Ao longo do primeiro mês de distanciamento social para tentar conter a disseminação do novo coronavírus, vimos alguns empresários fazendo declarações desastrosas, que provocaram grande prejuízo a imagem de suas companhias. Ainda que tenham sido possivelmente reações espontâneas diante do impacto nos seus negócios, essas falas ofenderam o público, em um momento difícil para todo mundo.
Sim, qualquer um pode ter opinião sobre qualquer coisa. Mas, em um mundo hiperconectado, as palavras têm ainda mais peso. Elas demonstram nossos valores! Só que as pessoas, cada vez mais, compram de empresas cujos valores estejam alinhados aos seus.
Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:
Entra em cena a “customer experience”, a aclamada experiência do cliente. Ela não sumiu com essa pandemia. Pelo contrário! Ficou ainda mais importante!
A parte boa dessa história é que mais empresas e mais profissionais estão se preocupando com a experiência do cliente. É verdade que, para muita gente, isso é só uma moda. Até embarcam nela, mas sem entender de verdade para que serve, e sem estar tão disposto a mudar a estratégia da empresa e o seu foco, passando da própria companhia para o cliente.
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Se antes da pandemia, empresas que não se conectavam verdadeiramente com seus clientes e com a sociedade já vinham tendo dificuldades, sua situação agora ficou ainda mais complicada. Ter um bom produto e um bom preço já não são suficientes para o sucesso. As pessoas hoje compram “a tal da experiência”, que é um grande pacote que -claro- inclui também o produto e o preço. Mas vai muito além disso: ele engloba todo o relacionamento, toda a percepção da pessoa com a marca, mesmo antes de comprar o produto, desde que descobre que a gente existe!
Como eu sempre digo, “customer experience” não é para “ficar bonito na foto”, não é para fazer amigos: é para fazer negócios!
Empresas que oferecem uma experiência superior a seu público conseguem mais clientes, e têm clientes mais fidelizados, que consomem mais! E, como já foi dito, as pessoas compram de empresas cujos valores estejam alinhados aos seus.
E justamente aí chegamos aos maus exemplos citados no começo desse texto.
Uma pesquisa recente da Agência de Bolso analisou centenas de menções em redes sociais sobre a rede de hamburguerias Madero, cujo dono, Junior Durski, deu uma polêmica declaração em março. Ele disse que não poderia fechar seus negócios “por 5.000 ou 7.000 pessoas que vão morrer”. O público reagiu imediatamente, com 63% de menções negativas nas redes! Uma semana depois, a mesma rede demitiu 600 funcionários: as menções negativas saltaram para 67%!
Na mesma época, em um outro caso que não aparece na pesquisa, Alexandre Guerra, sócio da rede de restaurantes Giraffas, ameaçou os próprios funcionários, que estavam em casa por causa das regras de distanciamento social, dizendo que eles deveriam ter mais medo de perder o emprego que do novo coronavírus. A reação nas redes sociais também foi de forte repúdio, com gente pedindo o boicote à marca. Isso fez com que o pai do empresário viesse a público desautorizar o filho e dizer que ele não seria mais membro do conselho, e sequer acionista da empresa.
Em contrapartida, a mesma pesquisa acima trouxe o caso da rede de restaurantes Outback, também da mesma época. Eles doaram ovos de Páscoa, que não seriam vendidos pelo fechamento de seus restaurantes, para mercados de bairro. Dessa forma, buscavam ajudar pequenos varejistas a ter uma renda adicional, nesse momento de dificuldades para todos. Resultado: 74% das menções na rede ao Outback foram positivas! Apenas 5% traziam alguma negatividade.
Em outros casos, vi pessoas reclamando que tiveram a sua Internet sumariamente cortada, porque não conseguiram pagar a conta, devido às dificuldades provocada pelo impacto do distanciamento em negócios.
Cortar Internet nesse momento em que tudo está sendo feito online por muitas pessoas e muitas empresas? Sim, sei que essas empresas podem fazer isso por contrato: afinal, a conta não foi paga. Mas precisavam fazer isso nesse momento? Não poderiam demonstrar um pouco de empatia, alguma flexibilidade? As empresas estão, sim, sendo impactadas por essa crise. Mas as operadoras de telefonia não vão quebrar. Aliás, se tem um negócio que não vai quebrar nesse momento é esse.
O comportamento descrito demonstra uma enorme falta de empatia. Se tivesse feito diferente, poderia ganhar alguém que promovesse a marca, em um segmento cujas empresas normalmente são rejeitadas pelos próprios clientes. Mas, com o que fizeram, só pioraram ainda mais a própria situação!
No caso dos restaurantes acima com declarações infelizes, talvez contem com a memória curta das pessoas, com o fato de que muitos não se importam e que muitos nem souberam do caso. Mas isso é uma roleta russa empresarial! As pessoas têm cada vez mais acesso à informação, e esse tipo ruim se espalha como rastilho de pólvora.
Entendamos de uma vez por todas: o público precisa estar conosco!
O empreendedor pode ter tido uma ideia brilhante e a executado muito bem quando abriu a empresa. Mas o seu negócio só deu certo porque teve uma equipe comprometida e clientes que consumiram seu produto. Se perder qualquer um desses dois, será colocado para fora do mercado. A concorrência está acirrada -na sua porta ou na internet- e está disposta a atender bem esses dois públicos.
Todo negócio tem que dar lucro, claro! Não há nada de errado nisso. Mas qualquer empresa também é uma entidade social: faz parte da sociedade, influencia e é influenciada por ela.
Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, disse há 60 anos: “lucro não é a explicação, causa ou razão de comportamento de negócios e decisões de negócios, mas o teste de sua validade.” Em outras palavras, empresas que só pensam no lucro eventualmente conseguirão isso, porém terão que trabalhar mais para tal. Por outro lado, se a empresa busca verdadeiramente oferecer uma boa experiência a seu público, o trabalho fica melhor e o lucro é uma consequência.
Com distanciamento ou sem distanciamento, temos que entender e aceitar que as coisas já estão diferentes. Temos que nos unir a nossos clientes para encontrar soluções boas para todos. Não adiantar “forçar a amizade” para que tudo seja como antes.
Não será!
Mas podemos nos adaptar! O público coloca da sua parte; a empresa também.
Empatia de todos com todos: precisamos dela para sairmos disso melhores.