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Uma inteligência artificial treinada com informações ruins não deve ser usada para confundir eleitores – Ilustração: Paulo Silvestre

A democracia precisa que o jornalismo e a inteligência artificial se entendam

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A recente briga do New York Times contra a Microsoft e a OpenAI (criadora do ChatGPT) pode ajudar a definir como nos informaremos no futuro e impactar consideravelmente a saúde da democracia no mundo todo. Tudo porque o processo aberto pelo jornal no dia 27 de dezembro contra as duas empresas de tecnologia pode balizar a qualidade do que a inteligência artificial oferecerá a todos nós.

O jornal afirma que seu conteúdo vem sendo usado para treinar as plataformas de IA, sem que seja remunerado ou sequer tenha autorizado esse uso, o que é verdade. Enquanto isso, essas plataformas rendem bilhões de dólares a seus donos.

Desde que o ChatGPT foi lançado no final de 2022, as pessoas vêm usando a IA para trabalhar, estudar e se divertir, acreditando candidamente em suas entregas. Sua precisão e seus recursos para evitar que produza e dissemine fake news dependem profundamente da qualidade do conteúdo usado em seu treinamento. O New York Times e outros grandes veículos jornalísticos são, portanto, algumas das melhores fontes para garantir uma entrega mais confiável aos usuários.

O problema é tão grave que, no dia 10, o Fórum Econômico Mundial indicou, em seu relatório Riscos Globais 2024, que informações falsas ou distorcidas produzidas por inteligência artificial já representam o “maior risco global no curto prazo”.

Nesse ano, dois bilhões de pessoas participarão de eleições no mundo, inclusive no Brasil, e a IA já vem sendo usada para aumentar a desinformação nas campanhas. Por aqui, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) busca maneiras de regular seu uso no pleito municipal de outubro, uma tarefa muito complexa. Por isso, é fundamental que os bons produtores de conteúdo e as big techs encontrem formas de melhorar essas plataformas respeitando os direitos e remunerando adequadamente os autores.


Veja esse artigo em vídeo:


Em um cenário extremo hipotético em que todos os produtores de bons conteúdos impeçam que os desenvolvedores os acessem, a IA ficaria à mercê de fontes pouco confiáveis (para dizer o mínimo). Isso aumentaria brutalmente a chance de ela ser manipulada, ajudando a transformar os usuários em autômatos da desinformação. E isso seria trágico também para o bom jornalismo, que luta fortemente contra isso.

Criou-se então um dilema: as plataformas precisam de bom conteúdo, mas não estão muito dispostas a pagar por ele, enquanto os veículos jornalísticos têm que garantir seus direitos, mas deveriam ajudar a melhorar as entregas da inteligência artificial.

“Quando eu compro uma assinatura do New York Times, eu não estou autorizado a pegar todo o conteúdo e desenvolver um produto meu em cima dele”, explica Marcelo Crespo, coordenador do curso de Direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Só que é mais ou menos isso que a OpenAI faz quando pega esses dados”.

Para que os sistemas de inteligência artificial funcionem bem, eles precisam ser treinados com uma quantidade monstruosa de informações diversas, para que aprendam o que dizer e respeitem a diversidade de ideias. Em tese, todas as suas produções são inéditas, por isso os desenvolvedores se valem do conceito jurídico americano do “uso justo” (“fair use”), que protege as big techs há pelo menos duas décadas, quando, por exemplo, rastreiam a Internet inteira para fazer um buscador funcionar.

Por essa regra, os produtos digitais exibiriam apenas pequenos trechos desses conteúdos, insuficientes para configurar uma concorrência. Mas em seu processo, o New York Times afirma que as plataformas de IA exibiriam literalmente grandes nacos de sua produção, inclusive de material exclusivo a seus assinantes. A OpenAI nega.

É um desafio para a Justiça dos EUA, pois as leis do país proíbem a cópia de conteúdo, mas permitem que se criem produtos combinando elementos de diferentes fontes, sem criar concorrência direta. As plataformas de IA fazem as duas coisas.

 

Ameaça à democracia

Nesse pântano jurídico, grupos políticos já vêm se esbaldando nos recursos da inteligência artificial para convencer –ou mais especificamente confundir– os eleitores.

O TSE tenta encontrar formas de pelo menos dificultar que isso aconteça nas eleições brasileiras. No dia 4, publicou dez minutas de resoluções para esse fim. Esses textos estarão em consulta pública até o dia 19 deste mês. Entre 23 e 25 de janeiro, ocorrerão audiências abertas na Corte para o aperfeiçoamento das normas.

Infelizmente, criar ótimas regras é relativamente fácil. Verificar seu cumprimento, por outro lado, é bem difícil, especialmente nas campanhas não-oficiais, realizadas por eleitores diretamente instruídos pelos candidatos ou espontaneamente. Com isso, o gigantesco problema de disseminação de fake news e discursos de ódio em redes sociais (que fazem muito menos do que deveriam para combater isso) agora deve ser potencializado pelo uso da inteligência artificial igualmente não-regulada.

A solução exige, portanto, a participação da Justiça, dos veículos de comunicação e das big techs das redes sociais e de inteligência artificial. Felizmente há também movimentos positivos de consenso.

Segundo o mesmo New York Times, a Apple, que está atrasada no campo da IA, estaria tentando costurar acordos financeiros para justamente usar os conteúdos de grandes empresas de comunicação para o treinamento da sua plataforma em desenvolvimento. A notícia só não é totalmente positiva porque ela estaria interessada em consumir esse conteúdo, mas não em responder por qualquer problema derivado dele, o que está deixando os editores desses veículos desconfortáveis. E eles andam bem desconfiados por seus acordos prévios com o Vale do Silício, que, ao longo dos anos, favoreceram as big techs, enquanto viam seus negócios minguarem.

Tudo isso envolve interesses de bilhões de dólares e moldará a sociedade decisivamente nos próximos anos. É preciso um desenvolvimento responsável e transparente da tecnologia e uma enorme quantidade de boas informações. “Pode ser que a gente tenha modelos de inteligência artificial que sejam focados na maldade”, sugere Crespo. “É que ninguém parou para fazer isso ainda ou talvez ninguém tenha tanto dinheiro para isso.”

Alguns acreditam que a solução seria educar a população para não acreditar tão facilmente no que veem nas redes sociais e agora na inteligência artificial. No mundo ideal, isso resolveria o problema. Mas isso simplesmente não vai acontecer e as pessoas continuarão sendo manipuladas, agora possivelmente ainda mais.

Os já citados atores precisam dar as mãos para evitar o pior. Os veículos de comunicação devem alimentar a IA, mas de maneira justa, sem que isso ameace sua sobrevivência. As big techs precisam se abrir a esses acordos financeiros e se esforçar muito mais na transparência de seus sistemas e no respeito aos usuários e à própria democracia. E a Justiça precisa encontrar meios de regular tudo isso, sem ameaçar o avanço tecnológico.

Em um mundo tão digitalizado, a democracia depende do sucesso dessa união.

 

As maiores inovações podem surgir de cópias do que já existe

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De onde vêm as grandes ideias?

Em muitas ocasiões, algo que muda o mundo surge inspirado por um produto já existente -isso quando não acontece uma cópia.

Isso não tem nada a ver com falta de criatividade ou roubo intelectual. De certa forma, é exatamente o contrário disso: criamos produtos a partir da modificação de outros. Nessa linha, os anos 1970 viram o nascimento da Cultura Remix na música, quando novas obras surgiam pela mescla, ainda com equipamentos analógicos, de trechos de outras.

Isso se espalhou para outras formas de arte, mais notoriamente o cinema, e até a indústria de tecnologia. Alguns exemplos notórios da Cultura Remix são Star Wars e o Macintosh, da Apple.

Os meios digitais potencializaram essa nossa natureza, para incrível facilidade de se copiar, transformar e combinar seja lá o que for. Tanto que o conceito se popularizou completamente, tendo nos “memes” um exemplo prosaico e cotidiano disso.

É inevitável pensar em direitos autorais e patentes nessa hora. A Cultura Remix bate de frente com essas proteções, e os advogados andam com bastante trabalho. Entretanto, essa mudança cultural não tem volta. Precisamos aprender a conviver construtivamente com ela, sem coibir a criatividade ou infringir direitos de terceiros.

Entenda melhor a Cultura Remix e seu impacto no nosso cotidiano assistindo ao meu vídeo abaixo. E depois compartilhe conosco como ela faz parte da sua vida.



Ficou com vontade de assistir a “George Lucas Apaixonado”? É só clicar em https://www.youtube.com/watch?v=BDHTUETSLwM

Veja o trecho do filme “Piratas do Vale do Silício”, que ilustra como Steve Jobs usou as inovações da Xerox para criar o Macintosh (e o Lisa, antes dele): https://www.youtube.com/watch?v=0Rvn71r_Oic

Quer ouvir as minhas pílulas de cultura digital no formato de podcast? Basta procurar por “O Macaco Elétrico” no Spotify, no Deezer ou no Soundcloud. Se preferir, pode usar seu aplicativo preferido: é só incluir o endereço http://feeds.soundcloud.com/users/soundcloud:users:640617936/sounds.rss

O incômodo charme dos agregadores

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Conteúdo do Estadão exibido no Flipboard

Conteúdo do Estadão exibido no Flipboard

Quando o Flipboard foi eleito o aplicativo do ano de 2010 pela própria Apple, muita gente torceu o nariz. Não pelo programa em si, que se transformou em um símbolo do iPad, mas porque é apresentado como um “aplicativo de notícias”. A turma da gritaria são as empresas de comunicação, e o motivo é o fato de o Flipboard não produzir nenhum conteúdo.

Oras, como um produto que apenas exibe material noticioso de outras fontes poderia ser classificado como “aplicativo de notícias”? Daí a dizer que o Flipboard “rouba conteúdo” foi um pulo. E a acusação não é nova: o primeiro grande produto a ser chamado de “ladrão de notícias” foi o Google News.

Mas ninguém está roubando nada de ninguém. O Flipboard é o que se convencionou chamar de “agregador”, ou seja, um programa que agrega conteúdos de diferentes fontes escolhidas pelo usuário, exibindo-as de maneira conveniente para ele. O agregador não “invade” sistemas das fontes de conteúdo para obtê-lo: apenas se vale de recursos oferecidos por elas mesmas, como seu Twitter ou RSS.

Enquanto esses programas exibiam tais conteúdos seguindo os critérios definidos pelos seus autores, estava tudo bem. O que a nova geração de agregadores, que tem no Flipboard a sua estrela mais brilhante, faz –e isso incomoda– é reorganizar esse conteúdo seguindo critérios próprios e com um visual refinado, normalmente muito melhor que produtos dos donos dos conteúdos. Dessa forma, cada usuário ganha uma edição só sua, com os conteúdos organizados conforme o seu interesse e popularidade dentro de sua rede de amigos.

Trocando em miúdos, os agregadores distribuem o conteúdo jornalístico de maneira muito mais eficiente que as fontes desse conteúdo. E assim as pessoas passam a ler tais conteúdos nos agregadores, e não nos sites ou aplicativos dos veículos originais. Isso causa um problema editorial e um problema econômico. O primeiro acontece porque o agregador desmantela toda a estrutura noticiosa e hierarquia definida pelos editores e as recria seguindo seus próprios critérios, normalmente baseados em relevância social. O segundo se deve ao fato de muitas vezes o usuário se bastar com o lide da notícia exibida no próprio agregador, não chegando a clicar no link oferecido pelo programa para a notícia no site de origem, que perde em suas métricas (não conta page views, unique visitors e afins) e no dinheiro, pois seus banners não são exibidos.

E então os veículos batem o pé e posam de vítimas, como velhas cujas bolsas são continuamente levadas por trombadinhas, dia após dia. Reclamam do sintoma, mas se recusam a atuar na causa do problema: alguém faz parte do seu trabalho –a distribuição– melhor.

Com o Google, os grandes jornais fizeram um acordo para que o Google News parasse de usar seu conteúdo. Isso de fato aconteceu, mas tais sites também perderam completamente a sua relevância no buscador da empresa, seu carro-chefe. Ao fazer um busca pelos 18 anos da morte de Ayrton Senna, completados ontem, a página de resultados destaca notícias da “Tribuna do Norte”, “Paraíba.com.br”, “Portal AZ”, “Gazeta de Alagoas”, “Região Noroeste”… Nada de “Estadão”, “Folha”, “O Globo”, por exemplo. Perde o usuário, que não recebe um resultado com conteúdo potencialmente melhor, perde o veículo, que não ganha a audiência oferecida pelo navegador.

As empresas de comunicação sofrem, portanto, do que eu chamo de “síndrome de Vera Cruz”, referência ao estúdio de cinema brasileiro, que brilhou nos anos 1950. Apesar da qualidade de suas produções, com filmes premiados internacionalmente, o estúdio durou míseros quatro anos. Entrou em decadência justamente por não ter uma boa distribuição, que acabava ficando nas mãos das empresas norte-americanas. Produzia um ótimo conteúdo, mas ficava apenas com uma parcela menor da receita.

As empresas de comunicação precisam, portanto, reaprender a distribuir o que produzem. E isso significa subverter uma logística cujas origens remontam ao século XIX. Precisam ser mais Flipboard e menos Vera Cruz.

Dividir para conquistar

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Entrei recentemente em uma discussão sobre se seria possível obter ISBN para conteúdos publicados na Web. O objetivo de quem perguntava era, de alguma maneira, garantir os direitos autorais sobre esse conteúdo. Argumentei que a única maneira de impedir que ele seja copiado é não o publicando, especialmente na Web. Mas a questão estava posta e era pertinente.

Para garantir a autoria (o que não tem nada a ver com impedir a cópia), sugiro Creative Commons. O ISBN, por sua vez, não garante absolutamente nada justamente quando o assunto é cópia do conteúdo. Já não garantia quando os livros eram apenas impressos, que dizer agora que eles estão digitalizados, algo que viabiliza cópias rigorosamente fiéis, de maneira extremamente simples e a custo zero.

O grande desafio que a Web coloca em pauta é encontrar modelos de negócios para esta nova realidade. Não acredito que vá acontecer o que alguns arautos do apocalipse pregam, de que a cópia de conteúdos vai matar o interesse dos autores dos mais diferentes tipos de obras, e que, portanto, estaríamos rumando para uma espécie de nova Idade das Trevas.

Vários autores já estão aí no mercado me impedem de dizer o contrário. Curiosamente, esse movimento é notado especialmente em nomes distantes dos medalhões acadêmicos, mas não necessariamente desconhecidos do público. O melhor exemplo que me ocorre é a banda tecno-brega Calypso, popularíssima (mas não entre a classe intelectual), que eliminou a figura da indústria fonográfica, produzindo inteiramente os seus CDs e os vendendo em camelôs a preços baixíssimos. Quanto ao download de suas músicas, eles querem mais é que isso prospere!

Não, eles não enlouqueceram, apenas perceberam -e entenderam- os movimentos do mercado e estão surfando neles agora. As gravações -em discos ou em arquivos- passam a ser apenas agentes promotores de seu trabalho, que é música. Sim, eles ganham dinheiro também com os seus CDs e DVDs baratos (inclusive porque eliminaram vários “custos” da cadeia, principalmente a indústria fonográfica tradicional), mas ganham muito mais arrastando multidões apaixonadas a seus shows. Ah, também produzem discos e shows patrocinados, outro belo filão que exploram muito bem.

Voltando ao mercado de livros, onde a conversa começou (ISBN é só para livros, em papel ou e-books), vejo cada vez mais autores que oferecem -eles mesmos- o download da íntegra de seus livros de graça, enquanto vendem (e vendem!) o mesmo livro em papel. Outro fenômeno cada vez mais comum são ofertas gratuitas de livros para download -inclusive de autores consagrados- para promover a venda de outros títulos do mesmo autor. E -claro- os livros digitais obrigatoriamente têm que ser (muito) mais baratos que a mesma edição em papel.

Com essas mudanças nos modelos de negócios e as facilidades de produção e de custo que a mesma tecnologia oferece aos autores, quem caminha rumo ao ostracismo são as editoras (não apenas de livros). E isso acontece não porque elas não tenham nada de positivo a oferecer ao processo, e sim por sua teimosia em resistir ao inevitável. Essa visão obtusa dos fatos dilui todos os seus referidos benefícios, que acabam ficando muito caros aos autores e principalmente aos consumidores. E acreditem: os autores preferem ter consumidores a editores.

Há dois meses, conversei com um diretor da Abril Educação sobre esse assunto e ele me confidenciou que, se as editoras não mudarem já, em dez anos ninguém mais precisará delas. Eu acho que elas já estão atrasadas! E, quando isso acontecer, elas serão as únicas culpadas pela sua derrocada. Exatamente a situação em que a indústria fonográfica se colocou e da qual não consegue mais sair. Tentaram segurar uma locomotiva desgovernada com advogados nos trilhos, processando os seus próprios consumidores. Resultado: CDs se transformando em itens de museu. Mas a música vai muito bem! Só que sem eles.

Essa nova era, que tanto amedronta, é na verdade uma incrível oportunidade para as pessoas que realmente são boas. Elas terão uma possibilidade inédita de despontar e ganhar muito dinheiro com isso. Mas farão isso compartilhando, não restringindo. Não há nenhuma nova Idade das Trevas no horizonte, e sim um novo Renascimento.

Mais sobre a discussão de “direitos autorais na era da Internet”

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Evento da Associação Brasileira de Letras discutiu -uma vez mais- a pseudo-ameaça aos direitos autorais pela Internet

O Jornal da Globo desta terça (9) mostrou uma reportagem sobre discussão sobre direitos autorais na ABL (Academia Brasileira de Letras). O teor do encontro foi encontrar alternativas de cobrança para um mundo em que as pessoas cada vez menos estão dispostas a pagar para consumir obras culturais, como músicas, filmes, livros.

Para o compositor Fernando Brandt, se isso não se resolver, “os autores vão deixar de ser autores, vão morrer, não vai haver autor mais no mundo.” Desculpe, mas sou obrigado a discordar, por dois motivos.

Primeiramente porque, por princípio, não compomos músicas, escrevemos poemas ou criamos nossos filmes domésticos para ganhar dinheiro: fazemos isso porque fazemos parte da raça humana. E essas são manifestações da paixão que nos move. Qualquer adolescente sabe disso. Mesmo Camões ou Drummond não escreviam para ganham alguns cobres, por mais que isso lhes fosse brindado depois.

Em segundo lugar… bem, Fernando, desculpe, mas os autores vão –sim– morrer, pelo menos os que esperam continuar sendo remunerados pelos modelos de negócios vigentes “fora” da Internet. Eles simplesmente não funcionam no mundo digital. Não dá para simplesmente tentar migrá-los para essa nova realidade, pois ela exige modelos completamente novos.

Isso não significa, em absoluto, que as pessoas não serão remuneradas pelo seu trabalho. Apenas isso acontecerá de outra maneira, totalmente inovadora, onde apenas o que realmente traz valor ao processo terá valor. É isso que essa “turma da resistência” se recusa a querer ver.

O caso das músicas é o mais emblemático, pois está mais avançado. Nesse cenário, a grande vítima é a indústria fonográfica, que se tornou completamente obsoleta e desnecessária, tanto para os autores e intérpretes, quanto para o público. Como não acrescenta mais nada ao processo, não tem valor, e não deve ser remunerada. Os primeiros podem realizar todo o seu trabalho, incluindo composição, produção, distribuição e divulgação, sem as gravadoras. E as grandes culpadas por esse ostracismo são as próprias empresas, por tentar resistir ao inevitável, sem se adaptar à nova realidade.

O público, desnecessário dizer, consome esse produto de maneira completamente diferente hoje –e não necessariamente de graça. Isso só acontece no download das faixas, apesar de que a Apple revolucionou o mercado permitindo que as pessoas comprem (ou sejam, paguem!) a música que desejem a preços irrisórios, graças ao iTunes. Outro exemplo de pagamento por música é o download de novas faixas em games, como no Guitar Hero, da Activision.

Claro que isso implica em mudanças na rotina dos artistas, mas –sinto lhes dizer– eles não têm escolha, pois seu público já alterou os seus hábitos de consumo. A indústria fonográfica se recusou a mudar e, por conta disso, hoje é um morto-vivo do capitalismo.

Se os medalhões que dominam a indústria cultural há tantos anos ainda assim resistirem,serão substituídos por uma nova geração de autores, adaptadas ao mundo que nos rodeia. Nada mais que puro darwinismo aplicado aos negócios.

A Microsoft consegue bancar um bloqueio ao Google?

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[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=sewucH3rOPM]

Há cerca de um mês, começaram a pipocar aqui e ali rumores sobre um suposto acordo que, de tão bizarro, parecia mais um daqueles boatos disseminados pela Internet. Mas de boato, eles não tinham nada. O fato é que a Microsoft está em sérias conversações com a News Corp. O objetivo: a turma de Steve Ballmer pensa em pagar para que a de Rupert Murdoch impeça que o conteúdo de suas publicações –o que não é pouca coisa, incluindo aí o The Wall Street Journal– seja indexado pelo Google, passando a ser encontrado apenas no Bing, o novo buscador da Microsoft.

Tirar o seu conteúdo do Google para deixá-lo restrito ao Bing, que mal faz cócegas ao primeiro? Provavelmente todas as pessoas, exceto as envolvidas no acordo, diriam que isso é uma enorme estupidez. Afinal, como apontou recentemente a consultoria Experian Hitwise, 21% de TODO o tráfego de sites de jornais vem do Google, contra míseros 2% do Bing. Essa troca de conteúdo por tráfego seria o “uso justo”, que embasa a defesa do Google no assunto.

Mas, para Rupert Murdoch, a idéia parece fazer sentido. Já há bastante tempo, ele classifica os buscadores –especialmente o Google– como ladrões, com todas as letras e sem aspas. Isso pode ser visto, por exemplo, no vídeo acima. Mas, se agora um buscador quer justamente pagar pelo conteúdo, a coisa muda de figura.

Já a Microsoft parece estar disposta a usar de força monetária bruta para tentar fazer o Bing decolar. No seu raciocínio, se o internauta só encontrar conteúdos relevantes no seu produto, pode deixar de usar o Google. Tanto é assim que a turma de Redmond estaria tendo conversas de teor semelhante com outros grupos de mídia, em uma tentativa de pegar só para si o conteúdo que fosse realmente útil, deixando ao Google os “restos”.

Parece fazer sentido. Onde está a falha nesse conchavo?

Já em 2005, eu dizia aos meus alunos do curso de Jornalismo da Metodista que um dos maiores desafios que eles enfrentariam era o fato de que (já naquela época) o que nós produzimos havia virado commodity.

Do lado da News Corp. aí está a falha. Eles produzem um bom conteúdo? Certamente sim. Eles são os únicos capazes de fazer isso nesse nível? Certamente não. Ainda é preciso ter muito dinheiro para fazer jornalismo de alta qualidade? Certamente NÃO: por isso a News Corp. e a grande mídia concorrem com uma legião de indivíduos e pequenas empresas pela audiência e pelo bolo publicitário.

Já do lado da Microsoft, a falha é: a Internet é grande demais para ser comprada. Essa estratégia teria alguma chance de dar certo se todos os grandes produtores de mídia abraçassem a idéia, mas vários deles já anunciaram que não vão entrar nesse barco furado. Para eles (e para mim), as pessoas não deixarão de usar o Google se o conteúdo da News Corp e de um punhado de outros reacionários não aparecer mais em seus resultados. Se entrassem, eles não apenas não lucrariam com o inexpressivo Bing, como perderiam a chance de monetizar o tráfego que receberiam do Google.

Há ainda uma “continha básica” a ser feita. Apesar da gritaria de Murdoch, suas publicações efetivamente fazem dinheiro com os internautas que o Google lhes envia. Podem ser migalhas individualmente, mas 21% de todo o seu tráfego está longe de ser café pequeno. Perder esse tráfego do Google e o dinheiro associado para migrar ao Bing só faz sentido se a Microsoft bancar essa diferença com vantagens para a News Corp. Mesmo para a gigante de Redmond, até quando eles estarão dispostos a fazer isso, já que seus ganhos não devem ser proporcionalmente expressivos? E ainda querem fazer o mesmo para um grande número de grupos de mídia? Eu chamo isso de dumping.

Honestamente, Murdoch pode até achar o Google uma empresa bandida conduzida por moleques irresponsáveis. E daí? Em uma nova ordem mundial da mídia, onde o conteúdo por si só perdeu completamente o valor (algo que ele, como dono desse império, se recusa a aceitar), provavelmente tem muito a aprender com eles. Isso sim é fazer negócio.

Download de filmes: legal, mas caro (e, por isso, tolo)

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A Saraiva largou na frente no download de filmes no Brasil, mas os preços altos podem matar a bela iniciativa

A Saraiva largou na frente no download de filmes no Brasil, mas os preços altos podem matar a bela iniciativa

A Livraria Saraiva anunciou hoje um serviço inédito no Brasil, que permite aos internautas fazer downloads de cópias legais de filmes com qualidade de DVD. Batizado de Saraiva Digital, imita serviços internacionais (mais notadamente o iTunes) e permite que o usuário alugue ou compre os filmes. A diferença entre as duas modalidades, além do preço (entre R$ 3,90 e R$ 6,90 no caso de aluguel), reside no fato de que, no modelo de aluguel, o filme não roda mais depois de 24 ou 48 horas e apenas a modalidade de compra permite queimar o filme em um disco.

Parabenizo a Saraiva pela iniciativa: acho que estão no caminho certo! Mas esses preços… Acompanhem o meu raciocínio:

O usuário será obrigado a baixar o filme, o que, de cara, já exige uma banda (bem) larga e muitas horas de download. Até aí, tudo bem, especialmente para aqueles que já são adeptos dos torrents da vida, baixando filmes ilegalmente. Depois, se quiser gravar em disco, precisa somar o custo da mídia. No final, ficará com um DVD com aspecto de pirata, sem extras, encarte, caixinha, nada.

Pois bem: entrei no novo serviço e vi o filme Juno, belíssima história. O download para compra sai por R$ 34,90. A Saraiva.com me entrega o DVD original, com tudo o que o download não me dá, no dia seguinte por… R$ 34.90. Ok, vamos ver outro filme: O Homem de Ferro, aventura com um dos super-heróis mais cafajestes (pelo menos o seu alter-ego) e divertidos que existem. Na Saraiva Digital, a compra me custa R$ 39,90, enquanto, na Saraiva.com, sai por… R$ 39,90! Procurei então na Americanas.com, concorrente direta da Saraiva.com. E esse mesmo DVD me era oferecido por R$ 19,90.

Aí fica difícil, né? Não sou tão desesperado a ponto de PRECISAR ver o filme imediatamente, sem poder esperar até o dia seguinte para a entrega do DVD e todas as suas vantagens sobre o download. Isso sem falar que a segundo opção não é instantânea, pois ela vai levar umas cinco horas fácil para ser concluída.

Uma das razões do sucesso do iTunes, que o transformaram no maior vendedor de músicas do mundo (superando o Wall Mart), é que o usuário pode comprar, com muita facilidade, apenas as faixas musicais que ele quer, sem precisar levar o álbum inteiro. Além disso (e isso é crítico), cada uma sai por míseros US$ 0,99. Esse valor é baixo o suficiente para “sair na urina” do cartão crédito.

Como disse, a Saraiva mandou bem com a iniciativa. Mas tem que ficar mais barato. Não apenas que a concorrência, mas que ela própria.

“Uso mais que justo”: remunerado

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O Google e a mída: quem carrega quem?

O Google e a mída: quem carrega quem?

Na última reunião anual da Associação de Jornais da América, Eric Schmidt, CEO do Google, defendeu, em sua palestra, que o Google News ajuda os jornais, conduzindo gratuitamente tráfego para seus sites. Assim, os veículos faturariam com publicidade em suas páginas. Seria, portanto, um “uso justo” de porções desses conteúdos para viabilizar o Google News, tentando diminuir a crescente gritaria de que o serviço estaria pirateando trabalho alheio em seu único benefício.

Esse é seu ponto de vista.

No meu post Limites do “uso justo”, no dia 16, analisei essa idéia. Ela é legítima e pesquisas subsidiam e idéia de Schmidt. Só há uma falha nesse raciocínio: por mais que os internautas caiam nas páginas dos veículos, isso não é suficiente para salvá-los do atual desastre econômico. Apesar de o CEO do Google ter parecido arrogante para muitos (e talvez tenha sido mesmo), sou obrigado a dizer que os responsáveis por esse fracasso da mídia na Internet são as próprias casas editoriais, que sempre menosprezaram suas publicações online. Muitas ainda fazem isso, mas agora, com a água no pescoço, bradam palavras de ordem contra a inevitabilidade dos fatos online.

Maureen Dowd, colunista do The New York Times, resumiu esse sentimento em um artigo publicado no último dia 14. Em determinado ponto, ela escreveu: “por que o Google não nos assina um gordo cheque por usar as nossas histórias, de modo que possamos manter salários e balanços e continuemos a oferecer ao buscador nossas histórias?”

Bom, esse é outro ponto de vista válido.

E então vem o renomado consultor de mídia Steve Outing, com quem costumo concordar, e sugere em seu blog que o Google News passe a exibir mais publicidade (hoje ela é bem tímida), distribuindo uma porcentagem de seus ganhos aos provedores de conteúdo que forem clicados em cada uma das páginas do serviço. Dessa forma, o Google ajudaria, segundo Outing, os jornais a saírem da lama em que se encontram e evitaria um movimento non-sense de muitos dinossauros da (grande) mídia, que querem fechar o seu conteúdo apenas para assinantes, algo que não interessaria ao internauta ou ao próprio Google.

Dessa vez, concordo apenas parcialmente com Outing. Não acho que caiba ao Google -ou a qualquer um- salvar jornais de sua própria incompetência econômica. Tampouco gostei do tom quase ameaçador do tipo “ajude-os ou você ficará sem conteúdo”. As coisas não funcionam assim.

O bom jornalismo é algo crítico para todas as sociedades. Sem ele, nossa cidadania se reduz gradativamente. Felizmente a crise atual não acabou com ele: dos recém-entregues Prêmios Pulitzer, muitos foram para alguns dos veículos mais afetados pela situação da economia. O The New York Times levou cinco deles, seu segundo melhor desempenho da história, apesar do prejuízo de US$ 74,5 milhões anunciado na semana passada.

O gigante de buscas já tem acordos com a Associated Press e com a France Presse pelos seus conteúdos usados no Google News. Os jornais podem aprender muito com a turma online sobre como ganhar dinheiro nesse novo cenário econômico. Mas precisam se despir de preconceitos e de idéias vetustas que os levaram ao buraco em que estão.

Pirataria: questão política ou de mercado?

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Será que os "piratas" do The Pirate Bay são piratas mesmo?

Será que os "piratas" do The Pirate Bay são piratas mesmo?

A Justiça sueca condenou nesta sexta Frederik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Carl Lundstrom e Peter Sunde, ligados ao site The Pirate Bay, a um ano de prisão e ao pagamento de uma multa de US$ 4,5 milhões. Eles eram acusados de violação de direitos autorais pelo site, o mais importante do mundo no quesito troca de arquivos de áudio e de vídeo, a maioria protegidos por direitos autorais.

Os quatro ainda têm direito a recorrer da sentença de primeira instância, mas já declararam que não pagarão a multa. “Mesmo que eu tivesse dinheiro, eu preferiria queimar tudo o que tenho e não lhes daria nem as cinzas”, disse Sunde, que classificou a sentença de “bizarra”. Eles se defendem argumentando que os servidores do site não guardam sequer um arquivo protegido por copyright, apenas os torrents que ajudam os usuários a encontrá-los pela Internet.

Os representantes da indústria fonográfica comemoraram o resultado, como um exemplo para desencorajar a pirataria, uma guerra cada vez mais inglória, que começou com o processo que soterrou o Napster -o primeiro de todos os compartilhadores de arquivos- em 2001. A queda nas vendas de CDs caem abruptamente desde então, abrindo espaço para lojas virtuais, cuja mais famosa é o iTunes, da Apple, e para a pirataria de CDs nos camelôs. Nesse cenário, quem está se tornando obsoletas são as gravadoras e as grandes distribuidoras de discos (isso sem falar das lojas físicas).

Rickard Falkvinge, líder do Piratpartiet, partido político sueco que é contra o copyright, classificou o julgamento como político, e não criminal. “Os eventos de hoje fazem do compartilhamento de arquivos uma questão política quente e nós vamos levar isso ao Parlamento Europeu”, prometeu.

Não estou colocando em questão que produtores de conteúdo de qualquer natureza deixem de ser remunerados: eu mesmo sou produtor de conteúdo e tenho que garantir o leitinho das crianças. O que vem acontecendo -primeiramente com a indústria de entretenimento e mais recentemente com a mídia- é que modelos de negócios consagrado estão morrendo. Está claro que, quanto mais os detentores desses direitos apertam os “piratas” (na verdade, seus consumidores), mais seu controle da situação se esfarela por entre seus dedos.

É o fim dos direitos autorais então? Produzir conteúdo só poderá ser algo feito como hobby? Claro que não! Mas temos que ter coragem de olhar para uma nova realidade, sairmos de nossa zona de conforto e descobrir como nos reposicionarmos, pois os novos modelos já estão por aí.

Só para ficar na indústria do entretenimento, que motivou a prisão da turma do The Pirate Bay, quem já descobriu um modelo alternativo e está se dando muito bem com ele são as bandas do chamado “tecnobrega”, cujo maior expoente é a Calypso. A banda paraense, originária de uma região de alto índice de pirataria, produz e vende diretamente seus CDs a preços popularíssimos, eliminando assim a pirataria de seus álbuns quase completamente. Afinal, por que comprar um CD pirata se o original custa o mesmo? Com seus CDs assolando o mercado, a banda arrasta multidões ensandecidas que lotam seus shows no Brasil inteiro.

Como dizem na música “Chama Guerreira”, “o que eu mais quero dessa vida é ver meu povo feliz cantar”. Eles estão no caminho certo: um caminho mais perto do The PIrate Bay que das grandes gravadoras.

Limites do “uso justo”

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O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

O CEO do Google insiste na queda de braço do "uso justo" contra os executivos da indústria de mídia

No último dia 7, Eric Schmidt, CEO do Google, colocou o dedo na ferida: o Google News mais ajudaria que atrapalharia jornais, revistas e outras fontes de informações. Não é bem o que eles pensam. Na verdade, cresce o coro de executivos da mídia que acha que o serviço se apropria indevidamente de seus conteúdos para gerar a sua página de notícias automática. O Google rebate, afirmando que faz apenas “uso justo” (“fair use“) desse material alheio e que os jornais se beneficiam grandemente do tráfego que ele lhes gera, já que usa apenas pequenas porções de textos e imagens, remetendo os internautas aos sites de origem das notícias.

O discurso de Schmidt aconteceu em plena reunião anual da Associação de Jornais da América e foi seguido de perguntas relativamente comedidas da platéia, formada por líderes da indústria. O momento estava cheio de ganchos para a fala do CEO: a mídia -especialmente jornais dos EUA- está atravessando uma crise sem precedentes, com a bancarrota de vários títulos tradicionalíssimos, o Google começou a veicular anúncios no Google News e a Associated Press resolveu endurecer na proteção dos direitos de propriedade intelectual do material que ela distribui.

Essa discussão não é nova: em março de 2005, a France Presse processou o buscador, pedindo US$ 17,5 milhões de indenização pelo uso de seu material no Google News. O processo foi arquivado dois anos depois com um acordo entre as partes. Os detalhes não foram revelados, mas o Google News pôde continuar publicando material da agência francesa. Um ano antes disso, um acordo semelhante já havia sido firmado com a Associated Press (que nem chegou a processar o Google). E essa briga também remete a outro assunto que já rendeu acalorados debates, mas anda em baixa: o “deep linking“, que significa um site apontar diretamente para matérias ou artigos de outros sites, ignorando suas home pages. Exatamente como fazem os links nesse post, por exemplo.

A discussão atual gira em torno do que é “uso justo” do material de terceiros. Assim como no Brasil, nos EUA é legalmente aceitável usar porções limitadas de produtos alheios (até mesmo de concorrentes), dentro de condições específicas. Um exemplo clássico é o uso de até três minutos de imagens esportivas geradas por emissoras de TV nos programas jornalísticos de outros canais.

Porém, como acontece sempre que existe um juízo de valor envolvido, o limite entre “uso justo” e uso indevido é tênue. O próprio Schmidt disse no evento que isso depende da escola que o jurista seguir, mas fez questão de acrescentar que, na dúvida, a balança deve pender para o lado do consumidor. Nas entrelinhas, jogou a batata quente no colo dos donos de jornais: se não concordassem, poderiam ser taxados de anacrônicos e  contrários aos interesses dos internautas.

Os executivos, por outro lado, sentem-se pressionados para manter suas operações -mais que rentáveis- vivas em meio à crise. Muitos pensam em fechar o seu conteúdo, indo na contra-mão da indústria, outros estudam a adoção de micropagamento ou de outros modelos alternativos. Nesse cenário de incertezas, o Google News pode, em suas visões, ameaçar o “controle” dos produtores de conteúdo.

Então vem o Google e argumenta que, qualquer que seja o modelo de negócios adotado, ele é o maior parceiro do produtor de conteúdo, pois nada lhe geraria mais tráfego individualmente que o Google News e sua tradicional busca. E ele tem razão. Estudo realizado pela empresa de pesquisas Hitwise Intelligence mostra que, de todo o tráfego dos sites de notícias em março, 21,69% foi gerado pelo Google e outros buscadores. Os executivos da mídia sabem disse e declaram que não querem perder um “parceiro” tão importante.

Apenas não querem fornecer o conteúdo para que ele crie as páginas que lhes geram esse tráfego…