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Zumbis da série “Walking Dead”: as redes sociais podem nos transformar em uma versão digital dessas criaturas - Foto: reprodução

Ansiedade algorítmica cria zumbis que trabalham de graça para redes sociais

By | Tecnologia | No Comments

“Responda aos comentários dos fãs para ajudar a aumentar o engajamento com a sua conta”. Nessa semana, o Facebook me conclamou (de novo) a interagir ainda mais com outras pessoas, como se isso fosse fazer uma grande diferença na minha vida.

Como a principal rede do Mark Zuckerberg definitivamente não me entrega tal valor, dei de ombros. Mas muita gente não consegue praticar esse desapego, seja no Facebook ou em outras redes sociais. E isso vem provocando uma crescente onda de ansiosos por não darem conta de todas as “tarefas” sugeridas pelos algoritmos, como se fossem necessárias para se destacar em uma vida dividida constantemente entre as redes sociais e suas atividades presenciais.

Por que nos permitimos seduzir (ou controlar) por esses sistemas? Quando deixamos de agradar genuína e desinteressadamente pessoas verdadeiras para satisfazer as demandas insaciáveis das plataformas? Como elas conseguem nos dominar de maneira tão intensa e, ao mesmo tempo, subliminar?

A única rede que me traz benefícios reais é o LinkedIn. Meu mestrado se focou na construção de uma verdadeira reputação digital nele, mas, durante a pandemia, eu me debrucei sobre essas inquietações. Decidi então deixar de produzir para os algoritmos, como um escravizado digital, ou seja, como esses sistemas nos veem.

Já passou da hora de pararmos de nos submetermos aos caprichos desse capitalismo de vigilância e recuperarmos o controle de nossas vidas. No formato atual, as pessoas se afogam em sua ansiedade algorítmica, enquanto trabalham gratuitamente, sem perceber, para as redes sociais.


Veja esse artigo em vídeo:


Mantenho uma produção consistente e cuidadosa no LinkedIn, que me traz contatos qualificados e oportunidades de negócios interessantes. Mas reconheço que, quando parei de criar atendendo as neuroses dos algoritmos, minhas métricas sofreram.

Não escondo isso e, de certa forma, me orgulho desse movimento. Percebi que não precisava impactar, com minhas publicações, dezenas de milhares de pessoas cujos motivos e desejos só os algoritmos conheciam, e que não rendiam nada palpável. Muito melhor é chegar a menos pessoas, mas com as quais possa fazer trocas verdadeiras e produtivas. Outro ganho –tão ou mais importante que essas conexões– é encontrar prazer e leveza em falar com seres humanos, e não com sistemas.

Não é uma tarefa simples. As redes sociais descobriram como reforçar nossa busca por prazeres imediatos, aparentemente exigindo pouco de nós. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca publicou algo em uma rede social na expectativa de receber muitas curtidas e, quem sabe, comentários que afagassem seu ego.

Curtidas não pagam contas! Mas relacionamentos qualificados podem ajudar nisso.

A raiz da ansiedade algorítmica está em sabermos que nossas vidas são controladas por esses sistemas, mas não termos conhecimento sobre como eles funcionam. Dependemos deles para conseguirmos trabalho, diversão e até amor, mas seu funcionamento é uma caixa preta que nunca se abre para nós.

Como consequência, estamos sempre tentando descobrir seus segredos para nos dar bem ou, no jargão das redes, “hackear o sistema”. Lemos artigos, fazemos cursos, acreditamos em gurus, mas o fato é que só quem desenvolve os algoritmos sabe da verdade, e esse é o “ouro do bandido”, um segredo tão bem guardado quanto a fórmula da Coca-Cola.

E assim nos viciamos nas microdoses de dopamina que nós mesmos produzimos quando um post tem uma visibilidade maior que nossa própria média (por menor que seja). A partir disso, buscamos sofregamente repetir aquele sucesso fugaz, tentando replicar uma receita que não temos.

 

O mal da falta de transparência

A inteligência artificial reacendeu os debates em torno da importância da transparência nas decisões dos algoritmos, para que entendamos seus motivos, assim como a explicabilidade e a rastreabilidade do que fazem com nossos dados.

Nisso reside um perverso jogo de poder. As redes sociais jamais nos darão essas informações, pois no obscurantismo está seu ganho. A ansiedade que essa nossa ignorância nos causa faz com que atuemos como zumbis teleguiados por seus sistemas. Se soubéssemos de toda a verdade, só publicaríamos o que “dá certo”, e as redes perderiam o controle que têm sobre nós. Isso seria ruim para seus negócios!

Não há a mínima reciprocidade entre os algoritmos e as pessoas: eles sabem tudo sobre nós, mas não sabemos verdadeiramente nada sobre eles. Temos só suposições e lampejos desconexos do seu funcionamento. Por isso, deixamos de representar, em nossas publicações, quem verdadeiramente somos ou o que desejamos. Ao invés disso, tentamos adivinhar e atender o que os outros querem de nós, esperando sua aceitação e aprovação, como se dependêssemos delas.

Essa é uma tarefa inglória e o caminho para a ansiedade e a depressão. Em casos extremos, vemos influenciadores digitais se suicidando, inclusive no Brasil, diante de sua incapacidade de ter o mínimo controle sobre os resultados de seu trabalho.

A opacidade dos algoritmos os torna mais cruéis quando mudam seus parâmetros continuamente, para que as pessoas não os dominem por muito tempo. Com isso, alguém que estivesse conseguindo ganhos de uma boa visibilidade, poderia subitamente ser descartado, sem explicação ou aviso prévio, gerando mais ansiedade.

As empresas se defendem afirmando que seus algoritmos existem para que as experiências em suas plataformas sejam úteis e divertidas, e não para que viciem os usuários. Dizem ainda que o que nos é empurrado depende de nossas interações na própria rede. Essa explicação, ainda que verdadeira, é tão rasa, que chega a ser hipócrita com quem consome e com quem produz conteúdo praticamente às cegas.

Vale lembrar que, apesar de estarmos falando aqui de algoritmos de redes sociais, eles estão presentes em toda parte, tomando decisões que podem influenciar profundamente nossas vidas. Dois exemplos emblemáticos são as plataformas de recrutamento, que podem definir se conseguiremos um emprego ou não, e os sistemas policiais, que podem decidir se somos criminosos, condenando-nos à cadeia.

Precisamos entender que os algoritmos devem trabalhar para nós, e não o contrário. Mas é inocência acreditar que temos algum controle nessa relação: em maior ou menor escala, somos dominados por esses sistemas, que exercem seu poder impunemente, mesmo quando causam grandes prejuízos aos usuários.

Por isso, o melhor a se fazer é mandar os algoritmos às favas e sermos nós mesmos, como acontecia nos primórdios das redes sociais. Mas você consegue fazer isso hoje?

 

O rapper americano Bandman Kevo, que alia sua carreira musical com a de palestrante motivacional e guru online

Rapper ganha US$ 1 milhão por mês falando de investimentos em site de conteúdo adulto

By | Jornalismo | No Comments

O rapper americano Kevin Ford, mais conhecido como Bandman Kevo, reúne 20 mil assinantes que pagam US$ 50 por mês pelo seu conteúdo online. Ele não fala sobre música, mas sobre investimentos, o que chega a ser inusitado. Mas o que torna a história mais curiosa é que seus vídeos estão no OnlyFans, famoso por hospedar conteúdo adulto explícito de seus usuários.

Por que tanta gente paga para ouvir um músico falando de dinheiro em uma plataforma de pornografia? A resposta: porque isso faz sentido para essas pessoas! E isso é a cara da cultura de criação de conteúdo em que vivemos.

Hoje qualquer um pode fazer publicações para alavancar o seu negócio ou até fazer disso o próprio negócio! Mas esse oceano de posts, cuja maioria tem qualidade no máximo questionável, dilui o valor da informação. Para piorar, as plataformas digitais destacam o que é ruim (mas popular), jogando para escanteio quem faz um bom trabalho.


Veja esse artigo em vídeo:


Os fãs de Ford afirmam que o conteúdo de seu canal no OnlyFans é valioso, ajudando-os a ganhar dinheiro. De fato, não é fácil fazer alguém pagar US$ 50 por mês para ouvir dicas de investimentos, especialmente para pessoas mais jovens, que compõem a maioria do público do rapper. Se fazem isso, algo que consideram valioso deve estar sendo entregue a elas.

Vale notar que o Ford não tem formação acadêmica na área. Na verdade, ele falsificou seu certificado do equivalente ao Ensino Médio. Em 2014, quando tinha 24 anos, foi preso por fraudes com cartões de crédito que passaram de US$ 600 mil. Quando foi solto, em 2019, decidiu aliar sua carreira musical com a de palestrante motivacional e guru online.

Deu certo!

Os puristas podem torcer o nariz para seu sucesso. Mas o rapper fez uma leitura correta de conteúdo, linguagem e recursos digitais, criando um produto consistente para um público específico. Até a escolha do OnlyFans demonstra ousadia. Por isso, seus ganhos estão muito além dos auferidos pela imensa maioria dos economistas, que fazem seu trabalho da maneira como aprenderam nas faculdades. E, por isso, não conseguem se diferenciar um do outro.

Ford surfa em um fenômeno derivado da chamada “economia criativa”, em que o valor econômico vem de ações criativas, culturais e intelectuais. Quem atua no setor sabe as necessidades dos consumidores, onde eles estão, o que eles pensam e suas características. Por isso, agradar o cliente é uma busca constante, promovendo mudanças permanentes no produto, que geram benefícios reconhecidos pela sociedade.

Apesar de as origens da economia criativa remontarem à década de 1980, ela floresceu com o poder que a tecnologia digital concedeu às pessoas, facilitando e barateando enormemente a criação de novos produtos. Com as redes sociais, isso atingiu um patamar incrível, permitindo que produtos intelectuais rentáveis fossem criados praticamente sem investimento. É o caso do canal de Ford no OnlyFans.

Graças a essa facilidade, a produção de conteúdo de qualquer natureza se tornou o trabalho de muita gente. Com a pandemia e o distanciamento social que ela provocou, a prática se tornou essencial para muitos profissionais e muitas empresas continuarem operando no momento de restrições mais severas. Após o fim do distanciamento, essa prática se perpetuou.

Infelizmente a esmagadora maioria desses produtores não tem os elementos necessários para criar um bom produto. Tampouco possui a capacidade de Ford, de fazer uma leitura assertiva do mercado, para entregar algo que atenda a demandas específicas. O resultado é muito ruído, que acaba “escondendo” dos usuários conteúdos que realmente poderiam lhes ser úteis.

 

Sensacionalismo

Há um outro aspecto importante a ser considerado nessa cacofonia informacional. Grandes empresas de comunicação competem hoje com ilustres desconhecidos pela atenção do público nas plataformas digitais. Aprecem mais aqueles que entendem as regras de promoção dessas plataformas, criando conteúdos que atraem não só as pessoas, mas também seus algoritmos.

Como resultado, no Brasil e no mundo, sites sensacionalistas ou que promovem explicitamente a desinformação chegam a superar em audiência veículos de comunicação sérios. Isso gera um preocupante círculo vicioso: como as pessoas clicam muito em títulos escandalosamente apelativos, eles são muito promovidos pelo Google e pelo Facebook, o que faz com que mais pessoas ainda cliquem neles. Chega-se a um ponto em que esses sites inundam as plataformas digitais, enquanto o jornalismo sério fica praticamente escondido.

Isso enche os cofres desses sites com conteúdo no mínimo questionável, enquanto esvazia os dos veículos que investem tempo e dinheiro na produção de bom conteúdo. E as mesmas plataformas digitais que despejam hordas de usuários nos sites apelativos são as mesmas que lhes remuneram pela alta audiência, pois seus anúncios acabam sendo veiculados ali.

O assunto ganhou destaque no Brasil nos últimos dias, com as discussões em torno do projeto de lei 2.630, conhecido como “lei das fake news”, que tramita na Câmara dos Deputados. Ele determina que as plataformas digitais remunerem empresas jornalísticas, em uma tentativa de incentivar quem produz conteúdo de qualidade para fazer frente à desinformação.

Entretanto, o texto, na forma atual, falha ao definir, de maneira clara, o que seria conteúdo jornalístico. Por isso, os sites de fofocas, os sensacionalistas e até alguns que escandalosamente copiam conteúdos alheios sem sequer dar crédito ao autor que investiu tempo e dinheiro na apuração poderão, em tese, ser classificados como “jornalísticos” e, dessa forma, serem remunerados pelas plataformas digitais.

Quem faz conteúdo sério –sejam empresas de comunicação, sejam profissionais autônomos– podem aprender algo com Ford: é preciso entregar um produto em que o público veja valor. Em um mundo em que a realidade se tornou um constante espetáculo, quem trabalha com jornalismo tem aí uma tarefa ingrata, pois dispõe “apenas” da verdade para trabalhar, e ela nem sempre é sedutora. Por outro lado, os sensacionalistas e os que vivem de “fake news” podem distorcer os fatos alegremente, para que se tornem mais atraentes para as pessoas.

Mas há esperança. The New York Times, um dos jornais mais tradicionais e importantes do mundo, com 171 anos de estrada, acaba de atingir a impressionante marca de 10 milhões de assinantes, somando impresso e digital, algo inédito. A empresa esperava atingir essa marca apenas em 2025, mas ela chegou antes em parte graças à aquisição de publicações de segmentos específicos e diversos serviços, inclusive jogos online. Talvez muitos assinem The New York Times por causa desses “agregados”, mas a alta qualidade de tudo que a empresa oferece e esse modelo de negócios moderno abrem espaço para um futuro promissor, enquanto a maioria de seus concorrentes se debate para continuar respirando.

Lição para a vida de todo mundo: não adianta querer continuar fazendo algo de um jeito só porque sempre deu certo assim anteriormente. Como muitos dizem na indústria de mídia, “o conteúdo é rei”, mas não mais como eles pensam. No atual momento da economia criativa, ele tem um valor inestimável como um produto em si ou para atrair pessoas para outros negócios da empresa. Mas só trará resultados se estiver alinhado a necessidades reais do público, e não ao desejo de seus editores.

Fazer alguém colocar a mão no bolso para comprar nosso produto nunca foi tão complicado, pois hoje tudo concorre com tudo. E o bolso do consumidor é um só.

 

“Isso não é Facebook!”

By | Tecnologia | No Comments

A liberdade de pensamento encara uma nova frente de batalha, no terreno de expressão mais democrático de todos: as redes sociais. Desde antes das últimas eleições, as patrulhas ideológicas que combatem o que é contrário a seu pensamento ganham força gradativamente nessas plataformas. Promovem uma avalanche de desinformação e de críticas ácidas, com o objetivo de desqualificar o assunto e o autor.

A diferença é que os alvos não se resumem mais apenas a jornalistas e outras pessoas de destaque na sociedade: agora qualquer um pode ser alvejado pelas milícias digitais. Isso me entristece e dispara o alerta! Para evitar esses ogros, usuários andam fazendo apenas publicações “seguras” nas redes, especialmente no LinkedIn, onde ainda há conversas de alto nível.


Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:


Pessoas com excelentes ideias estão deixando de publicar assuntos que precisam ser debatidos, com receio das críticas ou simplesmente porque se cansaram de “dar pérolas aos porcos”. Sobram então as que não incomodam ninguém, justamente por não trazer temas impactantes, ficando no sucesso insosso. Com isso, o nível do debate na rede desabou, e ela vem se tornando terreno para propaganda e vivaldinos que enrolam a audiência.

“Isso aqui não é Facebook!” Essa é a mensagem padrão quando alguém acha que um conteúdo publicado no LinkedIn é inadequado para a rede. De fato, cada rede social tem um estilo de conteúdo e uma proposta. Em alguns casos, como no LinkedIn, a própria comunidade de usuários ser ocupa de garantir que isso seja respeitado. Mas esse mecanismo legítimo vem sendo usado para iniciar o processo de censura, em que abordagens contrárias ao pensamento dos censores devem ser banidas do debate.

Os antigos diziam que “política, futebol e religião não se põem à mesa”. Mas, ao contrário do que muitos pensam, discutir esses temas nas redes sociais não é algo ruim. Na verdade, é muito necessário, desde que feito de uma maneira construtiva, com respeito, tolerância e baseado em fatos e bons argumentos.

Esses temas definem o que somos e moldam nossa sociedade. A política faz parte da nossa vida: somos animais políticos! Então, como podemos querer ficar só nas postagens seguras, ou fugir ou bloquear o debate?

Isso é algo que vale a pena e que deve ser perseguido! Justamente debatendo esses temas, melhoramos o nível da rede, que anda inundada de propagandas, de gurus de fórmulas mágicas para tudo e de posts rasos como um pires.

Quando não nos posicionamos, deixamos de mostrar quem somos, deixamos de contribuir com a sociedade, de construir nossa imagem em um mundo que funciona de maneira intimamente ligada ao meio digital. Não deixe de publicar por medo de errar. E não seja “morno” querendo agradar todo mundo, pois isso nunca acontecerá!

Às vezes, quando me posiciono sobre esses temas, sou vítima dessa retórica furiosa, que surge na forma de comentários raivosos e até mal-educados. Sempre sou muito cuidadoso na escolha das palavras e na construção das ideias. Mas isso não é suficiente, pois o intolerante apedreja quem não pensa como ele.

A ironia é que o intolerante faz isso justamente porque eu o aceito como é desde o princípio. Mas, no final, ele continuará sendo intolerante, talvez exercitando isso da maneira ainda mais raivosa. Por isso, a única intolerância justificável é contra a própria intolerância!

Isso acontece há muito tempo no futebol, com as torcidas organizadas. Mas agora estamos vendo isso com força na religião, na política e até na economia. Aliás, essas coisas estão se misturando e criando uma amálgama bem coesa e perigosíssima, pela força que dá à violência.

Não pode haver apenas um time de futebol, nem uma única religião, nem um único partido político! Ou nos tornaremos uma república de fanáticos, que nem percebem seu fanatismo.

A liberdade de defender um ponto de vista não pode superar direitos essenciais do ser humanos, como liberdade de pensamento, direito à vida, à educação, a condições dignas de trabalho, de saúde, de moradia. E todos devem ser iguais perante a lei!

É comum encontrar no LinkedIn a frase “isso não é Facebook”, quando uma publicação é considerada inadequada para a rede. Mas, se as coisas continuarem assim, o LinkedIn pode se tornar justamente um Facebook, pelo menos no quesito de debates socialmente relevantes…

Há uma frase equivocadamente atribuída ao filósofo francês Voltaire, que é muito adequada à situação: “eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.”

Quem aqui está pronto para isso?


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Não há atalho nas redes sociais

By | Educação | No Comments

Se tem uma coisa que muita gente quer saber e outro tanto tenta vender é a “fórmula mágica” de como se dar bem nas redes sociais. Afinal, criar uma boa imagem nas redes é um excelente marketing para qualquer profissional e qualquer empresa.

Pena que isso não existe!

Existem, sim, boas práticas que ajudam, mas elas precisam ser usadas com trabalho duro, consistente e ético. Mas pouca gente está disposta a se dedicar dessa forma


Saiba mais sobre esse assunto no vídeo abaixo:


Na quinta passada, entreguei a minha dissertação de mestrado na PUC de são Paulo, que trata exatamente desse tema. Hoje eu quero compartilhar com vocês o resumo das conclusões desse estudo de dois anos.

Primeiramente, a melhor ferramenta para construir uma comunidade virtual em torno da sua marca, seja um profissional autônomo, seja uma multinacional, é a produção consistente de conteúdo e o relacionamento de qualidade com seu público. As duas coisas são essenciais!



Mas talvez a coisa mais importante de todas é que, para se dar bem nas redes sociais, você precisa construir reputação, e não só ficar fazendo barulho.

E o que eu mais vejo nas redes é gente fazendo barulho!

Entendam: não há nada de errado em vender seu produto, seu serviço na rede. Só que, apenas com isso, enquanto você estiver aparecendo, as pessoas eventualmente comprarão. Quando o barulho acabar, não sobra nada! Em meio a um oceano de ofertas, você não vai ser lembrado.

Outra coisa comum nas redes –e isso é péssimo– são essas “histórias fajutas”, normalmente com uma suposta superação, na tentativa de inspirar as pessoas e mostrar como os autores são “pessoas maravilhosas”.

Muitas dessas “historinhas” usam o conceito da Jornada do Herói, criado pelo grande mitólogo Joseph Campbell em 1949. Ela está associada a um processo de “superação” do autor do conteúdo, que vence suas dificuldades com a ajuda de um mentor e, ao final, regressa triunfante. Mas o próprio Campbell advertia que “o escritor deve ser verdadeiro para com a verdade”.

Infelizmente o que vemos é um abuso desse recurso, pois ele fisga muita gente mesmo! E como muitas pessoas curtem, comentam e compartilham aquela bobagem, os algoritmos das redes a espalham para ainda mais gente.

Essas histórias pioram o nível médio das discussões das redes e atrapalham as visualizações daqueles que realmente estão contribuindo com conteúdos relevantes. Além disso, chega uma hora em que as pessoas percebem o truque, e o autor acaba ficando queimado na rede.

Para a pesquisa, foram analisadas quase mil publicações, de sessenta usuários. O foco foi o LinkedIn, por ser a rede que melhor serve à construção de propósito. Para cada uma delas, foram vistas dez variáveis, incluindo diversas métricas de engajamento, a facilidade de entendimento do conteúdo e se a publicação abordava algo que estava “na moda”, ou seja, um tema sobre o que muita gente estava falando no momento. Houve ainda 35 entrevistas qualitativas com autores.

O estudo demonstrou que existem algumas boas práticas para aparecer bem na rede.

Primeiramente, o autor deve entrar regularmente na plataforma, realizar diversas ações e adotar comportamentos construtivos. Fomentar conversas e participar delas é essencial. O melhor assunto é aquele que o autor domina e que agrada o seu público, e temas “da moda” tendem a trazer melhores resultados, especialmente quando o autor consegue aplicar isso aos assuntos de seu domínio.

A linguagem das publicações deve ser simples de ser entendida, e posts tendem a trazer melhores resultados que textos muito longos. E o melhor dia e horário para publicação é aquele que o público do autor está on line.

Por fim, a presença de imagens é fundamental e vídeos são o formato que mais agrada o público, apesar de não ser garantia de mais engajamento.

É fundamental entender que esse resumo traz apenas sugestões que são observações estatísticas. Nas redes sociais, assim como na vida, não há verdade absoluta.

Uma outra coisa importante que o estudo demonstrou é que uma reputação sólida na rede traz benefícios bem palpáveis no cotidiano dos autores, até mesmo profissionais e comerciais. Ou seja, não é necessário ficar se preocupando em vender explicitamente seu produto. As pessoas compram de quem lembram como uma autoridade no assunto e está sempre presente construtivamente em suas vidas.

Afinal, redes sociais são espaços privilegiados de relacionamento. A construção de uma boa reputação passa, portanto, por ser verdadeiro e humano.

Ainda vale a pena publicar nas redes sociais?

By | Educação | No Comments
Imagem: Universo Produções / Creative Commons

Publicar bom conteúdo nas redes sociais se tornou um excelente negócio para profissionais e empresas. Graças a técnicas cada vez mais refinadas, “transformar-se em um veículo de comunicação” abriu um eficiente canal de relacionamento com clientes. Entretanto, de um ano para cá, muitos bons produtores de conteúdo começam a se questionar se ainda vale a pena investir nisso, o que é uma lástima!

Há dois principais motivos para isso. O primeiro é a enxurrada de conteúdo ruim que invadiu todas as redes. Empurrados por “fórmulas mágicas”, um exército de usuários despeja diariamente milhares de posts de qualidade no mínimo questionável, mas com grande apelo. O objetivo é angariar o máximo possível de curtidas e cliques, ganhando visibilidade para vender algo depois.


Vídeo relacionado:


Os autores desse conteúdo até conseguem atingir esse objetivo, mas ele é fugaz e arriscado. Faz-se muito barulho, mas não se constrói nada com isso. Quando o barulho acaba, não sobra nada! Pior que isso: pela baixa qualidade e até pela “malandragem” embutida na metodologia, muitos já criaram uma má fama nas redes.

Mas o principal problema é que os bons conteúdos acabam se diluindo nessa imensidão de porcaria! Como as pessoas acabam sendo seduzidos pela fórmula e clicando nos posts ruins, os algoritmos de relevância os exibem ainda mais, fazendo com que os diamantes se percam no meio de uma montanha de carvão. E aí os produtores desse bom conteúdo começam a achar que o trabalho fica muito grande para pouco retorno.

O outro problema que está afastando aqueles que criam posts, artigos e vídeos que realmente contribuem com a sociedade são as patrulhas ideológicas, que tomaram as plataformas digitais de assalto. Para esses grupos, quem pensa diferentemente deles merece ser combatido e até mesmo destruído! Para isso, são organizados e violentos.

Esses grupos fazem um barulho enorme, parecendo ser muito mais numerosos, poderosos e inteligentes que o que realmente são. E são sempre os mesmos grupos, tanto de um lado, quanto do outro. Os bons produtores de conteúdo precisam ficar se desviando deles, e aí deixam de falar tudo que poderiam. Ou simplesmente não falam mais.

Isso não acontece só nas redes sociais. As patrulhas ideológicas combatem a boa imprensa, a arte, a educação. Tudo aquilo que faz com que as pessoas pensem mais livremente e tenham uma visão mais plural do mundo.

E é nessa hora que as redes pioram.

É nessa hora que toda a sociedade perde!

Como resolver o problema

As redes sociais são o reflexo da sociedade. Se elas estão ficando piores, é porque a sociedade está ficando pior.

Toda rede social começa com um “clubinho”, um grupo de pessoas mais ou menos homogêneo, que estão ali com o propósito de publicar algo que ensine, inspire ou divirta os demais participantes.

Com o tempo, se a rede fizer sucesso, ela vai se tornando mais e mais popular. Isso significa que pessoas muito diferentes garantirão a entrada no “clube”. A princípio, não há nenhum problema nisso: o convívio saudável com as diferenças é benéfico, pois evoluímos assim. O problema é que, em tempos de polarização ideológica e intolerância, o convívio está cada vez menos saudável! E aí a rede perde seu propósito, sendo destruída de dentro para fora.

Foi assim com o Orkut, com o Facebook… Será que o LinkedIn chegará nisso também?

Espero que não! O LinkedIn sempre foi, de longe, um palco para discussões de alto nível e plurais. De um ano para cá, também foi invadido pelos “malandros”, que querem só se promover, pelas “patrulhas”, que estão tentando fazer a sua tradicional “faxina ideológica” nele também. Felizmente, não estão tendo o mesmo sucesso que o visto em outras redes, especialmente o Facebook e o Twitter.

Espero sinceramente que não consigam, porque ali é lugar de gente mais civilizada. E que o espaço se destina conteúdos de boa qualidade e conversas de alto nível.

Os bons conteudistas não devem, portanto, desanimar com o que está acontecendo. Muito pelo contrário: devem produzir ainda mais! A balança entre o material ruim e o bom está pendendo muito para o primeiro lado. Precisamos equilibrar esses pratos!

Todo mundo tem algo bom para contribuir, para ensinar e para aprender. Você tem: diga! Diga com propriedade e respeito. E faça isso com foco no público, não só para se promover!

Temos que parar de dar audiência para quem não merece, esse pessoal que fica publicando historinhas rasas para vender qualquer coisa depois. As redes sociais não são apenas algoritmos. Elas são feitas, antes de mais nada, de pessoas, e são elas que vão dizer, no final, o que realmente vale a pena aparecer mais.

Produza conteúdo, bom conteúdo! E inspire outras pessoas e empresas a fazerem o mesmo.


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Se o conteúdo é rei, o contexto é deus!

By | Jornalismo | No Comments

Você já deve ter lido nas redes sociais que “o conteúdo é rei”, e que ele pode ajudar você a promover o seu negócio, qualquer que seja.

Será mesmo?

Não há dúvida da eficiência de um bom conteúdo nesse papel. Artigos, vídeos e posts roubam o espaço da publicidade convencional na atenção das pessoas, que agora compram de marcas com as quais se identificam e que veem como autoridade no segmento.

Entretanto nem o conteúdo mais bem escrito atingirá esse objetivo se não atender necessidades reais do público. Para isso, é preciso se aventurar em um mundo de gráficos e tabelas, para descobrir esses desejos e adequar a produção. Se o conteúdo é rei, o contexto é deus!

Sem isso, todo o investimento de marketing pode dar em nada. Felizmente o meio digital oferece algumas ferramentas poderosíssimas e gratuitas para identificar essas necessidades de seu público. Com elas, mesmo um pequeno empreendedor pode traçar o caminho até a mente e o coração de seus clientes, e falar com eles de maneira assertiva.

Veja como fazer isso no meu vídeo abaixo. E depois compartilhe conosco as experiências com seu público nessa nova forma de relacionamento.



Saiba mais sobre jornalismo de dados e como você pode “perguntar aos números” sobre informações valiosas, participando do curso online gratuito da Universidade do Texas, que eu menciono no vídeo. Os detalhes estão em https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/00-21046-novo-curso-do-centro-knight-ensina-como-entrevistar-dados-para-reportagens-investigativas-i

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Videodebate: o que o fim dos “likes” no Instagram realmente representa?

By | Jornalismo | No Comments

Você acha que o nível do conteúdo nas redes sociais está muito baixo? Você não está sozinho!

Uma mudança no Instagram aparentemente inócua pode ajudar nisso: desde a semana passada, a plataforma deixou de exibir a quantidade de curtidas que cada foto tem. Com isso, a expectativa é que os usuários apelem menos para fórmulas fáceis para conseguir audiência, os “caça-cliques”, publicando conteúdo que crie um debate de mais alto nível e melhorando da experiência como um todo.

A novidade também pode diminuir a ansiedade e a depressão que algumas pessoas sentem associadas ao meio digital. Acha exagero? Também na semana passada, uma blogueira se suicidou por não suportar a pressão de “haters” nas redes sociais, por ter publicado seu “casamento consigo mesma”.

Alguns podem achar um desproporcional, mas o ato de “curtir” qualquer coisa se disseminou por nossa vida, muito além das redes sociais. E, em alguns casos, isso perdeu seu propósito. Por isso, tal mudança no Instagram pode ajudar a reduzir essas distorções.

No vídeo abaixo, eu explico como isso impacta a sua vida, mesmo que você nem use o Instagram. Veja e depois vamos debater aqui.



Leia o meu artigo sobre a depressão no meio digital, mencionado no artigo: http://paulosilvestre.com.br/a-maldicao-do-influenciador-deprimido-e-o-que-faz-um-influenciador-dar-certo/

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Videodebate: o Facebook mudou o jogo

By | Tecnologia | No Comments

Talvez você nem use mais o Facebook tanto. Mas as mudanças que Mark Zuckerberg e a sua turma anunciaram na F8, a convenção anual da empresa, na semana passada, certamente afetarão a sua vida.

Primeiro porque você deve usar outros produtos da empresa, no mínimo o WhatsApp. Depois porque, pelo seu gigantesco tamanho, o que o Facebook faz acaba impactando outras redes sociais.

Além de mudanças que visam melhorar questões de segurança e de privacidade dos usuários, o calcanhar do Aquiles que está derrubando a rede, o Facebook apresentou uma série de alterações na maneira como as pessoas devem se relacionar entre si e com empresas. Na prática, eles querem que as pessoas se preocupem menos com números como “curtidas” e mais em publicar conteúdo de qualidade e construir conversas interessantes a partir disso. Ou, como disse o próprio Zuckerberg, as redes serão menos como “praças públicas”, em que as pessoas vão para saber o que está acontecendo no mundo, e mais como “salas de estar”, onde recebemos pouca gente para conversar melhor.

Quer saber? Acho isso ótimo! As pessoas andam mesmo muito “viciadas em curtidas” e até fazendo algumas coisas questionáveis para isso. O resultado é uma queda dramática na qualidade do que se publica nas redes, mesmo no LinkedIn, que é o melhor lugar para se encontrar conteúdo e conexões de qualidade.

São nessas conversas que encontramos o verdadeiro ouro das redes sociais, onde nos tornamos autoridade no que fazemos, onde conseguimos mais clientes.

E você, concorda? Veja como isso funcionará no vídeo abaixo, e depois vamos debater aqui nos comentários.



Videodebate: aparecer bem nas redes sociais pode MATAR?

By | Tecnologia | No Comments

Uma influenciadora brasileira de 26 anos pensou em suicídio, porque não estava aguentando a pressão de ter que publicar o tempo todo. Ok, esse é um caso extremo. Mas é para pensar: muita gente quer construir a sua reputação aqui, o que é ótimo. Só que não sabe como dosar o esforço, e acaba pirando, atrapalhando (muito) a sua vida. E isso é muito grave!

Então como construir a sua autoridade nas redes sem prejudicar suas tarefas? Qual o limite?

“Keep calm and keep publishing” 😉 Existem técnicas para isso! Veja no meu vídeo abaixo como chegar ao topo e se manter lá, construindo sua reputação sem truques baratos.

Participação especial de Athena, a gata, no final 😉

 


Links de conteúdos mencionados no vídeo:

Videodebate: como fazer um bom conteúdo

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Produzir um bom conteúdo é o melhor caminho para se destacar nas redes sociais: isso já é bem conhecido por todos.
Mas o que é um bom conteúdo afinal?
Tem muita gente que tem ótimas ideias, escreve muito bem, tira fotos lindas e até grava bons vídeos. Mas, apesar disso, suas publicações parecem não render todo seu potencial.
Por que isso acontece? O que lhes falta?
Acontece que produzir conteúdo para redes sociais tem suas próprias regras. No vídeo abaixo, eu detalho a mais importante delas: alinhar sua produção com o seu público.
Aliás, você conhecer seu público? Conhece MESMO?
Também discuto uma armadilha que tem pegado cada vez mais gente. Não caia no conto do caminho fácil!
Veja o vídeo e depois vamos debater aqui sobre isso. Como vai a sua produção de conteúdo? E os resultados obtidos com ela?
Ah, logo abaixo, deixo o link para o site que menciono no vídeo, que mede a facilidade de compreensão de textos. E também agendas para um webinário gratuito e para os meus workshops sobre produção de conteúdo para redes sociais. Inscreva-se!

 


Links para conteúdos mencionados no vídeo:

 

Quer descobrir se seu texto é de fácil compreensão? Então clique no link a seguir: https://www.separarensilabas.com/index-pt.php
Daí é só colar seu no campo texto e clicar no botão “separar sílabas”. Não esqueça de marcar a opção “estatísticas”.
Após a separação silábica, veja os índices na seção “análise de legibilidade”. Para textos em português, dê preferência ao resultado ligado ao Índice Flesch-Kincaid (1986).

 

Quer participar do meu webinário gratuito para tirar dúvidas sobre produção de conteúdo nas redes sociais? Ele acontecerá no dia 23 de janeiro, às 19h30. Para se inscrever, basta preencher seus dados na página http://eepurl.com/gdZ3K5

 

Quer dominar a produção de conteúdo para redes sociais? Então venha participar do meu próximo workshop, que acontecerá no dia 9 de fevereiro. Será um sábado inteiro com ensinamentos práticos e de alto nível, para você aprender a tirar o proveito máximo da publicação de posts, artigos, fotos e vídeos nas redes sociais. Detalhes e inscrições podem ser encontrados na página oficial do evento: https://www.sympla.com.br/workshop-de-producao-de-conteudo-em-redes-sociais__426919

 

Você já é fera na produção de conteúdos para redes sociais? Então venha participar do meu workshop avançado sobre o tema, no dia 2 de fevereiro. Será uma oportunidade incrível de colocar a mão na massa sob a supervisão de um LinkedIn Top Voice, ao lado de outros produtores. Vai perder essa chance incrível? Detalhes e inscrições podem ser encontrados na página oficial do evento: https://www.sympla.com.br/workshop-avancado-de-producao-de-conteudo-em-redes-sociais__427031

 

O jornalismo está morto! Vida longa ao jornalismo (e ao seu negócio)!

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O personagem “Puro Osso”, da animação “As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy” - Imagem: reprodução

O personagem “Puro Osso”, da animação “As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy”

O jornalismo morreu! Pelo menos é o que tenho ouvido cada vez mais insistentemente de comunicadores, professores e estudantes de Jornalismo, além do público, cansado da qualidade cada vez mais baixa dos veículos tradicionais. Informações erradas, pautas desinteressantes, erros de português e, em cima de tudo isso, alinhamentos políticos e ideológicos exagerados, que comprometem a credibilidade, estão entre as principais críticas. Isso tudo é terrível, pois coloca em xeque uma instituição essencial para a vida de cada um de nós.

Mas vou lhes contar uma coisa: o jornalismo nunca esteve tão vivo! Então por que tanta gente está deixando de acreditar na imprensa?

A causa é uma incrível incapacidade que essas empresas de comunicação demonstram em se atualizar. E, como em qualquer outro negócio, quem fica parado acaba levando uma surra de concorrentes mais ágeis e ousados, mais cedo ou mais tarde. Portanto, apesar de esse artigo falar de jornalismo, os ensinamentos valem para virtualmente qualquer um.

Debati sobre isso há alguns dias no 8º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo, que tive a honra de abrir. Para mim, a história da morte do jornalismo faz parte de uma tríade de bobagens que me incomodam há alguns anos. As outras duas são que as pessoas não leem mais, e que elas não querem mais pagar por conteúdo.

Mentiras!

O fato é que as pessoas nunca consumiram tanto conteúdo, inclusive jornalístico. E, apesar do avanço do vídeo digital, a maior parte de todo esse conteúdo chega de forma escrita. A responsável por isso é a combinação dos smartphones com as redes sociais, que começou a se desenhar há uns dez anos. O primeiro é um computador poderoso, permanentemente online, que carregamos em nosso bolso para onde formos. Já as segundas cumprem o papel de selecionar e entregar o conteúdo de acordo com as nossas necessidades.

Ou seja, as pessoas nem precisam ir até as notícias: elas vêm até o público.

 

O risco de não ser relevante

O problema disso é que as pessoas consomem cada vez mais o que os algoritmos de relevância das redes sociais consideram interessante, o que não é necessariamente bom. Perde força a curadoria feita pelos editores, sendo substituída pelas curtidas dos nossos amigos, que ajudam o Facebook e afins a determinar o que deve ser promovido.

Sem entrar no mérito de que isso aumenta enormemente o risco de deixarmos de consumir conteúdo que deveríamos, isso nos leva à terceira das bobagens acima, aquela que diz que as pessoas não querem mais pagar por conteúdo.

Sim, as pessoas pagam por conteúdo, desde que faça sentido para elas!

Acontece que, pelos problemas indicados no primeiro parágrafo desse texto, os veículos tradicionais não têm conseguido despertar o interesse do público. Vejam o exemplo abaixo, com primeiras páginas recentes do Estadão e da Folha (mas poderia ser de qualquer outro veículo tradicional):

O fato de serem incrivelmente parecidas não é coincidência. Resulta do fato de que os veículos têm investido pouco em reportagem, que é a alma do bom jornalismo. Ao invés disso, vivem de denúncias, de “jornalismo palaciano” (acompanhamento de acontecimentos de fontes oficiais), de denuncismo. Ou seja, uma mesmice crônica resultante de uma apuração rasa, feita por uma mão de obra cada vez menos qualificada e barata (os mais experientes -e caros- foram quase todos demitidos nos últimos anos).

Não precisa ser gênio para saber que isso é pouco atraente para o público. As pessoas não são trouxas! Para um conteúdo assim, existem várias opções gratuitas. Como resultado, as receitas dessas empresas estão em queda livre, como visto no gráfico (compare com as curvas de receita do Google e do Facebook).

Agora comparemos com o cinema. Nos anos 1980, quando o VHS foi popularizado, muita gente achava que aquilo seria o fim das salas de cinema. E, em um primeiro momento, parecia ser verdade, pois o público começou a assistir aos filmes em casa, enquanto as salas esvaziavam.

A causa não eram os videocassetes: a qualidade e o som do VHS eram ruins, e as TVs naquela época tinham telas pequenas (uma TV de 20 polegadas era um luxo). O problema estava nas próprias salas de cinema, que eram pequenas, também tinham imagem e som ruins, poltronas rasgadas, cheiravam a mofo e vendiam uma pipoca rançosa.

Oras, para ter uma experiência “meia-boca”, melhor ter isso no conforto do lar e pagando menos.

Diante da morte iminente, as salas de cinema se reinventaram. Hoje oferecem uma qualidade incrível em todos os aspectos. Ir ao cinema é mais que ver um filme: é uma experiência de conteúdo! Em outras palavras, aumentaram a sua relevância. E -vejam só- as pessoas pagam por isso!

Alguns podem dizer: mas isso não é jornalismo. Pois eu respondo: funciona tudo do mesmo jeito.

 

Criando reputação com conteúdo

É verdade que o modelo que mantém a mídia tradicional, baseado em assinatura e publicidade, está evaporando. Não apenas porque o antigo público não vê mais valor no produto, mas também porque surgem alternativas mais interessantes.

Empresas mais modernas já perceberam que hoje é melhor ganhar dinheiro graças ao conteúdo que com o conteúdo. Em outras palavras, ele serve para ajudar a construir uma ótima reputação, que depois serve para vender outros produtos, como consultorias ou eventos.

Há também empresas que nem são de comunicação produzindo jornalismo de alta qualidade, como a Nestlé e a Red Bull (veja sua home page na imagem). Elas perceberam que bom conteúdo é um recurso valiosíssimo para atrair e conquistar clientes para seus produtos.

Quer dizer então que as empresas tradicionais de comunicação estão condenadas? Claro que não!

Temos ótimos exemplos de veículos centenários que encontraram o seu caminho nesse novo cenário da comunicação. Um deles para mim é emblemático: o The Washington Post. Criado em 1877, esse, que é um dos mais importantes jornais do mundo, estava ladeira abaixo até bem pouco tempo atrás. Foi quando Jeff Bezos comprou a publicação, em 2013.

O criador e CEO da Amazon não interferiu na parte editorial, exceto pelo fato que contratou dezenas de novos jornalistas, reforçando o time. Em compensação, mexeu em todo o resto: injetou muita tecnologia, colocou o pessoal de TI trabalhando em pé de igualdade com os jornalistas na redação (para lhes oferecer dados para as reportagens e sobre o público) e reinventou o modelo de negócios do título, tornando sua versão digital quase ubíqua nos EUA. Como resultado, o gráfico do Post, que era uma queda livre, inverteu-se para um crescimento acelerado em pouco tempo.

Bezos aplicou ao jornalão duas de suas máximas mais conhecidas: “preste mais atenção
em seus consumidores que em seus concorrentes” e “se você dobra seus experimentos, você
duplica sua inventividade”. Em outras palavras, foi necessário um mogul do e-commerce para meter o dedo na ferida do jornal e fazer as mudanças necessárias, inclusive correndo riscos. Tudo para se aproximar de seu cliente, tornar o seu produto mais relevante.

Portanto, o jornalismo está morrendo? De forma alguma! Está se transformando em algo novo e incrível, isso sim!  E, nesse novo cenário, não há espaço para quem quiser continuar fazendo tudo como sempre fez, só porque antigamente dava certo. E essa dica vale para qualquer empresa de qualquer segmento.

Está sentindo que há espaço para tornar sua empresa mais relevante? Está esperando o que para começar a agir?


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Como cheguei a 100 mil seguidores e o que ganho com isso

By | Jornalismo, Tecnologia | 7 Comments
Obra “Operários”, pintada por Tarsila do Amaral em 1933: escrever no LinkedIn permite alcançar pessoas de todos os grupos sociais, idades, profissões e regiões do pais - Imagem: reprodução

Obra “Operários”, pintada por Tarsila do Amaral em 1933: escrever no LinkedIn permite alcançar pessoas de todos os grupos sociais, idades, profissões e regiões do pais

Hoje atingi a marca de 100 mil seguidores no LinkedIn. É um número que me surpreende, especialmente porque, quando comecei a publicar meus artigos nele há apenas 14 meses, eu não tinha nenhum seguidor, sequer sabia que isso existia. Agora, quando comento esse número com alguém, o espanto costuma vir acompanhado de duas perguntas: “como consegui isso” e “o que eu ganho com isso”.

As duas são muito legítimas, e suas respostas podem ser úteis a qualquer profissional ou empresa. Por isso, quero compartilhá-las aqui.

Primeiramente é importante que fique claro que não existe sorte nesta história: é resultado de muito trabalho e sensibilidade. Conseguir mil seguidores já é um feito, pois significa que mil pessoas acham o que você produz tão relevante que deliberadamente pedem ao sistema para serem avisadas quando você publicar algo novo. E isso é muita gente!

Logo, o primeiro passo para conseguir seguidores é criar algo em que as pessoas veem valor. Ninguém o seguirá apenas pelos seus lindos olhos. Mas nem mesmo o melhor conteúdo do mundo é suficiente para o sucesso.

As pessoas precisam saber que ele existe! As próprias redes sociais são poderosas ferramentas para se conseguir isso, mas não se restrinja a compartilhar sua produção com seus amigos: participe ativa e construtivamente de grupos, conheça formadores de opinião, converse com pessoas, amplie e qualifique a sua rede.

Mas isso ainda não é suficiente…

 

Seja humano

No meu caso, os artigos do LinkedIn foram promovidos apenas no próprio LinkedIn, sem nenhum investimento financeiro. Mas houve um belo investimento de tempo, persistência, resiliência e empatia verdadeira com as pessoas. E posso dizer que esse foi o grande diferencial que me levou a ter quase 700 novos seguidores por dia.

Tem muita, muita gente distribuindo gratuitamente conteúdo de altíssima qualidade nos meios digitais. Portanto, apesar de isso ser essencial nessa jornada, está longe de ser suficiente. Por outro lado, pouquíssima gente está disposta a ouvir o que seu público tem a dizer (e, às vezes, as críticas podem ser bastante duras). E uma parcela ainda menor topa investir o seu tempo para ouvir e genuinamente tentar ajudar desconhecidos.

Isso é um resquício do jeito velho de fazer marketing, em que as empresas diziam o que queriam e as pessoas que tratassem de engolir as mensagens e os produtos. A única medida de sucesso era o produto vender bem. Não havia o menor interesse em criar um vínculo com o público e sequer com o cliente que fosse além do comercial.

Mas, como diz o próprio nome, as redes sociais funcionam de outra forma, e as pessoas já assumiram isso: é um local de compartilhamento, de socialização. Portanto, quem acha que ficar enchendo seu perfil com posts promovendo produtos e serviços é garantia de sucesso pode ter um desagradável surpresa: o público não é mais obrigado a engolir nada de ninguém.

Vivemos na era do compartilhamento. Somos humanos e como tal devemos ser tratados. Perguntem ao Catraca Livre

 

E o que ganho com isso?

Não seria nada mal se o LinkedIn me pagasse por cada visitação gerada pelos meus artigos publicados nele. Mas sua proposta não é essa, e as páginas dos artigos sequer têm banners ou outra forma de monetização direta.

Mas há um ganho que pouca gente percebe a existência, e que pode ser muito maior que qualquer remuneração direta pelo conteúdo: sua reputação! E isso é algo que se aplica não apenas a profissionais, mas também a empresas. Aliás, se as empresas de comunicação tradicionais prestassem atenção a isso, talvez não estivessem no poço tão profundo quanto o que estão.

Vivemos em uma época em que parece existir uma oferta excessiva de tudo. Isso traz dois resultados perversos para pessoas e companhias: dificuldade de ser encontrado pelos seus clientes e uma sensível queda no valor do que oferecem. E isso fica ainda mais dramático em um cenário de crise extrema, como a que o Brasil vem passando nos últimos anos.

Nessas horas, têm os melhores ganhos aqueles que conseguem se diferenciar do mar de ofertas e concorrentes. E, para isso, ter uma boa reputação é um grande trunfo. Afinal, as pessoas sempre avaliam todas as ofertas disponíveis antes de comprar um produto ou contratar um serviço. Se você é não apenas conhecido, como também reconhecido como uma autoridade no que faz, a chance de você ser o escolhido cresce enormemente.

Uma excelente maneira de se construir uma boa reputação é justamente demonstrando seu conhecimento técnico, capacidade argumentativa e uma visão privilegiada dos fatos, especialmente para uma plateia de alto nível e de potenciais clientes e parceiros. O LinkedIn oferece justamente um incrível palco para esse tipo de exposição.

Como podem ver, um belíssimo ganho.

 

Liberte a sua voz!

Muita gente acaba não seguindo esse caminho porque acha que isso não funcionaria para eles, ou até mesmo que não seriam capazes da empreitada. Pois eu digo que esses pensamentos devem ser colocados de lado e tentar assim mesmo!

Se as habilidades na escrita não forem suficientes, sempre é possível pedir ajuda para contornar isso. E, como foi dito anteriormente, mais que um bom conteúdo, o que realmente fará a diferença é sua disposição para se relacionar com seu público.

O pior que pode acontecer é os resultados alcançados não atingirem o esperado. De qualquer forma, ainda que insuficientes, já serão melhores que se não fizer nada.

O único que não se pode aceitar é ficar parado. Se eu não tivesse dado esse passo no dia 21 de julho de 2016, hoje eu não estaria aqui compartilhando isso tudo com vocês.

E teria 100 mil amigos a menos.


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Você consegue ignorar o que Facebook joga na sua cara?

By | Jornalismo, Tecnologia | 11 Comments

Foto: Visualhunt / Creative Commons

Há alguns dias, o Facebook foi acusado de censurar conteúdos conservadores. Mais que uma cisma política, a gritaria daqueles produtores era pela queda na audiência que isso lhe causaria. Tudo porque as pessoas devoram, quase sem pensar, o que ganha destaque no seu feed de notícias ou nas suas listas. Mas o fato é ainda mais delicado que parece.

Ele reabriu o debate sobre a influência que o Facebook tem sobre seus 1,65 bilhão de usuários. Mas também expôs que, além dos seus algoritmos, a empresa teria um grupo de editores com poder de censura (o que a empresa nega), o que seria gravíssimo, por conta desse poder. Além disso, escancarou a dependência que os veículos de comunicação têm da rede, que se transformou no maior distribuidor de jornalismo do mundo.


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O Facebook afirma que sua missão é “fazer do mundo um lugar mais aberto e conectado”. Apesar disso, de aberto, ele tem muito pouco: ninguém sabe exatamente quais seus critérios para destacar algo na infinidade de conteúdos publicados nele por pessoas e por empresas.

Agora considere que, segundo o respeitado Pew Research Center, 63% dos usuários do Facebook e do Twitter leem notícias nessas redes. Mas onde mais importa –nos smartphones– o Facebook é, de longe, quem mais manda pessoas para os sites dos veículos de comunicação. E o instituto ainda diz que quanto mais as pessoas ficam no Facebook, mais notícias elas consomem.

Como os veículos perderam sua capacidade de sedução, cada vez mais eles dependem das redes sociais para atingir o público que um dia já foi seu. Por isso, fazem tudo o que o Facebook manda. Parece até que o algoritmo ficou mais importante que seus próprios clientes.

É aí que mora o perigo!

 

Escrevendo para o sistema

Quantas vezes você não clicou em um post no Facebook e caiu em uma página que tratava muito pouco daquele assunto?  Ou viu algo que propunha um mistério “irresistível” para você clicar e descobrir o que era? Ou ainda teve a impressão de que um veículo “sério” parecia ter muito mais notícias “divertidas” nas suas publicações no Facebook que no próprio site? Bem, você não está sozinho nesses sentimentos: essas práticas são “caça-cliques”.

No final das contas, o que vemos são os veículos não mais promovendo aquilo que importa para a sociedade, mas o que é mais adequado ao algoritmo ou o que cria mais apelo à audiência fácil, em um novo “sensacionalismo de rede social”. Fazendo isso, os veículos abalam ainda mais a sua já bastante corroída credibilidade junto ao público, jogando na lata do lixo a sua nobre função de, além de informar, formar o cidadão.

O Facebook já percebeu que está com a faca e o queijo na mão, e não está disposto a perder a oportunidade de reforçar ainda mais a sua posição de “maior banca de jornal do mundo”. E, até agora, seus esforços estão dando ótimos resultados, fazendo até a Apple comer poeira, com seu malfadado serviço Apple News não conseguindo decolar.

Além de algoritmos que dão cada vez mais aquilo que o leitor quer saber, a rede social vem lançando alguns recursos para amarrar ainda mais os veículos, como a capacidade de as pessoas obterem notícias a partir do Messenger ou os Artigos Instantâneos, que carregam reportagens e artigos muito rapidamente, desde que não se saia do próprio Facebook.

Os veículos de comunicação, por não conseguir mais falar ao coração do seu público, abraçam tudo isso, como tábuas de salvação. Ótimo para o Facebook: cada vez mais as pessoas consomem noticiário dentro da sua plataforma. Péssimo para quem produz esse material: pesquisa da Digital Content Next indica que, nas redes sociais, 43% das pessoas já não sabem quem produz o que consomem.

E assim a rede de Mark Zuckerberg dita mais e mais o que cada um de nós deve ler.

 

Moldando mentes

Apesar de toda essa relevância na indústria da notícia, o Facebook não é um veículo de comunicação. Dessa forma, seu objetivo é tão somente fazer com que as pessoas naveguem mais pelos seus produtos. Ele não tem a função social que os veículos têm (ou deveriam ter) de informar e formar.

Se o seu algoritmo tenta entregar apenas aquilo que a pessoa quer ver, eliminando o que lhe desagrada (mesmo aquilo que ela precisa saber), e os veículos de comunicação ficam fazendo o “joguinho” do Facebook, o resultado a médio prazo é uma população desinformada, desengajada e socialmente deformada. É a combinação do pior de dois mundos.

E quando se fala disso, não há como não mencionar o estudo que Adam Kramer, pesquisador do Facebook, realizou em 2012, demonstrando que é possível “transferir estados emocionais” a pessoas simplesmente manipulando o que elas veem online. No experimento, os feeds de notícias de 689.003 usuários (1 a cada 2.500 na época) foram manipulados pelo sistema por uma semana. Metade deles ficou sem receber posts negativos; a outra metade não viu nada positivo.

Análises automatizadas comprovaram que usuários expostos a posts neutros ou positivos tendiam a fazer posts mais positivos, enquanto os expostos a posts neutros ou negativos tendiam a fazer posts mais negativos! Trocando em miúdos, Kramer atuou decisivamente no humor de quase 700 mil pessoas deliberadamente manipulando seus feeds de notícias. O paper foi publicado na prestigiosa “Proceedings of the National Academy of Sciences of USA”. Vale lembrar que o mesmo Kramer, em outra ocasião, já tinha aumentado o comparecimento dos americanos às urnas, também manipulando seus feeds. Isso em um país em que não é obrigatório votar.

No final das contas, o que temos aqui é um poderosíssimo algoritmo capaz de embrutecer e manipular a população (apesar de o Facebook negar que faça isso) e uma mídia fragilizada, que fica dançando a música da rede social em troca de migalhas de atenção. Então, se a empresa realmente tiver editores censurando conteúdos específicos, como foi dito, isso seria o menor dos problemas.

Não temos como exigir que o Facebook encampe os valores de cada sociedade e passe a fazer o trabalho no qual os veículos de comunicação têm fracassado miseravelmente, pois ele não é um deles. Mas podemos pelo menos tentar fazer com que as pessoas usem a rede social de uma maneira mais consciente e criativa.

Para isso, debates em torno de assuntos como esse são fundamentais para a conscientização de todos! Ninguém precisa parar de usar o Facebook: é só não ceder ao prazer imediato e fugaz de conteúdos rasos, e sair clicando, curtindo e compartilhando tudo o que o Facebook joga na sua cara. E desconfiar sempre! Nessas horas, ignorar pode ser a ação mais efetiva.


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Por que os taxistas nunca vencerão o Uber (e o que você pode tirar disso)

By | Jornalismo, Tecnologia | 5 Comments
Taxistas protestam contra a regulamentação do Uber em São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Taxistas protestam contra a regulamentação do Uber em São Paulo

No dia 11, o prefeito Fernando Haddad regulamentou os aplicativos de transporte, como o Uber, em São Paulo. Isso desencadeou uma nova onda de protestos violentos dos taxistas, que acusam a empresa de concorrência desleal. Mas é uma luta que eles jamais vencerão, pois o Uber redefiniu o transporte de pessoas, “commoditizando” o serviço dos taxistas. E esse é um fenômeno social e econômico que pode atingir qualquer negócio ou categoria profissional.

Mas o que é essa “commoditização” de produtos e serviços? Isso acontece quando novas empresas, novas tecnologias ou novos modelos de negócios começam a oferecer a mesma coisa de maneira inovadora, acrescentando uma camada inédita de valor sobre algo que já existe. Nesse processo, o produto ou o serviço original continua lá e até pode ser essencial no novo formato, mas o público deixa de ver valor naquilo, passando a pagar apenas pela novidade.


Vídeo relacionado:


É o que o Uber fez com os táxis. Trocando em miúdos, os passageiros passaram a querer mais que o simples transporte em quaisquer condições, oferecido pelos taxistas. Para esses consumidores, o verdadeiro valor é ter esse serviço em um carro novo, limpo e confortável, com um motorista educado, treinado e bem vestido, com serviço de bordo. É por tudo isso que cada vez mais pessoas estão dispostas a pagar. E é isso que o Uber oferece, e os taxistas não conseguem –ou não querem– entender e fazer.

É claro que o que os taxistas e o Uber vendem é transporte de passageiros. Mas o Uber tirou o valor disso, que virou apenas o básico, aquilo que o público nem vê, por mais que seja a essência do serviço: foi “commoditizado”. O valor foi transferido para a camada de serviços extra.

O que os taxistas oferecem não vale mais. É por isso que não vencerão o Uber.

 

“Commoditizando” tudo

Mas isso pode afetar qualquer um, inclusive você, seja lá o que você faça. Isso porque, quando menos se espera, alguém pode chegar oferecendo a mesma coisa, só que de uma maneira que faça mais sentido para o seu público.

Qualquer jornalista já sentiu isso na pele. Com a popularização das redes sociais e a explosão de oferta de conteúdo de qualquer tipo, muitos colegas chegam a achar que a profissão encontrou o seu fim, com uma massa enorme e crescente de desempregados. Eles não estão sozinhos: veículos de comunicação tradicionais quebram um após o outro no mundo todo, incapazes de fazer frente à fuga de público e de anunciantes.

Assim como os taxistas, esses profissionais e essas empresas ficam em um “mimimi” eterno, reclamando que são eles que sabem fazer esse trabalho direito, que são eles que produzem o conteúdo de qualidade, e que isso custa muito caro! E que não é justo que novos veículos digitais cheguem e acabem com o seu monopólio da notícia, que durava mais de um século.

Oras, mas esses novos veículos, como a Vice, vão muito bem, e o que eles oferecem, na base, é conteúdo jornalístico. Mas eles tiveram sucesso em criar aquela “camada de valor extra”. Ou seja, o conteúdo jornalístico está mesmo “commoditizado”, mas ele serve para viabilizar esses novos títulos e profissionais.

Outro exemplo que gosto muito de citar é o da indústria fonográfica. Há uns 20 anos, ela era bilionária, com lucros calcados principalmente sobre a venda de CDs. Surgiram então os serviços de compartilhamento de MP3, como o Napster, que mostraram ao público que aquele modelo da indústria já havia caducado. Eventualmente isso acabou perdendo força, com as gravadoras processando os serviços e até seus clientes (o que demonstra como estavam dissociadas desse novo mundo).

Mas então a Apple lançou o iTunes, oferecendo a possibilidade de compra digital de cada faixa por uma fração do valor do álbum, e jogou a pá de cal no modelo de negócios de CDs. Só que esse modelo também já está perdendo força, sendo substituído pelo do Spotify, onde se paga um valor fixo por mês e se consome à vontade do seu gigantesco acervo de músicas online.

A música foi “commoditizada”: sorte do Spotify! Azar dos vendedores de CDs…

Agora pense com carinho: o seu produto ou serviço já está sendo “commoditizado” por alguém ou isso ainda vai acontecer?

 

Como escapar da “commoditização”

A Apple também poderia ficar rangendo os dentes, como as gravadoras, os jornais, revistas ou os taxistas. Mas, ao invés disso, ela reinventou seu serviço! O iTunes ainda existe, mas a empresa já lançou a Apple Music, exatamente nos mesmos moldes do Spotify. Porque, como diz o filósofo, “quem fica parado é poste!”

Esse deveria ser o mantra de todos os gestores, de qualquer negócio. Mais cedo ou mais tarde, isso que eles fazem tão bem e que parece essencial à sociedade perderá o valor. Se continuarem insistindo, serão substituídos por alguém com uma visão mais moderna dos negócios e do mundo.

Então voltemos ao caso dos taxistas, para entender como sobreviver à “commoditização”.

Não é o Uber que ameaça os taxistas, e por vários motivos. Primeiramente porque existe espaço para todos. Como a Prefeitura de São Paulo não emite novos alvarás para táxis comuns desde 1996, há um déficit estimado de 20 mil carros para transporte particular na cidade. O Uber pode triplicar a sua frota atual em São Paulo, que isso mal fará cócegas nessa demanda reprimida.

No final das contas, a verdadeira ameaça aos taxistas são o seu sindicato, a máfia dos alvarás e os próprios taxistas! O primeiro porque promove o ódio entre os motoristas e incentiva essa baderna que temos visto nas cidades. O resultado disso é um sentimento de rejeição ao serviço de táxi como um todo entre a população, seja pelos recorrentes transtornos causados por aquela parcela dos motoristas, seja pela repulsa à violência injustificável que alguns criminosos praticam contra motoristas e até passageiros do Uber.

Sobre a máfia dos alvarás (que chega a cobrar R$ 150 mil por algo que é uma concessão municipal), ela é uma facção do crime organizado que lesa a população e o poder público por manipular essas autorizações para obter lucros milionários. Os próprios taxistas são os principais prejudicados por esses bandidos, pois, para que consigam trabalhar, precisam comprar ou alugar essa licença, pagando valores astronômicos.

Portanto, se os taxistas realmente quiserem sobreviver à “commoditização”, não deveriam se organizar contra Uber, muito menos do jeito que estão fazendo. A solução dos seus problemas passa por ficar livres justamente desse sindicato, que os manipula, e dessa máfia, que os explora ao extremo. Os dois são dignos representantes do pior que existe na sociedade brasileira. Além disso, os taxistas precisam repensar o seu serviço: se o que eles oferecem não é mais o que as pessoas estão dispostas a pagar, é hora de se reinventar. E o Uber, ao invés de algoz, pode ser o modelo a ser seguido.

Não há como resistir à evolução do mercado. Ranger os dentes, distribuir pancada ou desqualificar novos concorrentes não resolverá o problema de nenhum negócio. A única solução é melhorar: ficar parado é o mesmo que piorar.


Vamos falar sobre a linguagem certa para público certo na Social Media Week? Esse é o segredo do sucesso nas redes sociais. É só entrar nesta página e clicar no botão verde de CURTIR abaixo da minha foto.


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Como não ficar obsoleto quando alguém fizer o seu trabalho

By | Educação, Jornalismo | 6 Comments

Foto: Saad Sarfraz Sheikh/Creative Commons

Na semana passada, em uma aula sobre marketing de conteúdo, discutia com meus alunos sobre como empresas têm produzido conteúdo sério e de alta qualidade para atrair público para suas marcas. Surgiu então a questão: o que sobra para a imprensa? O fato é que essa pergunta pode ser extrapolada para qualquer negócio: o que sobra para você quando outro começa a fazer o seu trabalho?

Em tempos em que a tecnologia digital democratiza todo tipo de meio de produção e que a economia compartilhada subverte modelos de negócios consagrados, isso assombra o cotidiano de muitos profissionais e de muitas empresas. Será que estão ficando obsoletos?


Vídeo relacionado:


A má notícia: sim, você já pode estar obsoleto. A boa notícia: você ainda pode virar esse jogo!

Para quem não sabe o que é, marketing de conteúdo é uma maneira relativamente nova de as empresas trazerem potenciais consumidores para suas marcas, atraídos por ótimo conteúdo editorial. Não se trata de material sobre a empresa e seus produtos, e sim reportagens e artigos sobre temas de interesse dos clientes. Portanto, ao invés de ficar empurrando os produtos para o público, como se faz no marketing convencional, o marketing de conteúdo inverte esse sentido: as pessoas vêm até a marca e eventualmente podem passar a considerá-la uma referência no tema abordado. Idealmente, acabam se tornando clientes de seus produtos. Nestlé e Red Bull são referência em marketing de conteúdo, por exemplo.

Naturalmente as empresas não cobrem todo tipo de conteúdo. A Red Bull tem uma cobertura muito boa de esportes radicais, automobilismo, games e música. E –sim– nesses assuntos ela substitui veículos de comunicação. Some-se a isso a crise de credibilidade pela qual a imprensa tradicional está passando, e a sua situação fica realmente muito delicada.

Mas os veículos de comunicação são só um exemplo de negócio que está sofrendo com novos galos cantando em seu terreiro. Já discutimos aqui o caso do Uber, que está fazendo os táxis comerem poeira na preferência dos passageiros. Também debatemos, em diferentes momentos, sobre a Netflix, e como ela se posicionou como uma alternativa muito vantajosa à TV aberta e até à TV por assinatura.

Novos negócios sempre substituíram velhos negócios. Porém isso vem acontecendo de uma maneira inédita, seja pela velocidade exponencial, seja porque indivíduos que eram antigos clientes passam a ser concorrentes de empresas centenárias da noite para o dia. Aquilo que levou anos e consumiu fortunas para ser construído pode ser substituído por alguém com uma mente aberta para os negócios, muita vontade de trabalhar, inteligência e, quem sabe, o aplicativo certo em seu smartphone.

Como sobreviver a isso?

 

Descobrindo onde está o valor

Negócios consolidados e bem-sucedidos não perdem seu valor de repente. Entretanto, se estar em uma posição de liderança de mercado pode ser bom para os negócios, pode esconder um terrível risco de miopia empresarial: não ver as mudanças se aproximando rapidamente.

Voltemos ao exemplo do Uber: não é difícil encontrar clientes reclamando de péssimos serviços prestados por muitos taxistas. Mas as pessoas continuavam usando os táxis por falta de alternativa. No caso das TVs por assinatura, seus clientes sempre reclamaram do alto preço da mensalidade, da baixa qualidade da programação, do excesso de comerciais e de terem que engolir uma infinidade de canais irrelevantes para poder assinar qualquer pacote.

Nos dois casos, os sinais de descontentamento eram públicos e claríssimos! Bastava apenas alguém aparecer com uma solução melhor para tornar aqueles negócios candidatos à extinção.

Alguém apareceu!

Mas nem os táxis, nem a TV por assinatura, nem a imprensa, nem qualquer outro negócio ameaçado precisa morrer. Desde que redescubram onde seus antigos clientes estão vendo valor hoje. E mudar o seu negócio para atender essa nova demanda.

Os taxistas, por exemplo, são incapazes de derrotar o Uber hoje porque insistem em continuar disputando os passageiros com aquilo que eles sempre fizeram: o transporte de passageiros. Os taxistas acham que é isso que o Uber oferece. Só que ele transformou o transporte de passageiros em uma commodity! Os clientes veem valor hoje em serem levados em um carro novo e limpo, com um motorista educado e de bom papo, com serviço de bordo e a um valor justo (que incrivelmente chega a ser mais barato que o dos táxis). Obviamente, por baixo disso tudo, está o transporte, que viabiliza o negócio, mas de onde o valor foi retirado pelos clientes. Quem continuar competindo nessa camada inferior estará fora do mercado em breve.

Esse é o raciocínio que deve permear a cabeça dos gestores de qualquer negócio moderno! De nada adianta continuar fazendo o que se faz há décadas, se alguém estiver fazendo a mesma coisa tão bem quanto (ou melhor) que você, e de uma maneira mais inteligente. Pior que isso: talvez o seu negócio esteja até sendo oferecido de graça por outras empresas que o tenham como um subproduto de sua atividade principal, ou apenas como parte de um modelo de negócios mais amplo. É o caso do marketing de conteúdo.

Pare de se achar o senhor da razão ou detentor de algum direito adquirido! Preste atenção aos movimentos do mercado, seus novos concorrentes, o que e como oferecem e, principalmente, ouça detalhadamente o que o público tem a dizer.

A única coisa que não pode acontecer é querer continuar fazendo tudo do mesmo jeito e esperar que as pessoas continuem pagando por seu produto ou serviço por causa dos seus lindos olhos (ou sua tradição, sua marca consagrada). A fidelidade morreu! É preciso dar um novo significado ao seu negócio e reencontrar seu público. Caso contrário, ele rumará melancolicamente ao seu fim, à sua obsolescência.


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