Academia Brasileira de Letras

Mais sobre a discussão de “direitos autorais na era da Internet”

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Evento da Associação Brasileira de Letras discutiu -uma vez mais- a pseudo-ameaça aos direitos autorais pela Internet

O Jornal da Globo desta terça (9) mostrou uma reportagem sobre discussão sobre direitos autorais na ABL (Academia Brasileira de Letras). O teor do encontro foi encontrar alternativas de cobrança para um mundo em que as pessoas cada vez menos estão dispostas a pagar para consumir obras culturais, como músicas, filmes, livros.

Para o compositor Fernando Brandt, se isso não se resolver, “os autores vão deixar de ser autores, vão morrer, não vai haver autor mais no mundo.” Desculpe, mas sou obrigado a discordar, por dois motivos.

Primeiramente porque, por princípio, não compomos músicas, escrevemos poemas ou criamos nossos filmes domésticos para ganhar dinheiro: fazemos isso porque fazemos parte da raça humana. E essas são manifestações da paixão que nos move. Qualquer adolescente sabe disso. Mesmo Camões ou Drummond não escreviam para ganham alguns cobres, por mais que isso lhes fosse brindado depois.

Em segundo lugar… bem, Fernando, desculpe, mas os autores vão –sim– morrer, pelo menos os que esperam continuar sendo remunerados pelos modelos de negócios vigentes “fora” da Internet. Eles simplesmente não funcionam no mundo digital. Não dá para simplesmente tentar migrá-los para essa nova realidade, pois ela exige modelos completamente novos.

Isso não significa, em absoluto, que as pessoas não serão remuneradas pelo seu trabalho. Apenas isso acontecerá de outra maneira, totalmente inovadora, onde apenas o que realmente traz valor ao processo terá valor. É isso que essa “turma da resistência” se recusa a querer ver.

O caso das músicas é o mais emblemático, pois está mais avançado. Nesse cenário, a grande vítima é a indústria fonográfica, que se tornou completamente obsoleta e desnecessária, tanto para os autores e intérpretes, quanto para o público. Como não acrescenta mais nada ao processo, não tem valor, e não deve ser remunerada. Os primeiros podem realizar todo o seu trabalho, incluindo composição, produção, distribuição e divulgação, sem as gravadoras. E as grandes culpadas por esse ostracismo são as próprias empresas, por tentar resistir ao inevitável, sem se adaptar à nova realidade.

O público, desnecessário dizer, consome esse produto de maneira completamente diferente hoje –e não necessariamente de graça. Isso só acontece no download das faixas, apesar de que a Apple revolucionou o mercado permitindo que as pessoas comprem (ou sejam, paguem!) a música que desejem a preços irrisórios, graças ao iTunes. Outro exemplo de pagamento por música é o download de novas faixas em games, como no Guitar Hero, da Activision.

Claro que isso implica em mudanças na rotina dos artistas, mas –sinto lhes dizer– eles não têm escolha, pois seu público já alterou os seus hábitos de consumo. A indústria fonográfica se recusou a mudar e, por conta disso, hoje é um morto-vivo do capitalismo.

Se os medalhões que dominam a indústria cultural há tantos anos ainda assim resistirem,serão substituídos por uma nova geração de autores, adaptadas ao mundo que nos rodeia. Nada mais que puro darwinismo aplicado aos negócios.

O Volp da discórdia

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Linguistas brasileiros estão questionando a iniciativa da ABL (Academia Brasileira de Letras) de lançar a quinta edição do “Volp”, o “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”. A publicação traz a grafia “oficial” das palavras do idioma, segundo as regras do acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa, em vigor desde o dia 1º de janeiro.

Os críticos argumentam -com razão- que a obra foi organizada unilateralmente pela ABL, sem ouvir Portugal ou os outros países signatários, que podem questionar a grafia adotada pelos brasileiros para palavras polêmicas diante das novas regras. A maioria das dúvidas se refere a palavras grafadas com hífen (ou não).

A ABL se defende, dizendo que suas decisões foram bem embasadas e que não devem gerar polêmica com os outros países. Pode ser mesmo que estejam certos, mas a atitude foi um tanto arrogante. Se outros países contestarem o Volp, será legítimo.

Em entrevista à Folha, Evanildo Bechara, que coordenou o Volp, disparou: “se os portugueses seguirem o acordo que eles assinaram, o vocabulário será igual.” Feio! Muito feio! Quem lhe deu a autoridade para dizer isso?

Ora pois!

Tirando o trema da linguiça

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Capa da quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

Capa da quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

A ABL (Academia Brasileira de Letras) finalmente lança, no dia 19 de março , o novo “Volp”, o “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, publicação que funciona como guia para todos os dicionários do país. Não se trata de um “dicionário-pai”, mas de um volume que traz a grafia correta das palavras do nosso idioma. Apesar de estar organizado em ordem alfabética, como um dicionário, ele não traz nenhuma definição, apenas classificações gramaticais.

Essa quinta edição da obra, com seus 349.737 palavras, foi muito aguardada, pois é a primeira que contempla as novas grafias do acordo ortográfico entre os países de Língua Portuguesa, que passou a valer no dia 1º de janeiro. Ironicamente, apesar de as regras terem sido criadas para unificar a grafia entre os países, elas deixaram várias dúvidas por incluírem, em sua redação, juízos de valor (como “consagradas pela tradição”) ou escalas imprecisas (como “em certa medida”).

Vale perguntar o que acontecerá com todos os dicionários que a maioria das editoras se apressaram para lançar no ano passado, na ânsia de colher uns cobres colocando um selo “conforme o novo acordo ortográfico” na capa. Elas não estavam mentindo: de fato, essas edições foram revistas à luz das novas regras. Mas é improvável que qualquer um deles tenha acertado em todos os casos duvidosos. Com isso, essas obras ficam imprecisas diante do novo “Volp” e necessitarão ser revistas. Apesar de percentualmente essas palavras representarem quase uma nulidade, estarão lá. Pior para quem já comprou.

Curiosamente a Microsoft decidiu aguardar a liberação do Volp para atualizar os seus corretores ortográficos, como os que verificam as palavras do Office. Decisão acertada.

Agora só falta convencer os outros países que a grafia do “Volp” para os casos duvidosos são as que devem valer. E o Brasil proporá isso. A conferir o resultado.