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O que acontece quando as marcas nos transformam em máquinas de propaganda

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Foto: Marco Del Torchio/Creative Commons

Quem nunca ganhou alguma coisa e ficou tão feliz que quis compartilhar a alegria com quem estivesse a sua volta? Isso é perfeitamente saudável e faz pare da nossa natureza humana. Entretanto, se antes fazíamos isso apenas com nosso círculo próximo de amigos e familiares, agora, com as redes sociais, podemos contar nossa experiência ao mundo todo! Algumas marcas perceberam que isso embutia um incrível potencial para promover seus produtos e criaram um inteligente mecanismo para estimular as pessoas a fazer exatamente isso.  Fica a questão: estamos nos transformando em eficientes máquinas de propaganda?

Essa discussão veio à tona na aula do meu curso de extensão Comunicação Digital: Muito Além do Óbvio ontem. Debatíamos se quando um comunicador fala bem de um produto que ele tenha recebido, precisa informar que se trata de publicidade, nem que seja usando a hashtag #publi.

A primeira questão que surge disso é: se você fala bem de um produto, isso é necessariamente publicidade? Se você é um profissional de comunicação, como um jornalista, e uma marca lhe envia um produto com essa expectativa, a princípio a resposta seria “sim”, e seria de bom grado informar isso a seu público. Entretanto, essa é uma simplificação causada pelo momento em que vivemos, em que muitos jornalistas e influenciadores automaticamente promovem qualquer coisa que lhe enviam (o que me dá uma vergonha enorme).

E quem não é um profissional da área e resolve falar bem de algo que ganhou? Tem que informar a seu público que é uma propaganda?

É aí que o bicho pega.

 

O direito de gostar e de falar mal

Sou jornalista desde 1993. Comecei a minha carreira na Folha e passei por outras grandes empresas de comunicação, como Abril e Estadão. Se agora enfrentamos essa discussão ética, lá atrás esses veículos já tinham a coisa muito bem resolvida. A regra era simples: recebíamos produtos de todo tipo e valor para análise, mas não tínhamos nenhuma obrigação de falar bem daquilo. Aliás, tínhamos toda liberdade de falar mal do que não gostássemos. E, em muitos casos, nem sequer mencionávamos o produto. Se viajávamos a convite de uma empresa, informávamos isso, e passava a valer a regra acima.

Afinal a marca mandou o produto ou fez o convite porque quis, e sabia como a coisa funcionava. Ok, algumas não sabiam “brincar” e reclamavam se a coisa não saía exatamente como elas queriam, mas aí azar o delas.

Eventualmente gostávamos de verdade de algo que recebíamos, e aí a análise era francamente favorável. E isso não acontecia por qualquer tipo de favorecimento, e sim porque o produto era bom mesmo. E isso NÃO É propaganda, e sim uma análise isenta que chegou a essa conclusão. Logo, não precisa –e nem deve– ser indicada como publicidade.

De maneira geral, jornalistas, veículos, marcas e o público estavam alinhados com isso. Ninguém estava enganando ninguém. A coisa começou a azedar quando veículos e principalmente alguns influenciadores (especialmente na área de moda e maquiagem) começaram a se “vender” escandalosamente. De repente, tinha youtuber rasgando elogios por uma marca qualquer, só porque tinha recebido uma caixa de maquiagem.

Péssimo para elas mesmas, pois as pessoas não são trouxas, e isso acaba sendo um tiro na sua credibilidade. A porcaria é que isso criou uma nuvem negra sobre quaisquer promoções legítimas e isentas, e agora tudo é visto como propaganda.

Não é! Propaganda é quando se recebe para forçosamente falar bem. Se existe a possibilidade de falar mal ou simplesmente não falar do produto, isso é uma análise isenta.

 

Somos todos veículos

Esclarecido o lado dos profissionais de comunicação, vem a questão mais delicada: as redes sociais transformaram cada um de nós em pequenos veículos. Qualquer coisa que publicamos em qualquer rede tem potencial para atingir centenas, talvez milhares de pessoas! Então, se falarmos bem de um produto nas redes, isso é publicidade? E mais: temos que avisar nosso “público” que aquilo é propaganda?

Em um primeiro momento, a resposta é não! Quem não é comunicador não está sujeito aos códigos de ética dessas profissões. Se o indivíduo quiser falar bem (ou mal) de um produto, ele está dentro de seu direito de se expressar livremente. E fazer isso porque foi “estimulado” por um presente não muda nada.

Apesar disso, algumas coisas precisam ser avaliadas. Se o nosso direito de nos expressarmos livremente é inalienável, isso não pode comprometer outras coisas.

Em primeiro lugar, a primeira vítima pode ser a nossa própria reputação. Falar bem de algo não é um problema. Mas ficarmos “forçando a amizade” e fazer isso o tempo todo, especialmente se ficar evidente que estamos sendo estimulados de alguma forma, não dá.

É exatamente o que aconteceu com as youtubers de maquiagem citadas acima: elas haviam criado uma boa reputação pelas suas habilidades técnicas e de comunicação. Mas, no momento em que começaram a “carregar nas tintas” em favor de algumas marcas, tudo o que tinham construído foi por água abaixo.

Esse processo de desconstrução pode acontecer com qualquer um. Portanto, temos total liberdade de falarmos o que quisermos, inclusive falar bem de marcas. Mas devemos cuidar de nossa imagem para não cair no velho ditado “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.

Somos responsáveis pelas mensagens que publicamos, inclusive pelo que isso pode causar nos outros e a nós mesmos,

 

Abuso infantil

Mas há um ponto que é particularmente grave: o uso de crianças para promover produtos a outras crianças.

Assim como acontece com adultos, algumas crianças se tornam pequenas celebridades, especialmente no YouTube. Do alto de sua Primeira Infância, angariam centenas de milhares de seguidores, de maneira geral crianças como elas.

Muitas desses mini-influenciadores se tornaram vítimas de marcas, que lhes entregam semanalmente uma grande quantidade de brinquedos. A ideia é que esses pequenos gravem vídeos mostrando e comentando todos esses “presentes”. Por mais inocentes que sejam em suas ações, essa promoção é extremamente eficiente, pois se trata de uma criança mostrando brinquedos a outras crianças.


Vídeo relacionado (minha participação no JC Debate, sobre uso de YouTube por crianças, em 21 de outubro de 2016):


Algo que toda criança faz naturalmente a seus amiguinhos no pátio da escola ou em casa. Mas agora elas podem fazer isso em escala global!

Vale dizer que isso fere o Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe publicidade infantil. As marcas perceberam a possibilidade de burlar essa restrição justamente usando esses youtubers mirins. Mas essas empresas não são as únicas responsáveis por isso: talvez ainda mais complicada seja a situação dos pais dessas crianças, que não apenas permitem que seus filhos se prestem a isso, como ainda os “agenciam”, como uma excelente fonte de renda.

 

O papel de cada um

No final das contas, o poder está nas mãos de cada um de nós.

Esse é um terreno ainda pantanoso, com muitos pontos ainda obscuros e abertos ao debate. Como se pode ver, existem itens conflitantes, envolvendo até mesmo liberdade e ética. E isso não se aplica de maneira uniforme a todos.

O que é importante é que nos apropriemos do que essas plataformas nos oferecem, seja como produtores de conteúdo, seja como consumidores, papeis que todos nós temos atualmente. E principalmente temos que ter consciência para que não sejamos feitos de bobos por ninguém.

Em outras palavras, liberdade com ética e sem bobeira!


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Por que (e COMO) temos que aparecer bem nas redes sociais

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Obama brinca com seu cachorro Bo, quando ainda era presidente dos EUA: trabalho nas redes para se aproximar do cidadão comum - Foto: divulgação

Obama brinca com seu cachorro Bo, quando ainda era presidente dos EUA: trabalho nas redes para se aproximar do cidadão comum

Você já ouviu o ditado que afirma que “quem não é visto não é lembrado”? Em tempos em que nunca nos desconectamos totalmente das redes sociais, essa afirmação ganhou uma nova dimensão de verdade. Qualquer que seja a sua profissão, qualquer que seja o seu negócio, aparecermos bem no LinkedIn, no Facebook, no Instagram e afins pode ser determinante para o nosso sucesso. É uma enorme obviedade dizer isso a essa altura do campeonato, mas o fato é que pouca gente verdadeiramente ganha com essa exposição. Por que uns têm sucesso e outros não? Existem limites para isso?

Claro que sim! E nada é por acaso: colher frutos da presença nas redes sociais exige técnica e autoconhecimento.

Nessa semana, estava com uma mentoranda minha e ela me contou que suas clientes estão lhe parabenizando pela grande quantidade de trabalhos que está realizando. Que ótimo! Mas ela me confidenciou que continua fazendo exatamente o mesmo trabalho, da mesma forma e na mesma quantidade que já faz há bastante tempo.

A diferença é que agora ela está contando isso nas redes sociais.

É importante dizer que ela não está exagerando na sua promoção, não está “carregando nas tintas” e definitivamente não está mentindo. Ela está apenas contando eficientemente a seu público o bom trabalho que já vinha realizando. Mas isso foi suficiente para alterar a percepção que suas clientes têm do que ela faz. E isso lhe rende dividendos.

O interessante é que isso vale tanto para um pequeno negócio, como o dela, quanto para megacorporações e profissionais de grande destaque. Um bom exemplo é o atual morador da avenida Pennsylvania, 1.600, em Washington DC: Donald Trump, o homem mais poderoso do mundo, usa fortemente o Twitter para se posicionar publicamente. É verdade que, graças a seu caráter intempestivo, muitos de seus tweets deixam seus assessores de cabelo em pé. Mesmo assim, gostemos dele ou não, é inegável que ele sabe se apropriar do meio digital para deixar claro o que pensa.

Seu antecessor no cargo não usava essas plataformas tão intensamente, mas trabalhava muito bem sua imagem nas redes sociais. Barack Obama usava habilmente esses recursos para se aproximar do cidadão comum, quase como se fosse um deles. Eram recorrentes fotos em que aparecia fazendo atividades de uma “pessoa normal”, como brincar com o cachorro (como a que esse vê acima) ou fazer um churrasco. Sua esposa, Michelle, também se envolvia bastante na empreitada.

Obama é um cidadão comum? Claro que não! Nem mesmo agora, que já deixou o cargo. Mas até ele precisa cuidar de sua imagem para seus objetivos profissionais, e essa presença na rede é fundamental para isso. Vale lembrar que uma grande quantidade de fundos para suas duas campanhas presidenciais vitoriosas veio justamente do uso hábil das redes sociais.

Cabe aí uma pergunta: a exposição nas redes sociais pode distorcer a realidade?

 

As duas taças de vinho do solitário

 

Na aula da professora Pollyana Ferrari, no mestrado do programa de Tecnologia da Inteligência e Design Digital, na PUC-SP, aparece recorrentemente uma imagem que todo mundo aqui já deve ter visto em alguma das suas incontáveis versões: uma foto de duas taças de vinho diante de um lindo cenário.

Love is in the air!” A ironia é que, apesar da cena romântica divulgada, em muitas vezes quem publicou a foto é uma pessoa sozinha. Mas o fato de a foto estar ali debaixo do seu nome pode fazer muita gente acreditar que está no auge de um belo relacionamento.

Sem entrar no mérito de por que alguém faz uma coisa dessas, o fato é que, sim, a realidade pode ser literalmente distorcida nos meios digitais, para todo tipo de ganho. E tem muita gente fazendo isso agora mesmo, inclusive pessoas com quem você pode se relacionar aqui.

Não faça isso!

Valendo-me de outro ditado, “a mentira tem pernas curtas”. Mesmo enganadores habilidosos acabam escorregando em algum momento. E aí, toda aquela reputação que vinha sendo criada e garantindo contratos vai por água abaixo. Pior: em alguns casos, as vítimas podem até mesmo exigir seus direitos na Justiça.

Há ainda um agravante: as redes sociais são um incrível amplificador, para o bem ou para o mal. Um uso consciente e ético pode alavancar qualquer carreira ou negócio, mas uma fraude pode transformar uma estrela em poeira. No meio online, tudo acontece em escala superlativa e em tempos minúsculos.

Portanto, só publique sua foto com duas taças de vinho se alguém estiver com você.

 

“Tá se achando?”

Em palestras, aulas e mentorias, vira e mexe uma pergunta me é feita: “mas, se eu ficar falando de mim mesmo, as pessoas não vão dizer que eu ‘estou me achando’?”

Claro que não! Desde que você faça isso direito.

Nada mais chato que um sujeito que fica o tempo todo dizendo apenas como ele é incrível, como transforma em ouro tudo que toca, como faz brilhar a vida de todos que conhece: o sujeito é praticamente um santo!

Vai por mim: isso não existe!

Publicações demasiadamente egocêntricas podem até convencer em um primeiro momento, mas logo acabam caindo em descrédito. Ou -pior- viram motivo de chacota, junto com seu autor.

A dica de ouro é: fale somente a verdade! Não fique inventando coisas que não é ou não faz, nem “doure a pílula”. A melhor maneira de se construir uma reputação duradoura é usar, como suas fundações, fatos e méritos verdadeiros. Eles são inabaláveis.

Mas, por outro lado, não seja demasiadamente humilde. Muita gente -talvez a maioria das pessoas- tem vergonha ou receio de contar aos outros o que tem de bom. É exatamente o contrário do exemplo logo acima! O problema, nesse caso, é que, se você não contar o que você tem a oferecer, ninguém saberá disso. E daí, como esperar que alguém o contrate por essa habilidade?

Também “não force a amizade”. Por mais que se esteja dizendo apenas a verdade, não precisa ficar falando isso o tempo todo aos quatro ventos: dose a sua exposição a um volume razoável! Tampouco faça isso sempre do mesmo jeito: sempre dá para encontrar um jeito novo e diferente de apresentar o que faz, para não ficar repetitivo e, consequentemente, cansativo.

Uma boa presença nas redes sociais também trabalha com os valores que cada um de nós carrega dentro de si, e que nos define. Qual desses valores podem ser oferecidos ao seu público? Entre os meus, por exemplo, está compartilhar conhecimento, o que faço em artigos como esse, em palestras, em cursos, em mentorias. É algo em que acredito, que me deixa feliz e que efetivamente ajuda pessoas e empresas.  Por isso, é um tema recorrente na minha presença digital.

Quais são os seus valores que podem indicar algo que possa oferecer a seu público? Pense nisso, mas seja consistente: não adianta pregar algo, mas suas ações não condizerem com aquilo.

Por fim, ofereça algo às pessoas. Todos nós podemos contribuir com o próximo, nem que seja com as pessoas ao nosso redor. E as redes sociais são uma ótima ferramenta para ampliar ainda mais o alcance disso. Longe de ser uma ferramenta de marketing vazia, isso traz grandes ganhos a todos, inclusive para quem está oferecendo, com inestimáveis ganhos até para a alma.

Portanto, pare e pense: a sua presença nas redes sociais está adequada?

Seja sincero sempre e cuidado com o ego. Diga o que faz e ofereça de coração algo às pessoas. Seja acessível e também disponível. São atitudes simples, mas que demonstrarão o seu caráter. E, se fizer isso direitinho, você colherá bons frutos, e ninguém dirá que “esse aí se acha!”


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É incrível, mas tem gente que ainda não sabe usar o LinkedIn

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“Quem não comunica se trumbica!” A célebre frase de Chacrinha define um bom uso do LinkedIn - Foto: divulgação

“Quem não comunica se trumbica!” A célebre frase de Chacrinha define um bom uso do LinkedIn

Você já pensou seriamente sobre o que você faz no LinkedIn? Mais que recursos exclusivos entre as redes sociais, a maior plataforma de caráter profissional do mundo oferece conteúdo de qualidade e um ambiente ótimo para se construir uma boa reputação profissional, até mesmo sem investir um centavo, resultando em empregos e negócios! Então responda honestamente a você mesmo: está tirando o máximo proveito que essa ferramenta lhe oferece?

Não é segredo que o LinkedIn ocupa um espaço importante em minha vida. Posso afirmar categoricamente que o tempo investido na rede tem se revertido em muitos contatos interessantíssimos e consequentes trabalhos. Não estou sozinho nisso: afinal são 31 milhões de usuários no Brasil! Mas eu fico impressionado ao notar que a imensa maioria dessas pessoas faz um uso limitadíssimo da rede. E também me questiono por que o Facebook tem 130 milhões de usuários no país e o LinkedIn tem “apenas” um quarto disso.

De forma alguma estou desmerecendo a rede do Mark Zuckerberg: também a uso intensamente. Mas é inegável que os propósitos das pessoas nas duas redes são diferentes, por mais que tenha ouvido, cada vez mais, que o LinkedIn esteja sendo “facebookado”, tese depreciativa que rejeito. No LinkedIn, os usuários têm um foco em aprender e compartilhar assuntos profissional ou socialmente relevantes, criar vínculos profissionais, promover produtos sem necessariamente investir em publicidade. Essa é a sua grande força, desperdiçada e até mesmo desconhecida pela massa de usuários.

Não me refiro às várias técnicas para criar um bom perfil, conhecer pessoas interessantes e ser visto por elas: elas existem mesmo e são muito úteis, até mesmo essenciais! Mas isso é apenas o começo da sua presença na rede. Limitar-se a buscar um bom perfil é como construir uma casa com uma fundação incrível, mas colocar nela as paredes.

 

Quem tem boca vai a Roma

O erro mais comum que observo é o de as pessoas acharem que o LinkedIn é um “site de currículos”, que serve apenas para procurar emprego. Acredito que esse seja um dos principais motivos para tanta gente boa não participar dele: afinal não estão procurando emprego.

Bem… o LinkedIn não é só isso!

Talvez em sua gênese, fosse. E é verdade que os dois empregos mais bem remunerados que já tive vieram dele. Mas tudo isso foi antes do “novo LinkedIn”, aquele que permitiu publicarmos conteúdo e elevaram os níveis de relacionamento qualificado a um patamar inédito.

Portanto, aqui vai uma grande dica, construída sobre aquelas obviedades da vida que todo mundo sabe, mas poucos praticam: rede social serve para sociabilizar!

Ridículo dizer isso? Nem tanto! A maioria dos usuários cria (bem ou mal) o seu perfil e nunca mais aparece ali. Não lê ou curte o que as pessoas estão publicando, não fala com ninguém, não recomenda seus amigos em seus perfis.

Sabe o que essa pessoa ganha com sua (falta de) participação no LinkedIn? NADA!

O motivo é muito simples. Quando não se tem nenhuma atividade na rede, a “relevância” do perfil para os algoritmos do LinkedIn desaba. Falando em português, sem atividade na plataforma, quando alguém procurar por um profissional com seu perfil, ele até será selecionado, mas ficará tão embaixo na relação de candidatos criada pelo sistema, que será a mesma coisa que não estar lá.

Então, se você já não faz isso, comece a desenvolver o saudável hábito de dar uma passadinha no LinkedIn todos os dias, ver o que as pessoas estão publicando ou comentando, participar das conversas, curtir o que acha que vale a pena, e ser generoso com seus contatos.

Afinal, já dizia o Chacrinha: “quem não comunica se trumbica!”

 

Mostre a que veio ao mundo

Mas o grande diferencial para criar uma boa reputação no LinkedIn e ficar sempre em evidência depende de seu altruísmo.

Isso mesmo! Poucas coisas são tão poderosas quanto participar da rede compartilhando o que você sabe, dando opiniões (embasadas) sobre publicações dos outros, conversando com as pessoas sobre esses temas e ajudando-as da melhor maneira possível.

A verdade é que a maioria das pessoas quer consumir algo (ou muito) na rede, mas poucos são aqueles que estão dispostos a oferecer algo em troca. E não estou dizendo aqui que é necessário ficar horas todos os dias no LinkedIn: claro que não! Mas todos os dias ficamos sabendo ou pensamos em algo que poderia ser útil a outras pessoas. Por que guardar tudo para si?

Compartilhe! Pode ser artigos, um material bem trabalhado, feito com pesquisa e mais longo, ou comentários rápidos a partir de algo que ficou sabendo. Os dois são importantes para construir uma boa reputação na rede, por diferentes motivos.

Os artigos têm vários pontos positivos. O primeiro deles é que você tem liberdade para desenvolver sua tese plenamente: não há restrição de espaço ou de uso de recursos multimídia, como vídeos, áudios e imagens. Além disso, eles ficam permanentemente associados aos nossos perfis no LinkedIn, sendo facilmente resgatados. Por conta de tudo isso, eles normalmente têm excelente engajamento (curtidas comentários, compartilhamentos). Mas a sua audiência é normalmente baixa, inclusive porque os algoritmos do LinkedIn diminuíram imensamente as suas ocorrências nos feeds de notícias dos usuários. Mesmo assim, os artigos são a melhor ferramenta para fundamentar a sua autoridade no seu campo de atuação.

Já as atualizações (ou posts) são o contraponto perfeito. Graças ao algoritmo de relevância, eles costumam ter uma audiência bastante grande, apesar de apresentarem engajamento proporcionalmente baixo. Além disso, são como estrelas cadentes: brilhantes, porém fugazes. Se os outros usuários os virem no dia em que foram publicados, ótimo! Caso contrário, provavelmente nunca mais terão essa chance. Portanto, as atualizações são ótimas para manter você em evidência na rede.

Dessa forma, o ideal é publicar artigos de vez em quando e atualizações frequentemente. Essa é a melhor combinação de qualidade com evidência!

Claro que ainda há a questão de o que e como escrever os artigos e as atualizações. Mas nem mesmo esse artigo seria suficiente para explicar. Fica para uma conversa comigo pessoalmente. É só marcar!

Com tudo isso, o LinkedIn é certamente a melhor ferramenta para você atingir seus objetivos profissionais e até pessoais. Pode ser seguramente a sua melhor mídia (e você nem precisa pagar por ela). Mas não existe almoço grátis: é necessário um perfil bem construído, relacionamento com as pessoas e produção de conteúdo.

Parece muito trabalhoso, parece demasiadamente difícil. Você pode até achar que não é para você. Mas acredite: é como aprender a andar de bicicleta! Todos podem fazer isso e, quando se aprende (e não demora), a coisa fica bem prazerosa. E recompensadora! O que está esperando?


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Quanto vale a palavra de um influenciador digital?

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Cena do vídeo “Influenciadora”, do Porta dos Fundos - imagem: reprodução

Cena do vídeo “Influenciadora”, do Porta dos Fundos

Resposta rápida à pergunta do título: vale muito! Mas, se você estiver pensando em usar um deles para uma campanha publicitária, muita calma nessa hora: é preciso separar o joio do trigo. Milhões de seguidores não significam necessariamente um discurso que possa emprestar credibilidade a sua marca. Mas, se bem usado, é um recurso que pode trazer ótimos resultados. Então como saber se vale a pena contratar um influenciador digital?

Essa discussão surgiu a partir do vídeo Influenciadora, lançado no dia 22 de maio, e que pode ser visto abaixo. Várias pessoas me enviaram o tal vídeo, perguntando o que eu achava daquilo. Nele, o grupo Porta dos Fundos ironiza dois tipos de influenciadores digitais: aqueles que, apesar de ter milhões de fãs, aparentemente não tem nada de útil a dizer, e os que se dedicam a produzir conteúdo apenas para promover escancaradamente produtos de empresas que os contratam.

Pode parecer bizarro, e o Porta dos Fundos naturalmente carrega um pouco nas tintas para reforçar o aspecto humorístico do vídeo, mas a Internet está cheia de exemplos reais disso. Mas não foi sempre assim.

A certa altura, o vídeo menciona que a tal celebridade promove todos os presentes que ganha de empresas, destacando maquiagens. Isso não foi por acaso: uma das primeiras categorias de influenciador que surfou nessa onda foi justamente as youtubers maquiadoras. A primeira geração delas construiu sua reputação com vídeos que ensinavam boas técnicas do assunto.

As marcas de cosméticos identificaram ali uma incrível oportunidade: se essas youtubers construíram credibilidade sobre o tema junto a um enorme público que consome esses produtos, por que não pagar a elas para fazer seus programas usando (e elogiando) produtos do patrocinador?

Essas parcerias começaram a dar certo! Tão certo que abriram a porta para uma segunda, uma terceira geração de youtubers que não estavam assim tão preocupados com a qualidade do seu material: a ideia era só criar um canal para despejar uma propaganda escandalosa sobre a base de fãs. Às favas com a seriedade e questões éticas!

Desnecessário dizer que isso corroeu a credibilidade do modelo, pois os próprios seguidores começaram a perceber que eles estavam sendo enrolados. Mesmo assim, muitas marcas continuam insistindo no formato.

Mas como esses influenciadores conseguem essa legião de fãs, se “não têm nada útil a dizer”?

 

É tudo identificação

Para entender esse fenômeno, precisamos nos despir de alguns preconceitos e aceitar que algo que consideramos a mais bela porcaria pode ser bastante relevante para outras pessoas.

Ninguém chega a milhões de fãs por acaso: alguma coisa certa esses megainfluenciadores fizeram. E, de uma maneira geral, todos eles se destacam em um ponto: eles conhecem muito bem seu público. Eles sabem quem são essas pessoas, do que elas gostam, como elas falam, sobre o que estão querendo saber, onde estão. Além disso, usam muito bem os recursos do meio digital para se promover.

Isso explica o surgimento dos youtubers teens e mirins, inclusive fenômenos como Kéfera ou Christian Figueiredo. Possivelmente você ache o que eles falam uma perda de tempo. Talvez você reprove a linguagem que eles usam. Se duvidar, você nunca ouviu falar deles! Sem problemas: você não é seu “target”. Mas seus milhões de fãs pensam de outra forma. Pois essas pessoas se identificam com esses ídolos digitais. E, por isso, tudo o que eles dizem faz um enorme sentido!

Mas há também youtubers teens que se preocupam genuinamente em produzir conteúdo de qualidade. A sua maneira, claro. O vídeo abaixo, do youtuber Cauê Moura, traz uma curiosa crítica aos influenciadores com discurso “vazio”. Ele explica a escalada histórica desse tipo de ídolo e termina o vídeo conclamando seus “colegas youtubers” a produzir conteúdo de qualidade. Alerta: se você não gosta de palavrões, não veja esse vídeo!

Recentemente assisti a um vídeo (abaixo) de Felipe Castanhari que era um belo exemplo de conteúdo relevante para seu público. Ele explicou nada menos que o conflito na Síria de uma maneira que qualquer adolescente é capaz de entender, melhor que qualquer veículo de comunicação ou livro.

Como se pode ver, existe de tudo nesse mundo, e não seria diferente com os youtubers. Portanto, se você quiser fazer uma campanha com um influenciador, vale a pena avaliar, primeiramente, se ele é capaz de produzir um conteúdo de qualidade, e se esse conteúdo (incluindo sua linguagem) combina com o produto a ser promovido.

Mas existem outros cuidados a serem tomados.

 

O valor de uma reputação

Infelizmente as marcas usam muito mal os influenciadores digitais. Na maioria dos casos, eles contratam o sujeito para emprestar seu rosto e a sua base de fãs para uma campanha pontual. E é fácil de se entender esse comportamento, pois a publicidade sempre usou pessoas famosas, especialmente astros da TV, para vender qualquer coisa, inclusive produtos que eles jamais usariam.

Mas influenciadores digitais são diferentes: eles são o seu próprio veículo! A sua base de seguidores vai com eles a todo lugar, não se restringindo a um meio.

Além disso, um bom influenciador digital normalmente construiu uma reputação em torno de algum tema, que pode ir desde mecânica aeroespacial até comportamento adolescente. E nisso reside o grande potencial de campanhas com eles.

Uma campanha publicitária é tão melhor quanto mais eficientemente sua ideia é “plantada” no público. E a melhor maneira de se fazer isso é disseminá-la de maneira consistente, subliminar e por um longo período de tempo. Nessa hora, os bons influenciadores se destacam, pois, por terem uma grande reputação junto a seu público, podem realizar esse trabalho com maestria!

Claro que isso só dará certo se houver um alinhamento entre o produto a ser promovido e o próprio influenciador digital. Se você quer vender material cirúrgico de alta precisão, um youtuber teen não poderá lhe ajudar muito. Da mesma forma, se o produto for para consumo de adolescentes, não adiante fazer a campanha com um influenciador acostumado a falar sobre mercado financeiro.

O motivo é simples: se eles fizessem isso, essa mudança de discurso abalaria a sua credibilidade, justamente o que eles têm de mais valioso. Seu público perceberia que aquilo se trataria de conteúdo pago, e não apenas desconfiaria da mensagem, como ainda poderia abandonar sua base de fãs.

O mesmo acontece quando a promoção do produto é muito escandalosa, o que nos leva de volta às youtubers maquiadoras satirizadas pelo Portas dos Fundos. Vão com tanta sede ao pote, que sua credibilidade escorre pelo ralo.

 

Vídeo relacionado:

Por isso, em muitos casos, influenciadores “menores”, com milhares de seguidores ao invés de milhões, são mais eficientes que as grandes celebridades digitais para promover algo com essa eficiência máxima. Pois eles são mais focados nos seus valores e estão mais próximos de seu público.

Então, respondendo a pergunta do primeiro parágrafo: sim, vale muito a pena contratar um influenciador digital para promover qualquer tipo de coisa. Desde que isso seja feito de maneira criteriosa, com inteligência. Reduzi-lo a um mero garoto-propaganda não apenas reduz a efetividade da iniciativa, como pode até queimar a imagem do produto.


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Como o Facebook ficou “maior” que a Internet e como isso afeta você

By | Educação, Jornalismo, Tecnologia | 4 Comments

Foto: Philippe Put/Visualhunt.com/Creative Commons

Não é novidade dizer que o Facebook é a maior rede social do mundo, com mais de 1,5 bilhão de usuários. Para muita gente, ele é maior que a própria Internet! Mas esse erro de análise não é inócuo: ele está causando impactos decisivos na vida de todos nós, e pouca gente parece perceber isso.


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Hoje pouco mais de 20% da população mundial acessa a rede de Mark Zuckerberg pelo menos uma vez por mês. Mas estudos feitos em países em desenvolvimento pela LIRNEasia e pela Geopoll indicam algo bizarro: pessoas estão afirmando que usam o Facebook mas NÃO usam a Internet, ignorando o fato de que o primeiro roda sobre a segunda, seja na Web, seja em um app no smartphone.

Até seria legítimo pensar que usuários do aplicativo do Facebook, por não precisarem de um navegador Web, vejam aquilo como algo apartado da Internet. Mas o fato é que, mesmo em países desenvolvidos, para muitos usuários, o Facebook parece ser tudo o que eles precisam de conteúdo online.

Bom, e daí? Como isso pode afetar você ou eu?

Acontece que isso é apenas um reflexo de como o Facebook se tornou um elemento central em nossas vidas. Ele é a página inicial do navegador de muita gente e é acessado nos smartphones onde estiverem, a qualquer momento. Aliás, é a coisa mais acessada no geral.

Entram em cena os algoritmos de relevância no feed de notícias.

Nem todo mundo sabe que o Facebook não mostra na página de abertura de cada usuário tudo que seus amigos e páginas que segue publicaram no dia: isso nem seria possível, dado o enorme volume de conteúdo. O sistema então seleciona aquilo que ele considera relevante para mostrar a cada um de nós.

E aí é que mora o perigo.

 

Dono da “verdade”

A escolha do que é exibido a cada usuário é um dos segredos mais bem guardados do Facebook. Claro que coisas como ser amigo de alguém e se relacionar bem com essa pessoa (coisas como clicar, curtir, comentar e compartilhar o que ela publica) têm enorme peso nessa decisão. Mas não é tudo: há um “molho secreto” temperando as zilhões de combinações possíveis.

O problema é que isso pode ser manipulado. E a própria empresa já admitiu ter feito isso pelo menos uma vez.

Em 2012, o pesquisador do Facebook Adam Kramer e sua equipe realizaram um estudo, demonstrando que é possível “transferir estados emocionais” a pessoas simplesmente manipulando o que elas veem online. Por análise semântica, os feeds de 689.003 usuários (1 a cada 2.500 na época) foram manipulados pelo sistema por uma semana. Metade deles ficou sem receber posts negativos; a outra metade não viu nada positivo.

O resultado foi assustador: análises automatizadas comprovaram que pessoas expostas a posts neutros ou positivos tendiam a fazer posts mais positivos, enquanto as expostas a posts neutros ou negativos tendiam a fazer posts mais negativos!

Ou seja, Kramer atuou decisivamente no humor de quase 700 mil pessoas deliberadamente manipulando seus feeds de notícias. O paper foi publicado na prestigiosa “Proceedings of the National Academy of Sciences of USA”. A despeito do resultado impressionante, ele admitiu que fez a pesquisa sem pedir autorização prévia das “cobaias”, o que é antiético. Na época, isso provocou uma enorme gritaria. O Facebook foi obrigado a vir a público pedir desculpas: “não queríamos magoar ninguém”, disse a porta-voz.

Mas eles quiseram, sim! Bom, pelo menos com metade da amostra.

 

O mundo inteiro cabe aqui

Apesar daquele deslize ético pontual, quero crer que os algoritmos do Facebook trabalham para realmente identificar conteúdos que sejam relevantes para cada um dos seus usuários. Isso porque o sucesso da empresa depende de as pessoas usarem mais e mais os seus produtos, e isso só acontecerá se eles se demonstrarem úteis a elas.

Assim, o Facebook precisa, de alguma forma, demonstrar comprometimento com os interesses das pessoas. O que não quer dizer que tenha que fazer o mesmo com as marcas que utilizam a plataforma para promover seus produtos e serviços.

O sucesso dessa empreitada pode ser medida por outro comportamento dos usuários: cada vez mais, eles consomem todo tipo de conteúdo dentro do próprio Facebook. A plataforma se transformou em uma gigantesca banca que promove de tudo. Ou seja, as pessoas começam a ver um mundo filtrado pelo algoritmo do feed de notícias.

É verdade que, desde sempre, nós vemos notícias filtradas. Antes dos algoritmos, esse trabalho era feito pelos jornalistas dos grandes veículos de comunicação. A vantagem é que, por essa curadoria ser feito por pessoas, ela evita destacar alguma grande barbaridade. A desvantagem é que todos recebem o mesmo “recorte” do mundo, independentemente de seus interesses pessoais. Os consumidores é que têm que se adequar à linha editorial dos veículos que escolherem.

Com todo o conteúdo sendo consumido “dentro” do Facebook –e isso é reforçado pelos “artigos instantâneos” e pelo comportamento de carregar páginas de qualquer fonte encapsulado no seu próprio aplicativo nos smartphones– quanto faltará para as pessoas deixarem de dizer, por exemplo, “vi na Folha” para começar a dizer “vi no Facebook”, mesmo para conteúdo da própria Folha?

Não cabe aqui apontar o dedo para o Facebook: ele está colhendo os resultados de seu trabalho bem feito. Não há dúvida que isso é ruim para os produtores de conteúdo, que veem suas marcas perdendo força. Mas eles estão exatamente na posição em que se puseram, por não conseguir se adaptar à nova realidade de seus públicos. Não lhes resta muito a fazer agora além de dançar as músicas do Facebook, do Google e da Apple, com suas plataformas de publicação hiperpopulares.

Fica a dúvida se isso é bom ou ruim para cada um de nós, usuários. Se os algoritmos forem “bonzinhos”, sorte nossa! Entretanto, ser capaz de se informar por fontes distintas e aprender a interpretar criticamente o que se consome deveria ser uma das competências mais importantes a ser ensinadas nas escolas, para a formação de um cidadão consciente. Pois é assustador imaginar uma empresa ditando o que 1,5 bilhão de pessoas devem ver, e todas elas consumindo isso cegamente.


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