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As antenas de 5G são menores que as das gerações anteriores, mas a tecnologia exige de cinco a dez vezes mais delas que as de 4G

O seu 5G pode demorar muito ainda

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Um dos assuntos mais quentes dos últimos dias foi a estreia do 5G “puro” no Brasil, começando por Brasília, na quarta passada. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) definiu um longo cronograma para que o serviço seja oferecido em todo o país. Mas um aspecto pouco falado pode ainda atrasar os lançamentos e piorar a qualidade do 5G: a dificuldade para se instalar antenas nas cidades.

Apesar de a regulamentação de telecomunicações ser federal, as leis que determinam as regras para instalação de torres e antenas são municipais. Isso acontece porque cada cidade tem suas características e necessidades próprias, que precisam ser respeitadas. Mas, em muitas delas, os debates estão emperrados.

Só que, sem antenas, não haverá 5G! Ele não aparecerá “do nada” no seu celular de última geração.


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“Há essa falta de entendimento de que o 5G não virá por passe de mágica”, afirma Sergio Sgobbi, diretor de Relações Institucionais da Brasscom, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais. “Ele não acontece se não tiver infraestrutura!”

Muitas leis municipais sobre o tema estão ultrapassadas, algumas datando da década de 1990, quando eram necessárias torres robustas para suportar antenas muto grandes. De lá para cá, a tecnologia evoluiu dramaticamente e os aspectos urbanísticos mudaram, criando exigências, mas também facilitando muitos pontos.

“Hoje, cerca de 2% dos municípios brasileiros têm leis de antenas atualizadas”, indica Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis, que reúne as empresas de telecomunicações e de conectividade. “É muito pouco!” Em números absolutos, dos 5.570 municípios brasileiros, nesse momento apenas 106 estão com uma legislação plenamente adequada para as necessidades do 5G, incluindo só 13 capitais.

Esse atraso na legislação municipal não impede o lançamento do 5G, mas dificulta o avanço da tecnologia. “É muito importante que isso ocorra com a maior brevidade possível, para evitar um descompasso entre as regras e o avanço tecnológico”, explica Jacqueline Lopes, diretora da Relações Institucionais da Ericsson para o Cone Sul. Segundo ela, “o aprimoramento da legislação tende a ampliar investimentos, trazendo mais benefícios à sociedade.”

“Infelizmente nossos políticos não veem a tecnologia como um avanço para a sociedade e para geração de empregos”, indica Leonardo Fonseca Netto, diretor de vendas da Harman DTS para a América do Sul. “Por isso, as prefeituras não se empenharam em focar em legislação para a inclusão do 5G”, conclui.

Parte desse atraso se deve a contaminação dos debates com assuntos que não deveriam estar lá, por não ser de competência municipal (como as frequências) ou por simplesmente não fazerem sentido. Sgobbi cita, como exemplo, vereadores que debatem se o 5G pode transmitir a Covid-19, um absurdo ideológico importado de outros países.

Ferrari explica que o 5G não provoca qualquer dano à saúde e que os equipamentos atendem com folga todas as determinações da Organização Mundial da Saúde. “É uma mudança que exige diálogo e compreensão sobre os impactos positivos da nova tecnologia, e infelizmente ainda temos que derrubar alguns mitos”, afirma.

Esse atraso é difícil de ser recuperado. O executivo explica que o tempo médio para o licenciamento de uma antena é de seis meses, chegando a um ano em algumas cidades, “o que não é compatível com a nova tecnologia”.

 

Silêncio positivo

Para tentar compensar isso, na quarta foi aprovado no Senado o chamado “silêncio positivo”. Trata-se de um mecanismo legal que permite a uma empresa instalar a infraestrutura necessária para o serviço mesmo sem a aprovação, se 60 dias se passarem após declarar seu interesse na implantação e sem que haja avaliação. “É como um ‘botão de emergência’, um mecanismo da celeridade”, ilustra Sgobbi.

Lopes explica que isso agiliza o processo, mas é algo complementar. Para a executiva, “ainda é necessário que os municípios adequem suas legislações, e, quanto antes isso ocorrer, mais rápido será o desenvolvimento tecnológico, pois haverá previsibilidade para investimentos.”

Um leigo poderia questionar por que não se instalam as antenas 5G nas estruturas já disponíveis para o 4G. Acontece que elas não são suficientes, porque o 5G funciona com frequências de onda mais altas e, quanto mais altas forem, menor seu alcance para propagação. “Por isso, a necessidade de mais antenas instaladas, com menor espaçamento entre elas”, explica Lopes. Dessa forma, o 5G exige de cinco a dez vezes mais antenas que o 4G.

Por outro lado, as de 5G são pequenas, tendo mais ou menos o tamanho de um ar-condicionado. “Ela pode ser pendurada em cima de um prédio, em cima da banca de jornal, no semáforo”, explica Sgobbi. Ferrari acrescenta que, dessa forma, elas impactam menos o visual e são mais fáceis de instalar.

Esse grande volume de antenas é essencial para a qualidade do 5G, que pode oferecer uma velocidade de transmissão até 100 vezes mais rápida que o 4G e uma latência (o tempo de resposta) próxima de zero. Além disso, permite a conexão de até 1 milhão de dispositivos por km2, frente aos 100 mil do 4G. Entretanto, sem antenas suficientes, nada disso será atingido.

O 5G não deve ser visto como mera evolução do 4G. Os avanços que ele traz podem revolucionar tecnologicamente o cotidiano de pessoas e empresas, permitindo o surgimento de incríveis serviços, ainda não disponíveis. E isso precisa ser democratizado, sob o risco de aumentar o já gigantesco abismo digital na sociedade brasileira.

“Antes de a gente falar de antena, da parte técnica, faltam políticas de acesso democrático à banda larga a todos os cidadãos, que já vêm do 3G e do 4G”, explica Marina Martinelli, doutoranda de política científica e tecnológica da Unicamp. “Vai ser um privilégio de poucos!”

Os especialistas concordam que o avanço do 5G dependerá da pressão dos usuários finais. As pessoas ainda não perceberam que terão que esperar um bom tempo para usar o 5G, enquanto a cidade vizinha já terá. Sgobbi acredita que, quando isso acontecer, a população começará a fazer pressão: “por que essa cidade tem e a minha não tem?” Vale dizer ainda que, se uma cidade em um bloco já contemplado no cronograma da Anatel demorar muito a fazer os movimentos necessários para receber o 5G, uma cidade do bloco seguinte, que tiver com tudo pronto, poderá “furar a fila”.

“As pessoas não têm acesso a pacotes democráticos de banda larga no Brasil”, afirma Martinelli. Apesar desses atrasos municipais nas suas leis e do cronograma da Anatel para instalação nas cidades pelo seu porte, o usuário final tem poder em suas mãos.

As empresas de telefonia querem oferecer o serviço o quanto antes, mas farão isso onde a infraestrutura estiver liberada e onde houver mais demanda. “Precisamos de uma integração total dos atores da sociedade para que essa revolução da 5G realmente aconteça”, sugere a pesquisadora.

Caso contrário, o 5G ainda estará em um horizonte que pode passar de sete anos para muitos brasileiros, isso considerando aqueles que poderão pagar por ele. É muito para algo que promete transformar dramaticamente nossas vidas.

 

Prepare-se para ficar sem Internet

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Foto: Leo Hidalgo (@yompyz)/Creative Commons

Empresas de telefonia anunciaram um duro golpe contra seus próprios clientes, impondo restrições ao consumo de dados em seus planos de Internet. Na prática, isso significa que, de repente, todos nós poderemos ficar sem acesso apenas por usar o produto pelo qual pagamos.

Para quem não sabe do se trata, a Vivo (que agora controla a GVT) anunciou que, assim como fazem a NET/Claro e a Oi, agora limita seus planos de banda larga fixa, aquela usada em residências e empresas. Cada plano passa a ter uma franquia, ou seja, uma quantidade de dados para usar todo mês. Quando esse limite for atingido, a velocidade da conexão é reduzida a patamares inutilizáveis ou a conexão é simplesmente cortada. O serviço só é restabelecido na virada do mês, ou caso o usuário compre um “pacote de dados adicional”. Naturalmente pagando bem caro por ele.


Vídeo relacionado:


Juntas, essas empresas respondem por 86% do acesso à Internet fixa no país. Por isso, o anúncio praticamente simultâneo cheira a cartel. Diante da gritaria do público, a TIM aproveitou para dizer que a empresa não imporá esses limites a seus clientes. Esperta! Mas ponto para ela.

O argumento das operadoras parece válido em um primeiro momento: que pague mais quem usa mais. Elas fazem um paralelo com o serviço de fornecimento de energia elétrica. Dessa forma, quem usasse a Internet apenas para tarefas muito básicas, como ler e-mails, pagaria pouco, enquanto heavy users de vídeo sob demanda pagariam muito.

Pura cortina de fumaça para dar um ar de justiça social a uma decisão arbitrária e abusiva!

 

Pega na mentira!

Temos que considerar que esse cidadão da “Internet básica” está em extinção, se é que ainda existe. Quem nunca entra, pelo menos de vez em quando, no YouTube para ver um vídeo de humor, um trailer de cinema ou ouvir uma música? Portanto esse argumento de “cobrar pouco da Internet a carvão” é inválido.

A comparação com o fornecimento de energia elétrica também é um insulto à inteligência do público. Enquanto novos eletrodomésticos são projetados e a população é instruída a gastar menos energia, mas sem que isso configure perda na qualidade no serviço, no caso da Internet vivemos em um mundo em que o tráfego de dados cresce exponencialmente. Não poderia ser diferente: as pessoas têm a sua disposição mais e mais serviços online, sem falar no fato de que cada vez mais equipamentos nas empresas e nas residências estão permanentemente conectados. Você já parou para pensar quantos na sua casa estão online agora? Além dos computadores (que pode ser mais que um), existem os smartphones de todos os membros da família, tablets, televisões, videogames, relógios inteligentes, TV por IP (como Apple TV), sistemas de som… E em breve teremos o carro, o refrigerador e todo tipo de automação doméstica (na Coreia do Sul, por exemplo, já temos lâmpadas ligadas à Internet). Portanto, essa comparação com o fornecimento de energia elétrica é completamente inadequada.

Por fim, há ainda a quantidade de dados que as teles oferecem para cada franquia, outro grande engodo. Elas são criadas para ser insuficientes. No caso da Vivo, as franquias variam de 10 gigabytes, para o plano mais barato (“Banda Larga Popular 2 Mb/s”), a 300 gigabytes, para o mais caro (“Fibra 300 Mb/s”).

Colocando isso em perspectiva, 10 gigabytes são consumidos, por exemplo, assistindo a umas oito horas de Netflix (oito episódios de séries ou quatro filmes), ou a cinco horas de YouTube, ou participando de umas cinco horas de cursos à distância em vídeo ou se divertindo por 15 minutos (sim, minutos!) com jogos online por streaming. Vale lembrar que você ainda tem que incluir todas as outras coisas que você fizer online (sim, WhatsApp e Facebook também contam) e que a franquia é dividida entre os usos de todos os membros da residência em um mês inteiro!

Olhando para esses exemplos fica impossível não notar um provável alvo das operadoras.

 

Guerra ao vídeo online

Acontece que essas empresas também têm outros negócios, como telefonia (que vai mal das pernas) e TVs por assinatura (que está ladeira abaixo).

A única perna do seu tripé que não para de crescer é justamente o acesso à Internet, com usuários cada vez mais ávidos por velocidade e volume de dados. E o grande impulsionador disso é o vídeo, que se estabeleceu como a nova linguagem no meio digital.

Basta olhar para crianças e adolescentes. A ferramenta de busca deles para qualquer assunto não é o Google: é o YouTube. Além disso, eles simplesmente não querem saber de TV aberta ou fechada, não apenas porque todo o conteúdo que eles querem está online, mas também porque eles não se submetem à grade de programação, a base do negócio de qualquer emissora.

Some-se a isso os altos preços dos planos de TV por assinatura, excesso de comerciais, canais irrelevantes empurrados goela abaixo e baixa qualidade da programação, e temos, como resultado os seus 725 mil cancelamentos em 12 meses (até fevereiro, dados mais recentes da Anatel).

Grande parte desse público trocou as altas mensalidades das TVs por assinatura pela Netflix, mais barata, sem comerciais, sem grade de programação e com conteúdo de alta qualidade. Ou seja, paga-se muito menos por um produto muito melhor.

O negócio só não é perfeito porque a Netflix roda sobre a Internet. E quem oferece esse serviço são as teles. Então, no melhor estilo de “a bola é minha, brinco como eu quero”, elas se veem no direito de penalizar toda a população para tentar tornar o vídeo digital o vilão da história, para salvar o seu negócio moribundo de TV por assinatura.

 

O que fazer?

Portanto, apesar de os comerciais das operadoras para vender seus acessos à Internet sugerirem uma vida totalmente conectada às pessoas, inclusive destacando o vídeo sob demanda, sua visão tacanha de negócios castra seus clientes. A prática nega o discurso.

Seria de se supor que a Anatel fizesse alguma coisa a respeito. Mas a Agência Nacional de Telecomunicações decidiu lavar as mãos sobre o tema. Segundo ela, para serviços de banda larga fixa, as empresas podem fazer o que bem entenderem. Sua única obrigação é oferecer um sistema para que o cliente verifique quanto da franquia já consumiu e avisar quando estiver próximo a estourar sua cota mensal.

Felizmente os órgãos de defesa do consumidor não estão dispostos a fazer também o joguinho das teles. Tanto o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) quanto a Associação de Consumidores Proteste já entraram na Justiça contra a prática abusiva. Juristas afirmam que o consumidor está protegido pelo Código de Defesa do Consumidor e pelo Marco Civil da Internet. Este último, uma espécie de “constituição da Internet” no país, prevê explicitamente que o sinal de Internet só pode ser interrompido por falta de pagamento.

Ou seja, a nova prática das teles, além de imoral, é ilegal.

Entretanto, não devemos esperar apenas pelos resultados das ações do Idec e da Proteste. Cada um de nós pode realizar diferentes ações. A página no Facebook Movimento Internet Sem Limites, que debate o assunto, já contava com mais de 400 mil inscritos no momento em que esse artigo foi escrito. Abaixo-assinados online também são boas maneiras de fazer pressão. O hospedado na Avaaz.org já caminhava para 1,5 milhão de adesões. Também é possível abrir uma reclamação no Procon de seu Estado.

Você pode ainda tentar pressionar os deputados federais por e-mail ou telefone. Só não sei se algum deles nos ouvirá nesses tempos em que Brasília só se preocupa com temas ligados ao impeachment da presidente…

A única coisa que não podemos fazer é não fazer nada. É necessário divulgar, debater e agir! Já não bastassem as altas mensalidades, os serviços ruins, o suporte deplorável, temos que engolir mais esse abuso agora?


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