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André Quinderé, CEO da Agilean. “se você não mudar a forma de produzir e de gerenciar, não vai ter mais sucesso.”

Construtech usa método da indústria automobilística para melhorar a construção civil

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Reduzir custos de um setor muito conservador para continuar viabilizando produtos para um mercado em mudança acelerada e consumidores mais exigentes. Uma construtech –como são chamadas as startups da construção civil– de Fortaleza (CE) quer solucionar isso usando tecnologia e adaptando um método criado pela indústria automobilística.

A Agilean transpôs para os escritórios de projeto e os canteiros de obra os conceitos da metodologia lean, cujas raízes remontam a 1950, quando foi inventada no Japão por engenheiros da Toyota. Essa metodologia propõe uma melhoria contínua dos resultados de negócios, otimizando processos e evitando desperdícios.

“Achatar o tempo das soluções não é mais um luxo, é uma necessidade básica do nosso mercado.”, explica André Quinderé, CEO da empresa. “Se você não mudar a forma de produzir e de gerenciar, não vai ter mais sucesso.”

Apesar de empregar cerca de 7,5 milhões de pessoas e representar por volta de 5% do PIB brasileiro, ele explica que as tarefas de gestão ainda são muito manuais na construção civil. “Há muito desperdício, muito atraso e um baixo uso da tecnologia”, afirma o executivo. “O setor é visto como o patinho feio da indústria.”

A coleta manual de informações nos canteiros traz vários problemas. O primeiro são erros na entrada dos dados. Depois disso, essa informação precisa ainda ser consolidada e processada, para gerar relatórios necessários para a tomada de decisões, um processo extenso e demorado.

“Esse fluxo de integração entre produção e qualidade nas obras é uma dor de cabeça enorme”, explica Quinderé. “A construtora paga o empreiteiro sem saber a qualidade, porque não chega o relatório.”

Minimizar esse gargalo no tempo de produção e entrega dos relatórios fez toda a diferença para a Agilean, que já digitalizou mais de 6 milhões de metros quadrados em obras de todo o país. “Se não conseguir identificar o problema de forma rápida, ele vai se replicar”, diz o executivo. Ela conta que, no início de sua empresa, os relatórios já traziam informações valiosas aos gestores, mas às vezes chegavam tarde demais para algumas decisões.

A solução foi desenvolver uma plataforma  que digitalizasse todo o processo da obra, dividido em vários módulos. Do lado das equipes de projeto e de gestão, existe um dedicado a todo o planejamento da obra e outro para acompanhamento da evolução dos indicadores em tempo real.

A plataforma também inclui um aplicativo para celulares que serve para que qualquer pessoa na obra possa incluir informações, como, por exemplo, um problema encontrado. Essa informação é processada e impacta os relatórios imediatamente, evitando retrabalho e decisões erradas. “As pessoas deixam muito o canteiro de lado e é ali que tem o desperdício”, explica Quinderé. O aplicativo também é responsável pelo fluxo de distribuição de tarefas.

Mesmo se não tiver um celular com o aplicativo à disposição, qualquer profissional no canteiro de obras pode incluir informações no sistema. Para isso, são instalados nele “terminais Andon”, outra contribuição do Sistema Toyota de Produção. Trata-se de pequenos terminais com poucos botões que permitem que o trabalhador indique imediatamente algo que estiver fora do esperado, para que a solução seja dada de maneira rápida e o problema não se replique.

“Alimentamos nosso planejamento e vimos o desdobramento de nossas ações, reprogramação e impactos das nossas tomadas de decisões, antes realizadas visualizando um horizonte apenas de curto prazo”, explica Leonardo Aidar, gerentes de obras da Construtora e Incorporadora Tack.

A plataforma também desenvolveu um assistente virtual que conversa com os envolvidos na obra por WhatsApp. Com ele, é possível, por exemplo, solicitar relatórios que são gerados na hora e entregues por esse canal.

Além disso, graças à inteligência artificial embarcada, o sistema também é capaz de enviar sugestões para a tomada de decisões, mesmo que não tenham sido solicitadas. “O bot não é só reativo, ele é proativo”, explica Quinderé. “A ideia é que funcione como um ‘engenheiro 24 horas’ na ajuda de tomada de decisões.”

Para ele, a transformação digital envolve necessariamente pessoas, processos e tecnologia. Nenhum deles pode ficar para trás. Mas, segundo o executivo, a construção civil é um setor muito tradicional, com um produto com uma vida útil longa, por isso as empresas têm muito medo de a inovação gerar problemas novos.

Entretanto, não fazer esses movimentos deixou de ser uma opção. Quinderé afirma que as construtoras chegaram em um momento em que não podem repassar mais preços ao mercado. “Para manter a minha margem, eu tenho que ser muito mais eficiente”, conclui.