Paulo Maluf

O que aprendi descobrindo que a mão do Maluf era mole

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O deputado federal Paulo Maluf, no Congresso Nacional - Foto: Agência Brasil/Creative Commons

O deputado federal Paulo Maluf, no Congresso Nacional

Todos nós passamos por experiências profissionais que nos ensinam algo para toda uma vida. Ao longo da minha carreira, coletei um sem número desses casos, inclusive por ser um “contador de histórias profissional”. Compartilho aqui com vocês uma que aconteceu bem no comecinho dessa minha jornada, que me ensinou algo que serve para qualquer um na sua vida pessoal e profissional, não importa o que faça: o dia em que descobri que a mão do Paulo Maluf era mole.

Não é uma piada! Bem no comecinho da minha carreira, em julho de 1992, quando ainda era trainee da Folha de S.Paulo, tive a oportunidade de entrevistá-lo. Na verdade, Maluf, raposa política que é, foi até o jornal e se propôs a ser “cobaia” do grupo de aspirantes a jornalistas, do qual eu fazia parte.


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Do que lhe perguntamos, honestamente eu não me lembro de absolutamente nada! Mas eu me lembro muito bem do que aprendi ao final daquele inusitado encontro: muitas vezes, criamos fantasias em torno de pessoas que têm grande destaque na mídia, quase como se elas fossem sobre-humanas, turvando nossas decisões em torno delas. Bem, elas não são! São gente como a gente!

Aprendi isso quando apertei a mão de Maluf quando ele estava indo embora. Eu, do alto dos meus 20 anos de idade, com pequena experiência de vida e experiência profissional ainda nula, tinha, diante de mim, uma pessoa que, independentemente de gostar dele ou não, era deputado federal, já havia sido governador do Estado, prefeito de São Paulo e, pouco tempo antes, candidato a presidente da República. Alguém que até então só via pela televisão ou pelos jornais. Enfim, uma genuína “otoridade”!

Foi quando apertei a mão do sujeito.

 

“Homem de granito”

Diante de toda aquela aura que Maluf carregava, então no auge de sua carreira, eu tinha uma fantasia bizarra de que aquela pessoa fosse feita de pedra. Um “homem de granito”!

Qual minha surpresa quando apertei a mão malufista e ela era mole! E por isso quero dizer que era uma mão normal, nada daquela fantasia de que apertaria a mão de uma estátua de praça.

Na hora, cheguei a levar um susto, pois aquela imagem irracional que eu tinha construído caiu por terra imediatamente: Maluf era só mais uma pessoa, imperfeita, que cometia erros, com a mão “mole”, que ia ao banheiro, assim como qualquer outra pessoa. Que grande experiência para um jornalista, que precisa ver o mundo como ele é!

Você pode dizer: mas que besteira! É claro que ele é uma pessoa normal!

Não é tão simples assim.

 

O poder do mito

Maluf é apenas um caso para ilustrar como podemos criar imagens idealizadas de pessoas que ganham grandes destaques em seus ramos de atuação, aparecendo sempre na mídia. E isso é tão mais verdade quanto mais jovens e menos experientes somos.

Não há nada de errada nisso! Apesar de essa história servir quase como uma anedota agora, ela é resultado de um comportamento natural da nossa humanidade. Mas precisamos perceber isso logo, para não cair na armadilha de essas fantasias atrapalharem nossos julgamentos, não importa sobre o que.

Em muitas ocasiões, esses seres idealizados estão bem próximos a nós, até temos que trabalhar com alguns eles. Se ainda estivesse vivo, como você se sentiria se fosse convidado a trabalhar com Steve Jobs, um dos maiores gênios da indústria de tecnologia? Incrível, não é mesmo? Mas, além de sua inegável genialidade, sabemos que Jobs era um sujeito de trato dificílimo, rude, mal-agradecido, até mesmo impiedoso!

E isso nos leva a outro aprendizado. Ninguém chega a posições de grande destaque por acaso. Algum mérito essas pessoas têm! Então, é verdade, sempre podemos aprender algo com elas. E devemos! Mas isso não deve acontecer com nossa completa submissão a esses “ídolos”.

Costumo dizer que devemos ser humildes, mas não “humildes demais”. Devemos ouvir o que as pessoas mais experientes têm a nos dizer, a nos ensinar. Absorver o que elas tiverem de bom. Mas não podemos esquecer jamais que nós -todos nós- sempre temos algo a contribuir, por mais que sejamos ainda inexperientes.

Mais que isso: todos são passíveis de erros, mesmo essa “turma estrelada”. Se atendermos cegamente a tudo que nos disserem, podemos eventualmente embarcar em seus erros. E infelizmente muita gente embarca, mesmo tendo percebido que algo não estava bem.

Não façamos isso! Eles têm seu valor, e nós temos o nosso! Qualquer relacionamento fica melhor quando todos os envolvidos podem contribuir da melhor maneira possível, sem que qualquer parte se sinta diminuída ou seja censurada.

Se estiver em dúvida, aperte a mão do sujeito! Com a cabeça erguida!


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