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O vírus acelerou a morte de profissões

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Com o incremento no passo da vacinação, muitas empresas que ainda têm funcionários trabalhando em home office acalentam o sonho de voltar aos escritórios, mesmo sabendo que as coisas não serão como antes. Nesse cenário, o trabalho híbrido ganha espaço e a digitalização de tarefas não deve retroceder. Mas alguns profissionais não voltarão aos seus postos, pois suas funções foram extintas.

Depois de um ano e meio de pandemia, já se sabe que ela atuou como um poderoso catalizador da transformação digital. Mudanças nesse sentido que antes eram esperadas para ser implantas em cinco anos aconteceram em cinco meses. Empresas e profissionais que se deram bem nesse período foram os que conseguiram fazer os movimentos necessários.

A Covid-19 acelerou a derrocada de profissões inteiras. Esse processo, impulsionado pela automação e por mudanças culturais, já vinha de antes da crise sanitária, mas aumentou com ela.

Não há vacina para isso! Entretanto, quem está chegando no mercado agora e quem já está consolidado na profissão há muitos anos podem ainda tomar as ações que salvarão seu futuro profissional.


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Na semana passada, soube do caso de Salvador Neves, autointitulado “o jornaleiro mais antigo de São Paulo”. Dono da banca Estadão, que fica no viaduto Nove de Julho, no centro da cidade, ele está se aposentando aos 85 anos, 64 dos quais dedicados ao ofício. Ele, que se orgulha de já ter sido o maior vendedor de jornais da capital, chegando a comercializar cem exemplares por minuto, hoje vende pouco mais de um por hora, na média.

A banca, que está sendo tocada pelo seu filho, foi transformada em uma pequena loja de conveniência, a exemplo do que aconteceu com todos esses pequenos pontos de venda de rua. Mas isso não é suficiente. Salvador deixa a profissão menos pela idade e mais pela falta de perspectiva.

Acontece que, por mais que as pessoas continuem se informando pelo noticiário das mesmas empresas de comunicação que faziam (e ainda fazem) os jornais que Salvador antes vendia aos montes, hoje fazem isso pelo meio digital. Portanto, de certa forma, não foi a Internet que matou as bancas de jornal, e sim uma mudança no padrão de consumo de seus clientes, que encontraram um modelo que lhes é mais interessante.

A dificuldade dos donos das bancas de se reinventarem e o próprio debate do futuro do trabalho passa pelo do futuro da educação. Precisamos rever o que ensinamos em nossas escolas, privilegiando habilidades técnicas e sociais necessárias para as profissões do futuro, como trabalho em equipe, inteligência emocional, resiliência, empatia e tolerância.

Em outras palavras, para escapar do processo de automação, a sociedade precisa rever a maneira como educa seus jovens, e os profissionais precisam continuamente se reciclar. Mesmo para quem tem nível superior, não se pode mais depender apenas do que se aprende na graduação.

O que puder ser automatizado será! Portanto, aqueles cujas funções forem muito repetitivas e que exijam pouca inovação e criatividade devem mesmo se preocupar.

Um estudo realizado na Universidade de Oxford sugere que profissões que exigem habilidades que ressaltem nossa humanidade têm menos chance de serem automatizadas. Entre elas, estão percepção social, negociação, persuasão, cuidado com o outro, originalidade, gosto artístico e destreza manual.

Nesse sentido, algumas das profissões mais bem posicionadas seriam as ligadas a hotelaria, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e professores. Na outra ponta, entre as profissões mais ameaçadas, estão telemarketing, digitadores e caixas de banco.

O grande risco desse processo é tirar o ser humano da equação.

 

“Inempregáveis”

As mudanças são inevitáveis!

Se, por um lado, o avanço tecnológico deve trazer grandes benefícios para nossa vida, por outro ele pode gerar um excedente de mão de obra cujas qualificações não sirvam mais para essa nova realidade. E isso é algo que deve acontecer em um horizonte de poucos anos.

O Brasil já passa uma situação dramática no nível de emprego. Temos hoje cerca de 15 milhões de desempregados e mais de 6 milhões de desalentados, que são aqueles que já desistiram de procurar emprego. Além disso, há 33 milhões de pessoas que, apesar de estarem trabalhando, se sentem subaproveitadas, ou seja, poderiam e gostariam de produzir mais e melhor.

O grande problema é que começaremos a ver pessoas de uma nova categoria, a dos “inempregáveis”, aquelas cujas habilidades, mesmo aprendidas em uma faculdade, já não servem para nenhuma profissão. Cursos ultrapassados e falta de reciclagem profissional aumentam o risco de criar uma grande massa que não será capaz de exercitar qualquer trabalho.

Os otimistas afirmam que profissionais que perderem seu trabalho para a automação serão reaproveitados em outras funções. O problema é que essas tarefas tendem a ser pouco qualificadas, o que amplia a chance de serem novamente substituídos por outros sistemas depois de algum tempo.

As chamadas “profissões do futuro”, que estimulam nossa imaginação, exigem, por outro lado, pessoas que estejam continuamente aprendendo, que inovem e corram riscos, prontas para transformar o próprio trabalho em algo novo.

Nesse sentido, paradoxalmente algumas dessas atividades futuristas já existem há muito, muito tempo, como professores e médicos. Mas obviamente elas só poderão ser exercidas por profissionais que abracem maneiras totalmente inovadoras de fazer o que sempre fizeram. Quem insistir em métodos consagrados será lentamente colocado para fora do mercado.

Outra coisa que todos nós temos que ter em mente é que precisamos incorporar habilidades de outras áreas. Os profissionais mais valorizados precisam, cada ver mais, dominar habilidades da área de Exatas, como raciocínio lógico, análise de dados, entendimento de sistemas e estatística, assim como de Humanidades, como comunicação, pensamento crítico, trabalho em equipe e empatia.

As empresas devem entender que têm uma função essencial nisso, até mesmo para ensinar e reciclar seus profissionais, especialmente quando as escolas demoram a reagir e criar cursos que atendam a essas demandas.

O retorno é óbvio! Em janeiro, o relatório Brand Finance indicou as marcas mais valiosa do mundo: Apple, Amazon, Google, Microsoft, Samsung, Walmart, Facebook, ICBC, Verizon e WeChat. Apenas duas não são da área de tecnologia. E, nas 500 maiores, há só duas brasileiras: o Itaú, que ocupar o 387º lugar, e o Banco do Brasil, na posição 492. Nossas marcas mais valiosas são de setores muito conservadores ou estão ligadas a commodities, o que é emblemático.

Precisamos investir em profissões cujas tarefas não possam ser descritas e controladas por algum tipo de programa de computador. E devemos entender que o conhecimento envelhece. Por isso, temos que estar sempre estudando: essa ação é inegociável!

Vivemos em tempos exponenciais, e isso é ótimo para o desenvolvimento de toda a sociedade. Mas eles nos desafiam a fazer de um jeito diferente o que já existe ou criar algo completamente novo.

Não dá mais para se agarrar a fórmulas consagradas. Temos que nos preparar profissionalmente para algo que ainda não existe.

Nossa má educação cria um abismo entre os brasileiros e as profissões do futuro

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De tempos em tempos, vemos estudos e listas sobre as chamadas “profissões do futuro”. Elas nos enchem os olhos, com atividades incríveis e inspiradoras. Algumas parecem que vieram diretamente de um episódio de “Star Trek”, mas são reais! Infelizmente a maior parte das pessoas jamais exercerá qualquer uma dessas carreiras, pois não têm elementos básicos em sua formação para desempenhar suas tarefas. Nosso sistema de ensino e nossa cultura não são organizados para oferecer a crianças, jovens e adultos as habilidades necessárias para isso.

Isso fica ainda mais cruel quando consideramos que vivemos em um país que entrou em 2021 com cerca de 14 milhões de desempregados e 6 milhões de desalentados (aquelas pessoas que já desistiram de procurar emprego), números que crescem consistentemente desde antes da pandemia de Covid-19. Nos casos da imensa maioria dessas pessoas, infelizmente essas atividades inovadoras são inalcançáveis.


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Para as profissões que debutam com grande pompa e muitas novidades (as que chamam mais atenção), naturalmente não existe formação específica. As escolas precisam de um tempo para criar cursos, e isso só acontece depois que um novo ofício está consolidado. Portanto, se se almeja qualquer um desses incríveis trabalhos, a habilidade mais desejada é o amor pelo aprendizado. Com ela, o candidato descobrirá e fará muitos cursos específicos, para combinar seus conteúdos e construir o arcabouço intelectual necessário.

Nesse ponto, a situação começa a complicar. Nossas escolas não desenvolvem nos estudantes esse recurso. O amor pelo conhecimento é substituído por decorar o conteúdo para “tirar nota na prova”. Aliás, esse é um sistema de avaliação que persiste, apesar de ser incrivelmente falho. A prova pune o erro, o que faz com que o aluno prefira decorar mecanicamente, ao invés de sentir o prazer da compreensão dos assuntos, algo que deveria ser desenvolvido desde a mais tenra idade. Por isso, abordei esse tema na palestra que ministrei aos educadores da Fundação Raízen, na quarta passada

As “profissões do futuro” são tão incríveis porque elas saem do óbvio! Desafiam os indivíduos a pensar e a fazer diferentemente o que já existe ou criar algo completamente novo, que trará um grande benefício à sociedade. Para isso, o profissional não pode ficar preso a fórmulas consagradas. É preciso ser capaz de correr riscos, de buscar a inovação, de tentar.

Fácil falar! E é aí que “a porca torce o rabo”, como diz o ditado. Qualquer tentativa, em qualquer assunto, necessariamente embute um risco. Não há como garantir que tudo dará sempre certo. Mas nossas crianças e jovens crescem sendo punidos pelos seus erros. Quando se está na escola, o erro pode levar a uma reprovação de ano. Quando se chega ao mundo do trabalho, o erro pode custar seu emprego.

E assim todos preferem caminhar na segura trilha da mesmice. Ao não tentar, não se erra. E, ao não errar, garante-se o que já se tem. O problema é que, ao não tentar, também não se muda, não se cria, não se vence. Vivemos, portanto, em um pacto pela mediocridade.

Isso é antinatural! Todos nós somos capazes de aprender com nossos erros. Todo jogador de videogame sabe disso! Ninguém termina um game sem “morrer” nenhuma vez. Isso acontece várias vezes ao longo dessa jornada, mas nem por isso o jogador desiste dela. Pelo contrário: ele é obrigado a voltar um pouco na sequência, mas, quando chegar de novo no ponto em que falhou anteriormente, desenvolverá novas estratégias para superar o desafio, até que consiga! A partir daquele momento, esse recurso ficará disponível em seu cérebro para ser usado não apena no jogo, mas em qualquer coisa na sua vida.

Toda criança nasce sabendo disso. Mas a sociedade aos poucos a coíbe, para que essa habilidade fique cada vez menos disponível.

 

O valor da inovação

Profissionais e empresas que “sabem jogar” brilham muito mais! Por exemplo, na terça passada, a Apple recuperou a coroa de marca mais valiosa do mundo, depois de cinco anos. Segundo o relatório “Brand Finance 2021”, Amazon, Google, Microsoft, Samsung, Walmart, Facebook, ICBC, Verizon e WeChat completam a lista das dez mais valiosas. Apenas duas delas não são da área de tecnologia: o varejista americano Walmart e o banco chinês ICBC.

Nas 500 maiores, apenas duas são brasileiras: o Itaú, que ocupar o 387º lugar, e o Banco do Brasil, na posição 492. Sem desmerecer as operações dessas empresas, essa quase total ausência brasileira é emblemática. Nossas maiores empresas são de setores muito conservadores ou estão ligadas a commodities, enquanto as mais valiosas do mundo estão intimamente vinculadas à inovação, onde há um monte dos tais “profissionais do futuro”, dispostos a correr riscos.

Pode-se imaginar que esses ofícios são totalmente inéditos, mas isso não é o caso. Na verdade, muitas das “profissões do futuro” paradoxalmente existem desde a Antiguidade, como professores e médicos. Elas são “profissões do futuro” porque não apenas continuarão existindo, como se tornarão ainda mais importantes para a sociedade. Mas naturalmente elas já sofrem e continuarão sofrendo grande mudanças, inclusive impactadas pelo meio digital. Querer continuar as exercendo como se fazia há alguns anos é um convite para ser colocado para fora do mercado.

A digitalização já afetou todas as profissões e esse é um movimento que cresce exponencialmente. Não há como resistir à mudança. Pelo contrário, qualquer que seja a área do ofício, o domínio de habilidades normalmente associadas às Exatas, como raciocínio lógico, análise de dados, entendimento de sistemas ou estatística ficam mais e mais importantes. Da mesma forma, habilidade de Humanas, como comunicação, pensamento crítico, trabalho em equipe e até empatia também se tornam essenciais para trabalhadores de todas as áreas, e não apenas nas Humanidades.

Vejo isso com muito bons olhos. A ideia de ter um engenheiro com uma incrível capacidade de comunicação ou um médico guiado pela empatia é incrível! Ao final, teremos não apenas melhores profissionais, mas também melhores pessoas.

 

O avanço da automação

Não se engane: o que puder ser automatizado será! Isso já está acontecendo em todas as áreas.

Profissões nascem e morrem desde o início dos tempos. A diferença é que agora isso acontece em um ritmo muito mais veloz, pelo desenvolvimento de novas tecnologias e pela disseminação e democratização do conhecimento.

As que desaparecem normalmente são aquelas que foram substituídas por processos que atenderam seu cliente de maneiras que lhe eram mais convenientes. O que mata um produto, uma indústria, uma profissão é o cliente que encontra uma alternativa mais vantajosa para si.

Portanto as profissões que nascem são mais analíticas e inovadoras, e as que morrem são as mais operacionais e repetitivas. É por isso que nossas escolas precisam formar profissionais para o primeiro grupo, e não para o segundo. Caso contrário, dentro de alguns anos, não teremos apenas uma grande massa de desempregados, mas muitas pessoas “inempregáveis”, que não terão habilidades mínimas para realizar as tarefas exigidas pelos ofícios disponíveis.

A discussão do futuro do trabalho deve passar necessariamente pela do futuro da educação. Portanto, se você deseja abraçar uma das “profissões do futuro”, comece a se preparar desde já, estudando de uma maneira diferente. Procure cursos que o ensinem a pensar e não a simplesmente a “apertar botões”, que o ensinem a correr riscos e não a adotar posições conservadoras, que o levem a abrir novas trilhas e não apenas seguir por caminhos conhecidos por todos.

Com isso, você poderá criar algo de fato novo e que realmente faça a diferença para a sociedade. Assim seu futuro estará garantido.

Reflexão: como se preparar para as profissões do futuro?

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Nesta quinta, tive duas conversas muito instigantes sobre o futuro do trabalho. Há um consenso: rumamos para uma ruptura, especialmente em países ocidentais, em que as pessoas podem chegar a um ponto de não terem mais o que fazer.

Isso se deve à crescente automação, incluindo recursos cada vez mais incríveis de inteligência artificial. Ocorre também pelos países orientais, especialmente China e Índia, que, graças à digitalização e às telecomunicações, oferecem mão de obra mais barata e qualificada para realizar tarefas que antes eram feitas por profissionais daqui.

Esse movimento sempre aconteceu, mas, se na Revolução Industrial a sociedade teve uns 200 anos para encontrar novos trabalhos, isso agora precisa ser refeito a cada década (se muito!).

Curiosamente, hoje vi uma reportagem sobre novos trabalhos na Business Insider (https://read.bi/2GGgn3v). Todos muito bacanas, mas que exigem excelente formação. Mas as pessoas que estão perdendo seus empregos são justamente as menos preparadas.

Moral da história: sim, muitos trabalhos já estão sendo substituídos por máquinas, e outros tantos estão criados. Mas os profissionais precisam urgentemente melhorar sua formação!

Se quiserem saber o que penso disso, recomendo a leitura do meu artigo “A inteligência artificial só roubará o seu emprego se você deixar”: https://www.linkedin.com/pulse/intelig%C3%AAncia-artificial-s%C3%B3-roubar%C3%A1-o-seu-emprego-se-silvestre-jr-/

Daí pergunto: como vai a nossa educação mesmo?

Como será quando um robô tomar seu trabalho?

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Foto: Visualhunt/Creative Commons

Podemos estar assistindo à gestação de uma crise de empregos global sem precedente. A troca de pessoas por máquinas na indústria não é uma novidade, mas isso já se observa também em todos os setores da economia, e com uma taxa de adoção cada vez mais intensa. Não se trata só do velho embate “máquina versus humanos”: chegará o momento em que a maioria das atividades produtivas será feita por robôs? Mais dramático que isso: quando isso acontecer, as pessoas ainda terão uma função na sociedade e meios para se sustentar?

Já debatemos aqui o fato de muitos profissionais e empresas estarem se tornando obsoletos diante de novas iniciativas que oferecem produtos ou serviços melhores e mais baratos. O enfoque, naquele outro artigo, era de pessoas ocupando o lugar de outras pessoas, auxiliadas pela tecnologia. E já foi o bastante para muita gente conversar comigo sobre sua preocupação com o tema. Mas a revolução mais comovente deve vir das máquinas, justamente por tirarem o ser humano da equação.


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Na semana passada, a Foxconn, empresa chinesa que monta os iPhones, substituiu 60 mil postos de trabalho da sua unidade na província de Kunshan por robôs. Mesmo em um país acostumado a quantidades superlativas, é muita gente perdendo o emprego: 55% do total da fábrica.

A empresa diz que, “a longo prazo”, não haverá diminuição de postos de trabalho, pois funcionários poderão passar a fazer atividades mais nobres e menos repetitivas. Esse é o discurso típico de quem automatiza uma linha de montagem. Mas o fato é que, a curto prazo, o pessoal foi para a rua mesmo! Tudo para reduzir custos e atender metas de produção da Apple. E não há nenhuma garantia que essas pessoas sejam reaproveitadas pela empresa. Pior: não se sabe sequer se serão mesmo capazes de aprender as tais tarefas “mais nobres”.

Naturalmente algumas profissões estão mais em risco que outras. A BBC criou um infográfico interativo a partir de uma pesquisa da Universidade de Oxford, que avalia os riscos de automação de 365 profissões nos próximos 20 anos. Apesar de levar em consideração dados do Reino Unido, os resultados podem ser extrapolados para profissionais de todo o mundo. Mais cedo ou mais tarde, a automação impactará quase todos, mas a pesquisa de Oxford demonstra que, para algumas profissões, isso já acontece e de uma maneira absolutamente determinante, forçando categorias inteiras de profissionais a se reinventar.

Impossível não pensar na Revolução Industrial, cujos raízes remontam na Inglaterra do século 18, e os processos industriais acabaram por quase extinguir os artesãos de diferentes segmentos. A transição para um novo formato social e econômico foi traumática, contando até com o surgimento de movimentos que resistiam à automação, como o ludismo.

Porém, apesar de todo aquele drama, o mundo acabou se reorganizando, com uma grande evolução da humanidade. Os artesãos realmente ficaram para trás, mas as pessoas encontraram um novo caminho.

Mas qual será o caminho a seguir agora?

 

Futuro Blade Runner?

A mesma tecnologia que extingue profissões cria outras completamente novas.

Por exemplo, estamos assistindo ao fortalecimento do Movimento Maker, em que pessoas começam a produzir, até mesmo em casa, coisas incríveis e tecnologicamente sofisticadas. Além disso, a tecnologia digital também permite que paradigmas sejam quebrados, subvertendo modelos de negócios consolidados há décadas. O fenômeno dos youtubers, por exemplo, já pode ser considerado uma ameaça à TV, especialmente se olharmos para o público mais jovem. E a economia compartilhada já deixou de ser uma tendência para fazer parte da vida de milhões de pessoas, para desespero de donos de negócios tradicionais, que ganharam novos e eficientíssimos concorrentes (a guerra do Uber contra os táxis é um dos exemplos mais notáveis disso).

Seria ótimo se todo esse pessoal que perdeu o emprego para os robôs conseguisse pular nesse novo barco. Mas sejamos realistas: são poucos aqueles que conseguiriam fazer isso. E haveria mercado para todos? Usando o próprio YouTube como exemplo, existem uns poucos milionários da plataforma, e um mar de microprodutores de vídeos que nunca ganharão dinheiro com isso, nem mesmo sairão do anonimato.

A turma de 40 anos ou mais deve se lembrar do filme Blade Runner, de 1982, em que as ruas de uma Los Angeles decadente de 2019 eram tomadas por engenheiros genéticos que criavam seres artificiais para lucrar ou simplesmente se divertir. É isso que nos espera?

E qual a saída para quem não se encaixa em nada disso?

 

Sobrevivendo à automação

No dia 5 de junho, 78% dos suíços rejeitaram, em plebiscito, uma ideia de renda mínima para todo cidadão do país. Pela proposta, cada adulto receberia mensalmente 2.500 francos suíços (R$ 9.000), estando empregado ou não, enquanto cada criança receberia 625 francos suíços (R$ 2.260). Para quem trabalha, a medida faria diferença apenas para quem ganhasse menos que os R$ 9.000 (o salário médio na Suíça gira em torno de R$ 21.700).

Para os criadores da proposta, ela permitiria que as pessoas pudessem se concentrar em atividades que gostassem, e até mesmo voluntariado. E, de quebra, resolveria o problema de desempregados pela adoção de robôs. Acabou sendo rejeitada porque os suíços preferiram manter outros benefícios sociais que já têm (que seria substituídos pela renda mínima). Além disso, o governo temia que a proposta enfraquecesse o serviço público, aumentasse impostos e prejudicasse o consumo.

É pouco provável que uma proposta como essa seja viável no Brasil. Apesar de já ser lei aqui desde 2004, ainda não está valendo porque não foi regulamentada. Os principais entraves são caixa para se pagar um valor que permita um bem-estar efetivo aos eventuais beneficiados, o tamanho da população brasileira e a nossa corrupção endêmica.

Então, já que a renda mínima não passou nem na rica Suíça, os profissionais precisam dar seu jeito para fazer frente à invasão dos robôs no mercado de trabalho. E ironicamente a melhor maneira de se fazer isso é ser cada vez mais humano.

Os robôs são imbatíveis em tarefas que exigem precisão, repetição e montagens complexas. Mas eles são muito fracos em qualquer atividade que envolva relacionamento social, decisões diante de imprevistos, correr riscos e valer-se de sentimentos.

Trocando em miúdos, vale a pena investir em profissões cujas tarefas não possam ser descritas e controladas por algum tipo de programa de computador. Todo o resto caminhará cada vez mais rapidamente para os robôs.

Ou seja, faça o que os robôs não podem fazer. Pelo menos não ainda.

Além disso, profissionais têm a obrigação de se manter atualizados. Foi-se o tempo em que o que se aprendia na faculdade era garantia de um bom desempenho profissional até a aposentadoria. Com avanços tecnológicos e sociais galopantes, é preciso estar sempre estudando. Essa ação é inegociável.

Da mesma forma, as empresas têm o dever de incentivar a iniciativa e a inovação em seus quadros. Prestar atenção no que seus próprios funcionários e consumidores dizem pode ser muito mais valioso que qualquer robô. O mundo está em constante mudança e novas oportunidades podem estar a uma quadra ou do outro lado do planeta.

Por tudo isso, a melhor maneira de garantir seu lugar ao sol em uma sociedade cada vez mais automatizada é exercendo sua humanidade. Não será necessário se comportar como os luditas, e sair quebrando todas as máquinas pelo caminho para passar por mais essa Revolução Industrial.


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