pirataria

Jack Sparrow, da saga “Piratas do Caribe” (Disney), o pirata mais famoso do cinema

Os desencontros do streaming pavimentam o caminho para uma nova pirataria

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Alguns crimes vêm e vão, ressurgindo em novos formatos, aproveitando oportunidades. É o caso da pirataria de vídeos, que andava em baixa nos últimos anos, mas que vem ganhando força de novo com a guerra comercial das diferentes plataformas de streaming e mudanças impopulares em algumas das principais delas.

Na semana passada, a Netflix, líder dessa indústria, anunciou a primeira redução em sua base de assinantes em quase 11 anos. Justo ela, que teve um papel importante na diminuição da pirataria, fazendo o público trocar os camelôs de DVDs ilegais por um serviço cômodo e de qualidade, a um preço módico.

Com o aumento da concorrência de estúdios que tornam suas produções exclusivas em suas próprias plataformas, o público continua assinando algumas delas, mas não tem dinheiro para todas. Recorre então a métodos ilegais para assistir ao que está por trás dos muros das que não consegue pagar. Em outras palavras: o excesso de produções exclusivas nas diferentes plataformas empurra as pessoas para a pirataria, para conseguirem ver tudo que desejam.


Veja esse artigo em vídeo:


As ações da Netflix derreteram 35% na quarta passada, depois de ela ter divulgado seus resultados financeiros do primeiro trimestre do ano, no dia anterior. Isso diminuiu seu valor de mercado em cerca de US$ 50 bilhões, arrastando os papeis de concorrentes, como Disney, Warner Bros. Discovery e Paramount.

A empresa perdeu 200 mil contas no período. A expectativa era que aumentasse em, pelo menos, 2,73 milhões. Além disso, a receita do trimestre cresceu 10%, para US$ 7,87 bilhões, mas isso é menos que as previsões de US$ 7,93 bilhões.

Esses números podem ser parcialmente creditados ao encerramento da operação russa, em represália à invasão da Ucrânia, que resultou em uma perda de 700 mil assinantes. A situação só não foi pior porque a empresa conseguiu outros 500 mil no restante do mundo.

A Netflix já disse que as perdas podem chegar a 2 milhões de assinantes nos próximos meses. Além do fim da operação russa, a empresa justificou as perdas pela inflação nos EUA, o aumento da concorrência e o compartilhamento indevido de contas, algo que já anunciou que pretende combater com mais afinco.

Trata-se da prática de uma pessoa assinar o serviço e repassar as suas informações de conexão para amigos que não pagam. De acordo com a assinatura, a Netflix permite conexões simultâneas em duas ou até quatro telas. Mas isso deveria acontecer entre pessoas que moram juntas.

Estima-se que há cerca de 100 milhões de usuários que se valem desse “truque”. Identificar e impedir isso é tarefa tecnicamente simples, mas a Netflix sempre fez “vista grossa” para o problema. Mas em março a empresa anunciou que vai passar a cobrar uma taxa extra para quem compartilhar suas contas, equivalente à metade do preço do plano básico local. A novidade deve entrar em testes no Chile, no Peru e na Costa Rica em breve, sendo depois expandida para outros países.

Com a concorrência crescendo, não dá para continuar abrindo mão dessa receita. E por falar em dinheiro, outra mudança que vem sendo ventilada em vários desses serviços, inclusive na própria Netflix, é a oferta de planos mais baratos (ou até gratuitos) financiados por publicidade, algo que a mesma Netflix ensinou o público a rejeitar fortemente.

Essas são decisões impopulares e polêmicas. Quantos deixarão a base dos serviços de streaming graças a elas?

 

Os piratas agradecem

A gigante baseada em Los Gatos, na Califórnia (EUA), não é a única preocupada. O que aconteceu com ela pode ser um prenúncio de tempos mais difíceis para o mercado de streaming.

A Disney, por exemplo, que vem investindo pesadamente em sua plataforma Disney+ nos últimos anos, divulgará seus números no dia 11. Se eles também decepcionarem o mercado, o alerta pode passar a ser vermelho.

Não faz tanto tempo, as calçadas eram ocupadas por camelôs que vendiam DVDs piratas. A Netflix, com um catálogo englobando produções de vários estúdios a um preço módico, com alta qualidade e fácil acesso, praticamente eliminou aquilo. Agora, com a pulverização de conteúdos em diferentes plataformas, o bolso e a vontade do cliente podem não ser suficientes para pagar por todas elas.

A pirataria não acontece agora com discos: ela também vem pela Internet. E não para de crescer diante dessa guerra das plataformas. Em relatório divulgado em fevereiro, a empresa de cibersegurança Akamai colocou o Brasil como quinto país no mundo em acessos a sites de pirataria, atrás dos EUA, da Rússia, da Índia e da Turquia. Fizemos 4,5 bilhões de streams e downloads não licenciados entre janeiro e setembro de 2021.

Além da pulverização em diversas plataformas, o baixo poder aquisitivo da população e títulos não oferecidos no país favorecem a pirataria. Outro levantamento, esse do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade, calculou que, em 2020, o mercado ilegal custou R$ 287 bilhões ao Brasil, atingindo principalmente as áreas de música e televisão.

O mercado chega então a um impasse. Os diferentes produtores também têm direito a morder um pedaço dessa torta que a Netflix mostrou sem grande e suculenta. Mas chegamos a um ponto de saturação? Vale a pena ter sua própria plataforma ou continuar distribuindo seu conteúdo na dos outros?

O risco é que a pulverização e o assédio da pirataria reduzam demais a quantidade de assinantes para cada plataforma. Isso comprometeria a capacidade de investimento em novas produções exclusivas, que se tornaram a principal ferramenta de atração. E assim começaria a faltar dinheiro para investimentos, cada vez exigentes.

A Netflix costumava dizer que sua principal concorrência não era de outras plataformas de streaming, mas de outras formas de diversão, como ler e até dormir. Fica cada vez mais difícil sustentar isso!

Os assinantes pulam de um serviço para outro, cancelando suas assinaturas quando sua série preferida acaba, para ver a de outro serviço. E assim sucessivamente! Sobre todos eles, paira uma pirataria ressurgida de maneira mais tecnológica e atraente.

A transformação desses serviços em poderosos estúdios de filmes e de séries gerou uma demanda poderosa no público, a ponto de as pessoas quererem assistir a todos os grandes lançamentos. Mas não é poderosa o suficiente para fazer colocarem a mão no bolso para pagarem por tudo isso.

 

Aumento de concorrentes da Netflix pode reacender a pirataria

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Prepare-se: a pirataria está voltando com força!

Depois de serviços como Netflix e Spotify diminuírem drasticamente as cópias ilegais de vídeo e de música, elas podem voltar com força. Ironicamente o motivo é a entrada de novos concorrentes desses serviços.

Ao contrário do Spotify e afins, que têm em seus acervos virtualmente toda música que alguém possa querer ouvir, de todos as gravadoras e de produtores independentes, os streamings de vídeos têm ofertas bem mais reduzidas. Além disso, apostam na exclusividade de suas produções próprias como diferencial.

O problema é que, apesar de ser razoável pagar pela assinatura de um, talvez dois desses serviços, se alguém quisesse ficar por dentro de todos os grandes lançamentos, teria que pagar por pelo menos cinco deles, o que torna a conta salgada demais para a imensa maioria da população.

É aí que a pirataria ganha força!

Entenda esse fenômeno assistindo ao meu vídeo abaixo. E depois compartilhe nos comentários se assina algum serviço de streaming de vídeo ou de música, e se acha que a proliferação deles combate ou favorece a pirataria.



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Abrace a tecnologia digital ou ela chutará o seu traseiro

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Cena de "Os Jetsons" - imagem: reprodução

A partir de 2017, o Grammy também premiará artistas com músicas disponíveis apenas em plataformas de streaming, como Spotify e Apple Music. Longe de ser algo interessante só a músicos, todas empresas e profissionais deveriam prestar atenção nesse movimento, pois ele resulta do respeito às mudanças do mercado, e qualquer um pode aprender com isso.

É verdade que aquela máxima que prega que “o cliente sempre tem razão” nem sempre funciona, porque tem muita gente que abusa de sua condição de cliente para exigir coisas descabidas. Por outro lado, não se pode querer continuar fazendo seu trabalho “como sempre”, quando o mercado já abraçou um formato totalmente diferente.


Vídeo relacionado:


Acontece que estamos vivendo justamente uma época de embates de consumidores “empoderados” por novas tecnologias e modelos de negócios revolucionários contra profissionais e corporações entrincheirados em formatos vigentes há décadas, que insistem que as pessoas continuem consumindo seus produtos ou serviços como faziam anteriormente.

Para esses últimos, eu tenho uma péssima notícia: isso não vai acontecer. E o caso da indústria fonográfica é ótimo para explicar o porquê.

Ela talvez tenha sido a primeira grande vítima da popularização dos meios digitais. Quem tem mais de 30 anos deve se lembrar das batalhas de gravadoras e músicos contra serviços de troca de arquivos MP3, como o Napster, onde até os usuários (e, portanto, fãs dos artistas) chegaram a ser processados. Se isso já estava provocando uma queda na venda dos álbuns, o lançamento do iTunes Store pela Apple em 2003 jogou uma pá de cal sobre o modelo de negócios baseado na venda de CDs, transformando-se na maior vendedora de música do mundo, apesar de fazer isso pelo download de faixas isoladas. E agora esse modelo também já está sendo substituído pelo streaming, no qual o usuário pode ouvir quantas músicas quiser diretamente da Internet, pagando um pequeno valor fixo por mês (ou até de graça). Entre os principais representantes dessa categoria, estão o YouTube, o Spotify, a Apple Music, o Tidal e o Pandora.

 

Quanto vale o show?

Qual é a nova realidade desse mercado? As pessoas simplesmente não compram mais CDs, mas elas eventualmente topam pagar R$ 14,90 por mês para ter acesso a uma biblioteca online de música virtualmente infinita. Elas usam o YouTube para ouvir cantores e bandas de graça, mas depois poderão gastar centenas de reais para ir a um show de seus artistas preferidos. Qualquer coisa fora disso não tem mais espaço no mundo.

Se a Academia Nacional de Artes e Ciências da Gravação praticamente chancelou esse novo modelo com a inclusão de músicas disponíveis apenas por streaming no Grammy Awards, era de se supor que ele já fosse um consenso na comunidade artística. Mas isso está longe de ser verdade.

Muitos artistas consagrados se opõem fortemente ao streaming, dizendo que seus ganhos ali são irrisórios. As empresas pagam R$ 0,002 a cada reprodução, e a metade vai para os artistas. No caso de usuários não-pagantes, estipula-se que cada 150 visualizações gratuitas equivalem a uma paga. Por isso, a cantora Adele lançou, em novembro passado seu mais recente álbum, “25”, apenas no formato físico (posteriormente ela o liberou para streaming no Pandora). Já Elton John propôs em 2007 o fim da Internet, pois ela estaria “destruindo a indústria musical e as relações interpessoais”.

Os dois casos demonstram uma enorme miopia. Não dá mais para querer ganhar muito dinheiro vendendo a música porque os consumidores tiraram o valor disso. Não estou dizendo que a música não tenha mais valor, mas os grandes ganhos agora estão nos shows. O streaming, pago ou gratuito, virou uma plataforma de divulgação que, de quebra, também é muito eficiente no combate à pirataria, essa sim a grande inimiga a ser vencida.

Nada será como era antes!

 

Oportunidade de negócios

A indústria da música é só um exemplo de negócios que estão sendo transformados pela tecnologia. O jornalismo também sofre grandes transformações, assim como varejo (Mercado Livre), vídeo (Netflix), hospedagem (Airbnb), mobilidade (Uber), serviços financeiros (Nubank), entre muitos outros.

Em todos esses casos, empresas recém-criadas derrubam conglomerados com décadas de estrada. Tudo porque fazem uso criativo da tecnologia para atender e entender seus clientes, fornecedores, parceiros e funcionários.

Mas não se trata apenas de relacionamento: as possibilidades abertas pela tecnologia transformam completamente o produto ou serviço. Por que as operadoras de cartão de crédito continuam cobrando uma série de taxas se o Nubank não cobra nada? Por que assinar um jornal ou ser soterrado de anúncios, se é possível obter gratuitamente jornalismo de qualidade? Por que se submeter a uma grade de programação ou pagar muito por TV por assinatura, se o Netflix acabou com tudo isso? Por que ser mal atendido por taxistas despreparados, se o Uber oferece mais por menos?

Todas essas empresas e profissionais estão ganhando dinheiro. Em alguns casos, muito dinheiro! E nenhum deles criou novos produtos: apenas oferecem algo que já existia de uma maneira criativa graças à tecnologia, criando modelos que fazem muito mais sentido ao consumidor.

O dinheiro não está fácil de ganhar, por isso as pessoas cada vez mais escolhem pelo que pagar. Mas elas pagam quando encontram algo que lhes valha a pena! Quem continuar insistindo em formatos ultrapassados acabará sendo chutado para fora dos negócios. Por outro lado, para quem souber aproveitar as incríveis oportunidades que se abrem, o mercado será como música aos ouvidos.

Em qual dos dois grupos a sua empresa está?


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Dividir para conquistar

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Entrei recentemente em uma discussão sobre se seria possível obter ISBN para conteúdos publicados na Web. O objetivo de quem perguntava era, de alguma maneira, garantir os direitos autorais sobre esse conteúdo. Argumentei que a única maneira de impedir que ele seja copiado é não o publicando, especialmente na Web. Mas a questão estava posta e era pertinente.

Para garantir a autoria (o que não tem nada a ver com impedir a cópia), sugiro Creative Commons. O ISBN, por sua vez, não garante absolutamente nada justamente quando o assunto é cópia do conteúdo. Já não garantia quando os livros eram apenas impressos, que dizer agora que eles estão digitalizados, algo que viabiliza cópias rigorosamente fiéis, de maneira extremamente simples e a custo zero.

O grande desafio que a Web coloca em pauta é encontrar modelos de negócios para esta nova realidade. Não acredito que vá acontecer o que alguns arautos do apocalipse pregam, de que a cópia de conteúdos vai matar o interesse dos autores dos mais diferentes tipos de obras, e que, portanto, estaríamos rumando para uma espécie de nova Idade das Trevas.

Vários autores já estão aí no mercado me impedem de dizer o contrário. Curiosamente, esse movimento é notado especialmente em nomes distantes dos medalhões acadêmicos, mas não necessariamente desconhecidos do público. O melhor exemplo que me ocorre é a banda tecno-brega Calypso, popularíssima (mas não entre a classe intelectual), que eliminou a figura da indústria fonográfica, produzindo inteiramente os seus CDs e os vendendo em camelôs a preços baixíssimos. Quanto ao download de suas músicas, eles querem mais é que isso prospere!

Não, eles não enlouqueceram, apenas perceberam -e entenderam- os movimentos do mercado e estão surfando neles agora. As gravações -em discos ou em arquivos- passam a ser apenas agentes promotores de seu trabalho, que é música. Sim, eles ganham dinheiro também com os seus CDs e DVDs baratos (inclusive porque eliminaram vários “custos” da cadeia, principalmente a indústria fonográfica tradicional), mas ganham muito mais arrastando multidões apaixonadas a seus shows. Ah, também produzem discos e shows patrocinados, outro belo filão que exploram muito bem.

Voltando ao mercado de livros, onde a conversa começou (ISBN é só para livros, em papel ou e-books), vejo cada vez mais autores que oferecem -eles mesmos- o download da íntegra de seus livros de graça, enquanto vendem (e vendem!) o mesmo livro em papel. Outro fenômeno cada vez mais comum são ofertas gratuitas de livros para download -inclusive de autores consagrados- para promover a venda de outros títulos do mesmo autor. E -claro- os livros digitais obrigatoriamente têm que ser (muito) mais baratos que a mesma edição em papel.

Com essas mudanças nos modelos de negócios e as facilidades de produção e de custo que a mesma tecnologia oferece aos autores, quem caminha rumo ao ostracismo são as editoras (não apenas de livros). E isso acontece não porque elas não tenham nada de positivo a oferecer ao processo, e sim por sua teimosia em resistir ao inevitável. Essa visão obtusa dos fatos dilui todos os seus referidos benefícios, que acabam ficando muito caros aos autores e principalmente aos consumidores. E acreditem: os autores preferem ter consumidores a editores.

Há dois meses, conversei com um diretor da Abril Educação sobre esse assunto e ele me confidenciou que, se as editoras não mudarem já, em dez anos ninguém mais precisará delas. Eu acho que elas já estão atrasadas! E, quando isso acontecer, elas serão as únicas culpadas pela sua derrocada. Exatamente a situação em que a indústria fonográfica se colocou e da qual não consegue mais sair. Tentaram segurar uma locomotiva desgovernada com advogados nos trilhos, processando os seus próprios consumidores. Resultado: CDs se transformando em itens de museu. Mas a música vai muito bem! Só que sem eles.

Essa nova era, que tanto amedronta, é na verdade uma incrível oportunidade para as pessoas que realmente são boas. Elas terão uma possibilidade inédita de despontar e ganhar muito dinheiro com isso. Mas farão isso compartilhando, não restringindo. Não há nenhuma nova Idade das Trevas no horizonte, e sim um novo Renascimento.

Mais sobre a discussão de “direitos autorais na era da Internet”

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Evento da Associação Brasileira de Letras discutiu -uma vez mais- a pseudo-ameaça aos direitos autorais pela Internet

O Jornal da Globo desta terça (9) mostrou uma reportagem sobre discussão sobre direitos autorais na ABL (Academia Brasileira de Letras). O teor do encontro foi encontrar alternativas de cobrança para um mundo em que as pessoas cada vez menos estão dispostas a pagar para consumir obras culturais, como músicas, filmes, livros.

Para o compositor Fernando Brandt, se isso não se resolver, “os autores vão deixar de ser autores, vão morrer, não vai haver autor mais no mundo.” Desculpe, mas sou obrigado a discordar, por dois motivos.

Primeiramente porque, por princípio, não compomos músicas, escrevemos poemas ou criamos nossos filmes domésticos para ganhar dinheiro: fazemos isso porque fazemos parte da raça humana. E essas são manifestações da paixão que nos move. Qualquer adolescente sabe disso. Mesmo Camões ou Drummond não escreviam para ganham alguns cobres, por mais que isso lhes fosse brindado depois.

Em segundo lugar… bem, Fernando, desculpe, mas os autores vão –sim– morrer, pelo menos os que esperam continuar sendo remunerados pelos modelos de negócios vigentes “fora” da Internet. Eles simplesmente não funcionam no mundo digital. Não dá para simplesmente tentar migrá-los para essa nova realidade, pois ela exige modelos completamente novos.

Isso não significa, em absoluto, que as pessoas não serão remuneradas pelo seu trabalho. Apenas isso acontecerá de outra maneira, totalmente inovadora, onde apenas o que realmente traz valor ao processo terá valor. É isso que essa “turma da resistência” se recusa a querer ver.

O caso das músicas é o mais emblemático, pois está mais avançado. Nesse cenário, a grande vítima é a indústria fonográfica, que se tornou completamente obsoleta e desnecessária, tanto para os autores e intérpretes, quanto para o público. Como não acrescenta mais nada ao processo, não tem valor, e não deve ser remunerada. Os primeiros podem realizar todo o seu trabalho, incluindo composição, produção, distribuição e divulgação, sem as gravadoras. E as grandes culpadas por esse ostracismo são as próprias empresas, por tentar resistir ao inevitável, sem se adaptar à nova realidade.

O público, desnecessário dizer, consome esse produto de maneira completamente diferente hoje –e não necessariamente de graça. Isso só acontece no download das faixas, apesar de que a Apple revolucionou o mercado permitindo que as pessoas comprem (ou sejam, paguem!) a música que desejem a preços irrisórios, graças ao iTunes. Outro exemplo de pagamento por música é o download de novas faixas em games, como no Guitar Hero, da Activision.

Claro que isso implica em mudanças na rotina dos artistas, mas –sinto lhes dizer– eles não têm escolha, pois seu público já alterou os seus hábitos de consumo. A indústria fonográfica se recusou a mudar e, por conta disso, hoje é um morto-vivo do capitalismo.

Se os medalhões que dominam a indústria cultural há tantos anos ainda assim resistirem,serão substituídos por uma nova geração de autores, adaptadas ao mundo que nos rodeia. Nada mais que puro darwinismo aplicado aos negócios.

Download de filmes: legal, mas caro (e, por isso, tolo)

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A Saraiva largou na frente no download de filmes no Brasil, mas os preços altos podem matar a bela iniciativa

A Saraiva largou na frente no download de filmes no Brasil, mas os preços altos podem matar a bela iniciativa

A Livraria Saraiva anunciou hoje um serviço inédito no Brasil, que permite aos internautas fazer downloads de cópias legais de filmes com qualidade de DVD. Batizado de Saraiva Digital, imita serviços internacionais (mais notadamente o iTunes) e permite que o usuário alugue ou compre os filmes. A diferença entre as duas modalidades, além do preço (entre R$ 3,90 e R$ 6,90 no caso de aluguel), reside no fato de que, no modelo de aluguel, o filme não roda mais depois de 24 ou 48 horas e apenas a modalidade de compra permite queimar o filme em um disco.

Parabenizo a Saraiva pela iniciativa: acho que estão no caminho certo! Mas esses preços… Acompanhem o meu raciocínio:

O usuário será obrigado a baixar o filme, o que, de cara, já exige uma banda (bem) larga e muitas horas de download. Até aí, tudo bem, especialmente para aqueles que já são adeptos dos torrents da vida, baixando filmes ilegalmente. Depois, se quiser gravar em disco, precisa somar o custo da mídia. No final, ficará com um DVD com aspecto de pirata, sem extras, encarte, caixinha, nada.

Pois bem: entrei no novo serviço e vi o filme Juno, belíssima história. O download para compra sai por R$ 34,90. A Saraiva.com me entrega o DVD original, com tudo o que o download não me dá, no dia seguinte por… R$ 34.90. Ok, vamos ver outro filme: O Homem de Ferro, aventura com um dos super-heróis mais cafajestes (pelo menos o seu alter-ego) e divertidos que existem. Na Saraiva Digital, a compra me custa R$ 39,90, enquanto, na Saraiva.com, sai por… R$ 39,90! Procurei então na Americanas.com, concorrente direta da Saraiva.com. E esse mesmo DVD me era oferecido por R$ 19,90.

Aí fica difícil, né? Não sou tão desesperado a ponto de PRECISAR ver o filme imediatamente, sem poder esperar até o dia seguinte para a entrega do DVD e todas as suas vantagens sobre o download. Isso sem falar que a segundo opção não é instantânea, pois ela vai levar umas cinco horas fácil para ser concluída.

Uma das razões do sucesso do iTunes, que o transformaram no maior vendedor de músicas do mundo (superando o Wall Mart), é que o usuário pode comprar, com muita facilidade, apenas as faixas musicais que ele quer, sem precisar levar o álbum inteiro. Além disso (e isso é crítico), cada uma sai por míseros US$ 0,99. Esse valor é baixo o suficiente para “sair na urina” do cartão crédito.

Como disse, a Saraiva mandou bem com a iniciativa. Mas tem que ficar mais barato. Não apenas que a concorrência, mas que ela própria.

Pirataria: questão política ou de mercado?

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Será que os "piratas" do The Pirate Bay são piratas mesmo?

Será que os "piratas" do The Pirate Bay são piratas mesmo?

A Justiça sueca condenou nesta sexta Frederik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Carl Lundstrom e Peter Sunde, ligados ao site The Pirate Bay, a um ano de prisão e ao pagamento de uma multa de US$ 4,5 milhões. Eles eram acusados de violação de direitos autorais pelo site, o mais importante do mundo no quesito troca de arquivos de áudio e de vídeo, a maioria protegidos por direitos autorais.

Os quatro ainda têm direito a recorrer da sentença de primeira instância, mas já declararam que não pagarão a multa. “Mesmo que eu tivesse dinheiro, eu preferiria queimar tudo o que tenho e não lhes daria nem as cinzas”, disse Sunde, que classificou a sentença de “bizarra”. Eles se defendem argumentando que os servidores do site não guardam sequer um arquivo protegido por copyright, apenas os torrents que ajudam os usuários a encontrá-los pela Internet.

Os representantes da indústria fonográfica comemoraram o resultado, como um exemplo para desencorajar a pirataria, uma guerra cada vez mais inglória, que começou com o processo que soterrou o Napster -o primeiro de todos os compartilhadores de arquivos- em 2001. A queda nas vendas de CDs caem abruptamente desde então, abrindo espaço para lojas virtuais, cuja mais famosa é o iTunes, da Apple, e para a pirataria de CDs nos camelôs. Nesse cenário, quem está se tornando obsoletas são as gravadoras e as grandes distribuidoras de discos (isso sem falar das lojas físicas).

Rickard Falkvinge, líder do Piratpartiet, partido político sueco que é contra o copyright, classificou o julgamento como político, e não criminal. “Os eventos de hoje fazem do compartilhamento de arquivos uma questão política quente e nós vamos levar isso ao Parlamento Europeu”, prometeu.

Não estou colocando em questão que produtores de conteúdo de qualquer natureza deixem de ser remunerados: eu mesmo sou produtor de conteúdo e tenho que garantir o leitinho das crianças. O que vem acontecendo -primeiramente com a indústria de entretenimento e mais recentemente com a mídia- é que modelos de negócios consagrado estão morrendo. Está claro que, quanto mais os detentores desses direitos apertam os “piratas” (na verdade, seus consumidores), mais seu controle da situação se esfarela por entre seus dedos.

É o fim dos direitos autorais então? Produzir conteúdo só poderá ser algo feito como hobby? Claro que não! Mas temos que ter coragem de olhar para uma nova realidade, sairmos de nossa zona de conforto e descobrir como nos reposicionarmos, pois os novos modelos já estão por aí.

Só para ficar na indústria do entretenimento, que motivou a prisão da turma do The Pirate Bay, quem já descobriu um modelo alternativo e está se dando muito bem com ele são as bandas do chamado “tecnobrega”, cujo maior expoente é a Calypso. A banda paraense, originária de uma região de alto índice de pirataria, produz e vende diretamente seus CDs a preços popularíssimos, eliminando assim a pirataria de seus álbuns quase completamente. Afinal, por que comprar um CD pirata se o original custa o mesmo? Com seus CDs assolando o mercado, a banda arrasta multidões ensandecidas que lotam seus shows no Brasil inteiro.

Como dizem na música “Chama Guerreira”, “o que eu mais quero dessa vida é ver meu povo feliz cantar”. Eles estão no caminho certo: um caminho mais perto do The PIrate Bay que das grandes gravadoras.

Será que funciona no Brasil?

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A salvação do modelo econômico do jornalismo pode passar por sistemas como o Kachingle e os micropagamentos

A salvação do modelo econômico do jornalismo pode passar por sistemas como o Kachingle e os micropagamentos

Já que tenho falado de micropagamento, Kachingle e Steve Outing, ele tem posições bastante críticas quanto ao primeiro. Para Outing, esse sistema de remuneração simplesmente não funciona, pois seria contrário à natureza da Internet. Seu argumento: no micropagamento, o conteúdo continua fechado, dificultando seu compartilhamento entre os usuários e sua indexação pelos sistemas de busca. E, se você estiver fora do Google, está fora dos negócios. Para o guru, algo como a Kachingle faz muito mais sentido. O principal obstáculo para seu sucesso são os barões da mídia, que precisariam mudar de postura e convencer seus usuários a passar a pagar não apenas pelo seu conteúdo, mas sim para o conteúdo também de seus concorrentes. Afinal, o sistema distribui o dinheiro do usuário entre todos que ele considera merecedores.

Concordo com todas as posições de Outing acima, mas acho que essa é uma visão um pouco simplista e muito radical. Nesse momento, tudo o que NÃO precisamos são posições inflexíveis. Existem maneiras e maneiras de se implantar o micropagamento. Problemas como a indexação pelas spiders e a viabilidade de compartilhamento de links de conteúdo fechado já foram tratados, inclusive por aqui, pela Abril.

O que jamais se pode perder de vista é a simplicidade para o usuário acima de tudo. A Kachingle realmente faz mais sentindo, mas não estou totalmente seguro que ele vingará. E o motivo é apenas um: ele só é interessante se for onipresente e único, sem concorrentes. A partir do momento que aparecem três ou quatro desses sistemas, um site que eu apoiaria poderia estar com a Kachingle e outro estaria com o, digamos, “Letingle”. E aí, vou fazer depósitos em ambos? Já era, ficou difícil!

Há um outro fator que o Outing não menciona e nem poderia, já que ele não vive no Brasil: será que, por questões culturais, pelo famigerado “jeitinho brasileiro” de querer levar vantagem em tudo, pagaríamos pelo conteúdo que consumíssemos pela Internet? A massa prefere pagar R$ 1 por um DVD pirata, quando o original sai por R$ 12,99, um preço bastante razoável por um produto claramente superior -e nem entro aqui na questão da ilegalidade das cópias. Para o pessoal, é diferente assinar um jornal ou uma revista, pois o papel “tangibiliza” esse dinheiro pago. No final das contas, paga-se pelo… papel, pela sensação de ser “dono” de algo, mesmo que amanhã você use esse seu investimento para forrar a caixa de areia do gato.

Admitamos ou não, isso funciona diferentemente na Europa e principalmente nos EUA, onde as pessoas se sentem naturalmente compelidas a pagar por algo que poderia lhes ser entregue de graça, mas que lhes traz algum benefício, mesmo intangível. Ademais lá o jornalismo tem um caráter historicamente mais comunitário que aqui: ele nasceu não puramente como um negócio, mas sim como um serviço a sua comunidade local, que, em troca, o abraça.

Arrisco que a solução desse nó górdio está em algum lugar nesse post, mas eu tenho as hipóteses, não tenho a resposta. E você?