mídia digital

As revistas querem mostrar que não estão mortas

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No dia 1º de março, cinco dos publishers mais importantes do mundo, Charles Townsend, da Condé Nast, Cathie Black, da Hearst Magazines, Jack Griffin, da Meredith Corporation, Ann Moore, da Time Inc., e Jann Wenner, da Wenner Media, anunciaram um campanha publicitária para mostrar ao seu público –e ao mercado publicitário– que as revistas não morreram e que ainda são um excelente negócio para os anunciantes.

A iniciativa, batizada de Magazines: the power of print, foi lançada durante a conferência da Associação Americana de Agências de Publicidade, que aconteceu em San Francisco (EUA). A um custo de US$ 90 milhões, circulará durante sete meses em cerca de uma centena de revistas desses grupos e seus sites, além de publicações de terceiros. O vídeo acima é parte dessa campanha, estrelado pelos executivos das revistas.

O objetivo da campanha é claro: dizer que as revistas trazem o melhor custo-benefício publicitário. O “inimigo” também está bem definido: a Internet, praticamente materializada em torno do Google. E a mensagem gira em torno do fato de que uma nova tecnologia não mata a anterior. Ou seja, as revistas continuam existindo, apesar da Internet, contrariando os arautos do apocalipse.

Puxa vida, eles descobriram isso sozinhos ou precisaram ajuda? Ok, claro que a ideia é sensibilizar as agências de publicidade, mas o tom da campanha chega a ser revanchista, colocando as revistas em franca defensiva. Apresentam várias métricas (de entidades ligadas à mídia impressa) que indicam aumento do leitorado, mas, em nenhum momento citam que revistas e jornais perdem, ano após ano, fatia do bolo publicitário, enquanto a Internet aumenta a sua. Será que precisa de tudo isso? Além do mais, se a coisa está tão boa assim, por que tanta preocupação em mostrar ao mundo tamanha obviedade?

Todas essas publicações possuem a sua versão online. Mas o fato é que essas empresas têm sido, até agora, incapazes de conter o rombo no budget de suas revistas –a cash cow de todas elas– com os crescentes (porém ainda proporcionalmente minguados) ganhos com suas iniciativas digitais. E isso acontece especialmente porque elas insistem em migrar para uma nova realidade o mesmo modelo de negócio que funcionava tão bem para o papel.

Infelizmente não funciona. A Web desafia a todos a criarem modelos totalmente novos. Ao invés de combater o Google, deveriam aprender algo com ele. E isso significa parar de querer adaptar o que já fazer e pensar MESMO fora da caixa.

Há alguns dias, estava conversando em off com o diretor de uma editora de livros didáticos, e ele disse que esse grupo –que ainda está com um pouco mais de tempo que as editoras de revistas e jornais para cair de cabeça na Internet– precisa agora começar a se aventurar com seriedade em produtos verdadeiramente digitais. Inclusive porque ainda têm fôlego para cometer erros. Na sua análise, se começarem a tentar –e errar– apenas daqui a dez anos, poderão ser postos para fora do negócio, pois então ninguém mais precisará deles. Exatamente a situação em que a indústria fonográfica está hoje: quem precisa deles ainda?

Acho que esses US$ 90 milhões poderiam ser mais bem usados estudando modelos de negócio alternativos. Afinal, a Internet não vai matar as revistas, mas certamente fará com que elas mudem sua forma, em um sentido bastante amplo.

Como a maior fusão da história fez água

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Enquanto eu descansava nos Andes, a coisa pegava fogo

Enquanto eu curtia a paisagem (merecidamente), a coisa pegava fogo pelo mundo

Voltei de férias pelo interior dos Andes (vide foto), onde pude realmente me desligar do mundo, e me deparei com um clima enlouquecido, Daniel Dantas livre, tentativas de cerceamento da imprensa e ideia loucas de mexer no vespeiro da anistia. É também o momento em que o Google assume que sofreu ataques de hackers chineses, com seu advogado sugerindo que teriam sido patrocinados pelo próprio governo chinês e ameaçando encerrar a operação local (falarei sobre isso mais tarde).

Mas é também o momento em que a maior fusão -e um dos maiores fracassos- da história acaba de completar dez anos: a compra da Time Warner pela America Online. E desde que eu deixei a operação brasileira, poucos meses antes do seu fechamento, ouço recorrentemente duas perguntas: por que o negócio não deu certo no Brasil e como a fusão acima fracassou.

Realmente a coisa tinha tudo para dar certo… mas deu errado. A explicação extra-oficial da época -e ela realmente explica muito- é que o negócio ruiu devido a diferenças culturais entre as duas empresas e seus respectivos funcionários e a uma crescente animosidade entre os grupos, que não só não foi controlada pela direção do grupo, como foi amplificada por ele.

Mas agora, passada uma década, podemos ver com mais facilidade que havia um outro fator decisivo: a Internet, que era quase como uma concorrente da “velha AOL”, que aglutinava seus assinantes em torno de seu gigantesco serviço proprietário, estava começando a virar de pernas para o ar os modelos de negócios vigentes tanto do lado da AOL quanto da Time Warner. Para piorar tudo, a bolha ponto-com estourou justo naquela época e a AOL ainda se viu envolvida em escândalos financeiros.

Aquilo foi praticamente a semente do tsunami que vem varrendo a mídia tradicional nos últimos anos, destruindo empresas de comunicação centenárias. E pode-se dizer que o epicentro disso é o Google, a empresa que soube mover-se com rapidez e habilidade sobre os escombros do gigantesco fracasso.

O The New York Times publicou uma excelente reportagem sobre os motivos do fracasso da fusão, depois de ouvir praticamente todas as pessoas-chave do acordo. Vale a pena a leitura!

Dos escombros, as duas empresas finalmente se separam em dezembro. A AOL tenta se reinventar para recuperar pelo menos parte do brilho que teve no passado. As empresas da Time Warner têm seus próprios problemas. Em ambos os casos, a Internet, que jogou água na festa de Steve Case e Gerald Levin, é quem agora impõe os desafios para que ambos sigam adiante.

A Microsoft consegue bancar um bloqueio ao Google?

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Há cerca de um mês, começaram a pipocar aqui e ali rumores sobre um suposto acordo que, de tão bizarro, parecia mais um daqueles boatos disseminados pela Internet. Mas de boato, eles não tinham nada. O fato é que a Microsoft está em sérias conversações com a News Corp. O objetivo: a turma de Steve Ballmer pensa em pagar para que a de Rupert Murdoch impeça que o conteúdo de suas publicações –o que não é pouca coisa, incluindo aí o The Wall Street Journal– seja indexado pelo Google, passando a ser encontrado apenas no Bing, o novo buscador da Microsoft.

Tirar o seu conteúdo do Google para deixá-lo restrito ao Bing, que mal faz cócegas ao primeiro? Provavelmente todas as pessoas, exceto as envolvidas no acordo, diriam que isso é uma enorme estupidez. Afinal, como apontou recentemente a consultoria Experian Hitwise, 21% de TODO o tráfego de sites de jornais vem do Google, contra míseros 2% do Bing. Essa troca de conteúdo por tráfego seria o “uso justo”, que embasa a defesa do Google no assunto.

Mas, para Rupert Murdoch, a idéia parece fazer sentido. Já há bastante tempo, ele classifica os buscadores –especialmente o Google– como ladrões, com todas as letras e sem aspas. Isso pode ser visto, por exemplo, no vídeo acima. Mas, se agora um buscador quer justamente pagar pelo conteúdo, a coisa muda de figura.

Já a Microsoft parece estar disposta a usar de força monetária bruta para tentar fazer o Bing decolar. No seu raciocínio, se o internauta só encontrar conteúdos relevantes no seu produto, pode deixar de usar o Google. Tanto é assim que a turma de Redmond estaria tendo conversas de teor semelhante com outros grupos de mídia, em uma tentativa de pegar só para si o conteúdo que fosse realmente útil, deixando ao Google os “restos”.

Parece fazer sentido. Onde está a falha nesse conchavo?

Já em 2005, eu dizia aos meus alunos do curso de Jornalismo da Metodista que um dos maiores desafios que eles enfrentariam era o fato de que (já naquela época) o que nós produzimos havia virado commodity.

Do lado da News Corp. aí está a falha. Eles produzem um bom conteúdo? Certamente sim. Eles são os únicos capazes de fazer isso nesse nível? Certamente não. Ainda é preciso ter muito dinheiro para fazer jornalismo de alta qualidade? Certamente NÃO: por isso a News Corp. e a grande mídia concorrem com uma legião de indivíduos e pequenas empresas pela audiência e pelo bolo publicitário.

Já do lado da Microsoft, a falha é: a Internet é grande demais para ser comprada. Essa estratégia teria alguma chance de dar certo se todos os grandes produtores de mídia abraçassem a idéia, mas vários deles já anunciaram que não vão entrar nesse barco furado. Para eles (e para mim), as pessoas não deixarão de usar o Google se o conteúdo da News Corp e de um punhado de outros reacionários não aparecer mais em seus resultados. Se entrassem, eles não apenas não lucrariam com o inexpressivo Bing, como perderiam a chance de monetizar o tráfego que receberiam do Google.

Há ainda uma “continha básica” a ser feita. Apesar da gritaria de Murdoch, suas publicações efetivamente fazem dinheiro com os internautas que o Google lhes envia. Podem ser migalhas individualmente, mas 21% de todo o seu tráfego está longe de ser café pequeno. Perder esse tráfego do Google e o dinheiro associado para migrar ao Bing só faz sentido se a Microsoft bancar essa diferença com vantagens para a News Corp. Mesmo para a gigante de Redmond, até quando eles estarão dispostos a fazer isso, já que seus ganhos não devem ser proporcionalmente expressivos? E ainda querem fazer o mesmo para um grande número de grupos de mídia? Eu chamo isso de dumping.

Honestamente, Murdoch pode até achar o Google uma empresa bandida conduzida por moleques irresponsáveis. E daí? Em uma nova ordem mundial da mídia, onde o conteúdo por si só perdeu completamente o valor (algo que ele, como dono desse império, se recusa a aceitar), provavelmente tem muito a aprender com eles. Isso sim é fazer negócio.

A (ainda existente) rivalidade entre jornalistas digitais e de papel

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Já passou da hora dos jornalistas digitais e de papel se entenderem

A charge acima, parte do tema da redação da Unicamp 2010, retrata a tensão que existe entre jornalistas de mídias diferentes dentro de uma mesma redação. É incrível, mas ainda hoje, 16 de novembro de 2009, isso continua forte entre colegas, principalmente quando os “rivais” dividem o mesmo espaço. É o caso típico de muitas redações de jornais e de revistas

De um lado, os jornalistas digitais se sentem desprestigiados pela direção, que normalmente se refere a eles como “aquela turma da Internet”, com equipes exíguas e recursos limitados, já que a cash cow continua sendo a mídia impressa. Essa segunda turma, por outro lado, vê nos digitais quase uma ameaça, pois as empresas já perceberam que o futuro (bem próximo) inevitavelmente está na Web.

É a típica visão distorcida dos fatos. Mais que nunca, a convergência de mídias chegou ao trabalho do jornalista, que não pode mais se dar ao luxo de querer ficar só em uma mídia. Muito antes do boom do jornalismo digital, a BBC já praticava isso com seus profissionais: o jornalista saía para cobrir uma pauta sabendo que produziria material para rádio e também para TV. Agora ele também faz o mesmo para a Web. E ele sabe fazer isso (e a empresa o prepara e equipa para tal).

O fato é: jornalismo é jornalismo. O formato é apenas tecnicismo de cada mídia onde será publicado. Pode-se dizer que a turma da Web está mesmo um passo à frente, pois já desenvolve seu trabalho cotidiano com essa visão mais ampla do produto, por isso deve parar com a mania de “perseguição”. Já a turma do papel precisa aceitar que o mundo mudou, por mais que esperneie. Precisam sair da zona de conforto e abraçar a Internet, reciclando-se. Nem que seja para evitar uma demissão. Aliás, a Business Insider publicou, há 11 dias, cinco dicas para jornalistas sobreviverem a um corte de pessoal. Os itens 3, 4 e 5 estão vinculados ao mundo online. Dá para resistir?

Enquanto isso, unicidade nas equipes!

Educação à distância supera a presencial

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O Departamento de Educação dos EUA concluiu, depois de 12 anos de pesquisa, que cursos à distância podem apresentar resultados superiores aos presenciaisA Educação à Distância, ou simplesmente EAD, não chega a ser uma novidade: ela já existe desde o século XIX, na forma de cursos por correspondência. Mas é inegável que ela tomou uma dimensão completamente sem precedentes com o advento da Internet, pois aproximou alunos de tutores e alunos entre si de uma maneira simplesmente impossível até então. Mais que isso: pela sua natureza, que exige participação efetiva do aluno, os cursos à distância deixaram de ser patinhos feios da educação para se tornar alternativas sérias e viáveis de formação em todos os níveis, em diferentes áreas.

Recentemente, o Departamento de Educação dos EUA divulgou um relatório de 93 páginas sobre uma pesquisa de 12 anos que comparou resultados de vários cursos dados de maneira presencial e online (total ou parcialmente), com estudantes desde o equivalente ao nosso Ensino Infantil até o nível superior. E o resultado foi impactante: os alunos que tiveram pelo menos parte do curso online obtiveram resultados 18% superiores, em média, aos do ensino estritamente na sala de aula (59 pontos contas 50). O resultado despertou a atenção até da “velha dama cinzenta”, que publicou reportagem sobre a pesquisa.

Surpreendente para muitos, a performance dos estudantes online não causa espanto em quem está na área. Não bastasse o já mencionado maior empenho exigido dos estudantes, a educação digital oferece aos professores uma ferramenta que lhes permite realizar um sonho (por sinal, exigido pelas políticas educacionais): o ensino personalizado. Nunca antes na história desse país (e do mundo), o professor foi capaz de saber exatamente o que cada aluno de suas turmas –individualmente– estava aprendendo ou deixando de aprender. Com os relatórios desse tipo oferecidos pelos sistemas educacionais, é possível agora realizar atividades personalizadas –também auxiliado pela tecnologia– para sanar as deficiências.

Seria o paraíso na Terra, se o modelo também não exigisse do professor a mesma dedicação ampliada. Afinal, assim como os alunos, o trabalho do mestre –raramente preparado para essa nova realidade– agora também é individualizado: ele tem que dar atenção a cada aluno. Apesar do inegável auxílio tecnológico, fazer isso bem feito se torna uma tarefa hercúlea à medida que as turmas aumentam de tamanho. E os mantenedores não têm o menor pudor em inchar suas classes.

Apesar disso, os resultados estão aí, e agora tabulados pelo equivalente ao MEC nos EUA. Onde está então o pulo do gato então? Resposta (entre outras): a tecnologia está dando voz aos alunos, outra grande novidade. Eles deixam de ser meros receptores de informação, pois o professor deixa de ser a única fonte do conhecimento. Como resultado, alunos agora participam ativamente da criação da experiência de aprendizagem sua e dos colegas. O professor passa a ser muito mais o mediador do conhecimento que o instrutor. E também aprende com os alunos.

O que não se pode fazer é tentar manter as mesmas estruturas e culturas educacionais arcaicas, apenas com roupagem nova. Ensinar decoreba no livro ou com multimídia é decoreba em ambos os casos. E as crianças hoje exigem –e merecem– mais que isso. Devemos rejeitar os “brócolis cobertos de chocolate” que inundam o mercado de software educacional e abraçar as iniciativas pedagógicas que compreenderam a nova realidade e estão criando produtos que realmente tirem proveito de tudo que a tecnologia oferece. Quando conseguirmos realizar isso de maneira consistente, o Brasil poderá sair da lanterninha das avaliações internacionais de educação –como o Pisa– e as empresas terão menos preconceito com os estudantes formados por cursos à distância, tão bons ou melhores que os presenciais.

De quando é o primeiro jornal online? Que tal 1981?

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Algumas pessoas realmente estão à frente de seu tempo. Quando você acha que surgiu o jornalismo online? Em 1994, com o advento da Internet comercial? Talvez alguns anos antes disso, no serviço proprietário (pré-Web) da AOL ou nas BBSs?

Nada disso! O vídeo acima é emblemático e mostra a experiência de oito jornais americanos, entre eles o The San Francisco Examiner, que publicavam online o conteúdo de suas edições impressas… em 1981, carregados pela Compuserve! Claro, nada comparado ao que temos hoje na Web: sem imagens e, só para baixar os textos da edição pelo telefone (que era tudo o que era oferecido), eram necessárias duas horas. Mas essa turma de pioneiros estava lá!

“Isso é um experimento. Estamos tentando entender o que isso representará para nós, editores e repórteres, e para o usuário em casa”, dizia David Cole, responsável pelo projeto no Examiner. “Nós não estamos aqui para ganhar dinheiro: não vamos perder muito, nem tampouco ganhar.”

Ok, o cara não tinha como saber naquela época. Já foi bastante arrojado em se lançar na iniciativa. Mas a declaração é, no mínimo, pitoresca, especialmente diante da crise que os jornais vêm enfrentando hoje, particularmente nos EUA, e em parte graças à competição que o jornalismo online representa. Pelo menos o The San Francisco Examiner, que roda desde 1863, continua sendo impresso, a despeito de vários concorrentes pelo país, que passaram a existir apenas na Web ou simplesmente fecharam as portas.

A reportagem continua: “engenheiros agora predizem que chegará um dia em que receberemos todos os nossos jornais e revistas pelo computador.” E termina dizendo que o trabalho do jornaleiro ainda não estava ameaçado.

Em tempo: o San Jose Mercury News é considerado o primeiro jornal na Web, lançado em 1994. No Brasil, o primeiro foi o Jornal do Commercio (não, não foi o Jornal do Brasil), também em 1994.

De quando é o primeiro jornal online? Que tal 1981?

O impresso digital da Folha e seus assinantes

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As diferentes Folhas na Internet: a Online, a "na Web" e a Digital

As diferentes Folhas na Internet: a Online, a "na Web" e a Digital

No último domingo (13), a Folha lançou a versão digital do jornal impresso. Para quem ainda não viu a novidade, não se trata da transposição do texto e algumas imagens do jornal para páginas Web, que ajudei a criar em 1995 e que (inacreditavelmente) ainda continua no ar, ou da Folha Online, um outro veículo, com vida própria na Internet. O lançamento é uma reprodução fiel na tela das páginas do jornal, incluindo fotos, artes e até anúncios.

 

O diário da Barão de Limeira se vale da tecnologia Digital Pages, da empresa Futureway, que ganhou destaque com sua adoção há alguns anos pela revista Info, da Abril, e que também está presente no principal concorrente da Folha, o Estadão. Apesar de, a princípio, ser interessante ver na tela o jornal, especialmente para quem não pode colocar as mãos nele, considero isso contraditório: por que ver na Internet notícias “velhas”, do dia anterior? Além disso, não é possível acomodar na tela uma página standard com boa leitura: é preciso dar um zoom e ficar arrastando com o mouse a janela para se ler o conteúdo, um processo moroso.

Esse pessoal está dando uma nova dimensão a um termo que eu cunhei lá pelos idos de 2003: o “impresso digital”, ou seja, a publicação na Web de conteúdo sem tirar proveito dos recursos que essa mídia oferece. Esse mal atinge principalmente casas de comunicação de produtos impressos. Cheguei a escrever um artigo no Observatório da Imprensa em 2005 sobre o assunto.

Murilo Bussab, diretor de Circulação do jornal, justifica o novo produto como uma tentativa de “atender um público que busca aliar as vantagens do jornal impresso, como hierarquização de notícias, diagramação, infográficos e fotografias, com a velocidade, praticidade e interatividade que a internet e os meios eletrônicos permitem.” Me desculpem, mas esse senhor não quer ver o que acontece no mundo. Suas notícias “velhas” são liberadas apenas às 5h30 do dia seguinte e justamente NÃO aproveitam os benefícios da Internet. Exatamente o oposto do que alardeou.

Mas o que mais me assusta nessa iniciativa da Folha não é o seu impresso digital, e sim seu modelo de negócios. Assim como acontece com a velha Folha na Web, a novidade em breve será uma exclusividade para assinantes (o produto está aberto por 30 dias). Ao invés de procurar modelos alternativos para garantir a continuidade do título, insistem em um modelo moribundo internacionalmente, que está matando o jornal impresso também no Brasil. A própria Folha, ainda o diário de maior circulação no país, está agora com uma tiragem média de “apenas” 297 mil exemplares. É muito pouco para um veículo que já rompeu a marca de um milhão em tiragem média. Vivo cercado de jornalistas e cada vez menos vejo colegas assinando veículos, especialmente impressos.

O que a Folha espera? Que fechar seu conteúdo a assinantes aumente a tiragem de sua versão distribuída em árvores mortas? Essa visão de que se é dono de um produto premium e que liberá-lo na Web diminuirá seu valor é um duplo equívoco histórico que as grandes casas de comunicação insistem em cometer. Pior que isso: especialmente nos EUA, onde a crise na mídia bateu com mais força, os executivos estão endurecendo e fechando seu conteúdo. Eles se recusam a aceitar o fato de que existe muita gente produzindo conteúdo tão bom (ou melhor) quanto o deles na Web. E de graça.

Ironicamente, há duas semanas recebi uma ligação do telemarketing da Folha me oferecendo a assinatura do jornal, pela qual pagaria apenas a “taxa de envio” nos primeiros três meses. Curiosamente, ela era praticamente o valor de uma assinatura “cheia”. Oras, de duas uma: ou estão dando de graça o seu produto ou estão me enrolando. Receio que seja uma combinação das duas coisas. O Estadão, por sua vez, lança uma campanha em que o assinante diz quanto quer pagar pela assinatura no primeiro mês.

No final, estamos pagando pelo papel jornal. Só o papel. Nas entrelinhas dessas campanhas de assinatura, o conteúdo já virou commodity. A Folha de S.Paulo deveria olhar mais para sua irmã REALMENTE digital -a Folha Online- e tratar de aprender algo com ela.

Schwarzenegger quer trocar livros didáticos por conteúdo digital na Califórnia

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Entre as propostas para substituir o livro didático, Schwarzenegger menciona o Facebook, o Twitter e até o conceito de open source, tudo para diminuir o déficit de US$ 24 bilhões do Estado

Entre as propostas para substituir o livro didático, Schwarzenegger menciona o Facebook, o Twitter e até o conceito de open source, tudo para diminuir o déficit de US$ 24 bilhões do Estado

O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, mais conhecido pelos seus papéis no cinema que por suas ações políticas (pelo menos para os moradores de fora do mais populoso Estado americano), anunciou uma iniciativa que visa substituir os livros didáticos usados nas escolas californianas por conteúdo estritamente digital. Em uma palestra a alunos na cidade de Sacramento, o ex-Conan republicano classificou os livros como “antiquados, pesados e caros”. “A Califórnia é sede do Vale do Silício. Somos líderes mundiais de tecnologia e inovação, por isso devemos ter isto em mente”, afirmou.

A idéia não é uma iniciativa pedagógica: é uma maneira para se tentar reduzir o gigantesco déficit orçamentário do Estado, que bateu nos US$ 24 bilhões. Nos EUA, o preço médio de um livro didático gira entre US$ 75 e US$ 100. A Califórnia gastou US$ 350 milhões em livros no último ano letivo. A ideia é começar a substituição já no início do próximo ano letivo, que lá começa em agosto.

“As crianças estão familiarizadas com a música digital, além de assistirem a televisão e a filmes online, entrando no Twitter e participando do Facebook”, disse Schwarzenegger. Ele chegou a sugerir o uso de ferramentas como essas no processo pedagógico, mas sem dizer como. A iniciativa está sendo supervisionada pela CLRN (sigla em inglês para Rede de Recursos de Aprendizagem da Califórnia). As obras substitutas podem até mesmo ser criadas sob o conceito do open source, com a autoria sob responsabilidade de voluntários.

Não sei… Isso pode funcionar bem na criação de notícias e até de enciclopédias, cujo maior exemplo de sucesso é a Wikipedia, mas, considerando-se o altíssimo nível de exigência para o material didático, algo nessa linha dependeria de uma supervisão muito forte. É efetivamente difícil de ser produzido. Que o diga o Governo do Estado de São Paulo, diante das recentes mancadas, que custaram a cabeça da secretária da Educação anterior, Maria Helena Guimarães de Castro. Há também uma questão pedagógica que –quero crer– os educadores californianos estejam atentos: é muito importante para os alunos –especialmente os menores– “registrar”, escrever em papel de verdade.

Por outro lado, simpatizo com a ideia do governador-Mr. Universo. É verdade que os livros didáticos custam muito dinheiro, não apenas para os Estados, mas também para os pais dos alunos que têm que desembolsar anualmente uma boa grana antes do começo das aulas. Para a classe média, que vive no fio da navalha, isso chega a abalar o orçamento doméstico. Qualquer iniciativa que reduza essa conta é, portanto, digna de análise. Do lado do aluno, os livros pesam… literalmente. Eu me lembro do exercício diário que eu fazia para carregar esse conhecimento de casa para escola e vice-versa. As mochilas com rodinhas atenuam o problema e algumas escolas oferecem armários individuais para que seus alunos deixem lá seus livros, mas eles continuam “antiquados, pesados e caros”.

Assim, por mais bizarra que possa parecer à primeira vista, a idéia tem seus méritos. Tomara que dê resultados ou pelo menos indique um caminho até um novo formato de conteúdo didático. A escola precisa se modernizar –e muito!– tanto do ponto de vista pedagógico quanto organizacional. Nesse sentido, os livros como os conhecemos realmente podem perder o seu lugar.

Enfim separados

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AOL e Time Warner, uma das fusões mais festejadas e catastróficas do mundo dos negócios, anunciaram a separação formal para que a primeira tente retomar o brilho perdido

AOL e Time Warner, uma das fusões mais festejadas e catastróficas do mundo dos negócios, anunciaram a separação formal para que a primeira tente retomar o brilho perdido

Hoje foi oficialmente anunciado o fim de um dos mais conturbados casamentos do mundo dos negócios: a America Online e a Time Warner irão oficialmente se separar. No processo, que deve ser concluído até o fim do ano, a segunda, já dona de 95% da AOL, comprará do Google os 5% restantes, convertendo tudo em ações da “nova” companhia online, que volta a ser negociada na Nasdaq.

A união durou quase uma década. Ela foi celebrada pouco antes do estouro da “bolha ponto-com”, que fez o valor dos papéis da então recém-criada AOL-Time Warner despencar, provocando a ira dos acionistas vindos do centenário grupo de mídia. Mas, muito além disso, o que tinha tudo para ser uma fusão de interesses empresariais brilhante demonstrou-se uma catástrofe corporativa por diversos motivos que não cabem aqui nesse post.

Pelo discurso oficial, a cisão dará a AOL a chance de tentar retomar pelo menos parte do seu brilho do passado. A empresa já foi maior que toda a Internet, criadora de conceitos que permeiam o nosso dia-a-dia, como mensagens instantâneas, e abriu a porta do mundo online para uma multidão em vários países. Ainda hoje, seus diferentes sites acolhem mais de 100 milhões de usuários únicos por mês, atingindo, de alguma forma, 91% da audiência online doméstica e representando o quarto destino na Internet mais visitado nos EUA. E, acreditem se quiser, ainda têm uns 10 milhões de usuários pagantes pelo serviço de acesso (!!).

Por outro lado, sua imagem ficou totalmente arranhada depois da fusão. A empresa é vista como um dinossauro digital, grande e lento, incapaz de inovar e que, por isso, come poeira dos concorrentes, mais notadamente do Google. A idéia é que, livre das amarras da Time Warner, um pessoal também não exatamente conhecido pela inovação ou arrojo em seus produtos, a empresa consiga ser mais ágil.

Algumas coisas já vêm acontecendo nesse sentido. O modelo de negócios, que à época da fusão privilegiava a assinatura de acesso, hoje migrou para a publicidade online dirigida. Por isso a empresa não pára de comprar sites e abrir outros tantos. Paralelamente, muitas cabeças estão sendo trocadas, e algumas das mais importantes vieram justamente do Google, inclusive o novo diretor de publicidade e estratégia, Jeff Levick, e o novo CEO, Tim Armstrong.

Se Armstrong, que tem nome de astronauta, conseguir reverter a espiral para baixo, ganha as estrelas merecidamente. A questão é saber se o divórcio  não veio tarde demais.

Another one bites the dust… now

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Tucson não foi grande o suficiente para manter dois jornais impressos diários, a mesma conversa ouvida em Denver no fim de fevereiro

Tucson não foi grande o suficiente para manter dois jornais impressos diários, a mesma conversa ouvida em Denver no fim de fevereiro

No dia 16 de março, publiquei aqui no Macaco Elétrico um post comentando a notícia de que o Tucson Citizen fecharia as suas portas no dia 21 daquele mês, depois de agonizar por dois meses atrás de um comprador que acabou não aparecendo. Bem, na verdade o fim ainda foi prolongado por outros dois meses, até que a edição final fosse publicada apenas neste sábado, dia 16 de maio, 138 anos, sete meses e um dia após a primeira edição.

“Mudanças dramáticas em nossa indústria combinadas com dificuldades econômicas particularmente nessa região tornaram inviável a produção de dois jornais impressos diários em Tucson”, sentenciou Bob Dickey, presidente da divisão de publicações comunitárias da Gannett Co., proprietária do Citizen. Discurso semelhante já havia sido usado pela E.W. Scripps Co. ao anunciar o encerramento das operações do seu Rocky Mountain News, de Denver, no dia 26 de fevereiro, a míseros 55 dias de completar 150 anos de jornalismo. Lá, sobrou o The Denver Post, da MediaNews Corp, que acaba de anunciar que pretende restringir o conteúdo online de seus 53 jornais a usuários pagantes.

De volta a Tucson, a equipe do Citizen (e até mesmo alguns cidadãos) ainda procura uma maneira de manter o veículo vivo, mesmo que seja apenas online. Parece a repetição da história de ex-funcionários do Rocky que tentaram captar para si os espólios do finado em uma nova publicação exclusivamente digital, o InDenverTimes.com. Para isso, propuseram um modelo de assinaturas que não vingou, pois mais parecia um “patrocínio” de cidadãos simpatizantes que um modelo de negócios bem montado. Apesar do fracasso, ainda não desistiram e procuram agora outro modelo. Espero que sejam bem-sucedidos, servindo de inspiração aos colegas de Tucson e de todo mundo.

A turma do conteúdo fechado bate o bumbo

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Singleton engrossou o coro dos que querem restringir o conteúdo online a pagantes

Singleton engrossou o coro dos que querem restringir o conteúdo online a pagantes

Primeiro foi Rupert Murdoch, presidente da News Corporation, proprietária do The Wall Street Journal. Agora foi a vez de William Dean Singleton, presidente do conselho da Associated Press e CEO da MediaNews Corp, que publica 53 jornais nos EUA. Os dois são as mais proeminentes vozes do coro cada vez mais forte de publishers que pregam que não é mais possível oferecer de graça do seu conteúdo na Internet.

Isso contraria o senso comum vigente, que prega que novos modelos de negócios sejam perseguidos para compensar as quedas nas receitas publicitárias das edições impressas dos veículos. Apesar de a publicidade online estar aumentando, ela não cobre o rombo deixado pelas perdas do impresso.

No dia 7 de maio, Murdoch afirmou publicamente que a News Corp está desenvolvendo um sistema de micropagamento para que os internautas tenham a possibilidade de pagar individualmente por artigos ou serviços de seus veículos online, começando justamente pelo WSJ. No dia seguinte, Singleton enviou um memorando aos funcionários do MediaNews Corp pregando o mesmo caminho. O memorando foi republicado no mesmo dia na coluna de Jim Romenesko no site do Poynter Institute’s.

“Nós continuamos a praticar uma injustiça com nossos assinantes de impressos e a criar a percepção de que nosso conteúdo não tem valor ao colocar online todo o nosso conteúdo impresso de graça”, escreveu Singleton. “Isso não apenas erode nossa circulação impressa, desvaloriza a essência de nosso negócio –o grande jornalismo local que nós (e só nós) produzimos diariamente.”

Nesse momento de crise, é grande a chance dessa tendência de retrocesso vingar. Sem fazer muita força, parece mesmo que faz sentido. Mas, se você concorda com eles, permita-me discordar: acredito que se trata de um movimento de recrudescimento em torno da incapacidade de se adaptar a uma nova realidade econômica. Não estou dizendo, de forma alguma, que empresas ou profissionais trabalhem por amor à arte, pois nem relógio funciona de graça. Mas, ao fechar o conteúdo para tentar fechar o balanço, as empresas perdem a chance de levar seus produtos jornalísticos a um novo patamar, transformando-os em algo muito melhor para seus consumidores e as próprias companhias.

Modelos alternativos já existem e vêm sendo discutidos aqui mesmo nesse blog. Mas todos eles representam mudanças substanciais em questões essenciais das companhias. Admito que não são fáceis para qualquer um, principalmente para quem tem muito a perder. Espero, entretanto, que a inovação vença a resistência.

WSJ abraça o micropagamento enquanto rejeita Kindle

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Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Enquanto a indústria de mídia discute e discute qual será o seu modelo de negócios do futuro, especialmente para o impresso, o The Wall Street Journal anunciou que está criando um sistema de micropagamento que permitirá que pessoas que não assinem o seu serviço acessem notícias e artigos individualmente, pagando por cada um. Além disso, lançará um serviço Premium que oferecerá o serviço noticioso da Dow Jones. Em tempo: o WSJ é dono de um dos poucos bem-sucedidos casos de assinatura paga na Web, com mais de um milhão de usuários desembolsando US$ 100 por ano pelo acesso.

Rupert Murdoch, dono da News Corporation, que, por sua vez, é dona do WSJ, anunciou que o modelo deve ser ampliado para todos os jornais do grupo. Para o mogul das comunicações, a era do conteúdo online grátis logo acabará. Murdoch lidera a resistência dos descontentes com o jeito que a notícia virou commodity com a Internet e condena serviços como o Google News, que cria publicações agregando conteúdos de diferentes fontes.

A metralhadora giratória não poupa nem o Kindle, que acaba de ter uma terceira versão –a DX– anunciada e vem ganhando manchetes como uma possível maneira de se distribuir os “jornais do futuro”. Tanto que o The New York Times –concorrente da News Corp– é uma das estrelas de seu portfólio. “Não vamos dar o nosso conteúdo à boa gente que produz o Kindle”, disparou Murdoch recentemente.

Isso não quer dizer que ele seja contra os e-readers, como o produto da Amazon. Na verdade, o próprio empresário já ventilou que seu conglomerado de mídia estaria desenvolvendo o seu próprio equipamento. Claro, ele não quer dividir a sua margem com outros: o mercado especula que a Amazon fique com 70% do valor das assinaturas de periódicos baixados e lidos pelo Kindle. Nesse sentido, a resistência de Murdoch é compreensível. Mas a News Corp terá força para, por si só, criar uma alternativa viável de produto? De todo jeito, teria que se associar a algum concorrente da Amazon, pois, por mais que confie na qualidade e relevância de seu conteúdo, ele não é suficiente para abocanhar uma fatia significativa desse mercado. A própria Sony, que já está na estrada com o Reader, pena para fazer frente ao Kindle.

Claro, são apostas.Murdoch está fazendo as deles corajosamente, mas muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte. Ele está certo em se posicionar logo e, se as suas idéias se transformarem no modelo vencedor, a News Corp aumentará a sua influência de uma maneira decisiva.

Para Bezos, Kindle pode salvar jornais em um mundo com menos papel

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Bezos sugere que os jornais "migrem" para seu Kindle a preços mais baixos

Bezos sugere que os jornais "migrem" para seu Kindle a preços mais baixos

Jeff Bezos é um sujeito singular. Ele ficou milionário apostando no comércio eletrônico já em 1994, quando o termo ainda nem havia sido criado. Graças a sua visão de futuro, transformou a Amazon não apenas na maior livraria do mundo (sua origem), mas também na maior vendedora de música e na maior loja de departamentos. Agora ele quer repetir a dose com seu e-reader, o Kindle. Ele espera se firmar como líder no nascente (e cada vez mais explosivo) mercado de livros digitais. Mas também começa a oferecer uma possível saída para a combalida indústria de mídia.

No dia 6 de maio, deu uma nova cartada nessa direção, anunciando o Kindle DX, terceira versão do produto, que vem a público apenas dois meses depois do lançamento do Kindle 2, que continuará sendo vendido. A novidade traz recursos muito interessantes, como a possibilidade de conexão por redes WiFi (e não mais apenas por conexões de celular 3G), o dobro de memória (4 GB, suficientes para guardar, de uma só vez, uma média de 3.500 livros) e a possibilidade de se ler os textos na vertical ou na horizontal, simplesmente rotacionando o equipamento, como acontece com o iPhone. Mas o que chama mais a atenção é a sua tela de 9,7 polegadas, o dobro da do Kindle 2 e quase o tamanho de uma folha de revista. Ok, custa mais caro: US$ 489 contra US$ 359 do Kindle 2.

De todos os recursos do Kindle DX, o que mais chama a atenção é o tamanho da sua tela

De todos os recursos do Kindle DX, o que mais chama a atenção é o tamanho da sua tela

A telona é muito bem-vinda para ler as versões de revistas e jornais para o e-reader. Já estão disponíveis assim as edições diárias de 37 jornais e 28 revistas de seis países, incluindo o The New York Times, a Time e a Newsweek. Mas o que mais chama a atenção é que essas assinaturas digitais podem custar até metade da assinatura do mesmo conteúdo impresso!

Isso faz todo o sentido, já que se elimina o gigantesco custo da impressão. Neste blog mesmo, já havia comentado o interessante exercício feito por Nicholas Carlson, do The Business Insider, que calculou (grosseiramente) que um Kindle 2 custaria metade que o necessário em papel para se imprimir um ano do The New York Times para cada um de seus assinantes. O mesmo jornal anunciou que, até junho, oferecerá assinaturas a preços reduzidos para as cidades onde não há distribuição da versão impressa.

Não sei se Bezos conseguirá repetir seu sucesso com o Kindle, apesar de o produto estar sendo bem recebido. A concorrência está se mexendo (o principal rival é o Reader, da Sony), mas há rumores de que a Apple está preparando o seu produto e que a News Corp, de Rupert Murdoch também entraria nesse mercado. Mas a idéia de os jornais terem, como alternativa, “migrarem” para essa nova plataforma é sem dúvida nenhuma interessante.

Buffett: perdas sem fim para os jornais

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Podre de rico, Buffett acha que jornalismo e papel-jornal não são mais a mesma coisa

Podre de rico, Buffett acha que jornalismo e papel-jornal não são mais a mesma coisa

O segundo homem mais rico do mundo, Warren Buffett, disparou na reunião anual de acionistas da Berkshire Hathaway que não pagaria absolutamente nada pela maioria dos jornais dos EUA. “Existe a possibilidade de eles simplesmente terem perdas sem fim”, disse. Buffett é dono da empresa de investimentos Berkshire, que, por sua vez, é dona do The Buffalo News e grande investidora do The Wall Street Journal.

O raciocínio do bilionário é simples: os jornais (e não o jornalismo) já não seriam mais essenciais ao público. Enquanto eram, também o eram para os anunciantes. Mas agora as notícias podem ser entregues por uma grande variedade de formas, mais notadamente a Internet. Logo, as receitas publicitárias vêm despencando. Mas o empresário fez questão de classificar isso como uma “tragédia nacional”, pois os jornais garantiram, até aqui, “que os governos fossem mais honestos que eles seriam sem os jornais.” As declarações foram publicadas em um post no blog MarketBeat, do The Wall Street Journal.

O Midas que, entre seus primeiros trabalhos, ainda criança, entregava jornais, dissociou publicamente a notícia da mídia que a carrega, algo que ainda é difícil para muita gente. Os vendedores de peixe nas feiras livres agradecem a esses últimos: assim têm garantida a embalagem de seu produto.

“Uso mais que justo”: remunerado

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O Google e a mída: quem carrega quem?

O Google e a mída: quem carrega quem?

Na última reunião anual da Associação de Jornais da América, Eric Schmidt, CEO do Google, defendeu, em sua palestra, que o Google News ajuda os jornais, conduzindo gratuitamente tráfego para seus sites. Assim, os veículos faturariam com publicidade em suas páginas. Seria, portanto, um “uso justo” de porções desses conteúdos para viabilizar o Google News, tentando diminuir a crescente gritaria de que o serviço estaria pirateando trabalho alheio em seu único benefício.

Esse é seu ponto de vista.

No meu post Limites do “uso justo”, no dia 16, analisei essa idéia. Ela é legítima e pesquisas subsidiam e idéia de Schmidt. Só há uma falha nesse raciocínio: por mais que os internautas caiam nas páginas dos veículos, isso não é suficiente para salvá-los do atual desastre econômico. Apesar de o CEO do Google ter parecido arrogante para muitos (e talvez tenha sido mesmo), sou obrigado a dizer que os responsáveis por esse fracasso da mídia na Internet são as próprias casas editoriais, que sempre menosprezaram suas publicações online. Muitas ainda fazem isso, mas agora, com a água no pescoço, bradam palavras de ordem contra a inevitabilidade dos fatos online.

Maureen Dowd, colunista do The New York Times, resumiu esse sentimento em um artigo publicado no último dia 14. Em determinado ponto, ela escreveu: “por que o Google não nos assina um gordo cheque por usar as nossas histórias, de modo que possamos manter salários e balanços e continuemos a oferecer ao buscador nossas histórias?”

Bom, esse é outro ponto de vista válido.

E então vem o renomado consultor de mídia Steve Outing, com quem costumo concordar, e sugere em seu blog que o Google News passe a exibir mais publicidade (hoje ela é bem tímida), distribuindo uma porcentagem de seus ganhos aos provedores de conteúdo que forem clicados em cada uma das páginas do serviço. Dessa forma, o Google ajudaria, segundo Outing, os jornais a saírem da lama em que se encontram e evitaria um movimento non-sense de muitos dinossauros da (grande) mídia, que querem fechar o seu conteúdo apenas para assinantes, algo que não interessaria ao internauta ou ao próprio Google.

Dessa vez, concordo apenas parcialmente com Outing. Não acho que caiba ao Google -ou a qualquer um- salvar jornais de sua própria incompetência econômica. Tampouco gostei do tom quase ameaçador do tipo “ajude-os ou você ficará sem conteúdo”. As coisas não funcionam assim.

O bom jornalismo é algo crítico para todas as sociedades. Sem ele, nossa cidadania se reduz gradativamente. Felizmente a crise atual não acabou com ele: dos recém-entregues Prêmios Pulitzer, muitos foram para alguns dos veículos mais afetados pela situação da economia. O The New York Times levou cinco deles, seu segundo melhor desempenho da história, apesar do prejuízo de US$ 74,5 milhões anunciado na semana passada.

O gigante de buscas já tem acordos com a Associated Press e com a France Presse pelos seus conteúdos usados no Google News. Os jornais podem aprender muito com a turma online sobre como ganhar dinheiro nesse novo cenário econômico. Mas precisam se despir de preconceitos e de idéias vetustas que os levaram ao buraco em que estão.