construção civil

Profissional captura imagens de obras para a plataforma da Construct IN, usando capacete com câmera 360º - Foto: divulgação

“Tour virtual” reduz custos e melhora documentação de obras

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Um dos grandes desafios de uma obra é garantir que o projeto esteja sendo cumprido adequadamente, identificando qualquer erro o quanto antes. Isso evita retrabalho e aditivos, que podem elevar consideravelmente o tempo e os custos totais do empreendimento. Agora a tecnologia digital pode facilitar e baratear essa verificação.

Tradicionalmente ela é feita com um engenheiro no próprio local. As despesas com essa ação crescem exponencialmente com a distância da obra, que pode estar até em outro Estado. Pensando nisso, a startup gaúcha Construct IN criou um sistema que oferece fazer isso remotamente, a partir de um “tour virtual” no canteiro, potencializado com ferramentas de gestão, documentação e inteligência artificial.

Ele lembra muito o serviço Google Street View, que permite que se “navegue” por ruas e o interior de estabelecimentos a partir de fotos capturadas em todas as direções previamente. No caso da Construct IN, as imagens da obra são coletadas por uma pessoa que caminha por todo o canteiro usando um capacete com uma câmera 360º na parte superior. As fotos tiradas automaticamente são enviadas ao seu celular, que as carrega para o servidor da empresa, onde são “unidas” para criar a sensação de se estar andando pela obra, com a possibilidade de se olhar para qualquer lado.

Essa junção é feita por inteligência artificial, que também se encarrega de borrar os rostos de quem for eventualmente fotografado, para preservar sua privacidade. O sistema também identifica falhas de segurança, como alguém não estar usando o capacete, emitindo um alerta automaticamente.

Uma diferença em relação ao Street View é que a Construct IN permite comparar diferenças nas imagens captadas em diferentes momentos, algo desnecessário no primeiro, mas muito relevante no segundo caso. “Com a tecnologia, é possível acessar o histórico de todos os ambientes da obra, e observar o andamento do dia a dia, comparando o avanço diariamente ou semanalmente”, explica Tales Silva, CEO da start up. “Isso traz maior segurança, agilidade e transparência em todo o processo de gestão das obras”. Não há limites de capturas, podendo ser feitas até mais de uma vez por dia.

 

Plataforma permite comparar imagens das obras com projetos na BIM (Modelagem de Informação da Construção) – Imagem: reprodução

Plataforma permite comparar imagens das obras com projetos na BIM (Modelagem de Informação da Construção) – Imagem: reprodução

 

A navegação acontece por qualquer navegador na Web, dispensando a instalação de programas. Além de permitir “caminhar pela obra”, que pode estar em qualquer lugar do mundo, a plataforma oferece diversos serviços adicionais, como, por exemplo, fazer medidas com precisão, como se estivesse no local. Também é possível adicionar notas para outros usuários sobre as imagens. O sistema ainda “conversa” com plataformas de BIM (Modelagem de Informação da Construção), permitindo comparar, lado a lado, imagens imersivas da obra com a navegação tridimensional dessas ferramentas de projeto.

Para o fim do ano, a empresa promete uma nova camada de inteligência artificial. A partir de reconhecimento de imagens, ela indicará automaticamente quais os avanços foram feitos em diversos aspectos da obra, como alvenaria, forro, piso e contrapiso, entregando indicadores gerais do andamento de cada pavimento. Isso tornará o gerenciamento da obra ainda mais eficiente e rápido.

A maioria dos clientes da Construct IN é formada por redes de varejistas, que costumam ter equipes reduzidas de engenharia. Por isso, a habilidade de acompanhar as obras remotamente fica muito importante para essas empresas.

É o caso da cadeia de pet shops Petz, cuja sede fica em São Paulo, mas que possui obras de lojas em diversos Estados brasileiros. Elas são realizadas por construtoras e empreiteiros locais e acompanhadas remotamente. Com isso, as visitas presenciais da equipe aos canteiros podem ser feitas a cada 20 dias apenas.

Por se tratar de obras rápidas, com até 90 dias de duração, uma demora de uma semana para identificar alguma falha pode ter impacto considerável no resultado. “Os registros remotos permitem comparar, quase em tempo real, a execução com o projeto, verificar se a obra está no cronograma e fazer checklists à distância”, explica André Ortega, gerente de obras da Petz.

A Construct IN possui hoje 130 clientes, com mais de 700 obras em andamento na plataforma. No ano passado, isso representou 1,5 milhão de imagens capturadas. A estimativa da empresa é que, em 2023, esse número chegue a 3 milhões.

 

André Quinderé, CEO da Agilean. “se você não mudar a forma de produzir e de gerenciar, não vai ter mais sucesso.”

Construtech usa método da indústria automobilística para melhorar a construção civil

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Reduzir custos de um setor muito conservador para continuar viabilizando produtos para um mercado em mudança acelerada e consumidores mais exigentes. Uma construtech –como são chamadas as startups da construção civil– de Fortaleza (CE) quer solucionar isso usando tecnologia e adaptando um método criado pela indústria automobilística.

A Agilean transpôs para os escritórios de projeto e os canteiros de obra os conceitos da metodologia lean, cujas raízes remontam a 1950, quando foi inventada no Japão por engenheiros da Toyota. Essa metodologia propõe uma melhoria contínua dos resultados de negócios, otimizando processos e evitando desperdícios.

“Achatar o tempo das soluções não é mais um luxo, é uma necessidade básica do nosso mercado.”, explica André Quinderé, CEO da empresa. “Se você não mudar a forma de produzir e de gerenciar, não vai ter mais sucesso.”

Apesar de empregar cerca de 7,5 milhões de pessoas e representar por volta de 5% do PIB brasileiro, ele explica que as tarefas de gestão ainda são muito manuais na construção civil. “Há muito desperdício, muito atraso e um baixo uso da tecnologia”, afirma o executivo. “O setor é visto como o patinho feio da indústria.”

A coleta manual de informações nos canteiros traz vários problemas. O primeiro são erros na entrada dos dados. Depois disso, essa informação precisa ainda ser consolidada e processada, para gerar relatórios necessários para a tomada de decisões, um processo extenso e demorado.

“Esse fluxo de integração entre produção e qualidade nas obras é uma dor de cabeça enorme”, explica Quinderé. “A construtora paga o empreiteiro sem saber a qualidade, porque não chega o relatório.”

Minimizar esse gargalo no tempo de produção e entrega dos relatórios fez toda a diferença para a Agilean, que já digitalizou mais de 6 milhões de metros quadrados em obras de todo o país. “Se não conseguir identificar o problema de forma rápida, ele vai se replicar”, diz o executivo. Ela conta que, no início de sua empresa, os relatórios já traziam informações valiosas aos gestores, mas às vezes chegavam tarde demais para algumas decisões.

A solução foi desenvolver uma plataforma  que digitalizasse todo o processo da obra, dividido em vários módulos. Do lado das equipes de projeto e de gestão, existe um dedicado a todo o planejamento da obra e outro para acompanhamento da evolução dos indicadores em tempo real.

A plataforma também inclui um aplicativo para celulares que serve para que qualquer pessoa na obra possa incluir informações, como, por exemplo, um problema encontrado. Essa informação é processada e impacta os relatórios imediatamente, evitando retrabalho e decisões erradas. “As pessoas deixam muito o canteiro de lado e é ali que tem o desperdício”, explica Quinderé. O aplicativo também é responsável pelo fluxo de distribuição de tarefas.

Mesmo se não tiver um celular com o aplicativo à disposição, qualquer profissional no canteiro de obras pode incluir informações no sistema. Para isso, são instalados nele “terminais Andon”, outra contribuição do Sistema Toyota de Produção. Trata-se de pequenos terminais com poucos botões que permitem que o trabalhador indique imediatamente algo que estiver fora do esperado, para que a solução seja dada de maneira rápida e o problema não se replique.

“Alimentamos nosso planejamento e vimos o desdobramento de nossas ações, reprogramação e impactos das nossas tomadas de decisões, antes realizadas visualizando um horizonte apenas de curto prazo”, explica Leonardo Aidar, gerentes de obras da Construtora e Incorporadora Tack.

A plataforma também desenvolveu um assistente virtual que conversa com os envolvidos na obra por WhatsApp. Com ele, é possível, por exemplo, solicitar relatórios que são gerados na hora e entregues por esse canal.

Além disso, graças à inteligência artificial embarcada, o sistema também é capaz de enviar sugestões para a tomada de decisões, mesmo que não tenham sido solicitadas. “O bot não é só reativo, ele é proativo”, explica Quinderé. “A ideia é que funcione como um ‘engenheiro 24 horas’ na ajuda de tomada de decisões.”

Para ele, a transformação digital envolve necessariamente pessoas, processos e tecnologia. Nenhum deles pode ficar para trás. Mas, segundo o executivo, a construção civil é um setor muito tradicional, com um produto com uma vida útil longa, por isso as empresas têm muito medo de a inovação gerar problemas novos.

Entretanto, não fazer esses movimentos deixou de ser uma opção. Quinderé afirma que as construtoras chegaram em um momento em que não podem repassar mais preços ao mercado. “Para manter a minha margem, eu tenho que ser muito mais eficiente”, conclui.

 

Códigos QR da ConstruCode espalhados pelos canteiros de obras permitem às equipes ter acesso a plantas sempre atualizadas

Digitalização moderniza o conservadorismo da construção civil

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A transformação digital vem dando passos importantes em um dos setores mais conservadores na adoção de tecnologia: o da construção civil. Ideias simples e bem executadas podem trazer ganhos expressivos em obras, com a redução de custos e tempo de conclusão. Além disso, a comunicação entre as diversas áreas fica mais fluida, evitando retrabalho.

As construtechs –como são chamadas as startups desse segmento– puxam as novidades. Uma delas é a Agilean, criada em 2013 em Fortaleza. A empresa desenvolveu uma plataforma que automatiza toda a gestão de obras, baseada na metodologia lean. Por esse trabalho, acaba de ser uma das 87 escolhidas para programa de aceleração das empresas Scale-Up, da Endeavor.

Essa metodologia propõe melhorar os resultados de negócios, otimizando processos e evitando desperdícios. No caso da plataforma da Agilean, a digitalização de todos os processos relacionados às obras e coletas nos canteiros facilitadas pelo uso de aplicativos diminuem o tempo de tomadas de decisões, pois as informações ficam disponíveis em tempo real a todos que precisam delas.

André Quinderé, CEO da empresa, explica que a ideia da plataforma veio da observação de relatórios de obras que estavam corretos, mas, quando ficavam disponíveis, já estavam desatualizados. “Tinha a impressão de que o gestor tomava decisão olhando no retrovisor”, afirma. Como resultado, os responsáveis fazem muitas escolhas erradas. Segundo ele, 10% dos custos da construção civil se devem a retrabalho.

O desalinhamento entre as obras e os escritórios de projeto e informações desatualizadas entre os dois lados podem causar inúmeros problemas e desperdícios. Essa é uma dor histórica do setor que outra construtech, a ConstruCode, tenta resolver. “O desempenho produtivo grita por digitalização de canteiros, é lá que temos os maiores lucros ou prejuízos”, afirma Diego Mendes, engenheiro civil e CEO da ConstruCode.

Com uma solução engenhosa, baseada em códigos QR espalhados por todos os locais dos canteiros de obras, ela garante que a equipe tenha sempre uma planta atualizada para guiar os trabalhos. Um leigo pode achar que existe uma única planta, mas são feitas constantes atualizações. Isso exige incontáveis reimpressões, além do risco de a equipe estar construindo com uma planta desatualizada.

Isso é possível porque qualquer pessoa da obra pode usar um celular ou tablet para escanear os códigos espalhados por toda obra para baixar instantaneamente os diferentes tipos de documentos com a garantia de que são atualizados. Com isso, segundo Mendes, a redução de gasto com projetos impressos chega a superar 90%. Pelos seus cálculos, uma única obra pode gerar mais de 120 mil impressos. “Até quando a maior das indústrias, com 13% do PIB global, continuará construindo igual”, questiona.

A solução da ConstruCode também traz um outro ganho que não costuma ser visto nos poucos softwares do setor: a inclusão digital de mestre de obra e suas equipes. “Lembro de ter escutado de muitos gestores de grandes empresas que as equipes de obra dele não eram capazes de usar um aplicativo para ler projetos no celular ou tablet”, conta Mendes.

Essa afirmação lhe parecia estranha em um país com dois celulares por habitante. Como entendeu que o sucesso do projeto dependia de sua utilização por todos, o executivo ouviu as demandas desse grupo, para criar uma interface adequada a sua visão da obra, as condições em que ela acontece e aos equipamentos disponíveis.

 

Pessoas no centro

Quinderé reforça isso, explicando que a transformação digital envolve pessoas, processos e tecnologia. Nenhum deles pode ser preterido. Para ele, a construção civil é um setor muito tradicional, com um produto com uma vida útil longa. Por isso, as empresas têm muito medo de a inovação gerar problemas novos.

Mas não dá mais para continuar assim. “Temos uma nova conjuntura do nosso mercado, uma pressão de custos, de melhorar a produtividade, um momento de alta inflação do nosso setor”, justifica. “As empresas, para manter sua margem, precisam fazer diferente: a inovação deixou de ser acessório e passou a ser essencial.”

A resistência à inovação em setores muito consolidados sempre existiu. Quanto mais tradicional o segmento, menos tolerante a falhas. Mas, para o guru da administração americano Tom Peters, “o fracasso é ingrediente do sucesso”. Segundo ele, à medida que um ambiente se torna mais competitivo, a inovação fica mais necessária. Fazer as coisas de maneira diferente, traz, entretanto, riscos. Dessa forma, aqueles que não querem correr riscos não tentam algo novo, mas a única maneira de se manter competitivo hoje é justamente tentando. É por isso que as empresas precisam de ferramentas e metodologias que lhes permitam inovar com riscos menores.

Nesse sentido, Mendes sugere focar esforços nos problemas que realmente podem ser dominados, “não mais fazendo ajustes pontuais em tarefas repetitivas, mas eliminando-as definitivamente, através de processos e tecnologias que incluem os canteiros de obras em uma rota de produtividade alavancada.” Para Quinderé, as construtoras chegaram em um momento em que não podem repassar mais preços ao mercado. “Para manter a minha margem, eu tenho que ser mais eficiente, e um caminho é digitalizado a gestão”, explica.

Os números das duas empresas indicam que, apesar do conservadorismo, esse mercado começa a inovar. A Agilean, por exemplo, já digitalizou mais de 6 milhões de metros quadrados em obras de todo o país. Já a ConstruCode está presente em mais de 1.400 obras no país.

Para Mendes, a conta é simples. “A transformação digital é uma realidade superacessível, e, dado ao seu alto retorno, caro mesmo é permanecer repetindo processos manuais.”