CCE

Não quero mais brincar de computador por aluno

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A Comsat, que representa a Encore, quer melar o pregão que venceu e que ainda pode lhe render mais de R$ 82 milhões

A Comsat, que representa a Encore, quer melar o pregão que venceu e que ainda pode lhe render mais de R$ 82 milhões

Parece bizarro, e talvez seja mesmo! A Comsat, representante no Brasil da indiana Encore, que ganhou em dezembro a licitação para a venda ao MEC de 150 mil laptops educacionais do modelo Mobilis, protocolou ontem uma ação no TCU (Tribunal de Contas da União) pedindo o cancelamento do pregão que venceu. Jackson Sosa, procurador da empresa, disse ao jornal Valor Econômico que eles “cansaram” de tentar dar prosseguimento à fase de testes de homologação do produto e que o Ministério da Educação estaria ignorando a companhia. “Não nos interessa mais levar esse processo adiante”, afirmou.

Sei… Você jogaria fora uma fatura de mais de R$ 82 milhões? É o que a Comsat está dizendo que quer fazer. Mas como escrevi em outro post aqui, no dia 5 de maio, o Mobilis teria sido rejeitado nesses mesmos testes, realizados pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Se isso se confirmasse, o que poderia acontecer a qualquer momento, o segundo colocado no pregão, no caso a CCE, com seu Classmate CM52C, seria chamada. Por outro lado, se o pregão for cancelado, todo mundo volta ao zero.

O MEC se defende e diz que já concluiu a sua análise, mas ainda assim enviou os equipamentos para o Inmetro para uma segunda opinião. E o tempo vai passando… Apesar de o computador por si só não resolver os problemas da combalida educação brasileira, a proposta do projeto UCA (Um Computador Por Aluno), versão tupiniquim do programa One Laptop Per Child, idealizado por Nicholas Negroponte, é bem-vinda e pode sim render bons frutos, especialmente à população carente, cujos filhos dificilmente têm acesso à informática. Ainda que não seja usado didaticamente, a simples inclusão digital já cria cidadãos melhores. Assim sendo, espero que o pregão seja mantido, mas que a CCE seja chamada logo! Não quero negar eventuais direitos da Comsat, mas esse seu comportamento é no mínimo suspeito, típico de quem quer ir para a casa com a bola só porque está perdendo na pelada.

(Nenh)um Computador por Aluno

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O equipamento indiano deve ser desclassificado por não atender às especificações do edital, mas ninguém se lembra de treinar os professores?

O equipamento indiano deve ser desclassificado por não atender às especificações do edital, mas ninguém se lembra de treinar os professores?

O leilão para compra de 150 mil notebooks educacionais para 300 escolas públicas de todo país deve fazer água de novo. Dessa vez, o modelo Mobilis, da indiana Encore, foi extra-oficialmente rejeitado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do Ministério da Educação, por não atender às especificações.

O mercado aguarda agora a confirmação oficial do MEC, mas a Comsat, representante da Encore no Brasil, já promete recorrer. Se se confirmar a desclassificação, a segunda colocada, a CCE, vence o pregão. Cada Mobilis foi oferecido a R$ 553, enquanto o Classmate da CCE, batizado de CM52C, sairia por R$ 666,60 a unidade. Muito acima, portanto, dos US$ 100 sugeridos por Nicholas Negroponte quando instituiu o programa One Laptop Per Child, que gerou no Brasil o Um Computador Por Aluno (UCA), “motivador” do referido pregão.

Na verdade, o buraco é mais embaixo. Não quero diminuir a importância de iniciativas como o UCA. Muito pelo contrário: acredito plenamente que o uso consciente de tecnologia pode auxiliar –e muito– o processo educacional. Mas as escolas são bastiões contra novidades, infelizmente. E, na linha de frente da resistência, estão os professores, despreparados e desmotivados. Completando esse quadro, estão desencontros do próprio governo –que promove patacoadas como liberar acesso à Internet a escolas que não têm computadores– e dos gestores das escolas –que mantém equipamentos trancados com medo de que sejam quebrados pelo uso ou até mesmo roubados.

Tenho conversado com muitos professores e gestores de escolas sobre o uso da tecnologia. Falo também com pesquisadores e empresários do setor no Brasil e lá fora. Está muito claro que de nada adianta despejar computadores em escolas com o perfil acima. Os alunos até seriam beneficiados em um processo de inclusão digital, pois, muito mais que seus mestres, eles são bem adaptados à cybercultura, mesmo em comunidades mais carentes (dentro de limites, claro).

Mas as máquinas não seriam ferramentas pedagógicas. Isso só acontecerá com software realmente educacional (pouco disponível no Brasil) –e não uns arremedos na tela de material impresso– e com o preparo dos professores e das escolas. E aí está o grande desafio, pois não é só transformar o professor em um apertador de botões. Ele continua sendo o principal ator do processo. A tecnologia pode ser uma formidável aliada na sala de aula, mas só depois de o professor se apropriar dela, trazendo-a para a sua aula, o seu dia a dia.