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Por que os jornais não aprendem logo com Star Wars?

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Amanhã estreia no Brasil “O Despertar da Força”, o filme mais aguardado do ano. O sétimo episódio de Star Wars deve movimentar multidões que lotarão as salas de cinema por semanas! Enquanto isso, a mídia impressa continua minguando, abraçada ao argumento de que as pessoas não mais pagam por conteúdo. Nada mais falso e descolado da realidade!

Qual é a diferença essencial entre a saga dos Skywalker e a mídia tradicional, do ponto de vista de negócios? A resposta é simples: a última esqueceu como produzir um produto pelo qual as pessoas estejam dispostas a pagar. Já a história criada por George Lucas continua encantando o mundo.

Não passa de chororô de mau perdedor, então, essa desculpa de que os jornais e as revistas estão morrendo, um após o outro, porque os leitores não querem mais pagar por um conteúdo “de alto valor agregado”. É exatamente o contrário disso! Nunca se pagou tanto por conteúdo! Só para ficar no exemplo do cinema, basta ir às salas IMAX, que estão entre as mais caras da cidade, e comprovar que suas sessões estão sempre cheias. E, pelo que sei, aquelas pessoas não entraram ali de graça.

O problema da mídia tradicional é que as pessoas não querem pagar pelo SEU conteúdo. E isso acontece porque, de alto valor agregado, ele tem muito pouco ou nada! Essa fantasia só existe na mente dos seus publishers.

É só comparar as primeiras páginas dos principais jornais: muito provavelmente elas terão as mesmas manchetes. Há grande chance de as demais chamadas serem também iguais, assim como as fotos. Pior que isso: quase todo o conteúdo provavelmente terá origem em denuncismo ou jornalismo palaciano. Furos e grandes reportagens tornaram-se raridades há anos.

Se analisarmos as revistas semanais, quaisquer que sejam os seus alinhamentos políticos, a situação é ainda pior: vivem um vale-tudo editorial para impor os seus pontos de vista. Claro que isso agrada àqueles que pensam na mesma linha, mas (felizmente) esse tipo de leitor, que não gosta muito de usar o cérebro, vem diminuindo. Aos trancos e barrancos, de uma maneira tortuosa, estamos vendo o surgimento de cidadãos e consumidores mais críticos.

Esse pessoal adora Star Wars. Mas não assina jornais.

 

Novos modelos

O fato é que as pessoas só gastam seu rico dinheirinho com algo em que vejam valor, produtos, serviços e até filantropia que faça sentido para elas. Essa é a razão de os cinemas continuarem cheios e os jornais ficarem cada vez mais finos.

É curioso que é muito fácil conseguir assistir a um filme hoje pagando muito pouco ou nada: discos piratas e torrents estão aí para quem quiser. Entretanto, ir ao cinema é mais que ver um filme, que passa a ser apenas mais um elemento de uma experiência que, como disse antes, o público vê sentido em pagar.

Isso não vem de hoje: a primeira grande vítima dessa mudança de comportamento do consumidor foi a indústria fonográfica, cujo principal negócio, a venda de discos, foi pulverizado. Começou com a troca de arquivos MP3, e se cristalizou com o iTunes, que -veja só- é pago e transformou a Apple de um fabricante de computadores em uma gigantesca empresa de mídia! É interessante observar que esse modelo também já está sendo substituído pelo streaming do Spotify. E a Apple, ao invés de ficar em um mimimi, criou o seu próprio serviço de música por streaming, o Apple Music.

Muitos podem argumentar que nada disso é jornalismo, que as pessoas não querem mais pagar pelo conteúdo de alto valor agregado, que custa caro para se produzir, e blá-blá-blá… Que preguiça desse pessoal!

Existem vários novos veículos jornalísticos surgindo e produzindo conteúdo de altíssima qualidade. No Brasil, sem pensar, eu citaria o Vice Brasil, o Catraca Livre, o Omelete, o Judão. E há ainda grandes veículos supertradicionais, que estão se reinventando e colhendo bons frutos, como The Washington Post, esse aliás impulsionado por Jeff Bezos, criador e dono da Amazon, que comprou o jornalão há dois anos e vem promovendo mudanças incríveis nos modelos de negócios e de produção.

No fim das contas, nenhum deles depende apenas da velha dobradinha publicidade-assinatura. Cada um deles encontrou várias fontes de receita que viabilizam seus negócios. Assim como não dá mais para ganhar dinheiro com música só vendendo discos.

A mídia tradicional deveria olhar com mais atenção para Star Wars.

Que a Força esteja com os publishers do futuro!

 

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A importância do caviar para o jornalismo

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Exemplos de capas do Estadão e da Folha de um mesmo dia: dois veículos de uma mesma empresa, feito de jornalismo palaciano, agências e assessorias? Imagem: reprodução

Exemplos de capas do Estadão e da Folha de um mesmo dia: dois veículos de uma mesma empresa, feito de jornalismo palaciano, agências e assessorias?

No dia 10, durante o 7º Fórum da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), em meio às discussões sobre a crise das empresas de comunicação impressa, Juan Giner, presidente do Innovation Media Group, sugeriu que os veículos precisam investir na produção de um jornalismo de alta qualidade, relevante e exclusivo, se quiserem que alguém pague pelo seu produto. Parece óbvio, mas não é, pois isso não se vê por aí.

“Temos que produzir um ‘jornalismo-caviar’, que seja nobre, raro e sofisticado, e principalmente que não seja encontrado em qualquer lugar”, disse Giner aos participantes do evento. “Mas 80% dos veículos de todo o mundo ainda não atingiram esse nível de sofisticação, exclusividade e relevância em seu noticiário. Precisamos produzir caviar”, alfinetou Giner.

Ele está certíssimo: as pessoas pagam pelo conteúdo que consomem, desde que ele mereça isso. O assunto já foi debatido neste mesmo blog mais de uma vez. Mas é uma pena constatar que a maioria do jornalismo por aí está mais para fast food que para caviar. É como se as empresas de comunicação, asfixiadas pelos seus balanços desfavoráveis, estivessem esquecendo como fazer bom jornalismo, preferindo as fórmulas fáceis, baratas e ruins. Não sabem mais onde está o caviar (e não procuram), e se contentam em oferecer hambúrguer de baixa qualidade. E isso não é uma exclusividade dos veículos impressos: permeia diferentes mídias.

Mas, agora discordando de Giner, apenas produzir jornalismo-caviar não é mais suficiente para salvar esses veículos. Para tornar a situação mais dramática, existe muita gente que despreocupadamente produz jornalismo (às vezes bom) de graça simplesmente porque aquilo não é o seu core business, mas precisa desse tal “conteúdo” para sustentar o que realmente lhe dá dinheiro. Isso não é nenhuma novidade: em 1996, quando o UOL foi lançado, as teles não queriam saber de oferecer acesso. Coube aos então chamados “provedores de acesso” criar a infraestrutura e oferecer a conexão. Naquela pré-história da Web, o conteúdo jornalístico da casa (no exemplo do UOL, vindo dos veículos da Folha e da Abril) era um “brinde” para convencer alguém a pagar pelo “acesso”, seu verdadeiro negócio.

Os portais de hoje não são muito diferentes disso. Talvez a maior ironia seja o fato de eles lucrarem muito distribuindo (pagando ou por parcerias) jornalismo da chamada “mídia tradicional”, que não aprendeu até hoje a lucrar nessa nova modalidade. E o problema reside em insistir em um modelo que foi criado no século 19, quando o leitor precisava pagar pelo jornal inteiro, mesmo que quisesse ler apenas uma notícia. Isso acontecia porque não era possível vender o jornal fatiado. Mas hoje isso é perfeitamente factível.

Não estou propondo micropgamento, algo difícil de implantar do ponto de vista técnico e financeiro. Mas o modelo “pague para levar tudo ou não receba nada” não se sustenta mais. Sim, é possível cobrar uma assinatura, mas por outro tipo de produto jornalístico que tire real e amplo proveito do que a tecnologia oferece, ao invés de simplesmente transpor o impresso para a tela. É isso que as pessoas não querem e que as empresas insistem em empurrar ao mercado. Para consumir notícia dessa forma, melhor ficar com a revista em papel mesmo.

E aí voltamos à história do tal jornalismo-caviar. Os novos leitores não consideram a hipótese de consumir notícias em papel. E os leitores antigos não querem mais pagar pelo jornalismo rasteiro e desqualificado que lhes é oferecido. As pessoas incensam o paywall do The New York Times, mas suas análises simplistas não vão além da exigência de pagamento para quem quiser ler mais conteúdo.

É uma visão míope e limitada do trabalho que a turma da “velha dama cinzenta” fez. Esquecem que o conteúdo gratuito é suficiente para atender às necessidades mensais de leitura de 90% dos visitantes de seu site, leitores eventuais (portanto, cobram apenas dos que realmente veem valor no produto e o consomem mais). Esquecem também que quem chega a uma notícia de buscadores ou de redes sociais não tem a leitura computada em sua quota, fortalecendo assim a sua relevância nessas importantes portas de entrada. Esquecem que os produtos digitais da casa são muito bons e não se resumem a transpor o impresso para a tela. Por fim, esquecem que quem assina o jornal impresso leva todos os produtos digitais de graça. Sobre tudo isso, uma generosa cobertura de jornalismo-caviar.

E continuamos com o nosso cachorro quente.