roubo

O principal motivo para roubos de celulares não é mais o valor do aparelho, e sim a possibilidade de se fazer transferências com ele

Isso jamais acontecerá comigo!

By | Tecnologia | No Comments

Duas notícias me chamaram a atenção na semana passada. A primeira foi sobre um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que indica uma explosão nos crimes eletrônicos. A outra foi a de que metade dos brasileiros não limitou suas transferências pelo Pix, apesar de a maioria conhecer esse recurso simples e eficiente para diminuir prejuízos em um eventual roubo de celular.

As duas estão interligadas e demonstram que os brasileiros não tomam medidas para sua própria segurança diante de uma mudança nos crimes nos grandes centros urbanos. Não se trata, de forma alguma, de querer imputar qualquer culpa às vítimas, mas sim de constatar que muitas pessoas não fazem isso pela crença de que esse problema nunca acontecerá com elas.

Até que acontece! E aí não adianta “chorar sobre o leite derramado”.

Apesar de os smartphones estarem integrados a nossas vidas há mais de uma década, esses crimes só ganharam força recentemente. Portanto, os cuidados que a maioria das pessoas toma deixaram de ser suficientes, e precisam ser revistos.


Veja esse artigo em vídeo:


O Fórum Brasileiro de Segurança Pública indica um aumento de 74,5% de golpes eletrônicos de 2020 para 2021, chegando a 60.519 ocorrências notificadas. O crescimento é exponencial: em 2019, foram “apenas” 14.677. Além disso, esse tipo de crime é subnotificado, pois muitos acabam sendo classificados só como estelionato.

Outro levantamento recente, realizado pelo C6 Bank e pelo instituto de pesquisa Ipec, mostra que 70% dos brasileiros sabem que podem ajustar o limite de suas transferências por Pix, mas 47% não fazem isso. É possível ainda determinar contas específicas para continuarem recebendo valores maiores.

Os limites do Pix foram criados pelo Banco Central em novembro, para diminuir os sequestros-relâmpago para realização de transferências, mas também ajudam nos crescentes roubos de celulares para o mesmo fim. A redução desses limites tem efeito imediato, mas seu aumento demora no mínimo 24 horas para passar a valer.

O roubo de smartphones aumentou muito nesse ano, mas o principal objetivo não é o valor do aparelho, e sim a possiblidade de se realizar com ele transferências bancárias. Segundo a polícia, o problema se agravou com o envolvimento do PCC, o Primeiro Comando da Capital. A facção criminosa descobriu nisso uma maneira fácil de obter muito dinheiro. Há registros de transferências que superam R$ 100 mil!

Muitos roubos acontecem com o bandido em bicicleta ou moto, arrancando o aparelho destravado da mão das vítimas, facilitando as transferências. Por isso, usar o aparelho nas ruas e até no carro em bairros nobres de São Paulo se tornou muito arriscado.

A senha da tela de bloqueio no celular é uma primeira barreira, que pode ser suficiente para frustrar a ação dos bandidos. Por isso, é assustador observar que muitas pessoas não adotam essa proteção extremamente básica.

 

A responsabilidade de cada um

Em uma pesquisa informal que realizei no LinkedIn, com cerca de 800 entrevistados, 41% disseram que transferências indevidas por Pix são os crimes eletrônicos mais comuns, enquanto 40% apontaram as fraudes pelo WhatsApp. Outros 17% indicaram perfis falsos nas redes sociais e 2% escolheram outras opções.

O WhatsApp tornou-se outra enorme fonte de golpes digitais. E novamente a vulnerabilidade se dá em usos descuidados pelas pessoas, e não por falhas técnicas da plataforma. Um dos golpes mais comuns consiste no bandido ligar para vítima com alguma história que a convença a lhe passar um código gerado pela plataforma, que lhe permite assumir a conta da vítima. A partir dessa conta clonada, o criminoso fala com os contatos para pedir dinheiro, como se fosse o verdadeiro titular.

À medida que mais pessoas começaram a entender que não devem repassar esse código, os bandidos passaram a adotar outro golpe, ainda mais simples e absurdo. A partir dos perfis das vítimas nas redes sociais, eles copiam sua foto e escolhem contatos. Enviam então mensagens fazendo-se passar pelo titular e dizendo que se trata de um novo número de telefone. Se o interlocutor acredita, pedem transferências. O Pix é o método preferido, pois o dinheiro fica disponível em poucos segundos.

As características do WhatsApp, disponível em 99% dos smartphones brasileiros, facilitam a ação dos criminosos. O grande volume de conversas, e sua informalidade e instantaneidade fazem com que os usuários “baixem a guarda” e acreditem facilmente no que chega por ali. Isso vale para conversas de bandidos e para notícias falsas, que também se proliferam nesse canal. Nos dois casos, ganhar a confiança é essencial.

Portanto, a primeira dica para se defender dos cybercriminosos é manter o senso crítico aguçado. Desconfie do que chega pelas redes e pelos comunicadores, especialmente quando o outro pedir dinheiro ou suas informações pessoais, ou diga que mudou de telefone. E nunca informe qualquer número pedido pelos bandidos.

Não dá mais para ficar usando o celular na rua ou no carro sem o risco de ser assaltado. Se for necessário, entre em algum local fechado. Algumas pessoas também passaram a andar com um “celular de guerra”, barato e com o mínimo de aplicativos, para o caso de um assalto.

Limite o valor de transferências por Pix, TED e DOC. Especialistas sugerem que o ideal é liberar apenas o mínimo para cobrir as necessidades cotidianas do correntista. Da mesma forma, jamais informe senhas ou entregue cartões de conta ou crédito a terceiros, nem grave senhas no celular.

Outra dica é habilitar a chamada “autenticação de dois fatores” em todos os aplicativos que oferecerem esse recurso. Com ela, além da senha, será necessária outra informação (normalmente um código gerado na hora) para acessar suas contas.

Há uma discussão sobre a responsabilidade dos bancos nesses crimes eletrônicos. O Banco Central afirma que as instituições podem identificar os titulares das contas de origem e de destino, mas os bancos tentam se livrar de qualquer culpa. Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), cada instituição tem sua política de análise e devolução.

Por isso, no caso de golpe ou roubo de celular, o cliente deve ligar ao banco imediatamente, pedir bloqueios e documentar o fato. Também deve ser feito um boletim de ocorrência. Quanto mais rapidamente isso for feito, menor a chance de prejuízos.

No final, a grande recomendação é parar de achar que isso nunca acontecerá com qualquer um de nós. Por mais que você seja cuidadoso e nunca tenha sido assaltado, esses crimes atingiram níveis inéditos. Não se pode dar sorte ao azar!

 

A Microsoft consegue bancar um bloqueio ao Google?

By | Jornalismo, Tecnologia | No Comments
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Há cerca de um mês, começaram a pipocar aqui e ali rumores sobre um suposto acordo que, de tão bizarro, parecia mais um daqueles boatos disseminados pela Internet. Mas de boato, eles não tinham nada. O fato é que a Microsoft está em sérias conversações com a News Corp. O objetivo: a turma de Steve Ballmer pensa em pagar para que a de Rupert Murdoch impeça que o conteúdo de suas publicações –o que não é pouca coisa, incluindo aí o The Wall Street Journal– seja indexado pelo Google, passando a ser encontrado apenas no Bing, o novo buscador da Microsoft.

Tirar o seu conteúdo do Google para deixá-lo restrito ao Bing, que mal faz cócegas ao primeiro? Provavelmente todas as pessoas, exceto as envolvidas no acordo, diriam que isso é uma enorme estupidez. Afinal, como apontou recentemente a consultoria Experian Hitwise, 21% de TODO o tráfego de sites de jornais vem do Google, contra míseros 2% do Bing. Essa troca de conteúdo por tráfego seria o “uso justo”, que embasa a defesa do Google no assunto.

Mas, para Rupert Murdoch, a idéia parece fazer sentido. Já há bastante tempo, ele classifica os buscadores –especialmente o Google– como ladrões, com todas as letras e sem aspas. Isso pode ser visto, por exemplo, no vídeo acima. Mas, se agora um buscador quer justamente pagar pelo conteúdo, a coisa muda de figura.

Já a Microsoft parece estar disposta a usar de força monetária bruta para tentar fazer o Bing decolar. No seu raciocínio, se o internauta só encontrar conteúdos relevantes no seu produto, pode deixar de usar o Google. Tanto é assim que a turma de Redmond estaria tendo conversas de teor semelhante com outros grupos de mídia, em uma tentativa de pegar só para si o conteúdo que fosse realmente útil, deixando ao Google os “restos”.

Parece fazer sentido. Onde está a falha nesse conchavo?

Já em 2005, eu dizia aos meus alunos do curso de Jornalismo da Metodista que um dos maiores desafios que eles enfrentariam era o fato de que (já naquela época) o que nós produzimos havia virado commodity.

Do lado da News Corp. aí está a falha. Eles produzem um bom conteúdo? Certamente sim. Eles são os únicos capazes de fazer isso nesse nível? Certamente não. Ainda é preciso ter muito dinheiro para fazer jornalismo de alta qualidade? Certamente NÃO: por isso a News Corp. e a grande mídia concorrem com uma legião de indivíduos e pequenas empresas pela audiência e pelo bolo publicitário.

Já do lado da Microsoft, a falha é: a Internet é grande demais para ser comprada. Essa estratégia teria alguma chance de dar certo se todos os grandes produtores de mídia abraçassem a idéia, mas vários deles já anunciaram que não vão entrar nesse barco furado. Para eles (e para mim), as pessoas não deixarão de usar o Google se o conteúdo da News Corp e de um punhado de outros reacionários não aparecer mais em seus resultados. Se entrassem, eles não apenas não lucrariam com o inexpressivo Bing, como perderiam a chance de monetizar o tráfego que receberiam do Google.

Há ainda uma “continha básica” a ser feita. Apesar da gritaria de Murdoch, suas publicações efetivamente fazem dinheiro com os internautas que o Google lhes envia. Podem ser migalhas individualmente, mas 21% de todo o seu tráfego está longe de ser café pequeno. Perder esse tráfego do Google e o dinheiro associado para migrar ao Bing só faz sentido se a Microsoft bancar essa diferença com vantagens para a News Corp. Mesmo para a gigante de Redmond, até quando eles estarão dispostos a fazer isso, já que seus ganhos não devem ser proporcionalmente expressivos? E ainda querem fazer o mesmo para um grande número de grupos de mídia? Eu chamo isso de dumping.

Honestamente, Murdoch pode até achar o Google uma empresa bandida conduzida por moleques irresponsáveis. E daí? Em uma nova ordem mundial da mídia, onde o conteúdo por si só perdeu completamente o valor (algo que ele, como dono desse império, se recusa a aceitar), provavelmente tem muito a aprender com eles. Isso sim é fazer negócio.