política educacional

O ministro da Educação, Camilo Santana, e o presidente do Inep, Manuel Melo, apresentam o Censo Escolar – Foto: José Cruz/Agência Brasil

Educação busca caminhos entre demagogia política e desafios digitais

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Entre discursos políticos inflados e dados contraditórios, a educação brasileira navega por águas turbulentas. De um lado, o governo celebra avanços questionáveis na alfabetização. De outro, crianças cada vez mais imersas no universo digital enfrentam desafios cognitivos inéditos.

A dúvida sobre quantos brasileiros estavam alfabetizados no 2º ano do Ensino Fundamental em 2023 simboliza um impasse educacional contemporâneo. Depois de críticas pela demora, o Ministério da Educação (MEC) finalmente divulgou, no dia 3, dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), com esse índice em 49,3%. Ele é significativamente menor do que os 56% anteriormente anunciados pelo mesmo MEC no programa Criança Alfabetizada. O governo afirma que o último é mais preciso, mas especialistas desconfiam disso, pela diferença nada desprezível de 7%.

Ao mesmo tempo, educadores encaram uma geração com menos capacidade de concentração e autonomia. Por isso, entre demagogos que distorcem diagnósticos e a revolução digital que transforma mentes, o Brasil precisa de uma política educacional onde transparência nos dados e uso consciente da tecnologia se tornam não apenas desafios técnicos, mas imperativos éticos para o futuro das crianças.

O celular na mão de um estudante pode ser tanto uma janela para o conhecimento quanto uma distração constante que prejudica seu aprendizado. O problema não está na tecnologia em si, mas em como a utilizamos. O uso passivo e exagerado de telas fragmenta a atenção, justamente quando precisamos fortalecer as bases cognitivas de uma geração com graves déficits educacionais.

Esse não é um problema exclusivamente brasileiro, claro. O impacto do meio digital no desenvolvimento cognitivo e na educação vem sendo discutido há anos no mundo todo, resultando em iniciativas mais ou menos acertadas em vários países.


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No Brasil, desde o início desse ano letivo, alunos do Ensino Básico estão proibidos de usar celulares nas escolas, exceto em atividades sob orientação dos professores. A medida é aprovada por educadores e pela população, mas enfrenta dificuldades, como resistência cultural, fiscalização difícil, apoio da comunidade escolar, capacitação dos professores e preocupações com a boa integração da tecnologia na escola.

Já a Austrália adotou uma posição mais radical no ano passado, proibindo qualquer uso de redes sociais por pessoas com menos de 16 anos. A decisão veio da pouca colaboração dessas plataformas no combate a graves riscos que a enxurrada de conteúdos nocivos em suas páginas impõe a crianças e adolescentes.

“Não acredito em extremos”, afirma a professora Adriana Pavarina, mestre em Psicologia Educacional e avaliadora no INEP/MEC. “Acredito que política pública equilibrada reconhece a complexidade do uso de redes sociais por adolescentes, buscando proteger seus direitos e bem-estar, ao mesmo tempo em que os prepara para navegar no mundo digital de forma segura e responsável”, acrescenta.

Nesse sentido, a Base Nacional Comum Curricular para Computação, homologada pelo MEC em 2022, busca unir a alfabetização tradicional e o letramento digital. Em vez de focar apenas no manuseio de ferramentas, ela enfatiza habilidades cognitivas fundamentais, como análise e interpretação de dados, resolução de problemas complexos, processos de criação, inovação e compreensão de algoritmos.

Se desenvolvidas adequadamente, essas habilidades fortalecem as capacidades necessárias para a alfabetização convencional, como atenção sustentada, pensamento sequencial e compreensão profunda. Mas ainda hoje, em muitas escolas, a tecnologia continua sendo limitada ao ensino de ferramentas específicas e em noções básicas de informática.

 

O risco de uma “geração de preguiçosos”

Nesse cenário, a inteligência artificial generativa surgiu com enorme força, impactando todos os setores da sociedade, inclusive a educação. E assim como acontece com outras tecnologias digitais, ela oferece incríveis oportunidades, mas também armadilhas para professores e alunos, dependendo de como for usada.

“Existe um risco real de formarmos uma geração de ‘preguiçosos cognitivos’ se a tecnologia for utilizada de forma predominantemente passiva, como uma muleta para evitar o esforço mental”, explica Pavarina. Segundo ela, “a facilidade de encontrar respostas prontas, de usar aplicativos para realizar cálculos ou do consumo de conteúdos superficiais pode, a longo prazo, enfraquecer as habilidades cognitivas”.

Por outro lado, a IA emerge como uma poderosa ferramenta de ampliação cognitiva. Ela pode ser usada, por exemplo, em assistentes virtuais para pesquisas, plataformas de aprendizado adaptativo e ferramentas de análise de dados. Também pode ajudar professores no desafio permanente de criar atividades atraentes para manter a atenção dos alunos, e ricas em informações e desafios para promover o aprendizado profundo. Mas para isso, os docentes precisam ser capacitados tecnicamente e em princípios éticos da IA, incentivando um uso produtivo, seguro e responsável.

Os recursos devem ser usados para reintroduzir o “esforço cognitivo prolongado” em uma geração que as redes sociais acostumaram à gratificação instantânea e vazia. Precisamos reconstruir a valorização do processo e da recompensa em longo prazo, com estratégias que os motivem a encarar tarefas desafiadoras, incentivar a leitura profunda e a escrita elaborada, conectar o aprendizado a objetivos significativos, criar um ambiente de aprendizagem que valorize o esforço, usar a tecnologia de forma estratégica e conectar o aprendizado ao mundo real e às experiências práticas.

“Essa transição não será imediata, muito menos simples, mas, com estratégia e uma mudança na mentalidade sobre o aprendizado, é possível ajudar as novas gerações a desenvolverem a capacidade de se engajarem em tarefas intelectuais mais desafiadoras e a colherem as recompensas de um aprendizado mais profundo e significativo”, afirma Pavarina.

Mesmo com sua diferença, os índices de alfabetização do Saeb e do “Criança Alfabetizada” servem como um lembrete contundente de que a jornada da educação na era digital está longe de ser uma linha reta e suave. A tecnologia não é vilã nem salvadora da educação brasileira, mas a impacta profundamente segundo seus usos.

É preciso mais clareza, mais transparência e, acima de tudo, um olhar atento e crítico para o impacto da tecnologia em nossas crianças e adolescentes. A “preguiça cognitiva” não pode ser o legado desta geração. O esforço, a curiosidade e a sede por conhecimento devem ser os pilares de um futuro em que o digital seja um aliado poderoso, e não um entrave, para o desenvolvimento pleno de cada indivíduo.

 

Como destruir uma nação usando apenas livros

By | Educação | 6 Comments

Foto: John-Mark Kuznietsov/Creative Commons

O Ministério Público Federal decidiu enfiar o dedo na ferida e investigar se os livros usados nas escolas brasileiras estariam doutrinando politicamente nossas crianças. Apesar do ineditismo da ação, ela toca em um ponto que educadores conhecem como a palma da mão: é claro que sim!

O fato é que poucas coisas são tão incrivelmente eficientes para controlar um povo quanto a educação. E isso acontece de uma maneira tão perversa quanto produtiva. Afinal, crianças e adolescentes não costumam questionar o conhecimento dos professores nas disciplinas que ministram, muito menos quando ele é corroborado pelos livros didáticos. Sem um contraponto de mesmo peso (que seria a família, mas que raramente discute questões acadêmicas com os filhos), ideias bem plantadas na sala de aula florescem viçosas nas cabeças jovens. Mesmo que sejam as mais pestilentas ervas daninhas.


Vídeo relacionado:


A ação do Ministério Público Federal do Mato Grosso foi motivada por artigo do professor Fernando Schüler, publicado na Época, no dia 29 de fevereiro. Nele, o autor transcreve exemplos escandalosos de como livros de História de algumas das principais editoras nacionais se prestam a endeusar o governo federal a partir da eleição de Lula e demonizar o de Fernando Henrique Cardoso.

Quero deixar claro aqui que esse artigo não tem qualquer objetivo partidário. O que quero discutir é a ética de se usar a sala de aula para destruir o senso crítico dos futuros cidadãos em nome de uma visão política. Citei os exemplos acima porque eles estão lá nas páginas, editadas com uma atroz visão maniqueísta do mundo. Nossos alunos são doutrinados a crer que tudo que um fez é lindo e perfeito, e o que o outro deixou é miséria e destruição. Naturalmente isso não é verdade nem para um, nem para o outro, pois isso simplesmente não acontece em governo algum.

Por uma coincidência, a ação do MPF foi aberta na semana passada, no mesmo dia em que fiz aqui uma discussão sobre como o Brasil vive o absurdo paradoxo de conviver com um alto desemprego enquanto as empresas por aqui não conseguem preencher os seus melhores postos de trabalho, por falta de mão de obra qualificada. A responsável por essa triste realidade? A péssima qualidade de nossa educação.

Em outra coincidência, ontem terminou a consulta pública sobre a proposta para a Base Nacional Comum Curricular, diretrizes que determinarão tudo que as quase 200 mil escolas brasileiras deverão ensinar de agora em diante. O documento apresentado pelo MEC foi amplamente criticado por especialistas, por carregar todo seu conteúdo com um pesado viés ideológico, especialmente na disciplina de História, um verdadeiro desrespeito com os fatos que formaram o mundo, como também já discutimos aqui.

O que se pode esperar disso?

 

Coitada da democracia

Somos seres humanos e, como tal, somos movidos por paixões. Entre elas, uma das mais poderosas é a nossa inclinação política. Quando acreditamos em uma corrente, estamos piamente convictos de que ele é o melhor para todos. E, assim sendo, qualquer esforço vale para fazer mais pessoas pensarem da mesma forma.

Mas isso nunca foi verdade e nunca será! Não há regime, filosofia, proposta que seja a melhor para todos os cidadãos, simplesmente porque as pessoas são diferentes, têm desejos e crenças próprias. Dessa forma, tentar impor um pensamento eliminando ou difamando as alternativas é algo, no mínimo, tirano e egoísta.

Nossos líderes políticos adoram encher a boca e ficam com olhares cândidos ao afirmar que defendem a democracia. Mas, na prática, o que se vê, em todos os lados, é uma luta cada vez mais selvagem para eliminar seu opositor. Mas isso é justamente o contrário da democracia, que é, por definição (pelo menos nos termos atuais), a elaboração de uma nação melhor a partir de pontos de vista diferentes e até conflitantes, porém convivendo de maneira organizada e construtiva.

Não é fácil aceitar isso, mas alguns profissionais têm o dever de superar as suas paixões e lutar pela isenção no que fazem.

Aprendi isso, em teoria, na faculdade de Jornalismo, mas coloquei esse conceito à prova no dia a dia da profissão, inclusive vendo muito colegas falhando miseravelmente nessa tarefa. É verdade: a imprensa é imperfeita, mas ela é fundamental para o crescimento de um país. Porque, como jornalista, procuro ouvir todos os lados envolvidos em um fato, duvido sempre de tudo que vejo, e publico com a maior isenção possível, mesmo quando eu não concorde com o tema.

Educadores, autores de livros didáticos e paradidáticos, gestores pedagógicos e os responsáveis pelas políticas educacionais deveriam seguir também essas mesmas três regras de ouro. Mas, com honrosas exceções, não vejo o menor emprenho nisso. Salas de aula e órgãos educacionais vêm se tornando redutos de doutrinação política, e isso é algo que vem se aperfeiçoando ao longo de décadas!

Mas isso não pode continuar assim! Estamos vivendo um vale-tudo ideológico destrutivo, alimentado justamente pelo oportunismo de alguns e pela ignorância dos demais. Se continuarmos entregando nossas crianças e jovens a essa deseducação, eliminando uma visão pluralista e destruindo seu senso crítico, o crescimento do país e a própria democracia correm sérios riscos.


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A péssima educação brasileira deixa vagas abertas em um país cheio de desempregados

By | Educação | 7 Comments

Foto: ONU/Creative Commons

Na semana passada, foi divulgado o relatório “Analfabetismo no Mundo do Trabalho”, que aponta que só 8% dos brasileiros dominam o português e a matemática. Essa vergonhosa porcentagem explica o aparente paradoxo que vivemos, com um desemprego explosivo assolando o país, enquanto as empresas não conseguem preencher suas melhores vagas.

Evidentemente nada disso é fotografia de uma situação construída de uma hora para outra. O nível rasteiro da educação brasileira tem origem na época do Brasil Colônia, onde ela era virtualmente inexistente por aqui. Mesmo após a Independência, educação era coisa para homens e para ricos. No caso de universidade, implicava em conclusão de estudos na Europa.


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Evidentemente, nos últimos 200 anos, a educação se democratizou no Brasil. Homens e mulheres estudam –na verdade, as mulheres estudam, na média, até mais que os homens (7,3 anos delas contra 6,3 anos deles). Também temos pessoas de todas as classes sociais na escola e até na universidade, que agora também pode ser feita por aqui mesmo.

A situação está melhor que na época de Dom Pedro? Claro que sim! Mas também não precisa de quase nada para isso. A questão é: a educação brasileira é boa?

Claro que não!

Essa democratização se refere muito mais ao acesso às salas de aula que à qualidade. Temos poucas ilhas de excelência pedagógica cercadas por um mar de escolas que explicam os números acima. Isso foi brilhantemente captado no documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, de João Jardim (2005), que pode ser visto na íntegra abaixo (88 minutos):

 

 

Essa situação vem evidentemente do nosso histórico de pouco apreço pela educação e pelos professores. Se, na Coreia do Sul, apenas os melhores podem exercer esse ofício, por aqui vivemos um cenário em que uns pouco iluminados abraçam o sacerdócio pelo chamado irresistível da vocação, enquanto a maioria acaba sendo composta por profissionais que “não deram certo” nos ofícios que tinham escolhido originalmente.

Como resolver isso?

 

Correção lenta, mas necessária

Sejamos sinceros: falar mal da educação no Brasil é como chutar cachorro morto. Ano após ano, estudo após estudo, relatório após relatório, confirmamos esse conhecido flagelo nacional. E muito pouco vem sendo feito para corrigi-lo. É como se acalentássemos o algoz do futuro do Brasil.

Não há mágica para solucionar o problema, e nada dará resultados positivos rapidamente. E talvez aí resida o maior desafio para a melhoria, pois as políticas educacionais por aqui não são consistentes e não têm continuidade. Governos vêm e vão, e adoram trocar como e o que nossos estudantes devem aprender.

Aliás, estamos justamente em um desses “momentos incríveis”, no meio do debate em torno da Base Nacional Comum Curricular, que acaba daqui a seis dias, no dia 15 de março. Ele está acontecendo a partir da proposta organizada por educadores contratados pelo MEC para criar as diretrizes para todo o Ensino Fundamental e Médio do país de agora em diante. Entretanto seu conteúdo é carregado com um pesado viés político com potencial para tornar a educação brasileira irrelevante. A proposta é tão ruim, que foi criticada pelo ex-ministro da Educação, o professor de ética e filosofia Renato Janine Ribeiro, que perdeu o posto na reforma ministerial feita pela presidente Dilma Rousseff no dia 2 de outubro passado.

Esse é um ótimo exemplo do que NÃO deve ser feito. Não nos enganemos: toda política educacional tem viés ideológico do grupo dominante. Mas isso não pode ser mais importante que os conteúdos relevantes para a formação do cidadão ou que a forma de se educar. E certamente não pode ser mais importante que a valorização da figura do professor, tão maltratado na sua formação, quanto no exercício da profissão.

Falei há pouco da Coreia. Em 1950, ela chegou a ser considerada o país mais pobre do mundo, bem abaixo do Brasil da época. Entretanto, vejam a situação da Coreia do Sul hoje. Qual foi o “truque”? Investimento sério e pesado em educação, e com continuidade. Demorou “apenas” uns 40 anos para passar da miséria para a posição de uma das economias mais pujantes do mundo.

Em algum momento, temos que parar de reclamar e de brincar, e começar a consertar a situação por aqui, pois o processo durará, no mínimo, uma geração. Caso contrário, corremos o risco de caminhar com confiança de volta ao Brasil Colônia, com empresas cheias de vagas abertas e uma multidão de analfabetos funcionais desempregados incapazes de preenchê-las.


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A educação brasileira continua dando vexame, mas tem jeito

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O Brasil tem todos os recursos para mudar a situação vexatória de suas escolas, mas precisa levar a sério, sem demagogia, o ensino

O Brasil tem todos os recursos para mudar a situação vexatória de suas escolas, mas precisa levar a sério, sem demagogia, o ensino

Este post não traz nada de novo. Mas a notícia que o motivou tampouco traz. Mesmo assim, o assunto foi manchete do Estadão na última sexta (também apareceu na primeira página de outros jornais) e rendeu um editorial no dia seguinte. Como explicar essa aparente contradição?

A notícia é o resultado da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), que avalia o quanto as crianças aprenderam ao final do terceiro ano do Ensino Fundamental. Foi aplicada em 6.000 crianças de 250 escolas públicas e privadas das capitais brasileiras. O resultado: 44% delas não aprenderam o esperado em leitura, 46,6%, em escrita e 57% em matemática. Mais: escolas particulares ensinam melhor que as públicas, e as melhores escolas estão no Sudeste e no Sul.

Para não dizer que não há nada de novo na história, foi a primeira vez que foram divulgados resultados de um exame nacional de avaliação do primeiro ciclo do Ensino Fundamental 1. Mas eles estão infelizmente alinhados com os resultados medíocres de todas as outras avaliações nacionais e internacionais, que colocam os nossos alunos em um nível vergonhoso, atrás até mesmo de nossos vizinhos mais pobres. Somos capazes de superar apenas nações miseráveis da África (só as miseráveis).

É curioso que, apesar dessas estatísticas, as classes brasileiras mais abastadas (e mais bem educadas, portanto) se divertem dizendo que norte-americanos não sabem qual é a capital do Brasil ou mesmo questões históricas sobre o seu próprio país. Fazem sua chacota como se os EUA fossem habitados apenas por um bando de Hommer Simpsons. Do alto de sua “superioridade” social, esquecem de (ou não querem) olhar para o próprio quintal. Os mesmos americanos dão um show internacional quando o assunto é educação básica e, mesmo que eventualmente não saibam que Buenos Aires é a capital da Argentina, e não do Brasil, sabem ler e escrever com propriedade, e a matemática não lhes é uma ilustre desconhecida. Além disso, quando os seus filhos chegam à faculdade –na mesma idade dos nossos– encontram à sua disposição as melhores universidades do mundo. No Brasil, as instituições públicas estão sucateadas e atendem a interesses eleitoreiros e demagógicos, enquanto as privadas se transformaram em caça-níqueis despreocupados com a formação profissional ou a produção científica.

Qual a solução? Diante dessa pergunta crítica, ouvimos as mesmas obviedades recorrentes: professores mais bem preparados e remunerados, uma política educacional consistente, escolas com boa infraestrutura e por aí vai. Claro, tudo isso é necessário, mas não é suficiente. A verdade é que se pode fazer muito com pouco, desde que esse pouco seja bem aplicado. E isso não quer dizer apenas nos itens acima, mas fazendo isso com planejamento, selecionando-se os melhores para serem professores e fazendo isso com amor. Sim, pois, para usar mais um clichê, a educação é mesmo um sacerdócio.

Quem quiser entender um pouco mais sobre o que estou dizendo deve assistir ao documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, de João Jardim, lançado em 2007. Ele foi a diferentes escolas do Brasil, entrevistando alunos, professores e coordenadores. No filme, pode-se ver alunos apenas interessados em “furar a professora”, coordenadores promovendo alunos completamente incapazes apenas para se verem livres deles, e professores deliberadamente faltando ao trabalho, pois os alunos os mandam “tomar naquele lugar” em plena sala de aula.

Mas felizmente essa não é a única realidade do Brasil. Tenho filhos com um desempenho escolar surpreendente, apesar de estudarem em uma escola relativamente pequena e com recursos proporcionalmente reduzidos, se comparados aos das torres de marfim que as grandes escolas se tornaram. E, deixando meu lado pai-coruja de lado, em salas com poucos alunos, com professores preparados e dedicados, com uma coordenação pedagógica de qualidade, vejo ali o Construtivismo dando os frutos esperados, com os Parâmetros Curriculares Nacionais sendo aplicados com sucesso.

O Brasil tem todos os recursos para mudar essa situação vexatória de suas escolas, mesmo com os desvios da corrupção. Mas precisa levar a sério, sem demagogia, o ensino. Os PCN são bons: precisam ser apenas bem aplicados. O magistério não pode continuar sendo um “bico” ou a “última opção” para quem não conseguiu outra profissão. E –sim– formar, remunerar, valorizar e dar todas as condições de trabalho ao professor. Assim, a educação se retroalimentará com elementos positivos. As crianças e o país agradecerão.