Em 1985, eu e três amigos começamos a nos interessar por computadores, em uma época em que pouquíssimas pessoas sabiam o que eles eram ou para que serviam. Fomos a uma pioneira “escola de computação” no bairro para saber se poderíamos aprender mais sobre aquilo. A recepcionista nos levou a um TK-85 (um pequeno computador como o da imagem) e digitou o seguinte programa:
10 PRINT "Qual é o seu nome?" 20 INPUT nome$ 30 PRINT "Olá, " + nome$ + "." 40 END
Quando ela rodou aquele código “espantoso”, a tela da TV preto-e-branco exibiu “Qual o seu nome?” Cada um de nós digitou o seu, ao que a máquina respondeu (para mim) “Olá, Paulo.”
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Assombro geral com a “inteligência” do computador! Suficiente para aqueles pré-adolescentes se matricularem no cursinho de BASIC.
Não é preciso ser um programador para perceber que aquilo era algo extremamente simples. Mas para quem nunca tinha tocado em um computador (1985, lembra?), foi o suficiente para abrir as portas que me permitiram, a partir dali, olhar para o digital como forma de ampliar meus horizontes, procurando entender o que acontece no mundo dos bits.
O ser humano tem medo do desconhecido, porque não o pode controlar. Mesmo que algo aconteça incontestavelmente diante de seus olhos, se não compreender o fenômeno com o que sabe, recai sobre obra do divino ou –pior– vira “bruxaria”. Por conta disso, muitas mulheres e homens geniais foram, ao longo da história, calados, presos ou mortos por suas ideias, mesmo as mais benéficas à humanidade.
Por outro lado, quando adquirimos conhecimento, qualquer coisa, mesmo aquelas até então tidas como mágicas, deixa o campo do desconhecido e passa a ser uma ferramenta sob nosso domínio. E de tempos em tempos, uma nova tecnologia disruptiva surge para “testar a nossa fé”.
A bola da vez é a inteligência artificial, que já está revolucionando muitos negócios, mas igualmente desperta medo, pois o cidadão médio não consegue entender como ela funciona. Para ficar ainda mais confuso, temos pesquisadores e executivos da própria área revelando publicamente restrições a ela.
Talvez exista exagero nesses temores; talvez não. A dúvida se dá porque essa, que é uma das mais poderosas tecnologias já criadas, ainda seja majoritariamente incompreendida pela massa, que a vê, portanto, como “mágica”.
Precisamos desmistificar a IA, assim como qualquer outra tecnologia. Essa é a melhor maneira de tirarmos bom proveito do que ela pode nos oferecer, enquanto escapamos de eventuais armadilhas. Não quer dizer que teremos que ser todos programadores ou cientistas de dados: entendermos o que é, como funciona e para que serve já ajudará muito!
PS: tenho até hoje o meu TK-85 (foto a seguir), testemunha daquele momento histórico do nascimento da microinformática no país, nos anos 1980.
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