Quando todo produto precisa se tornar digital, as empresas precisam aprender a correr riscos

By 21 de agosto de 2023 Tecnologia No Comments
O consumidor não se contente mais com um bom produto, querendo agora uma ótima experiência - Foto: Drazen Zigic/Creative Commons

A inteligência artificial está em toda parte! A essa altura, não é novidade. Dois estudos divulgados na quarta (16) pela IBM reforçam isso e como um número crescente de executivos a consideram um diferencial de negócios, abandonando o aspecto de “curiosidade tecnológica”. Ainda assim, empresas enfrentam dificuldades para adotá-la, por falta de experiência ou de apetite por correr riscos.

Outra que também poderia estar mais bem posicionada em nossas vidas se houvesse mais investimento é o 5G, que acaba de completar um ano de operação no Brasil. Segundo números apresentados pela Ericsson na mesma quarta, o país já atingiu 11,4 milhões de usuários dessa geração da telefonia móvel em 329 municípios. Mas os principais benefícios que ela traz não aparecem, porque as operadoras concentram sua comunicação na oferta de maior velocidade, sem fazer as necessárias atualizações em suas redes e em seus modelos de negócios.

Esse cenário traz desafios inéditos aos gestores de companhias de todos setores e portes. O consumidor fica mais exigente pelas ofertas de uma alta concorrência, e agora busca experiências e personalização que transcendem as propostas originais dos produtos. Com isso, toda oferta precisa se tornar um produto digital.

A boa notícia é que a tecnologia está muito mais acessível, seja pela facilidade de uso, seja pelo preço. Mas para dar certo, os profissionais precisam de atitude para fazer os movimentos necessários.


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Segundo o estudo da IBM “Sete apostas”, a previsão de Marc Andreessen está se tornando realidade: em um artigo de 2011 no The Wall Street Journal, o pioneiro da Internet disse que “o software estava comendo o mundo”. E está mesmo: ele controla de celulares a carros, de aspiradores de pó a robôs industriais. E agora “a inteligência artificial está comendo o software”.

Com isso, os melhores executivos estão desenvolvendo uma mentalidade de engenharia de produto. Eles entendem que a adoção da tecnologia é fundamental para o sucesso, pois os clientes esperam uma ótima experiência digital qualquer que seja o produto ou serviço oferecido.

Curiosamente, nada disso é novo. Software embarcado em produtos e até a inteligência artificial fazem parte do cotidiano de pessoas e de empresas há anos. A diferença é que, desde o fim do ano passado, com o lançamento do ChatGPT, a IA deixou de ser algo obscuro e restrito a poucos profissionais de TI para ser democratizada para qualquer cidadão.

“O ChatGPT capturou o momento em que a experiência se conectou à tecnologia”, afirma Marco Kalil, líder da IBM Consulting no Brasil. Para ele, a digitalização de produtos e o uso da IA como ferramenta de negócios são um caminho sem volta. “As pessoas que souberem aplicar a inteligência artificial nos negócios, realmente priorizando a experiência, terão mais sucesso que os outros, sem dúvida alguma.”

Já no estudo “Tomada de decisão do CEO na era da IA”, também da IBM, 60% dos CEOs entrevistados no Brasil disseram que a computação em nuvem é fundamental para a conquista de resultados nos próximos três anos, enquanto 56% deles confiam na IA. Apesar disso, 41% sentem dificuldade de obter ideias a partir dos dados que têm, com 61% afirmando que a qualidade e a origem desses dados são a principal barreira para adoção da inteligência artificial.

 

Garantindo seu bônus

Incluir inovações em qualquer negócio implica algum nível de risco, pelo simples fato de se sair da zona de conforto. Por isso, muitos executivos, apesar de serem conscientes da necessidade de inovação, resistem a ela, para não ameaçar seus bônus de fim de ano.

Mas a inovação se tornou condição para se manter no mercado, e não apenas as já citadas. Outras apostas do estudo da IBM são a sustentabilidade e o metaverso.

Segundo a pesquisa, muitos executivos ainda veem sustentabilidade e lucros como incompatíveis, indicando uma visão míope de gestão. Já o metaverso deve ser encarado como uma ferramenta que amplie possibilidades do mundo físico, ao invés de substituí-lo. Em ambos os casos, criar experiências com benefícios tangíveis para clientes internos e externos diminui as barreiras para sua adoção.

De fato, não dá para dissociar inovação de experiência. No caso do 5G, a base de usuários brasileiros já poderia ser maior, mas isso não acontece porque o público não vê as incríveis possibilidades da tecnologia, achando que se trata apenas de uma Internet mais rápida. Se for só para isso, preferem esperar.

Sim, a velocidade é muito maior e a latência é muito menor que a do 4G. Isso é necessário para produtos como veículos autônomos, telemedicina, educação a distância e automação industrial disruptivas, cidades inteligentes e entretenimento revolucionário, especialmente em games e transmissões ao vivo interativas.

Mas tudo depende da criação de um ecossistema de provedores de serviços que, por sua vez, precisam que as operadoras de telefonia modernizem sua infraestrutura. Isso permitirá, por exemplo, o “fatiamento da rede”, que entrega conexões diferentes seguindo a necessidade do cliente, podendo até variar de acordo com o momento. Também é necessário que ofereçam APIs, mecanismos para que os desenvolvedores criem aplicações que tirem o máximo proveito dos recursos da rede. Os modelos de negócios também devem ser atualizados, para que o usuário deixe de ser cobrado por franquias e passe a ser cobrado pelos serviços que usa.

“As operadoras já entenderam que o caminho passa por oferecer serviços fornecidos por outras empresas”, explica Marcos Scheffer, vice-presidente de redes da Ericsson para América Latina. Mas, segundo ele, há um processo a ser cumprido e, no momento, as teles estão cuidando da ampliação da cobertura.

“Na hora que você conecta tecnologia com o interesse do usuário, é fantástico”, exclama Kalil. Para o executivo, está na hora de as empresas colocarem essas tecnologias como protagonistas, e não como meras ferramentas. “Nessa hora, o negócio vai mudar”, conclui.

Sei que tudo é investimento –às vezes, muito dinheiro. Além disso, o mercado brasileiro costuma ser impiedoso com aqueles que falham. Essa combinação é mortífera para a inovação, pois os gestores tendem a escolher o caminho seguro e menos inovador.

O problema é que, dessa forma, a empresa perde a chance de se descolar da concorrência e os clientes amargam produtos limitados e experiências ruins. Precisamos aprender a correr riscos com inteligência!


Vídeo relacionado – íntegra da entrevista com Marco Kalil, líder da IBM Consulting no Brasil: