Em sua fala no 10º Fórum de Software Livre, em Porto Alegre, no dia 26, o presidente Lula afirmou que a imprensa perdeu poder graças à Internet e que, por isso, vivemos um momento inédito de liberdade de informação. Não satisfeito, ainda insinuou que isso protegeria o país contra golpes perpetrados pelos grupos de mídia. O trecho do discurso onde solta essa pérola pode ser visto no vídeo chapa-branca acima, a partir dos 35 segundos:
“Finalmente este país está tendo o gosto da liberdade de informação. Sabe que eu penso que nós estamos vivendo um momento revolucionário da humanidade, em que a imprensa já não tem mais o poder que tinha alguns anos atrás. A informação já não é mais uma coisa seletiva, em que os detentores da informação podem dar golpe de Estado. A informação não é uma coisa privilegiada. O jornal da noite já ‘tá’ velho diante da Internet. O programa de rádio, se não for ao vivo, for gravado, já fica velho diante da Internet. O jornal fica hipervelho diante da Internet, e fica tão velho que todo jornal criaram (sic) blog para informar junto com os internautas do mundo inteiro.”
Desde então, tenho lido e ouvido coleguinhas esperneando contra mais essa declaração infeliz de Lula, ainda “magoados” pelo fim da exigência do diploma para exercício da nossa profissão.
Bom, como diz o ditado, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Apesar de seu carisma, nosso presidente tem uma clássica dificuldade de expor idéias. É claro que Lula (e qualquer governo) prefere uma imprensa dócil, submissa e palaciana, coisa que ele nunca teve. E ainda bem, pois “nunca antes na história desse país” vimos tanta bandalheira no poder. Por mais que os grandes grupos de mídia tenham seus interesses econômicos e políticos (e eles tem), não podem ser configurados como golpistas por publicar os desmandos governamentais.
Acho sensacional que a Internet dê voz ao cidadão comum, de uma maneira “revolucionária”. Isso realmente é uma mudança de paradigma que não se via desde os tempos de Gutenberg, quando, graças a sua prensa, a informação deixou de ser “de poucos para poucos” e passou a ser “de poucos para muitos”. Agora, a coisa é “de muitos para muitos”. Mas, mesmo assim, apenas grupos de mídia fortes e organizados editorialmente são capazes de impedir que o governo faça o que bem entender. Lula falou demais…