Pueri Domus

Tablet vazio não para de pé

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No dia 1º de setembro, o ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou que despejará “centenas de milhares” de tablets nas escolas públicas já no ano que vem. A propaganda ficou ainda mais bonita por ter sido feita em plena Bienal do Livro e arrematado com a exigência de que os equipamentos tenham altas “taxas de nacionalização”. Só não respondeu à pergunta essencial: para que?

Sou um grande defensor do uso da tecnologia na educação. Mas não concordo com entregar equipamentos sem o menor planejamento pedagógico ou treinamento de todos os envolvidos, como parece ser o caso. O discurso político de Haddad rendeu boas manchetes, mas é tão vazio quanto os tablets que ele propõe colocar nas escolas.

Claro que todo mundo quer ter um tablet hoje em dia. Desde que Steve Jobs popularizou o conceito com o primeiro iPad, esses equipamentos se tornaram objeto de desejo. Mas será que eles são o melhor equipamento para a educação? A mobilidade e a interface são realmente muito bem-vindas, mas a mesma interface pode ser um problema. Há pouco software que seja realmente desenvolvido para ela, e a simples execução ali do que existe para computadores “convencionais” nem sempre traz bons resultados em tablets. Por isso, os R$ 70 milhões que o MEC afirma ter investido no ano passado na produção de conteúdos digitais podem não servir muito.

Colégios A+ de São Paulo já estão tateando os tablets em sala de aula, sem trocadilhos. É o caso do Dante Alighieri e do Pueri Domus. Mas, nos dois casos, as escolas corretamente começaram o trabalho na coordenação pedagógica, com foco no uso do equipamento e no treinamento dos professores.

Que dizer de escolas públicas, que têm laboratórios de informática montados há anos, e até hoje não os utilizam? Por que isso acontece? Além de motivos bizarros, como diretores que os mantém fechados com medo que os alunos quebrem os equipamentos (!!!), o principal são professores que não conseguem colocar aquela “coisa” dentro de sua aula. Não se trata de não dominar o equipamento (o que de fato é outra enorme barreira para boa parte dos professores), mas sim como transformar aqueles programas, a Internet e recursos multimídia em parte de seu planejamento de aula.

Portanto, esse discurso de Haddad chega a ser um deboche do uso de tecnologias no ensino público. Como acreditar nisso? E não é a primeira vez que ouvimos promessas desse tipo. O governo anterior, de Lula, havia prometido a compra de 50 milhões de notebooks educacionais, para o projeto UCA (Um Computador por Aluno), mas isso nunca se concretizou. Nem mesmo o primeiro “mísero” lote de 150 mil equipamentos conseguiu sair da fase de licitação.

Então a informatização de ponta nunca chegará às escolas públicas? Claro que sim! É só falar (muito) menos e agir (um pouco) mais.

Os perigos do marketing dentro da sala de aula

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Professores têm influência grande demais sobre as crianças para que sejam usados na promoção de produtos, ainda mais dentro da sala de aula

Professores têm influência grande demais sobre as crianças para que sejam usados na promoção de produtos, ainda mais dentro da sala de aula

A Folha de S.Paulo de hoje abre o caderno Cotidiano com uma reportagem sobre a transformação de professores em garotos-propaganda. A prática vem acontecendo nas escolas das redes COC e Dom Bosco, ambas do SEB (Sistema Educacional Brasileiro), que juntos têm mais de 4.800 professores. Os mestres vestem camisetas com logotipos de patrocinadores, promovendo seus produtos na porta de vestibulares e –bem pior– distribuem brindes e amostra-grátis dentro da sala de aula. Em alguns casos, a promoção vem acompanhada de “atividades pedagógicas”.

Não vou nem entrar no mérito da desmoralização da figura profissional do professor. Na matéria da Folha, o sindicato da categoria já deixou clara a sua posição contrária à iniciativa. Vou me ater ao que isso representa na formação das crianças. Professores têm uma enorme influência sobre seus alunos, especialmente os menores. Em assuntos discutidos na sala de aula, a posição do mestre chega a ter mais credibilidade que a dos próprios pais. Dá então para imaginar o “estrago” feito nas cabecinhas por promoções feitas pelos “donos do conhecimento” em pessoa.

É um escárnio com a educação! No Brasil, ela já tem um nível desprezível, mesmo nas escolas de elite. Onde isso vai parar? Se vale tudo até na sala de aula, qual o problema de o presidente do Senado fazer o que bem entender?

Em tempo, o Valor Econômico publicou hoje que o SEB pagou R$ 41 milhões por cinco das sete unidades do grupo Pueri Domus (as outras duas continuam sob administração da família Zocchio). Em comunicado distribuído aos pais, a escola garante que nada mudará, nem mesmo na filosofia de ensino ou no material didático. Não falaram nada de brindes nas salas.