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Por que as pessoas dependem tanto do WhatsApp?

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Foto: montagem a partir de reproduções

Contrariando todas as expectativas, o item mais comentado nas redes sociais na semana passada não foi a estreia do novo Star Wars, e sim a decisão judicial que tirou o WhatsApp do ar em todo o Brasil. A impossibilidade de se comunicar pelo programa deixou muita gente nervosa. Mas por que esse comunicador ficou tão importante na vida das pessoas?

Para quem não sabe, a decisão da juíza Sandra Regina Nostre Marques, que obrigou as teles a bloquear conexões aos servidores do aplicativo por 48 horas, foi tomada depois que os responsáveis por ele terem repetidamente desrespeitado ordens judiciais. Acabou sendo revertida pelo desembargador Xavier de Souza, 12 horas depois.

O WhatsApp tem cerca de 100 milhões de usuários no Brasil. São pessoas que o usam para trabalhar, para conversar com familiares e amigos. Pela sua rede, passam coisa séria e papagaiada em um volume colossal. Portanto, subitamente impedir o uso desse recurso enfureceu os usuários.

Marques afirmou que a decisão está amparada pelo Código Civil e pelo Marco Civil da Internet, que regula o uso da rede no Brasil. Ironicamente, o mesmo Marco Civil da Internet é a base dos que afirmam que a juíza foi longe demais.

Afinal, apesar de ser um ato extremo para fazer a empresa fazer o que a Justiça determinou, prejudicou diretamente 100 milhões de pessoas que não têm nada a ver com isso. É como se a Justiça determinasse que o serviço telefônico em todo o país fosse suspenso até que as teles cumprissem alguma determinação.

Mas o pessoal não tem como falar de outra forma?

 

Efeito manada

Naturalmente sim. Afinal a humanidade chegou até aqui se comunicando, e o WhatsApp tem apenas seis anos. Sem mencionar que existem vários programas alternativos.

Entretanto os comunicadores instantâneos despertam coisas interessantes em nós. A primeira delas é que caminhamos sempre para onde as pessoas estão. O que faz todo sentido, considerando-se a finalidade do produto. Se o grupo migra para outro sistema, logo vamos atrás.

Tanto é assim que o WhatsApp detém essa liderança hoje, mas ela é bem recente. Quem se lembra do ICQ, messenger com uma primazia aparentemente inabalável no fim dos anos 1990? Tinha uma base de apenas poucos milhões de usuários, mas a própria Internet era muito menor. Acabou sendo superado, depois de alguns anos, pelo MSN Messenger, que passou a parecer inalcançável. A Microsoft tentou depois migrar seus usuários para o Skype, mas não teve sucesso. O espaço já estava sendo ocupado pelo Facebook Messenger e pelo próprio WhatsApp: era lá que as pessoas estavam.

 

Um novo jeito de conversar

Tais programas e seu uso em smartphones oferecem duas possibilidades que estão redefinindo a maneira como conversamos. A primeira delas é que, com eles, podemos falar com quem quisermos, a qualquer hora e em qualquer lugar. E mais: sem incomodar quem estiver ao lado. Para muita gente, é a solução para reuniões intermináveis e aulas chatas.

Outra característica é a possibilidade de falarmos com várias pessoas ao mesmo tempo, seja mantendo várias conversas simultaneamente, seja por enviar mensagens a grupos, aliás um dos recursos mais populares do WhatsApp.

Podem parecer tolices, mas a prática demonstra que isso realmente está alterando a forma como nos comunicamos e até mesmo regras de etiqueta. Não é raro ver, por exemplo, várias pessoas em uma mesa de bar teclando em seus celulares. E podem estar enviando conteúdos para quem está ao seu lado.

As pessoas se apropriaram dessa tecnologia e fizeram do WhatsApp algo central no seu cotidiano. O ato da juíza Marques foi, portanto, inadequado, ainda que justificado do ponto de vista legal. Se o Facebook, dono do WhatsApp, se recusa a cooperar com a Justiça, essa é outra questão delicada, que fica para ser discutida em outro artigo.

A proibição do aplicativo entra para a lista de trapalhadas de decisões que tentaram derrubar serviços online inteiros por conta de questões pontuais. Já passou da hora da Justiça entender o espaço que os recursos digitais ocupam na vida das pessoas.

 

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Foto: reprodução

Nesta semana, as linhas do tempo do Facebook de muita gente foram invadidas por um confuso Vincent Vega, personagem vivido por John Travolta em Pulp Fiction. A cada aparição, ele estava em um lugar diferente e inusitado, como em um ponto de ônibus, em um quadro do artista Escher, em um clipe da banda A-Há ou no planeta Tatooine. Trata-se de um “meme”, fenômeno cultural típico das redes sociais. Junto com “emojis”, “emoticons” e afins, eles estão moldando a maneira como as pessoas se comunicam e se expressam.

Para quem não sabe o que são, “emoticons” –junção dos termos em inglês “emotion” e “icon”– são sequências de caracteres usados para acrescentar algo de linguagem corporal a um texto escrito. Por exemplo, : – ) é um rosto feliz (experimente inclinar a cabeça para a esquerda). Eles se popularizaram com sistemas online nos anos 1980 e, com o avanço da tecnologia, surgiram versões gráficas 🙂 a partir de 1997. Chamados de “smileys”, os pequenos desenhos acabaram se combinando com os símbolos japonses “emojis” –junção dos termos em japonês “e” (imagem) e “moji” (letra)– criados originalmente para celulares da NTT DoCoMo. Com os smartphones, as “carinhas” se popularizaram de vez, sendo até mesmo incorporadas aos seus teclados. E já são mais de mil! Já os “memes de Internet” são imagens que se popularizam entre os internautas, que as usam para transmitir ideias ou fazer piadas, acrescentado textos ou alterando o visual, como no caso do Travolta confuso acima.

Usuários de smartphones e de redes sociais, especialmente os mais jovens, encaram essas novas formas de comunicação de maneira totalmente integrada ao cotidiano. Tanto que elas já extrapolaram os limites do mundo digital, sendo reproduzidas até na TV e no cinema. A publicidade também está tirando proveito disso, como nas campanhas do Itaú (exemplo abaixo):

 

 

Muita gente já encara os emojis como novas letras, ou pelo menos ideogramas, a exemplo do formato dos alfabetos orientais. E isso não é piada!

O ponto é: quem não entende –e usa– os símbolos na sua comunicação pode ser considerado um novo tipo de analfabeto?

 

Sai a “letra de mão”; entram as “carinhas”

Paralelamente à inclusão desses novos símbolos de compreensão universal nos “alfabetos” das pessoas, há um movimento pedagógico que propõe que a escrita cursiva, a chamada “letra de mão” deixe de ser ensinada às crianças nas escolas.

A justificativa: as crianças vivem em um mundo onde todo o conteúdo é escrito com letras do tipo bastão, as “letras de forma”. Além disso, todas as formas de entrada de texto digitais –smartphones, tablets, computadores e até TVs– oferecem basicamente essa opção. Dessa forma, a “letra de mão” estaria ultrapassada e seria desnecessário conhecê-la. Em grande parte das escolas brasileiras, a alfabetização já se dá com letras bastão, partindo para a letra cursiva lá pelo terceiro ano do Ensino Fundamental, quando a coordenação motora está mais refinada e o processo de alfabetização está praticamente concluído.

Quem me conhece sabe que sou um liberal e, entre outras coisas, defensor ferrenho da língua viva. Mas acho que tudo na vida deve ser encarado com equilíbrio.

Apoio, portanto, o uso de memes e emojis na comunicação. Acredito que podem até mesmo extrapolar textos informais, sendo usados, por exemplo, em material jornalístico. Claro, não em todos: não estou sugerindo que encontremos “carinhas” nas páginas de economia do Estadão, por exemplo. Mas em outros veículos, com uma proposta mais jovem, eles são não apenas aceitáveis, como bem-vindos.

Quanto à eliminação da letra cursiva nas escolas, não vejo com bons olhos. Entendo perfeitamente a justificativa da proposta, e as coisas realmente acontecem assim. Mas a “letra de mão” continua existindo, inclusive nas telas digitais, como opção de formatação. É uma competência que não deve ser perdida, nem que seja para que as crianças consigam entender materiais escritos assim depois. Porém é mais que isso!

Afinal, a tecnologia nos oferece a oportunidade de enriquecer nossa comunicação, sem precisarmos empobrecê-la em outro canto.