, muito mais pobre que o Brasil na época! Após a divisão, a Coreia do Sul, a despeito de inúmeros problemas políticos, investiu pesadamente em educação, de uma maneira consistente –ou seja, a coisa não ficava mudando a cada novo governo. Outra característica da educação sul-coreana é que apenas os melhores entre os melhores da sociedade podem ser professores. Portanto, ser professor lá é uma grande honra, uma carreira muito valorizada e admirada por todos.

Mesmo assim, foram necessários 30 anos para o país miserável se transformar em um tigre asiático. Como se pode ver, não se trata de uma tarefa simples nem rápida, mas é possível.

O Brasil de hoje está em uma situação econômica incomparavelmente melhor que a Coreia pré-divisão. E, apesar de vivermos a pior crise de nossa história, nada impede que criemos e implantemos uma política educacional séria, consistente e de longo prazo, ou seja, que transcenda o fim de cada governo.

A crise econômica, os escândalos políticos, a corrupção infinita e endêmica, o “jeitinho brasileiro”, a violência urbana, as desigualdades sociais… Tudo isso e muito mais só acontece porque somos uma nação mal educada.

Nada, nem mesmo inclusão econômica de classes menos favorecidas, resolverá qualquer um desses problemas. Se realmente quisermos um país que seja bom para vivermos e do qual nos orgulhemos, precisamos investir na educação. Isso significa cobrar dos governantes mais seriedade nessa área, participar ativamente das atividades das escolas de nossos filhos, colaborar, como empresas, com iniciativas educacionais. Todos precisam dar a sua contribuição!

Mas, acima de tudo, isso devemos valorizar o professor. Sem isso, nunca sairemos do buraco onde estamos.


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Seu sucesso pode vir quando você tocar a vida de alguém

By | Educação | 8 Comments

Imagem: Visual Hunt / Creative Commons

Eu sei: a vida não está fácil; a crise não dá sinais de trégua. Nessas horas, o velho ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro” ganha força! Uma multidão corre atrás do seu sucesso, tentando demonstrar sua competência, se especializando e, às vezes, até mostrando os dentes agressivamente. Mas minhas andanças nesses últimos tempos –e tenho andado cada vez mais vezes e mais longe como Top Voice– têm reforçado uma velha crença minha: seu sucesso pode vir dessas ações focadas em você, claro. Mas ele virá mais rapidamente e melhor quando você tocar a vida das pessoas. E as redes sociais podem ser ótimas para isso, desde que bem usadas.

O motivo é muito simples: nunca sabemos de onde virá o sucesso, assim como não dá para antecipar o próximo vídeo viral. Por mais que tracemos uma meta e trabalhemos duro para ela, não há nenhuma garantia que chegaremos lá, pois sempre há uma variedade de fatores externos que não estão sob nosso controle.


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Uma boa maneira de ampliar nossas chances é trazer mais gente boa para nosso barco. Não como funcionários, fornecedores ou mesmo clientes. O melhor tipo de companheiro nessa jornada é aquela pessoa que, mesmo não o conhecendo pessoalmente, saiba de seu propósito, seus valores, seus sonhos, e concorde com neles!

Como fazer isso? Falando com os outros, demonstrando empatia com pessoas e causas em que você acredite, estando genuinamente aberto para ajudar o próximo no que for possível. Não é doação financeira, não é trabalho voluntário (apesar de essas ações também serem muito positivas). É algo mais poderoso que isso: estar disponível e com o coração desarmado até para pequenas ações, como ouvir o que o outro tem a dizer, dar um conselho, compartilhar boas ideias.

Nesse tipo de alinhamento, existe uma combinação rara de conversa com o cérebro e com o coração do outro. Seu novo companheiro estará então com você promovendo o que você acredita e, de quebra, o que você é e o que você faz. Em outras palavras, o resultado disso é uma reputação consistente naquilo que você faz, algo inestimável no mundo atual dos negócios.

A essa altura do campeonato, alguns podem estar achando isso um tanto oportunista e até maquiavélico.

E é aí que você escolhe os bons companheiros de jornada.

 

Não existe gentileza falsa

Há muitos anos, meu chefe na época me disse algo que nunca mais esqueci: “não existe percepção errada”. Você pode criar um produto incrível, comunicá-lo da melhor maneira possível. Mas nada impede que seus clientes entendam tudo diferentemente. Eles terão percebido as coisas assim! E não é uma “percepção errada”, pois é a percepção deles.

Da mesma forma, não existe gentileza de mentira. Ou você é ou você não é. Quem fica se esforçando (talvez sofrendo) para ser gentil na verdade não é nada disso.

É por isso que, se você conseguir fazer o que propus de uma maneira leve e natural, você jamais estará sendo oportunista e muito menos maquiavélico. Por isso, não tenha medo de julgamentos.

E sabe o que é o mais interessante disso tudo? As pessoas percebem o que você realmente é!

Voltando ao campo dos negócios, não há melhor propaganda que essa! Pelo simples fato de que não é publicidade: ninguém está pagando nada a ninguém. É uma troca genuína de ideias e de propósitos, que pode render novos clientes e até novos mercados para os envolvidos.

Esse tipo de comportamento precisa de incentivo e de divulgação, seja dentro da empresa para clientes, fornecedores, parceiros e o público em geral. As redes sociais, e o LinkedIn particularmente, são provavelmente as melhores ferramentas para essa nobre tarefa. Pois elas propagam ideias muito, muito além de nossos limites pessoais. E de uma maneira mais convincente que qualquer propaganda.

Tem que espalhar!

 

Ouça mais, fale menos

Em outra experiência profissional que tive há muitos anos, em uma empresa de alta tecnologia que respirava valores típicos do Vale do Silício, os funcionários começaram a pedir para conversar com o presidente para lhe exporem suas ideias para o negócio e suas percepções (de novo elas) sobre a empresa. Acontece que, naquele momento, o presidente era alguém com uma visão mais conservadora de gestão. Por isso, sua resposta a esse clamor generalizado foi colocar uma caixinha de sugestões com o logo da empresa no saguão do andar da diretoria.

Sabe de nada, inocente!

Nem uma única sugestão jamais entrou na tal caixinha! Os funcionários se sentiram desprestigiados e o presidente ainda virou motivo de chacota. Pois ele não entendeu nada! E não entendeu porque, no fundo, ele não queria ouvir coisa alguma daquelas pessoas.

Para infelicidade geral, ele foi o presidente que conduziu a empresa ao encerramento de suas operações, algum tempo depois.

Quando queremos construir um relacionamento de qualquer natureza, pessoal ou profissional, precisamos estar preparados para ouvir o que o outro tem a dizer. E, nesses tempos acelerados, essa é uma virtude cada vez mais difícil de se encontrar. Pois todos parecem ter algo a dizer, inclusive para demonstrar como são competentes e que, assim, merecem uma chance de atingir o sucesso.

Só que o mais sábio não é aquele que tem muito a dizer, é aquele que sabe ouvir mais que falar, e, com isso, construir algo positivo para todos.

Parece óbvio. Aliás, muitos podem pensar que esse texto está cheio de obviedades. E está mesmo.

Mas então por que tão pouca gente age assim?

Ser gentil, demonstrar empatia, viver com humildade estão entre as coisas mais nobres e valiosas que qualquer um pode oferecer ao outro. Esse alto valor vem justamente da sua raridade. O que é uma pena, pois tem um grande poder de transformação pessoal e social.

Então, se a crise está feia e a necessidade de alcançar o sucesso nunca pareceu tão importante, comece a prestar mais atenção a quem está a sua volta, ainda que virtualmente nas redes. Ouça o que têm a dizer. Retribua! Ofereça algo de coração a todos. Esse é o melhor caminho para o sucesso hoje.


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A tecnologia pode acabar com conselhos profissionais e sindicatos

By | Tecnologia | One Comment

Imagem: Visual Hunt/Creative Commons

Você sabia que, como passageiro, você também tem uma nota no Uber, dada pelos motoristas? Longe de ser uma firula do serviço, essa “reputação” está transformando dramaticamente, ainda que de maneira sorrateira, a maneira como compramos produtos e contratamos profissionais. E, nessa nova ordem mundial, sindicatos e conselhos profissionais podem estar rumando para o mesmo fim dos dinossauros.

Tudo por causa de fundamentos da economia compartilhada! Com eles, profissionais, produtos e serviços são escolhidos por seus clientes a partir da experiência que outros consumidores tiveram antes com tais fornecedores. Quem atende bem, é brindado com uma boa nota, e assim ganha destaque nos sistemas.


Vídeo relacionado (de 17/5/16):


O critério de reputação foi criado por essas empresas como uma maneira de dar alguma proteção tanto ao consumidor, quanto ao fornecedor. Afinal, quando você chama um carro pelo Uber, quando faz uma compra pelo Mercado Livre, quando se hospeda pelo Airbnb (apenas para ficar em alguns exemplos óbvios), você está comprando algo que não é da empresa, e sim fornecido por uma legião de desconhecidos que usam essas plataformas para viabilizar os seus micronegócios. Por isso, a nota que outros clientes já lhes atribuíram é fundamental para saber se esses fornecedores prestam um bom serviço.

Quem tiver uma boa nota, acaba sendo privilegiado pelo sistema, e faz mais negócios. Já quem tiver uma nota ruim, pode acabar sendo expulso dele! Da mesma forma, o cliente também tem sua nota, atribuída pelos profissionais com quem já fez negócio anteriormente. Um cliente ruim também pode ser recusado! Afinal, você alugaria o seu apartamento pelo Airbnb para um “ogro”, que pode estragar tudo lá dentro?

O efeito colateral disso é que as empresas de economia compartilhada não dão muita bola para convenções sindicais ou resoluções de conselhos profissionais.  Quem pode oferecer seu serviço na plataforma, quem é considerado um bom profissional, a maneira como o serviço é prestado atende os seus próprios critérios, e não o que dizem as entidades de classe.

Em muitos casos, isso gera conflitos seríssimos. Talvez o caso mais emblemático seja justamente o do Uber, que entrou em choque frontal com sindicato dos taxistas do Brasil (e do mundo) todo. Afinal, qualquer um que atenda seus critérios pode virar seu motorista. Isso passa por cima das regras dos sindicatos e até das prefeituras, que regulam a atividade.

Mas advinha de que lado fica o consumidor?

 

Cabo de guerra

O cliente não dá a menor bola para as convenções sindicais ou resoluções de conselhos, que, aliás, normalmente desconhece. O que interessa para ele é ser bem atendido, com um profissional competente, com um serviço focado em suas necessidades e a um preço justo. Mas essas regras existem por bons motivos. E aí surge o grande dilema.

Os sindicatos foram criados com a Revolução Industrial, como uma maneira de proteger os interesses dos trabalhadores, que não tinham nenhum direito e eram explorados além do limite da irresponsabilidade. Têm, portanto, um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa. As resoluções e códigos de ética dos conselhos profissionais, por sua vez, regulamentam como os profissionais devem exercer seus ofícios, inclusive protegendo interesses dos clientes.

O problema é que, como se pode imaginar, tais regras sofrem atualizações muito, muito lentamente, inclusive porque qualquer mudança precisa ser muito debatida e até embasada em pesquisas científicas, em muitos casos. Mas o mercado não topa mais esperar por isso, pois seu ritmo é muito mais acelerado, e isso só tem aumentado com a introdução de novas tecnologias digitais e a entrada de empresas com modelos de negócios totalmente disruptivos.

Não estou dizendo que a tecnologia vai acabar com categorias profissionais inteiras. Aliás, a tecnologia jamais destrói coisa alguma! Ela promove transformações, propondo alternativas mais vantajosas para as pessoas. Quem tira uma categoria profissional, um produto, um modelo de negócios da jogada é justamente seu consumidor, quando ele encontra essa tal alternativa que lhe atende melhor.

Para piorar ainda mais a situação das entidades de classe, muitas têm fortíssimos interesses políticos, que, muitas vezes até se contrapõem aos dos seus representados. Outras tantas se encontram envolvidas em escândalos de corrupção. Como resultado, não apenas o público, como também muitos profissionais da categoria começam a achar tudo aquilo um atraso de vida.

E advinha só onde todos acabam caindo?

 

Alternativa também para o profissional

Apesar da importância das regras das entidades de classe explicadas acima, o que se vê são cada vez mais profissionais acompanhando seus clientes para as novas plataformas, inclusive contrariando determinações de suas categorias. E o motivo é muito simples: as demandas do público são claras e vão nessa direção.

Oras, pode chegar uma hora em que, se o profissional não embarcar nessas novidades, ficaria sem clientes! O que lhe restaria então?

Um bom exemplo é o que acontece com os psicólogos. Segundo resolução do Conselho Federal de Psicologia, não é permitido fazer terapia online. O máximo que é permitido é uma orientação psicológica pontual, limitada a, no máximo, 20 sessões.

Só que os pacientes não entendem isso! Em uma sociedade totalmente conectada, em que cada vez mais coisas podem ser feitas pelo telefone celular (desde paquerar até a declaração do Imposto de Renda), por que não é possível fazer terapia online? O questionamento ganha ainda mais força quando, por exemplo, o paciente muda de cidade e gostaria de continuar sendo atendido pelo mesmo profissional, à distância. Mas isso não pode acontecer, pois fere a resolução do CFP.

Por mais bem-intencionada que seja a resolução, fica cada vez mais difícil defender essa restrição, especialmente se considerarmos que pesquisas já estão sendo feitas nessa área há 15 anos! Como resultado, o que se vê no mercado são cada vez mais psicólogos ignorando a resolução e encontrando suas maneiras de atender as demandas de seus clientes, mesmo colocando em risco a sua atuação profissional!

Pior que isso: demoras como essa abrem espaço para o surgimento de serviços que ignoram solenemente as regras e chutam a porta com um modelo radicalmente diferente. No mesmo setor da psicologia, no ano passado foi lançado o Fala Freud, um aplicativo que bate de frente não apenas com a resolução acima, mas com o próprio código de ética da profissão. Desde então, ele vem provocando uma acalorada discussão e uma sequência de notas de repúdio de psicólogos.

O aplicativo foi longe demais? Não estou habilitado para afirmar categoricamente que sim ou que não. Mas o fato é que tem um monte de psicólogos cadastrados na plataforma.

Como lidar com essa crise?

 

Foco no cliente e no profissional

Como se pode ver, a tecnologia e as empresas com modelos de negócios (muito) inovadores estão provocando um enorme movimento no mercado. E não quero dizer que estejam promovendo uma bagunça. Mas certamente estão provocando profundas discussões e até indicando alternativas de como uma categoria profissional deve se comportar!

É óbvio que profissões e serviços devem ser regulamentados por entidades competentes, inclusive para proteger o cliente e o profissional: jamais sugeriria o contrário! Mas não é possível que isso continue sendo feito como é hoje.

Ao invés de se posicionarem em lados opostos desse cabo de guerra, empresas e entidades de classe deveriam se unir para se ajudar, cada um oferecendo o que tem de melhor para esse diálogo. Caso contrário, veremos cada vez mais profissionais sérios colocados entre determinações de suas entidades e as demandas de seu público. Se penderem para um lado, podem ficar sem clientes; se forem para o outro, podem ficar sem profissão.

É hora de dar as mãos e construir algo juntos com foco nos clientes e nos profissionais.


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Não olhe agora, mas você pode estar financiando um terrorista

By | Jornalismo | One Comment

Imagem: montagem sobre reprodução

Há alguns dias, cerca de 250 grandes empresas, como McDonald’s, Volkswagen, L’Oreal, e HSBC, disseram que estavam deixando de anunciar em produtos do Google, como o YouTube. O motivo: seus anúncios estavam aparecendo em vídeos que promoviam terrorismo, racismo e outros conteúdos para lá questionáveis. Você pode estar se perguntando: “e o que eu tenho a ver com tudo isso?”

Muita coisa!

Longe de ser apenas uma questão comercial, essa crise potencialmente pode mudar a Internet como a conhecemos. Em uma situação extrema, muitos serviços comuns em nosso cotidiano, que hoje são gratuitos, poderiam passar a ser pagos. Mas algumas atitudes simples nossas podem evitar isso.


Vídeo relacionado:


Para quem não sabe do que se trata tudo isso, uma breve explicação. Pelo método criado pelo Google e largamente adotado é copiado por empresas na Internet, os anunciantes não sabem exatamente em que conteúdo sua publicidade aparecerá. Eles cadastram suas peças e dão diretrizes ao sistema sobre assuntos aos quais as peças devem ser associadas. Mas quem define esse destino, em última instância, são os algoritmos do Google e das outras empresas que vendem publicidade digital, pois se trata de um processo automatizado.

Justamente nisso reside o maior poder do marketing digital. Graças a esses algoritmos, a chance de um anúncio aparecer associado a um conteúdo que tem forte relação com ele aumenta muito. E existem literalmente milhões de páginas e vídeos disponíveis para isso. Consequentemente a probabilidade de o anúncio ser relevante para a pessoa que está vendo tal conteúdo aumenta muito! Logo, as vendas do anunciante tendem a ser muito maiores que as feitas com uma publicidade tradicional.

Mas os algoritmos não são perfeitos. Muitas vezes, o anúncio acaba sendo exibido junto a conteúdos que não têm relação com ele. Pior que isso: pode ser exibido associado a conteúdos que nem deveriam estar na plataforma, como os que estão causando toda essa celeuma.

Mas qual é o real tamanho desse problema?

 

Tempestade em copo d’água

A retirada das campanhas do Google vazou para a imprensa, que botou a boca no trombone. Ao meu ver, a reação desses anunciantes é um tanto exagerada. Pode-se argumentar que é uma questão de princípios: nem um único banner deve ser associado a uma atividade ilícita. Até aí, tudo bem. Mas a repercussão na imprensa deu a entender que o Google é inundado de conteúdos pró-terrorismo e que os banners dos seus anunciantes estariam viabilizando atividades do Estado islâmico e sua turma, o que evidentemente é um despropósito.

Porém isso foi suficiente para criar possivelmente a maior crise de reputação que o Google já teve. E isso pode colocar em risco todo o seu modelo de negócios e a internet como a conhecemos. Afinal, podemos usar gratuitamente os seus diversos produtos justamente porque eles são bancados pela publicidade. E quanto mais os usamos, mais banners são exibidos, gerando mais dinheiro para o Google.

Em outras palavras, ao usar, por exemplo, o YouTube ou o próprio buscador, nós não somos os clientes do Google: somos parte do produto! Os clientes são os anunciantes. E isso vale para todas empresas que vendem publicidade de maneira semelhante, como o Facebook.

Para piorar a confusão, nessas horas sempre aparecem oportunistas.

 

Solução no passado?

No meio da tempestade, o UOL resolveu publicar uma “carta aberta” em que se coloca como a solução para o problema. No documento, o portal joga mais lenha na fogueira, colocando em xeque o modelo da publicidade digital do Google. Pior que isso: usa muita desinformação para confundir ainda mais o público e os anunciantes, como quando sugere que, no marketing digital, o conteúdo deixa de ser relevante. Oras, mas é exatamente o contrário disso! O conteúdo é essencial no processo, pois os algoritmos tentam vincular cada anúncio a um conteúdo semelhante a ele.

Claro que o site se coloca como a solução para o dilema, pois garantiria todo o conteúdo criado por ele e suas centenas de parceiros. Isso é uma falácia, pois o UOL não tem controle editorial sobre nenhum deles, nem pré-aprova o que publicarão. Logo, não pode garantir nada.

Isso me lembra um outro documento, publicado apenas um dia antes pela Folha de S.Paulo, principal acionista do mesmo UOL, em que se coloca como a solução para a crise de notícias falsas que as redes sociais vivem. Segundo a Folha, apenas o jornalismo profissional poderia garantir que tudo o que lemos é confiável e tolerante.

Seria verdade, se o tal jornalismo tradicional praticasse esses valores sempre. Desgraçadamente, vemos, dia após dia, veículos de comunicação tradicionais protagonizando vergonhosos exemplos de imprecisão e distorções causadas por interesses políticos e econômicos. A cobertura da “Operação Carne Fraca”, da Polícia Federal, foi um patético exemplo de como a imprensa profissional pode fazer um péssimo trabalho, desinformando todo o país.

Portanto, muito cuidado com aqueles que promovem soluções oportunistas em algo que estão perdendo feio de concorrentes que estão sob os holofotes no momento.

 

Para onde podemos correr?

É bom que fique claro que esse artigo não pretende defender o Google ou as demais empresas que distribuem grandes volumes de mídia digital de maneira automática, como o Facebook ou a AOL. A ideia aqui é apenas discutir os fatos e propor caminhos para essas empresas, anunciantes e cada um de nós, internautas.

Naturalmente Google e afins têm que dar seus pulos para tentar melhorar dois aspectos essenciais. O primeiro é melhorar os sistemas que varrem automaticamente conteúdos publicados em suas plataformas, como o YouTube, para banir aqueles que são inadequados. Sistemas semelhantes já existem para evitar, por exemplo, que sejam publicados conteúdos que violem direitos autorais, e eles são bastante eficientes.

A outra coisa que precisa ser feita é calibrar os algoritmos que associam os anúncios nele cadastrados a qualquer conteúdo, inclusive àqueles que não estão em suas plataformas (qualquer site pode exibir anúncios vendidos pelo Google e ser remunerado por isso). Dessa forma, o problema seria controlado nas suas duas pontas.

Como se pode ver, existem soluções. É improvável que essa crise se agrave ou mesmo se prolongue por muito tempo. Rapidamente os anunciantes que pularam fora do barco perceberão que esse modelo de publicidade digital é o mais eficiente para que tenham melhor retorno de suas campanhas, resultado de uma evolução contínua de 22 anos de mídia digital.

Portanto, não matemos a vaca para acabar com o carrapato! É claro que banners legítimos não devem ser usados para financiar o terrorismo ou qualquer outra iniciativa moral ou legalmente condenável. Ocorrências assim devem, portanto, ser combatidas, mas não acabando com uma plataforma que redefiniu o mundo da publicidade e do conteúdo, tornando-o um espaço muito mais democrático e eficiente.

Cada um de nós, como usuários, temos o poder e o dever de combater não apenas o mau conteúdo, mas também a má publicidade, que sempre existiram e sempre existirão. Para isso, as próprias plataformas oferecem recursos. Além disso, devemos cobrar que essas mesmas se empenhem para, de seu lado, criar mecanismos ainda mais eficientes para eliminar essas laranjas podres assim que surjam.

Só não podemos cair nessas conversinhas moles de quem está querendo só se promover em cima da crise, propondo uma volta a um passado. Um passado que os próprios usuários já enterraram.


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O que todos nós podemos aprender com 2016

By | Tecnologia | One Comment
Cena de “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin: devemos nos apropriar da tecnologia, mas não podemos deixar que ela tire nossa humanidade – imagem: reprodução

Cena de “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin: devemos nos apropriar da tecnologia, mas não podemos deixar que ela tire nossa humanidade

O ano de 2016 dificilmente será esquecido. Mesmo em quem conseguiu surfar na maré brava que ele representou, ele deixou suas marcas. Por isso, escolhi três palavras –tecnologia, resiliência e transformação– que podem ensinar algo para encararmos 2017. E adianto: ele pode ser melhor!

Em um ano em que tivemos a primeira Olimpíada na América do Sul acontecendo no Rio, grandes movimentos sociais espalhando-se pelas cidades, o impeachment de uma presidente, e uma quantidade sem precedentes de políticos e empresários graúdos indo para a cadeia por corrupção, o que mais impactou a população foi mesmo a crise: ela quebrou inúmeras empresas e catapultou o volume de desempregados para além dos 12 milhões, um triste recorde.


Vídeo relacionado:

O vídeo acima é um resumo (10 minutos) da palestra sobre Marketing de Conteúdo e Inbound Marketing, realizada no Campus São Paulo do Google no dia 28 de julho. Você pode assistir gratuitamente a íntegra do evento, incluindo todos os slides da apresentação, nesta página (1 hora e 32 minutos).


Nesse cenário em que “emprego com carteira assinada” virou artigo de luxo, as pessoas se reinventaram. Muitos começaram a olhar a tecnologia com outros olhos, deixando de ser apenas usuários para encontrar nela maneiras criativas para geração de renda e até mesmo para o desenvolvimento em uma nova profissão.

Possivelmente o exemplo mais emblemático disso seja o Uber, que vem crescendo explosivamente. É possível até mesmo que você conheça alguém que dirija seu carro para a empresa. Apesar de não divulgar quantos motoristas têm hoje, eles mesmos estimam que, só na cidade de São Paulo, já devem ultrapassar os 40 mil. Há um ano, antes da regularização do serviço pela prefeitura, esse número girava em torno de 1.500. Se, para o passageiro, esse enorme aumento trouxe vantagens, para os motoristas fez seus ganhos ficarem bem menores. Ainda assim, na média, eles continuam achando que dirigir para o Uber é um negócio interessante.

E isso faz parte do jogo. Já discutimos aqui as belezas e os riscos de se abraçar “trabalhos digitais”. A dica essencial é: conheça as potencialidades e o funcionamento do que pretende fazer, planeje-se e alinhe suas expectativas. Sem isso, dificilmente a coisa vai acontecer bem. Mesmo no Uber: não é só sair dirigindo! Deve-se ter metas, estudar o mercado. Sem isso, perde-se sua grande vantagem sobre o táxi tradicional, que é a oferta de um serviço diferenciado por cima do simples transporte de passageiros.

Há ainda um elemento que jamais deveria ser esquecido (apesar de muitas empresas não darem muita bola pare ele): as pessoas.

 

Acima de tudo, sejamos humanos!

Outra coisa que 2016 escancarou –e com grande ajuda das redes sociais– foi a importância de profissionais e empresas se relacionarem com seu público e seu cliente.  Um relacionamento genuíno, muito além da simples promoção de serviços e produtos. Em outras palavras, as pessoas querem hoje mais que simplesmente consumir: querem ter voz, poder participar, poder compartilhar e até mesmo ajudar!

O marketing tradicional, que se preocupa mais em empurrar produtos goela abaixo do consumidor, perde força diante dessa nova postura do público. Em contrapartida, novas técnicas como marketing de conteúdo e inbound marketing, que propõem a construção de um relacionamento com os consumidores, ganham mais espaço. Apesar dos seus nomes estarem na moda, o conceito está longe de ser novidade: temos exemplos de marketing de conteúdo ainda no século 19! Mas não há dúvida que as mentes mais criativas estão transformando tudo isso em algo incrível, graças a usos inteligentes da tecnologia digital.

Então o que eu quero que fique claro para todos é que, por mais que tenhamos que ser resilientes diante das provações que a crise nos impõe, por mais que a tecnologia nos ofereça incríveis oportunidades de nos transformar, devemos sempre lembrar que lidamos com pessoas, independentemente do que façamos.

Carl Gustav Jung, criador da psicologia analítica, dizia: “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

Ele estava brilhantemente correto.

Portanto, o desejo para 2017 deste entusiasta da tecnologia que lhe escreve é que se apropriem dos recursos digitais que lhes fizerem sentido, de uma maneira consciente e para o seu bem e o das pessoas que o rodeiam. Mas nunca, jamais esqueçam de seu lado humano, pois é isso que nos diferencia das máquinas.

E assim construamos um ano incrível para todos nós!


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Insensibilidade online pode jogar no lixo sua marca e sua reputação: o que fazer?

By | Tecnologia | 5 Comments

Imagem: reprodução

O Brasil acordou chocado nesta terça com a notícia do trágico acidente de avião na Colômbia que vitimou a maior parte do time da Chapecoense. As redes sociais foram tomadas por todo tipo de manifestação, especialmente de apoio e luto. Mas dois casos despertaram a ira dos internautas, demonstrando claramente como NÃO se comportar nos meios digitais: Catraca Livre e Netshoes.

O primeiro deles foi resultado de publicações sensacionalistas explorando a tragédia; o segundo, um aumento repentino do preço da camisa oficial do Chapecoense no dia em que quase todo o time morreu. Os dois tentaram se explicar, mas os usuários foram implacáveis.

O Caso do Catraca Livre foi o que teve mais repercussão. Tudo começou com a criação de slide-shows com fotos dos jogadores, incluindo “selfies do último dia de vida”, e postagens de vídeo de pessoas entrando em pânico em um avião prestes a se acidentar. Ou seja, um caso incrível de falta de sensibilidade não apenas com as vítimas retratadas, mas com toda a população, chocada com a tragédia.

Diante de um tsunami de críticas, grande parte delas raivosas, a publicação resolveu se posicionar. E, ao fazer isso, piorou ainda mais a situação. As primeiras explicações publicadas não assumiam o erro e ainda reforçavam a falta de sensibilidade diante da irrelevância do que havia sido publicado, com frases como “mostrar outros aspectos da tragédia, como medo de voar e os mitos”. Outras explicações e, finalmente, pedidos de desculpas se seguiram, mas aparentemente aquilo só fez tudo ficar ainda pior. Diante de uma aparente falta de ter para onde correr, o Catraca Livre começou a apagar seus próprios posts e comentários negativos de usuários: um erro grosseiro.

Resultado: milhares de “reações” negativas e de comentários se espalharam por todas as publicações do Catraca Livre hoje. Como os posts sobre a tragédia foram eliminados e a fan page continuou a ser alimentada com chamadas sobre outros assuntos, inclusive trivialidades, os usuários começaram a inundar tudo com seu descontentamento e sua incredulidade.

As reações negativas continuaram: rapidamente criou-se um movimento que pedia às pessoas que parasse de seguir o veículo nas redes sociais. Segundo o site Quintly, o Catraca Livre já tinha perdido mais de 300 mil “curtidas” no Facebook até o fim da tarde de terça (os valores mudam continuamente).

Mais ou menos nessa hora, Gilberto Dimenstein, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros e criador do Catraca Livre, resolveu se manifestar. Em um post em sua página e na do veículo (abaixo), ele chamou para si o erro de julgamento pelas publicações, absolvendo o resto da equipe.

Imagem: reprodução

Empenhou a sua credibilidade na tentativa de revertera gigantesca onda de ódio. Mas era tarde demais.

 

A culpa é do sistema

No caso do Netshoes, quem levou a culpa foi o sistema. No site de material esportivo, a gritaria começou porque o valor da camisa oficial do Chapecoense passou de R$ 159 a R$ 249, justamente no dia em que a tragédia aconteceu. Os clientes e internautas viram na mudança de preço um inadmissível oportunismo diante de um eventual aumento de procura pelo produto causado pela tragédia.

A empresa publicou uma nota oficial (abaixo) procurando apaziguar os ânimos. Segundo a nota, a camisa estava com um preço promocional por conta da Black Friday. Por uma infeliz coincidência, o item teria se esgotado na manhã do acidente, fazendo com que o sistema automaticamente o marcasse como indisponível, porém com o preço normal.

Imagem: reprodução

Assim como aconteceu no caso do Catraca Livre, as explicações não foram suficientes para apaziguar os ânimos dos internautas, que continuaram criticando pesadamente a empresa, rotulando-a de insensível e oportunista. Apesar de as críticas não terem acontecido com a virulência vista no Catraca Livre, certamente a imagem do Netshoes saiu arranhada desse episódio

Mas o que fazer diante de mancadas tão grandes como essas?

 

Gestão de crise explosiva

Lidar com situações assim exige grande sensibilidade e rapidez. A gestão de crise vem ganhando enorme importância com as redes sociais, pois escorregões como esses se alastram como rastilho de pólvora pela própria natureza das redes sociais.

Esse ano contou com várias crises brasileiras de marcas e reputações que escorreram pelo ralo porque seus responsáveis demoraram muito a reagir. Em termos de redes sociais, um dia pode ser devastador para uma empresa ou um profissional que se vê sob fogo cerrado. Que dizer então de uma semana?

Nos eventos desta terça, do Catraca Livre e da Netshoes, o problema não foi agilidade: eles responderam quase instantaneamente à enxurrada de críticas. Nas duas situações, o que faltou foi sensibilidade, humanidade.

No caso da Netshoes, isso fica evidente já na resposta oficial: a culpa foi do sistema. Frio, insensível, analítico, o software simplesmente executou aquilo que foi programado diante da ocorrência de uma condição: no caso, o término do estoque do produto. Portanto, a empresa reagiu rapidamente, assumiu a falha e encontrou uma explicação plausível. Para muita gente, não haveria muito mais a ser feito.

Mas sempre há, ou a crise não teria ganhado a proporção que ganhou. Primeiramente, trata-se de um varejo de itens esportivos. Logo, diante de uma tragédia maiúscula que afeta diretamente algumas de suas linhas de produtos, os seres humanos que cuidam da gestão do negócio deveriam redobrar a atenção com tudo que se refira ao caso, e não deixar tudo nas mãos de um software.

Isso não aconteceu, portanto algo deveria ter sido feito após a crise ter se instaurado. E, nesse caso, o melhor a ser feito seria oferecer um posicionamento demonstrando uma verdadeira empatia diante do fato trágico. E isso tampouco aconteceu: a nota oficial carrega uma distância e uma frieza tão grandes quanto a ação do sistema que aumentou o valor da camisa do Chapecoense. Diante de um público em estado de choque, isso é praticamente o mesmo que nada.

O caso do Catraca Livre é ainda mais grave, pois não há um software para culpar: a crise foi instaurada devido a uma série de decisões desastradas da equipe editorial. E novamente todas as ações vieram embebidas de muita insensibilidade e até de certa arrogância.

Marcas e profissionais nunca podem esquecer que eles estão lidando com pessoas. Quando alguém bate à sua porta pedindo uma explicação e um posicionamento diante de uma grande mancada, não se pode limitar a ser burocrático. As pessoas estão com os nervos à flor da pele, extremamente sensíveis. Precisam, antes de qualquer justificativa técnica, ser acolhidas. E, após isso, os responsáveis devem tentar oferecer uma compensação plausível.

Somos seres humanos. As redes sociais não nos tiram essa qualidade: até mesmo amplificam nossas emoções. Assim, por favor, as pessoas merecem gentileza verdadeira.


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“Trabalho digital” vira salvação de muita gente, mas tem “pegadinhas”

By | Tecnologia | 3 Comments
O personagem Quico, da série mexicana Chaves: o “dono da bola”, exatamente como os serviços digitais – imagem: divulgação

O personagem Quico, da série mexicana Chaves: o “dono da bola”, exatamente como os serviços digitais

Fazer o seu próprio horário, gerenciar seus custos e seus ganhos e, acima de tudo, não ter mais chefe: quem não gostaria de um trabalho assim? Pois tem muita gente materializando esse sonho profissional, graças a serviços digitais inovadores. Mas não há negócio mágico, nem garantido. Na verdade, “trabalhos digitais” exigem dedicação e planejamento como qualquer outro, e ainda escondem algumas “pegadinhas” que quebram as pernas de muita gente.

As aspas em volta do “trabalho digital” existem porque, na imensa maioria dos casos, a coisa acontece de forma bastante convencional, sendo apenas viabilizados, de alguma maneira, por recursos digitais. E alguns profissionais caem nas armadilhas justamente por esquecer que as regras do mercado continuam valendo da mesma forma.


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Um bom exemplo é o Uber. Uso o serviço regularmente desde que ele chegou em São Paulo e sempre “entrevisto” informalmente os motoristas sobre como eles veem a experiência de dirigir o próprio carro para os outros. Com raríssimas exceções, a resposta é sempre positiva: eles gostam e veem naquilo uma maneira de conseguir exatamente as condições que abriram esse artigo. Por outro lado, todos eles também dizem que hoje precisam dirigir muito mais para ganhar o mesmo que ganhavam há alguns meses. Isso, claro, para aqueles que já têm mais de seis meses de volante, o que é a minoria.

A empresa não divulga a quantidade de motoristas que tem em São Paulo, mas eles mesmos estimam que hoje seja algo entre 30 mil e 40 mil. Como consumidor, é fácil notar que há mesmo muito mais carros na rua: se antes eu chegava a esperar mais de 10 minutos por um deles, hoje raramente espero mais que três. Claro! Em tempos de uma gravíssima crise de empregos no país, muita gente teve a mesma ideia, e resolveu dirigir para o Uber. Pela lei de mercado, com o aumento da oferta, os ganhos caem. Sem falar que a porcentagem que o Uber retém aumentou consideravelmente.

Outra coisa que me chama a atenção desde o começo é o nível educacional dos motoristas. Claro que existe de tudo, mas já cansei de pegar engenheiros, advogados médicos e outros profissionais normalmente muito valorizados topando guiar 12 horas por dia para poder pagar suas contas, diante do desemprego explosivo. O nível dos carros também varia bastante, mas há duas semanas fui surpreendido por uma BMW impecável vir me buscar, apesar de ter chamado um carro do Uber X, versão mais barata do serviço. O carrão não se classificava na categoria Black, a mais cara, por ser de 2013, portanto velho demais para os critérios da empresa.  O dono do carro, um homem de cerca de 45 anos, estava ali porque sua empresa havia falido, e não sabia o que fazer.

No final, a corrida deu R$ 16,75, dos quais 25% ficaram com o Uber. E aí está a grande pegadinha.

 

“A bola é minha: brinco como eu quiser”

Como consumidor, eu adoro o Uber! Mesmo me colocando no lugar dos motoristas, ainda acho que ele seja interessante, especialmente porque está sendo a saída de muita gente para ganhar algum dinheiro nesses tempos bicudos.

Mas claramente eles não têm tanta liberdade quanto imaginam, pois precisam trabalhar cada vez mais para garantir um ganho mínimo, e nas condições que lhes são impostas unilateralmente. E, se não são empregados de nenhuma empresa, na prática respondem, sim, para uma companhia, que, como qualquer outra, visa lucros. Por fim, se não há um chefe personificado em alguém, ele existe de fato no aplicativo que determina quem devem transportar, de que forma e a que custo. Mais que isso: pode lhes aplicar punições se não seguirem as regras da empresa.

O aplicativo é, portanto, um chefe insensível e implacável, com quem não se pode argumentar. Assim como dizia o personagem Quico, da série mexicana “Chaves”, a bola é dele, e todos têm que brincar do jeito que ele quer.

Mas é possível se divertir muito com a bola do outro. É só alinhar as expectativas.

 

De salvação a opção de vida

A essa altura, muita gente pode estar pensando que eu acho o “trabalho digital” algo ruim ou que o Uber explora os motoristas.

É exatamente o contrário disso!

Como disse acima, especialmente em tempos de crise, o uso inovador de tecnologia para criar empregos (ou pelo menos trabalho remunerado) é muito bem-vindo! O grande desafio é que isso deixe de ser apenas uma maneira de conseguir algum dinheiro para pagar as contas por falta de alternativa, e passe a ser uma opção de vida.

A primeira coisa a se fazer é parar de achar que existe uma mágica em torno disso tudo. “Não existe almoço grátis”, como diz o ditado. Quem pensa que vai criar uma fan page no Facebook e ganhar muito dinheiro vendendo qualquer coisa está muito enganado.

Como qualquer empreitada, é preciso conhecer bem as regras do jogo para fazer um modelo de negócios confiável. Seja Uber, Facebook, Mercado Livre, Airbnb ou qualquer outro serviço digital que possa virar nosso parceiro no negócio que estejamos nos metendo, temos que saber quais seu funcionamento, exigências, restrições, vantagens e desvantagens. Cada um tem o seu e o que funciona para um cliente pode não funcionar para outro. Portanto, muita calma nessa hora, para avaliar, sem deslumbramento, o que cada um tem a oferecer.

Além disso, deve-se estudar outros fatores, como quem é a clientela, a concorrência, as características do mercado, a legislação aplicável, fornecedores e outros parceiros, custos e riscos, para então descobrir boas oportunidades.  Os “trabalhos digitais” são muito sedutores porque criam oportunidades e abrem portas que muitas vezes sequer existiam no mês passado, e por isso são muito bem-vindos! Mas a maior parte do trabalho é bastante “analógico”, como qualquer outro negócio. Sem isso, corre-se o risco de engrossar a estatística do IBGE que diz que 60% das empresas brasileiras quebram antes de completar cinco anos.

O objetivo, portanto, é fazer todo esse planejamento com calma e detalhadamente. Assim, as expectativas ficarão alinhadas e os projetos serão bem construídos, evitando-se frustrações. E aí os “trabalhos digitais” brilham com força!


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Robôs podem ajudar no combate à “coisificação” dos empregos

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Cena do filme “A Invenção de Hugo Cabret” – Foto: divulgação

Cena do filme “A Invenção de Hugo Cabret”

Pouca gente sabe, mas já há algum tempo robôs escrevem parte do noticiário que consumimos. Mas longe de ser uma ameaça aos jornalistas, esse fenômeno pode ajudar a combater o desemprego, trazendo alguma luz sobre o processo de “coisificação” dos trabalhos de qualquer categoria profissional.

Esses jornalistas-robôs não são máquinas humanoides, e sim programas de computador conectados a bancos de dados de diferentes tipos. Eles procuram permanentemente por determinadas informações e, quando as encontram, produzem textos em uma fração de segundo, com uma qualidade que virtualmente impossibilita diferenciar um texto de um desses robôs de um escrito por uma pessoa.


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Mas os robôs não são capazes de escrever qualquer texto (pelo menos ainda não). Eles são muito eficientes na produção de material fortemente baseado em números, como resultados financeiros ou placares esportivos. Os programas não têm inteligência artificial para artigos que exijam abstração, mesmo a partir daqueles mesmo dados. Não conseguem, por exemplo, escrever um texto como este que você está lendo agora.

Robôs não ameaçam, portanto, os empregos dos jornalistas. Na verdade, eles podem lhes tirar o fardo de matérias enfadonhas, para que possam produzir reportagens e artigos de alto valor intelectual.

Infelizmente, quem ameaça esses empregos são os próprios jornalistas e as empresas de comunicação.

Neste momento de crise aguda da imprensa tradicional, os jornalistas mais experientes (e caros) são demitidos por economia. Sobram os novatos, que, além de não ter os necessários calos da profissão, acabam sobrecarregados de tarefas, e topando tudo para não perder o emprego.

O resultado previsível são textos com pouquíssimo esforço de reportagem e quase nenhum requinte intelectual. Esses profissionais ficam esmagados entre denuncismo e jornalismo palaciano de um lado e números do outro, e pressionados pelo volume de produção pelos veículos. Ou seja, os textos que produzem ficam tão limitados quanto os dos robôs, e talvez menos precisos.

Então não precisamos mais de jornalistas?

 

O valor do conhecimento

Jornalistas não estão sozinhos diante desse drama: profissionais de muitas áreas começam a sofrer concorrência de sistemas automatizados. Mas novamente aqui eles não são as reais ameaças aos seus empregos. O verdadeiro risco está na “coisificação” de seus trabalhos.

Assim como na imprensa, empresas de todos os setores passam por momentos dramáticos por conta da crise que assola nosso país. Nessas horas, demitem os funcionários mais caros, extinguem funções e cortam investimentos. Sobram os peões e a mão de obra absolutamente essencial. O objetivo: manter a fornalha acesa com o mínimo de carvão, na esperança de que o fogo não se apague até que dias melhores cheguem.

Em outras palavras, elimina-se a inovação, a iniciativa e o desejo de correr riscos. Fica-se quietinho para que ninguém perceba sua presença, torcendo para que as coisas se acertem por si só. É o típico manual do empresário amedrontado pela crise.

Esse é, entretanto, o melhor caminho para se dar mal. O guru da administração Tom Peters costuma dizer que “o fracasso é uma medalha de honra”, pois ele demonstra que se tentou. E conclui: a única maneira de não fracassar em algo é não tentar. Mas essa também é a garantia de que não se atingirá o sucesso em nada.

Quase posso ouvir agora alguns rindo nervosamente, enquanto leem esse texto e pensam: “falar é fácil”. Pois eu digo que fácil é se acomodar na toca, torcendo para que a tempestade passe logo. Se tiverem a sorte de estarem vivos quando isso acontecer, sairão dela enfraquecidos diante daqueles que aproveitaram a tormenta para reforçar criativamente suas estruturas.

Ao invés de se acovardar em seus buracos, empresas, profissionais, associações devem se unir para justamente encontrar fórmulas para fomentar a inovação e a iniciativa. Não estou dizendo para apostarem todas as fichas em uma única ideia, especialmente se não houver muitas sobre a mesa. Mas, mesmo em tempos bicudos, deve-se correr riscos por aquilo que vale a pena. E isso funciona para profissionais e para empresas.

Precisamos, portanto, de jornalista e de profissionais de todas as áreas. Especialmente dos bons e experientes o suficiente para ter sucesso correndo riscos! A alternativa é ficar lá na toca, com os dedos cruzados e produzindo coisas medíocres. Mas nesse caso, quando a crise passar, talvez encontrem mais robôs que profissionais trabalhando.


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O papel da Imprensa e da Justiça na crise brasileira

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Dilma conversa com Lula em cerimônia em que ele foi empossado como ministro-chefe da Casa Civil, no dia 17 de março - Foto: José Cruz/Agência Brasil

Dilma conversa com Lula em cerimônia em que ele foi empossado como ministro-chefe da Casa Civil, no dia 17 de março

Nos últimos dias, especialmente depois que as conversas telefônicas de Lula vieram a público, tenho visto uma enorme gritaria contra a Imprensa e contra o Judiciário. O que mais me assusta é perceber que as críticas vêm escoradas em uma ideologia maniqueísta que tenta transformar verdades escancaradas em versões pueris e reduzir aqueles que defendem a sociedade a simples “golpistas”.

Este artigo não tem objetivos partidários e não defenderei nenhum dos lados. Tampouco negarei que existem excessos de apoiadores e de críticos ao governo. A proposta é analisar desdobramentos que levaram o Brasil a uma polarização ideológica inédita e a uma movimentação política que não era vista desde os fatos que culminaram na renúncia de Collor, em 1992.


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A matéria-prima da Imprensa são os fatos, a verdade; do Judiciário, as leis, a justiça. Dentro desses limites, não podem ser condenados pelo resultado de seu trabalho incomodar alguém, especialmente porque, por definição, sempre incomodam.

No caso do Judiciário, a maior parte das reclamações recai sobre o juiz Sérgio Moro, por ter exposto repetidamente o Governo Federal e membros dos partidos da base governista na operação Lava Jato. Os críticos acusam o juiz de abuso de sua autoridade, por supostamente cercear direitos dos acusados e exagerar nos pedidos de prisão preventiva para obter delações premiadas.

O caso que jogou um tambor de gasolina em uma fogueira, que já estava bastante grande, foi a liberação, no dia 16 de março, de escutas em telefones usados por Lula, nas quais ele conversa com diferentes autoridades, inclusive a presidente Dilma Rousseff.

Como todos devem estar carecas de saber depois de uma semana de noticiário, os dois lados procuram se apoiar em leis para defender ou acusar Moro. Mas evidentemente não há nenhum “golpe” em curso pela Justiça, como muitos, até mesmo a própria presidente da República, insistem em dizer.

Moro está fazendo seu trabalho de juiz. Não é nenhum estagiário e está jogando o jogo com as peças que tem. Seus movimentos são, de fato, muito mais ousados que o que se costuma ver no Brasil. Mas seu baralho não tem cinco ases. Se ultrapassou os limites, a própria Justiça se encarregará de puni-lo. Por outro lado, se ele estiver dentro das regras, expondo ações criminosas de quem for, presta um inestimável serviço ao país. A gritaria dos descontentes não é, portanto, nada além de gritaria.

Mas ainda tem o “Partido da Imprensa Golpista”.

 

Imprensa preservando segredos?

No caso da Imprensa, vemos em diferentes veículos, tanto apoiadores quanto detratores do governo, a distorção da realidade para fazer valer seus pontos de vista. Qualquer título pode (e deve) ter seu alinhamento político, mas nunca, jamais pode faltar com a verdade e a pluralidade para valorizar o seu lado. Mas não vou dar audiência para essa turma que faz antijornalismo. Eu simplesmente não leio mais essas páginas da “direita” ou da “esquerda”. O que quero discutir aqui é a tentativa do governo de desqualificar o trabalho da Imprensa séria. E ele existe em profusão.

O principal argumento da turma do contra é dizer que ela se presta a publicar “vazamentos seletivos” e apenas notícias contra o governo. Eu nunca vi argumentos mais estúpidos e oportunistas, criados para confundir a população.

A fantasia de qualquer governo é ter uma Imprensa dócil, que lhe apoie incondicionalmente. Mas, se ela fizesse isso, não seria Imprensa: seria relações públicas. E o governo, por si só, já tem mecanismos mais que suficientes para se promover, como as mais gordas verbas de publicidade do país e a força da própria máquina governamental.

A Imprensa vem veiculando coisas boas e coisas ruins de governos federal, estaduais e municipais, suficientes até para municiar as diferentes oposições de cada um, que usam material dos veículos de comunicação em seus dossiês e em posts raivosos nas redes sociais.

Alguns podem dizer que agora só se fala nos escândalos que jogam Lula, Dilma e seu governo na lama. Acontece que a quantidade de notícias sobre esse tema, que tem a mais alta relevância jornalística, parece não ter fim. E isso nos leva aos tais “vazamentos seletivos”.

A Imprensa séria não faz, nem publica “vazamentos”. Ela publica reportagens, com verdades apuradas. A turma da gritaria, incluindo a presidente da República, vocifera ao dizer que ela jamais poderia divulgar informações sigilosas, pois isso seria ilegal. Mas a função da Imprensa não é guardar segredos: é revelá-los! Quem tem que guardar segredos são os responsáveis por tais informações. Se elas foram “vazadas”, por incompetência ou de propósito, a função da Imprensa é apurar a verdade, ampliá-la com informações adicionais e publicar tudo com o maior destaque possível. E isso tem acontecido.

Alguns podem dizer que a Imprensa é irresponsável ao divulgar isso tudo, pois estaria criando uma gigantesca instabilidade política. Mas não é ela que está jogando o país no caos. Não são sequer as pessoas que fazem os vazamentos. Os responsáveis pela crise são aqueles que cometeram os crimes, que agora estão sendo desmascarados.

As fontes dos tais vazamentos são sempre pessoas imaculadas, livres de interesses pessoais, pensando apenas no país? Claro que não! Na verdade, o padrão é que seja o contrário disso. Como esquecer de Pedro Collor, que jogou o próprio irmão-presidente na fogueira, motivado por ciúmes? É por isso que os vazamentos nunca podem ser a única fonte da Imprensa, mas são ótimos pontos de partida para as reportagens.

Por isso, quem afirma que ela é golpista não sabe o que é Imprensa, não sabe o que é golpe ou é mal-intencionado. Ilegalidades do Judiciário ou da Imprensa devem ser coibidos. Qualquer outra atitude ousada e que mostre a verdade, deve ser aplaudida.

Nesse cenário, o governo enche a boca para bradar que nossa democracia é plena e madura, por isso temos tantas investigações em curso, inclusive dos próprios governantes. Isso é uma meia-verdade. Esse argumento funciona para quem cresceu sob a truculência militar, com a polícia atirando e jogando a cavalaria sobre manifestantes, para quem aprendeu que um país é “mais estável” quando tem sua Imprensa e seu Judiciário amordaçados e acovardados.

Temos uma cultura construída em cima de 516 anos de rapinagem da nação por aqueles que estão no poder. Nossa democracia é, na verdade, jovem, imperfeita e frágil. Estamos no caminho certo para que ela amadureça de fato, mas isso só será possível com o Judiciário e a Imprensa desempenhando livremente os seus papeis. Assim, qualquer tentativa de impedir isso é uma manobra para debilitar a democracia. E é o que não pode ser tolerado.