Pisa

Crise no trabalho começo com nosso vexame na educação

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Na terça passada, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou os resultados do Pisa, avaliação internacional sobre educação. O Brasil manteve seu histórico vexatório: ficamos entre os 20% piores países do mundo.

Não sei o que é pior: nosso já tradicional desempenho pífio ou a completa falta de perspectiva de melhora, diante da ausência de uma liderança minimamente qualificada no governo para o tema. A situação fica ainda mais dramática porque o Brasil forma cidadãos e profissionais deficientes não apenas em conteúdos acadêmicos, mas também em habilidades cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho, como resiliência, empatia, trabalho em equipe e capacidade de viver construtivamente com quem pensa de maneira diferente de si.

Portanto, a crise no mercado de trabalho começa com a crise na nossa educação. O mundo se transforma a passos largos, exigindo pessoas capazes de se reinventar continuamente. Mas, para isso, elas precisam de uma sólida educação. Sem isso, engrossaremos as filas de desemprego não apenas pela crise econômica, mas também por estarmos sendo substituídos por robôs.

A educação é de todos, e esse problema precisa ser resolvido com a participação de toda a sociedade. O dilema tem solução, mas exige seriedade e muito trabalho. Veja o que precisa ser feito no vídeo abaixo. E depois compartilhe suas opiniões nos comentários.



Veja o estudo sobre o resultado brasileiro no Pisa 2015, feito por pesquisadores da USP e do Insper. É só clicar em https://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2018/08/Por-que-Brasil-vai-mal-PISA-Analise-Determinantes-Desempenho.pdf


Quer ouvir as minhas pílulas de cultura digital no formato de podcast? Você pode me encontrar no Spotify, no Deezer ou no Soundcloud. Basta procurar no seu player preferido por “Macaco Elétrico” e clicar no botão “seguir” ou clicar no ícone do coração. Se preferir, clique nos links a seguir:

A tecnologia pode PIORAR a educação?

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Ábaco - Foto: reprodução

Há alguns dias, fui bombardeado com discussões e reportagens sobre um estudo recente da OCDE sobre competências digitais dos alunos. O que mais me chamou a atenção foram afirmações de que o uso intensivo de tecnologia em sala de aula estaria piorando a qualidade do ensino, até mesmo o desenvolvimento das próprias habilidades digitais.

Aquilo me pareceu, no mínimo, contraditório, além de bater de frente com as minhas crenças sobre os benefícios de um bom uso de recursos digitais na escola. Mas se “contra fatos, não há argumentos”, fui atrás dos fatos e conversei com especialistas para entender essa aparente incoerência.

Felizmente o que o relatório “Estudantes, Computadores e Aprendizado: Fazendo a Conexão” propunha não era bem aquilo. Na verdade, o estudo, feito a partir do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2012, sugere que o simples investimento em tecnologia nas escolas não resulta necessariamente em um melhor desempenho das habilidades digitais dos estudantes.

Mas então de onde veio essa história de que a tecnologia piora a educação?

Acontece que nos países que tiveram os melhores resultados no levantamento, Coreia do Sul, China (especificamente Xangai e Hong Kong) e Japão, o uso da informática em sala de aula fica consideravelmente abaixo da média dos países avaliados. Por outro lado, os resultados de países como Suécia, Dinamarca, Noruega e Polônia, que usam pesadamente a tecnologia na escola, pioraram ou ficaram estagnados.

Evidentemente a OCDE não está sugerindo que as escolas abandonem o uso de computadores. A mensagem passada é que, se os professores não estiverem preparados para usar a tecnologia criativamente, uma escola cheia desses recursos não passará de marketing para atrair pais de alunos.

Agora as coisas começam a fazer sentido.

 

Uma escola para pensar

Na apresentação do relatório, Andreas Schleicher, diretor de Educação e Habilidades da OCDE, explicou que “é necessário que os sistemas escolares encontrem formas mais eficazes de integrar a tecnologia ao ensino e à aprendizagem para proporcionar aos professores recursos de instrução que apoiem as pedagogias do século 21”.

Trocando em miúdos, computadores, tablets, smartphones, lousas digitais e afins são poderosas ferramentas para ajudar o aluno a aprender a pensar. Não são imprescindíveis para isso, e o estudo acima deixa isso claro, mas, se bem utilizados, podem fazer uma enorme diferença.

O grande desafio é implantar com sucesso recursos que ampliam os horizontes dos alunos e lhes dão ampla liberdade de pensamento e ação em um modelo escolar originado na Revolução Industrial, em que o que se prezava era a obediência às regras sem questionamentos e a habilidade de reproduzir tarefas com precisão. Por mais que, nos últimos anos, vejamos alguns movimentos interessantes de subverter essa lógica perversa na educação, quase sempre essas iniciativas são isoladas e restritas às escolas das classes mais altas.

Para dificultar ainda mais, os professores, que deveriam ser os condutores dessas mudanças, não foram preparados para a tarefa. Sua formação até aborda teoricamente modelos pedagógicos inovadores, porém as próprias faculdades não seguem tais propostas. Mais que isso: usos criativos da tecnologia não são discutidos.

O resultado disso são professores que são usuários de computadores, tablets e smartphones no seu cotidiano, mas que não conseguem transpor essa experiência pessoal para seus planos de aula, algo compreensível na introdução de qualquer tecnologia inovadora em um processo consolidado. Seria como pedir que Sócrates passasse a usar com seus discípulos uma lousa. Justo ele que questionava a utilidade da escrita.

A introdução bem-sucedida dos recursos digitais na escola passa, portanto, por uma restruturação do próprio modelo educacional, repensando os papeis dos professores e dos estudantes no processo. A tecnologia se manifesta de diferentes maneiras no dia a dia dos alunos, permitindo que eles absorvam um enorme volume de informação, muitas vezes de maneira anárquica, sem orientação para discernir o bom do ruim com uma análise crítica. Por conta disso, estudantes de todas as idades chegam às salas de aula carregados com uma geleia indefinida de informação.

Eu, como professor, me deparo com isso o tempo todo. Preciso ter humildade para aceitar que, muitas vezes, o aluno terá mais informação que eu sobre determinado assunto. Justamente aí reside o novo papel do professor: deixa de ser o detentor do conhecimento, até então repassado a alunos que o absorviam passivamente, e passa a ser o orientador dessa turma, alguém que, com sua experiência, é capaz de organizar e transformar todo aquela informação difusa em conhecimento.

Alunos e professores ganham, portanto, funções muito mais nobres. E o uso correto da tecnologia pode maximizar esses resultados, por ampliar o pensamento livre e facilitar o acesso à informação.

Não é uma tarefa fácil! Se os professores não se apropriarem adequadamente das novas tecnologias, elas não cumprirão seu objetivo pedagógico e ainda podem se tornar fatores de dispersão, como indicou o relatório da OCDE. Aqueles que, por outro lado, conseguirem realizar a tarefa terão o prazer de conhecer a verdadeira nova educação, com alunos engajados e felizes, construindo, junto com o professor, seu conhecimento.

Educação à distância supera a presencial

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O Departamento de Educação dos EUA concluiu, depois de 12 anos de pesquisa, que cursos à distância podem apresentar resultados superiores aos presenciaisA Educação à Distância, ou simplesmente EAD, não chega a ser uma novidade: ela já existe desde o século XIX, na forma de cursos por correspondência. Mas é inegável que ela tomou uma dimensão completamente sem precedentes com o advento da Internet, pois aproximou alunos de tutores e alunos entre si de uma maneira simplesmente impossível até então. Mais que isso: pela sua natureza, que exige participação efetiva do aluno, os cursos à distância deixaram de ser patinhos feios da educação para se tornar alternativas sérias e viáveis de formação em todos os níveis, em diferentes áreas.

Recentemente, o Departamento de Educação dos EUA divulgou um relatório de 93 páginas sobre uma pesquisa de 12 anos que comparou resultados de vários cursos dados de maneira presencial e online (total ou parcialmente), com estudantes desde o equivalente ao nosso Ensino Infantil até o nível superior. E o resultado foi impactante: os alunos que tiveram pelo menos parte do curso online obtiveram resultados 18% superiores, em média, aos do ensino estritamente na sala de aula (59 pontos contas 50). O resultado despertou a atenção até da “velha dama cinzenta”, que publicou reportagem sobre a pesquisa.

Surpreendente para muitos, a performance dos estudantes online não causa espanto em quem está na área. Não bastasse o já mencionado maior empenho exigido dos estudantes, a educação digital oferece aos professores uma ferramenta que lhes permite realizar um sonho (por sinal, exigido pelas políticas educacionais): o ensino personalizado. Nunca antes na história desse país (e do mundo), o professor foi capaz de saber exatamente o que cada aluno de suas turmas –individualmente– estava aprendendo ou deixando de aprender. Com os relatórios desse tipo oferecidos pelos sistemas educacionais, é possível agora realizar atividades personalizadas –também auxiliado pela tecnologia– para sanar as deficiências.

Seria o paraíso na Terra, se o modelo também não exigisse do professor a mesma dedicação ampliada. Afinal, assim como os alunos, o trabalho do mestre –raramente preparado para essa nova realidade– agora também é individualizado: ele tem que dar atenção a cada aluno. Apesar do inegável auxílio tecnológico, fazer isso bem feito se torna uma tarefa hercúlea à medida que as turmas aumentam de tamanho. E os mantenedores não têm o menor pudor em inchar suas classes.

Apesar disso, os resultados estão aí, e agora tabulados pelo equivalente ao MEC nos EUA. Onde está então o pulo do gato então? Resposta (entre outras): a tecnologia está dando voz aos alunos, outra grande novidade. Eles deixam de ser meros receptores de informação, pois o professor deixa de ser a única fonte do conhecimento. Como resultado, alunos agora participam ativamente da criação da experiência de aprendizagem sua e dos colegas. O professor passa a ser muito mais o mediador do conhecimento que o instrutor. E também aprende com os alunos.

O que não se pode fazer é tentar manter as mesmas estruturas e culturas educacionais arcaicas, apenas com roupagem nova. Ensinar decoreba no livro ou com multimídia é decoreba em ambos os casos. E as crianças hoje exigem –e merecem– mais que isso. Devemos rejeitar os “brócolis cobertos de chocolate” que inundam o mercado de software educacional e abraçar as iniciativas pedagógicas que compreenderam a nova realidade e estão criando produtos que realmente tirem proveito de tudo que a tecnologia oferece. Quando conseguirmos realizar isso de maneira consistente, o Brasil poderá sair da lanterninha das avaliações internacionais de educação –como o Pisa– e as empresas terão menos preconceito com os estudantes formados por cursos à distância, tão bons ou melhores que os presenciais.