liberdade de expressão

O multibilionário Elon Musk, que comprou o Twitter por US$ 44 bilhões, para, em suas palavras, “restaurar a liberdade da expressão”

O inferno são os outros

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A liberdade nunca esteve tão em alta, pelo menos na boca do povo. Mas paradoxalmente ela nunca foi tão maltratada e usurpada. Quanto mais se apoderam dela, mais as pessoas esquecem seu real significado.

Na semana passada, um dos assuntos mais comentados foi a compra do Twitter por Elon Musk, que pagou US$ 44 bilhões pela plataforma do passarinho azul. A sua principal motivação teria sido, como disse, “restabelecer a liberdade de expressão na rede”. Para o homem mais rico do mundo, isso significa que nada publicado nas redes deve sofrer qualquer tipo de moderação.

Isso seria verdade se vivêssemos em uma sociedade utópica, em que todos aproveitassem desse benefício de maneira responsável e civilizada. Mas estamos muito longe disso, e, aos nossos olhos, a culpa parece ser sempre dos outros.


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Todos nós temos nossas Ideias, nossas vontades, nossos valores. É natural que queiramos que os outros concordem pelo menos com parte disso tudo, seja porque entendemos que isso seria melhor para todos, seja porque exercitamos o nosso egoísmo. Mas isso simplesmente não vai acontecer, porque cada um tem as suas “verdades”, que acabam conflitando com as nossas em algum ponto. É um “beco sem saída filosófico”.

As redes sociais têm um papel determinante nessa incapacidade crescente de lidar de maneira equilibrada e construtiva com as ideias dos outros. Seus algoritmos reforçam nossos valores e até preconceitos, ao nos colocar em contato com muitas pessoas que pensam da mesma forma que nós. Isso faz com que tenhamos uma falsa certeza de que nossa visão de mundo é a correta, tornando-nos intolerantes e até agressivos.

Gostaríamos de não ser incomodados e vivermos de acordo com o que acreditamos. Mas o jornalismo, por exemplo. insiste em nos mostrar que o mundo não dá a mínima para nossas vontades, e que temos que aprender (ou reaprender) a conviver em harmonia dentro da sociedade.

Batemos no peito para dizer que nossa opinião deve ser ouvida, porque ninguém mais seria o “dono da verdade”. Só que isso é mais uma das falácias espalhadas nas redes sociais por aqueles que se beneficiam dessa cacofonia digital infinita.

Sempre existiram “donos da verdade”, que são pessoas, empresas e instituições com grande reputação, construída ao longo de anos e com muito esforço, e uma extensa ficha de serviços prestados à sociedade. E eles continuam existindo! Sua credibilidade não pode ser simplesmente descartada porque afirmam coisas das quais discordamos.

Jornalistas, professores, universidades e muitos outros continuam tendo um papel fundamental para a manutenção da vida. Aqueles que os criticam são os mesmos que, diante de sua incapacidade de produzir Ideias críveis e positivas para a sociedade, precisam destruir todos aqueles que fazem isso, para que criem uma “tabula rasa” sobre a qual imporão suas vontades sobre as massas.

Isso me lembra de quando Umberto Eco recebeu, em junho de 2015, o título de doutor honoris na Universidade de Turim (Itália). Na ocasião, o escritor e filósofo italiano disse que as redes sociais haviam dado voz a uma “legião de imbecis” e que “agora eles têm o mesmo direito à palavra que um Prêmio Nobel”. Afirmou ainda que “o drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade.”

Ele estava certíssimo! Quando a desinformação ainda não havia se transformado em uma ferramenta de controle de massas em escala industrial, ele já antecipou o que estava por vir.

 

As bases da civilização

O historiador israelense Yuval Noah Harari afirma que o ser humano só alcançou a dominância do planeta por ser o único ser vivo com a capacidade de acreditar em desconhecidos para construir algo com eles.

A isso, damos o nome de sociedade! Do jeito que as coisas vão, estamos perdendo esse recurso, colocando, portanto, o próprio conceito de sociedade em risco.

O que se vê é um número crescente de pessoas que confundem liberdade, com libertinagem. Quando todo mundo faz o que bem entende, sem respeitar leis ou regras, e principalmente sem respeitar a liberdade do próximo, a sociedade começa e a derreter, dando espaço a uma anarquia.

Não é um conceito difícil de entender. De fato, isso é algo que aprendemos na escola: “a sua liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. Ou, se preferir, “não faça com o outro o que não gostaria que fizessem a você”.

Esse é um conceito basilar em qualquer grupo organizado no mundo, e vinha funcionando bem nos últimos séculos. É claro que sempre houve aqueles que descaradamente desrespeitavam isso em benefício próprio, apropriando-se dos direitos alheios para aumentar os seus. Mas agora as redes sociais permitiram que eles se multiplicassem e se tornassem incrivelmente poderosos.

Espero que esse momento que estejamos vivendo seja apenas mais um desses “desvios de conduta em massa”, e que consigamos, em breve, resgatar uma convivência civilizada e equilibrada. Para isso, precisamos também das redes sociais.

Esse é o motivo de tanta gente estar preocupada com o que Elon Musk realmente fará com o Twitter. Mas, apesar de suas manifestações na própria rede, tudo o que os diferentes grupos ideológicos dizem sobre o tema não passa de especulação. Musk não tomará ações que levem a plataforma à ruína. Além disso, mesmo com o Twitter tornando-se uma empresa de um único dono, ela continuará sendo regulada e pressionada pelos órgãos de justiça do mundo todo, especialmente dos Estados Unidos, onde fica a sua sede. E essas instituições já deixaram claro que a liberdade deve ser preservada, desde que as redes sociais não se tornem uma terra sem lei.

Enquanto não soubermos o que Musk efetivamente fará com o Twitter quando for capaz disso, precisamos fazer a nossa parte para nos salvar de nós mesmos. Não podemos continuar achando que tudo é culpa dos outros e –pior ainda­– que nós estamos sempre certos e que os outros estão sempre errados. De maneira geral, a verdade está sempre em algum ponto no meio do caminho entre os vários extremos.

 

O escritor e filósofo italiano Umberto Eco, que, em 2015, anteviu como a exposição de opiniões na Internet poderia ameaçar a sociedade

Prestes a atingir 5 bilhões de pessoas, mundo online expõe nossas imperfeições

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Em algum momento ainda nesse trimestre, o mundo deve atingir a incrível marca de 5 bilhões de pessoas conectadas à Internet! Desse total, cerca de 93% acessam redes sociais, que aparecem e somem a toda hora, cada uma delas trazendo novidades e capturando nosso tempo e nossa atenção. Nesse bombardeio cognitivo, batemos em limites de assimilação de nosso cérebro, o que nos leva, às vezes, a comportamentos no mínimo questionáveis.

Os números acima são da recém-lançada edição 2022 da pesquisa Global Digital Report, organizada pelas consultorias Hootsuite e We Are Social. Essa avalanche digital exige que repensemos nossa postura diante dessas plataformas, para que não sejamos engolidos por elas, colocando em risco até mesmo nossa integridade.


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A pesquisa estimou que o mundo terminou 2021 com uma população de 7,91 bilhões de pessoas, das quais 4,95 bilhões (62,5% do total) já estavam online. Para se ter uma ideia desse crescimento, há apenas uma década, éramos 2,18 bilhões de conectados. No Brasil, 77% da população –ou 165,3 milhões– acessam a Internet.

Aliás, o relatório aponta que os brasileiros usam muito o meio digital! O tempo médio diário global na Internet é de 6 horas e 58 minutos, mas, por aqui, ficamos online 10 horas e 19 minutos todos os dias, atrás apenas da África do Sul e das Filipinas. Desse total, as pessoas dedicam, em média no mundo, 2 horas e 27 minutos às redes sociais. Já no Brasil, chegamos a 3 horas e 41 minutos diários nessas plataformas.

Segundo a pesquisa, as pessoas ficam online principalmente para buscar informações (61%), manter contato com familiares e amigos (55%) e ficar atualizado (53%). O celular é a principal forma de conexão: já existem 5,3 bilhões de pessoas que têm algum tipo de celular, mais, portanto, que pessoas online. O tempo médio diário global nesses aparelhos é de 4 horas e 48 minutos, enquanto os brasileiros lideram esse ranking, com uma média de 5 horas e 25 minutos.

De fato, os celulares estão no centro dessa revolução. Por um lado, eles nos oferecem incríveis oportunidades para tornar nossa vida mais fácil, produtiva e divertida, pois nos colocam em contato com o que há de melhor na Internet a todo momento e em qualquer lugar. Por outro, eles nos mantêm permanentemente conectados e atentos a tudo que acontece nessas plataformas, com um volume de notificações muito superior ao necessário e até do que seria saudável.

Essa overdose de informação mantém nosso cérebro continuamente estimulado. Para piorar, muito do que chega até nós é superficial, possui baixa qualidade informativa ou simplesmente é falso ou impreciso. E isso criou uma geração de pessoas acostumada a consumir conteúdos assim, tornando-se intolerantes ou preguiçosos quanto a temas mais profundos ou raciocínios mais elaborados.

Um dos grandes benefícios da Internet foi ela ter democratizado a propagação de ideias. Com ela, qualquer um pode (em tese) falar para o mundo todo. Mas infelizmente, ao invés de ampliar a comunicação, isso gerou uma cacofonia global, em que todos falam ao mesmo tempo e ninguém se entende. Pior: muitos falam com incrível convicção, mas poucos estão dispostos a sequer ouvir o outro. E isso viabilizou nossa sociedade atual, incrivelmente polarizada e com uma crescente incapacidade de seus integrantes de construir com o outro.

Em um célebre discurso em junho de 2015, o escritor e filósofo italiano Umberto Eco disse que as redes sociais haviam dado voz a uma “legião de imbecis”, antes restrita a “um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade.” Afirmou ainda que “eles eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra que um Prêmio Nobel” e que “o drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade.”

Na época, discordei dele, pois defendo que todos tenham a chance de expor suas ideias. Mas, passados esses anos e com a assustadora e irracional polarização que tomou o mundo de assalto, entendo que ele anteviu o que vinha pela frente.

 

Limites para uma boa convivência

Isso tudo expõe uma de nossas maiores imperfeições: na “luta pela sobrevivência”, preservada em seus cérebros desde tempos primitivos da nossa espécie, muitas pessoas não consomem apenas o que precisam, mas tudo que puderem.

É por isso que o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588 – 1679) disse, em sua obra mais famosa, Leviatã (1651), que “o homem é o lobo do homem”. Para ele, precisamos viver organizados por regras e normas, que chamou de “contratos sociais”. Sem elas, esse “lobo” surgiria em todos, e rumaríamos à barbárie.

Se isso já era um risco no século XVII, tornou-se crítico com a caixa de ressonância infinita das redes sociais. Nessa cacofonia global de discursos com a profundidade de um pires, tudo parece poder ser relativizado e a opinião de cada um ganha status de verdade. A liberdade de expressão foi cooptada e corrompida numa tentativa de justificar verdadeiras barbaridades. E isso tem sido normalizado nas redes sociais.

Um exemplo emblemático aconteceu na segunda passada, quando o apresentador Monark defendeu explicitamente, no Flow Podcast, a criação de um partido nazista e de alguém querer ser “antijudeu”. Tudo em nome da liberdade de expressão!

As pessoas precisam entender que ela não é irrestrita. A suposta opção de ser nazista, como defendeu o youtuber, encontra uma barreira na maior valoração de outros direitos fundamentais e na preservação do direito do próximo. Em outras palavras, nossa liberdade termina quando a liberdade do outro começa, especialmente a “liberdade de existir”.

Esse tipo de manifestação é nocivo à sociedade, pois tenta relativizar algo que é, na verdade, um crime. Por mais que alguém diga que uma pessoa tenha direito a, por exemplo, ser pedófilo ou sair na rua matando pessoas, nenhuma dessas duas atividades é minimamente aceitável.

Ao debater isso em um programa com a audiência na casa dos milhões, especialmente de jovens, isso pode gerar confusões na cabeça das pessoas. Vale lembrar que, segundo o Global Digital Report, o brasileiro usa, em média 8,7 plataformas de mídias sociais diferentes por mês, acima da média global: 7,5.

Expor opiniões nessas redes exige, portanto, grande responsabilidade dos autores. São necessárias habilidades técnicas para, por exemplo, separar fatos de bobagens, além de um apurado senso ético para ocupar esse espaço.

Alguns podcasters e youtubers podem ser muito divertidos, mas promovem um gigantesco desserviço à sociedade ao usar sua enorme capilaridade e influência para difundir informações incorretas ou coisas ainda piores, como discursos de ódio.

Cabe a cada um de nós, nesse cenário de digitalização onipresente de nossas vidas, usar a incrível capacidade de comunicação que as redes nos oferecem para escolher fontes qualificadas para nos informarmos. Temos que fugir de figuras que guiam suas falas por teorias de conspiração ou modismos, sejam celebridades, sejam os “tios do Zap”.

Abracemos o digital naquilo que ele tem de bom para nosso crescimento e também para o de toda a sociedade.

 

A difícil arte de ser verdadeiro e não agradar

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Há uma piada que circula pelas redes sociais que diz que ninguém é tão popular quanto parece ser no Facebook, nem tão bonito quanto no Instagram, tão bem-sucedido quanto no LinkedIn ou tão sucinto quanto no Twitter. Brincadeiras à parte, você tem a sensação que as postagens nas redes sociais estão ficando muito parecidas umas com as outras?

Não é só pela ação do algoritmo de relevância, que joga na nossa cara apenas aquilo que se parece conosco. Isso é resultado de um fenômeno em que as pessoas querem agradar o outro a qualquer custo. Fazem isso para conseguir um emprego novo ou mais clientes, para brilhar no seu grupo de amigos ou pela necessidade da gratificação fugaz e às vezes patológica de receber “curtidas”.

Fica difícil ser feliz com essa compulsão em agradar, mesmo que, para isso, tenhamos que mentir sobre nós mesmos. E isso se manifesta com ainda mais força nas redes sociais, que premiam quem é raso, porém alinhado com a massa. Viramos marionetes de uma sociedade de pensamentos únicos, em que, para ser aceito, é preciso “mugir no mesmo tom da manada”.

Até onde vai essa loucura?


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Por exemplo, em outubro, a organização internacional Artigo 19 divulgou relatório que demonstra que o Brasil teve a maior queda no mundo na liberdade de expressão. Em 2009, o país somava 89 pontos em uma escala de 0 a 100 em liberdade de expressão. Em 2020, somamos apenas 46 pontos!

Com isso, ocupamos a modesta 94ª posição, entre 161 países avaliados, e deixamos de fazer parte do grupo de países classificados como “abertos”. Estamos praticamente empatados com as Filipinas, e abaixo da Hungria e do Haiti. Também estamos atrás de todos os países da América do Sul, exceto a Venezuela.

Algumas pessoas podem contestar esse número, dizendo que, no Brasil, nunca ouve tanta liberdade de expressão, graças às manifestações nas redes sociais. É preciso então explicar o que esse termo significa.

De fato, nunca tanta gente colocou seus pensamentos nas redes sociais. Mas isso não é suficiente para configurar liberdade de expressão. Na verdade, acaba sendo o contrário!

Primeiramente porque grande parte do que propagam são ataques baratos que visam destruir a imagem de outras pessoas, empresas e instituições. Isso pode ser enquadrado em vários crimes, o que, por si só, já contraria o conceito de liberdade de expressão. Além disso, o que essas pessoas falam não são suas ideias: servem apenas de caixa de ressonância para palavras de ordem de grupos específicos, prestando-se a viabilizar seus objetivos. Fazem isso por se alinharem com as ideias desse grupo ou para se sentir parte dele.

Como canta Caetano Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho” As pessoas não querem ser confrontadas com o que lhes incomoda. Por isso, se tornam presas fáceis de quem lhes agrada, mesmo que seja com a mais rotunda mentira!

Precisamos romper esse ciclo destrutivo!

 

Todos podem fazer sua parte

Todos os seres humanos são importantes para a sociedade e têm algo a contribuir. Infelizmente, às vezes essa contribuição pode desagradar alguns, pelo simples fato de os tirar de sua zona de conforto. Porém, se ela for construtiva e não ferir leis, deve ser dita.

É por isso que gênios não se preocupam em agradar ninguém: apenas fazem o que deve ser feito, desde que seja certo. Por outro lado, os inseguros, os que estão encharcados de ódio e aqueles que simplesmente não conseguem sustentar suas ideias sentem que lhes resta recorrer a essas fórmulas fáceis.

Não caiam nessa armadilha!

Fazer parte de uma comunidade é crítico para todos os seres humanos. Mas isso não significa apenas usufruir do que ela tem de bom a nos oferecer. Tampouco significa viver uma existência baseada em atender as expectativas dos outros e muito menos manipular a narrativa para ser servido por eles. É também genuinamente trabalhar para construir e oferecer algo de bom ao outro, mesmo a um desconhecido.

Essa realidade em que vivemos me lembra o roteiro do episódio “Queda Livre”, o primeiro da terceira temporada da série “Black Mirror”. Ele mostra uma sociedade em que as ações de todos podem ser avaliadas pelas pessoas à sua volta ou nas redes sociais. Tais avaliações alimentam uma espécie de placar individual acessível a todo mundo, que influencia decisivamente a vida em sociedade. Por isso, nesse episódio, as pessoas vivem vidas cheias de mentiras e aparências, apenas para ganhar mais estrelas de seus pares.

Aquilo é uma enorme distorção do que deveria ser uma vida saudável em sociedade. Mas eu pergunto: quanta falta para que cheguemos àquilo em nosso cotidiano?

 

Não dá para agradar todo mundo

Precisamos reaprender a ser verdadeiros e solidários, mesmo que isso possa desagradar alguns. Se tentamos agradar a todos, não conseguiremos ser verdadeiros. Corremos o risco de desagradar mais que agradar. Por sempre se ajustar aos desejos alheios, há o risco de se criar uma legião de eternos insatisfeitos, que sempre vai querer mais.

Portanto, ao invés de buscar competição por “estrelinhas” em nosso cotidiano, devemos procurar a evolução de nós mesmos. Ao mudarmos para melhor, o mundo muda junto.

Temos que dar um basta nesse comportamento de “mentiras agradáveis”! Esse é um dos grandes males da atualidade.

Para isso, não se deixar abater pelo que o outro pensa. Não espere e nem tente fazer com que todos gostem de você. Nenhuma das duas coisas é possível!

Quem entende que não é o centro do mundo vê sua percepção se tornando mais positiva. Assim suas atitudes tendem a melhorar. A beleza do mundo floresce quando cada um busca viver sua vida de maneira construtiva dentro da sociedade.

Seja verdadeiro e pratique continuamente o bem, para termos uma sociedade melhor para todos. Talvez até deixe de “ganhar estrelinhas” de algumas pessoas, mas sua vida será mais plena e feliz.

 

Liberdade de expressão não é para qualquer um

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Exemplo de sátira do blog Falha de São Paulo - Imagem: reprodução

Exemplo de sátira do blog Falha de São Paulo

O terrível massacre no jornal satírico francês Charlie Hebdo, ocorrido na manhã do dia 7, despertou uma reação nos países do Ocidente em defesa da liberdade de expressão. Oito dias depois, o processo que a Folha de S.Paulo move contra o blog satírico Falha de São Paulo chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Qual a relação entre esses dois episódios? Para quem não conhece a história, o jornal processou, em setembro de 2010, os irmãos Mário e Lino Bocchini, programador e jornalista respectivamente, e criadores do blog. A Falha parodiava a Folha com fotomontagens e chamadas que ironizavam o jornal e seu posicionamento sobre a campanha presidencial daquele ano. A Justiça aceitou os argumentos dos advogados do jornal, que afirmavam que o blog violava a sua marca, por similaridades no nome e no logo, e um visual que se assemelhava a seu projeto gráfico. O blog saiu do ar, depois de ter sido publicado por apenas 17 dias. Os Bocchini perderam todos seus recursos até agora, mas têm conseguido apoios de peso, como da ONG Repórteres Sem Fronteiras e de Julian Assange, criador do WikiLeaks, além de emplacar matérias favoráveis nos sites da revista Wired e do respeitado Financial Times. Agora a bola está com o ministro Marco Buzzi, do STJ.

Voltando à comoção pelo atentado na França, a Folha condenou energicamente o acontecimento, com um editorial defendendo “valores universais de liberdade e tolerância” e estampando na sua primeira página uma charge com as famosas palavras “je suis Charlie” (“eu sou Charlie”).

Je suis? Je ne suis pas. Há uma evidente contradição nessa história.

Alguns podem argumentar que a Folha, com o processo, não cerceia a liberdade de expressão, e que está apenas protegendo sua propriedade industrial. Mas esse argumento é muito frágil: não entendo como os Bocchini poderiam fazer uma sátira ao jornalão, sem mimetizá-lo.

Sátiras e charges não são apenas “coisinhas divertidas”: elas carregam mensagens, que podem ser poderosíssimas. O público de um veículo entende essas mensagens, e normalmente as considera engraçadas. Mas os satirizados podem ter uma visão bem diferente. No caso das charges de Maomé do Charlie Hebdo, mesmo a maioria muçulmana que condenou a violência contra os jornalistas pode se sentir muito ofendida por elas, pois contrariam seu modo de vida e preceitos sagrados de sua religião, como o simples fato de não se poder retratar o profeta.

Por isso, parece fácil, bonito, certo e justo bradar “Je suis Charlie”! Desde que, é claro, a pimenta não esteja ardendo os próprios olhos.

Aqui no Brasil também se mata para calar a imprensa e a liberdade de expressão, principalmente quando se trata de pequenos veículos. Quando o alvo é a grande mídia, recorre-se ao Judiciário, criando uma espécie de “censura de toga”, o que provoca correta indignação na mídia. Um caso importante e relativamente recente é a censura ao Estadão, em que a Justiça o proibiu de falar mal da família Sarney na “Operação Boi Barrica”.

Irônica e infelizmente estamos vendo, cada vez mais, a mesma grande imprensa se valer do mesmo recurso para calar aqueles que a contrariam. Uma vergonha para a democracia e para a liberdade de expressão que ela diz defender!

“Nosso é o sorriso da liberdade, da esperança e da razão”, diz o editorial da Folha do dia 8. Já Suzana Singer, no papel de ombudsman da mesma Folha, disse em sua coluna no dia 9 de janeiro de 2011: “é difícil encarar essa disputa como uma luta pela liberdade de expressão. (…) Não faz bem a um veículo de comunicação progressista –e que se considera “jornal do futuro”– cercear um blog caseiro, apelativo sem dúvida, mas inofensivo. Nessa batalha de David contra Golias, o papel do gigante malvado coube à Folha, que teve sua imagem muito mais prejudicada do que se tivesse simplesmente ignorado as pedrinhas dos irmãos blogueiros.”

Sejamos Charlie! Mas verdadeiramente. E por inteiro.

O que a “Green Dam” quer barrar

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Para o governo do premiê Wen Jiabao, a pornografia provoca "sérios desvios de conduta e de moral" nos jovens chineses, por isso, deve ser bloqueada

Para o governo do premiê Wen Jiabao, a pornografia provoca "sérios desvios de conduta e de moral" nos jovens chineses, por isso deve ser bloqueada, mas será só isso mesmo?

Hoje era a data definida pelo governo chinês para que todos os computadores domésticos vendidos no país viessem com o software “Green Dam-Youth Escort” pré-instalados. Pela explicação oficial, o programa impedirá que crianças e jovens tenham acesso a pornografia e outros “conteúdos impróprios” na Internet. Na prática, pode impedir que o internauta acesse qualquer tipo de conteúdo online que desagrade o governo, como sites que promovam a democracia, a libertação ao Tibete ou contrários ao Partido Comunista.

Desde que foi oficialmente anunciado no dia 9, o “Green Dam” (literalmente “barragem verde”) vem causado uma enorme gritaria. A única fabricante que confirmou que cumpriria a determinação foi a Acer. Os EUA, a Comunidade Européia e a OMC (Organização Mundial do Comércio) pediram que o governo chinês retirasse a exigência, que representaria um “sério risco à segurança, privacidade e direito de escolha do usuário”. Na sua véspera, a data-limite foi postergada, em data ainda não informada.

A pornografia é considerada crime na China. Ainda assim, estima-se que metade dos jovens consome algum tipo de pornografia online. O governo afirma que “graves desvios emocionais e de conduta” se devem a isso e ao uso de games violentos. Por isso, a “barragem” protegeria crianças e jovens.

Conversa fiada de ambos os lados! Privacidade, liberdade de expressão e de escolha são coisas que não existem na cabeça dos governantes de Pequim. Por outro lado, os 316 milhões de internautas chineses são um mercado em que qualquer empresa quer colocar as mãos. O que o indivíduo realmente quer pouco importa.

O usuário supostamente poderá desinstalar o “Green Dam”. Por outro lado, pais também poderão ampliar a lista de sites censurados para seus filhos. Mas, na prática, quantas pessoas são capazes de fazer isso?

Acho esse software mais uma aberração governamental contra as liberdades individuais. Sou fortemente contrário a ele, não por causa dessa conversinha dos EUA e da Europa, mas por um posicionamento filosófico, íntimo. Os chineses deveriam continuar navegando livremente, limitados apenas pela sua boa educação e moral. Mas receio que o seu governo prefira o jeito mais fácil –e confortável– e o “Green Dam” logo inundará os computadores do pais.

Uma ressalva final: não pensem que só o “gigante vermelho malvado” quer controlar a Internet. Nos anos 1990, o Congresso dos EUA, berço da liberdade e blá-blá-blá-etc., quase aprovou o “Ato de Decência nas Comunicações”, que, na prática, censuraria fortemente o conteúdo publicado na Internet. E, se quiser algo mais próximo e mais recente, olhemos para o nosso próprio umbigo, com o Congresso Nacional brasileiro tramitando aquela que é conhecida como “Lei Azeredo”, que determina várias ações que, no mínimo, ferem as liberdades individuais.

Pois é: liberdade e educação sempre amedrontam os donos do poder.