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Mercado brasileiro terá até 2025 um déficit de 530 mil profissionais na área de TI - Foto: Creative Commons

Edtech combate déficit de profissionais de TI com capacitação gratuita

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Há anos, o Brasil enfrenta um déficit de trabalhadores na área de TI. Apesar de o mercado demandar cada vez mais pessoas em diferentes funções no setor, as faculdades não dão conta de prepará-las. Atenta a essa demanda, e edtech BePRO Institute pretende capacitar 800 pessoas por ano, sem custo para os estudantes.

Em dezembro de 2021, a Brasscom, associação das empresas de TI e comunicação, calculou que o mercado brasileiro demandaria 797 mil profissionais de TI entre 2021 e 2025, mas apenas 53 mil pessoas se formavam no setor por ano. Ou seja, se o país dependesse apenas dessas graduações, faltariam mais de meio milhão de profissionais até 2025. Outro estudo, feito pela consultoria McKinsey em 2019, indicou que 68% dos recrutadores do Brasil têm dificuldade de preencher vagas de nível básico em TI.

“Um dos grandes entraves que se tem hoje na educação é o dinheiro para fazer o curso”, explica Leandro Torres, fundador da BePRO. “Então um curso rápido dá oportunidade de a pessoa se empregar”, acrescenta.

A edtech oferece uma formação a distância de 140 horas, divididas em quatro semanas. Os estudantes são capacitados na plataforma “low-code” da Outsystems. Esse tipo de sistema permite que aplicativos sejam desenvolvidos com pouca ou nenhuma programação, graças a um ambiente que permite visualmente organizar recursos disponíveis em sua biblioteca de funções.

Torres afirma que isso é suficiente para que o estudante ingresse rapidamente no mercado de TI como um desenvolvedor júnior, com salários em torno de R$ 3.000. Com isso, a pessoa pode até mesmo viabilizar uma graduação na área e ampliar mais seus conhecimentos.

O público-alvo da BePRO são profissionais em transição de carreira ou que buscam um primeiro emprego na área de TI. Na primeira turma, realizada em abril com 26 participantes, a média de idade era de 32 anos, sendo que oito eram mulheres.

Para participar do processo seletivo, o candidato deve ter feito um curso técnico ou estar nos primeiros semestres de uma faculdade na área de TI. Além disso, é preciso ter um inglês pelo menos básico, pois, apesar de as aulas gravadas e da mentoria serem em português, o material oficial do fabricante é nesse idioma.

As primeiras três semanas do curso são de teoria e prática. Na quarta, cada aluno realiza um projeto final. O acompanhamento da evolução de cada um é diário. A instituição também oferece conteúdo comportamental e acompanhamento psicológico.

Torres investiu do próprio bolso quase R$ 500 mil para criar a edtech. Agora busca diferentes parcerias para seguir com o projeto. Ele já fechou acordos de divulgação com diferentes faculdades, para que seus alunos aprendam a plataforma “low-code” da Outsystems, de maneira complementar a seus estudos.

A próxima turma acontecerá em junho. As inscrições podem ser feitas pelo site da edtech: https://www.beproinstitute.com . A expectativa de Torres é realizar mais seis turmas até o fim do ano.

Para isso, o empreendedor espera agora conseguir parcerias com empresas, em um movimento em que todos ganhariam. Para fabricantes de software, por exemplo, isso aumentará a quantidade de profissionais capacitados a trabalhar com suas plataformas.

Mas Torres busca também apoio financeiro de grandes companhias para continuar capacitando gratuitamente pessoas, que poderão suprir demandas por profissionais das próprias organizações. “Uma das formas que eu vejo que vai resolver esses pontos é a entrada do empresariado ajudando cada vez mais a financiar esses estudos, seja ele uma formação acelerada, como a gente está propondo, seja numa formação mais tradicional, como uma graduação superior”, conclui.

 

Videodebate: o que estudar para ter trabalho

By | Educação | No Comments

Em tempos de crise brava e desemprego em alta como estamos vivendo, cada um busca a sua maneira para se manter relevante e garantir o seu lugar ao sol.

Nesse cenário, uma das melhores maneiras de aumentar a tal da empregabilidade é voltar aos bancos escolares para adquirir novas competências, se reciclar, pois todas as profissões vêm sofrendo profundas mudanças graças à tecnologia digital. Então, confiar seu futuro apenas no que aprendeu na faculdade não é mais possível.

Mas o que estudar então? Hoje temos cursos para todos os gostos e todos os bolsos. Cada um deles lhe oferece benefícios particulares. Veja no meu vídeo abaixo as vantagens e desvantagens de cada um, para tomar uma decisão mais acertada. E depois vamos debater aqui nos comentários sobre o assunto. Aproveite e compartilhe com todos as suas experiências.


A faculdade de jornalismo serve para algo?

By | Jornalismo | 2 Comments

Já discuti aqui antes se o diploma de Jornalismo serve para algo, principalmente depois que ele deixou de ser obrigatório para o exercício da profissão. Mas tenho lido com apreensão, nos últimos dias, uma sequência de notícias sobre o fechamento de cursos de Jornalismo pelo país: o Senac e Facamp (Faculdade de Campinas) sumariamente os suprimiram, enquanto a UMC (Universidade Mogi das Cruzes) e Uniube (Universidade de Uberaba) suspenderam as turmas desse semestre.

A justificativa de todos é a mesma: depois que caiu a obrigatoriedade do diploma, aconteceu um êxodo de alunos desses cursos, chegando a superar os 50%, o que os inviabilizaria. No caso do Senac, restaram apenas 10 gatos pingados.

É uma lástima tanto a desistência desses alunos quanto o fechamento dos cursos. Mas pior que tudo isso é essa turma ter abandonado a graduação porque o diploma não serve mais de passaporte para as Redações. Em minha opinião, isso apenas corrobora minha tese de que boa parte dos estudantes não está nem aí para os conhecimentos que poderia adquirir no curso, estando apenas interessada em botar a mão no famigerado canudo. Isso explicaria também a gritaria toda em torno do fim da obrigatoriedade do diploma: afinal, se, para essa turma, a única coisa que presta no curso é receber o certificado após passar quatro anos pagando as mensalidades, permitir depois que qualquer cidadão possa lhe roubar (por mérito) o lugar no mercado de trabalho é mesmo de lascar!

Por outro lado, se os cursos fossem realmente bons, se estivessem acrescentando algo aos futuros jornalistas para que pudessem ser classificados verdadeiramente como “cursos superiores”, os alunos talvez “resistissem”, mesmo diante da desobrigatoriedade do diploma. Mas infelizmente esse não é o caso. Os cursos de Jornalismo no Brasil são rasos, perdendo tempo precioso para ensinar (mal) técnicas (muitas vezes desatualizadas) em detrimento de disciplinas que poderiam realmente fazer diferença na formação do profissional, como história, geopolítica, ética.

É uma pena. Todos esses acontecimentos deveriam servir de motivação para melhorar os cursos, não para fechá-los. Sabemos que a educação há muito virou um negócio, especialmente para essas faculdades desqualificadas que vêm pipocando por todo o Brasil, mas seria demais pedir algum investimento em melhorias, antes de simplesmente jogar a toalha?

O diploma de jornalismo serve para algo?

By | Jornalismo | 7 Comments
Para Gilmar Mendes, "o jornalismo e a liberdade de expressão são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma separada"

Para Gilmar Mendes, "o jornalismo e a liberdade de expressão são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma separada"

“Você é a favor do diploma de jornalista?” Essa pergunta já me foi feita um sem-número de vezes, portanto a minha resposta é algo amadurecido ao longo de 15 anos de estrada. Sou jornalista formado pela Metodista, mas fiz o curso depois de já estar na profissão há muitos anos. Entrei na Folha quando estava no segundo ano do curso… de Engenharia. Ainda assim, decidi fazer também o curso de Jornalismo e cheguei a dar aula na mesma Metodista.

Por esse histórico profissional -digamos- “pouco ortodoxo”, a minha resposta não é simples. Não sou contra o diploma de jornalista, mas não posso ser a favor. Explico. Entendo que a exigência de um diploma para uma profissão se justifica quando o curso que o concede oferece conhecimento que realmente faça diferença para o desempenho da profissão. Infelizmente não é o caso das faculdades de Jornalismo brasileiras. Mesmo as mais renomadas transmitem um conhecimento raso, desperdiçando precioso tempo de sua grade horária com informações técnicas que poderiam ser rapidamente aprendidas pelo profissional quando ele chegasse ao mercado. O preço disso é falta de espaço para disciplinas que realmente fariam a diferença ao estudante, fortalecendo seu senso crítico e ética. Falta capricho em ensinar mais e melhor aos estudantes coisas como geopolítica, história, crítica de mídia, ética. Falta dar ao aluno a chance de ver o mundo com olhos mais abertos, justamente o que caracteriza um bom jornalista.

Nesse cenário, o recém-formado sai com o diploma embaixo do braço e batendo no peito que ele -e apenas ele- pode exercer a profissão. Ou pelo menos saía, pois o Supremo Tribunal Federal decidiu ontem, por 8 votos a 1, que o diploma não é mais exigência para exercer da profissão. Os argumentos dos juízes são diferentes dos meus, focando em questões técnicas jurídicas, especialmente contrapondo o decreto-lei dos militares que institui a obrigatoriedade com a Constituição de 1988.

Meu objetivo aqui não é entrar no mérito desses argumentos, mesmo porque concordo com quase tudo que eles usaram. Por outro lado, não concordo com o dito pelas entidades que estavam a favor ou contra o diploma, pois acho que eram radicais ou simplórios. Minha opinião se baseia mesmo na formação do jornalista, deficiente, inútil na maior parte de suas disciplinas. Diante disso, o diploma acabava se transformando em um escudo usado por maus profissionais formados -e eles andam cada vez piores- contra outras pessoas muito mais bem preparadas para fazer jornalismo de qualidade, mas escandalosamente classificadas como “charlatãs” pelos órgãos de classe jornalísticos. Os coleguinhas que me perdoem, mas charlatões são os incompetentes que povoam as nossas redações, que levantam o nariz e batem palminhas quando o editor lhes acena com um peixe cru e que, para ganhar essa guloseima, cometem verdadeiras atrocidades profissionais.

Assim, não sou contra o diploma de jornalista, mas não posso ser a favor, pois não concordo com a maneira como os cursos são conduzidos no país. Quando eles pelo menos se aproximarem do que se vê em faculdades de Jornalismo como na Universidade de Columbia (EUA) ou de Navarra (Espanha), então serei a favor dos cursos e do diploma. Mas falta, falta muito para isso. Pena.

E um último comentário: depois da decisão do STF, uma colega veio comentar comigo o temor de que as redações agora passariam a contratar mais “não-jornalistas” que jornalistas formados. Discordei dela, pois a decisão do STF não muda muito o que já acontece na prática. Quem queria ser jornalista já exercia a profissão no Brasil de um jeito ou de outro, mas nem todos querem ou conseguem fazer isso. Não é uma profissão fácil, não é um ofício simples, são poucas as pessoas que aguentam a pressão de um fechamento. Ou, como escreveu Gabriel García Márquez, Nobel de Literatura e jornalista (não formado), “ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir em um ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra acaba depois de cada notícia, como se fosse para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não volte a começar com mais ardor que nunca no minuto seguinte.”