Steve Outing

“Uso mais que justo”: remunerado

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O Google e a mída: quem carrega quem?

O Google e a mída: quem carrega quem?

Na última reunião anual da Associação de Jornais da América, Eric Schmidt, CEO do Google, defendeu, em sua palestra, que o Google News ajuda os jornais, conduzindo gratuitamente tráfego para seus sites. Assim, os veículos faturariam com publicidade em suas páginas. Seria, portanto, um “uso justo” de porções desses conteúdos para viabilizar o Google News, tentando diminuir a crescente gritaria de que o serviço estaria pirateando trabalho alheio em seu único benefício.

Esse é seu ponto de vista.

No meu post Limites do “uso justo”, no dia 16, analisei essa idéia. Ela é legítima e pesquisas subsidiam e idéia de Schmidt. Só há uma falha nesse raciocínio: por mais que os internautas caiam nas páginas dos veículos, isso não é suficiente para salvá-los do atual desastre econômico. Apesar de o CEO do Google ter parecido arrogante para muitos (e talvez tenha sido mesmo), sou obrigado a dizer que os responsáveis por esse fracasso da mídia na Internet são as próprias casas editoriais, que sempre menosprezaram suas publicações online. Muitas ainda fazem isso, mas agora, com a água no pescoço, bradam palavras de ordem contra a inevitabilidade dos fatos online.

Maureen Dowd, colunista do The New York Times, resumiu esse sentimento em um artigo publicado no último dia 14. Em determinado ponto, ela escreveu: “por que o Google não nos assina um gordo cheque por usar as nossas histórias, de modo que possamos manter salários e balanços e continuemos a oferecer ao buscador nossas histórias?”

Bom, esse é outro ponto de vista válido.

E então vem o renomado consultor de mídia Steve Outing, com quem costumo concordar, e sugere em seu blog que o Google News passe a exibir mais publicidade (hoje ela é bem tímida), distribuindo uma porcentagem de seus ganhos aos provedores de conteúdo que forem clicados em cada uma das páginas do serviço. Dessa forma, o Google ajudaria, segundo Outing, os jornais a saírem da lama em que se encontram e evitaria um movimento non-sense de muitos dinossauros da (grande) mídia, que querem fechar o seu conteúdo apenas para assinantes, algo que não interessaria ao internauta ou ao próprio Google.

Dessa vez, concordo apenas parcialmente com Outing. Não acho que caiba ao Google -ou a qualquer um- salvar jornais de sua própria incompetência econômica. Tampouco gostei do tom quase ameaçador do tipo “ajude-os ou você ficará sem conteúdo”. As coisas não funcionam assim.

O bom jornalismo é algo crítico para todas as sociedades. Sem ele, nossa cidadania se reduz gradativamente. Felizmente a crise atual não acabou com ele: dos recém-entregues Prêmios Pulitzer, muitos foram para alguns dos veículos mais afetados pela situação da economia. O The New York Times levou cinco deles, seu segundo melhor desempenho da história, apesar do prejuízo de US$ 74,5 milhões anunciado na semana passada.

O gigante de buscas já tem acordos com a Associated Press e com a France Presse pelos seus conteúdos usados no Google News. Os jornais podem aprender muito com a turma online sobre como ganhar dinheiro nesse novo cenário econômico. Mas precisam se despir de preconceitos e de idéias vetustas que os levaram ao buraco em que estão.

Será que funciona no Brasil?

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A salvação do modelo econômico do jornalismo pode passar por sistemas como o Kachingle e os micropagamentos

A salvação do modelo econômico do jornalismo pode passar por sistemas como o Kachingle e os micropagamentos

Já que tenho falado de micropagamento, Kachingle e Steve Outing, ele tem posições bastante críticas quanto ao primeiro. Para Outing, esse sistema de remuneração simplesmente não funciona, pois seria contrário à natureza da Internet. Seu argumento: no micropagamento, o conteúdo continua fechado, dificultando seu compartilhamento entre os usuários e sua indexação pelos sistemas de busca. E, se você estiver fora do Google, está fora dos negócios. Para o guru, algo como a Kachingle faz muito mais sentido. O principal obstáculo para seu sucesso são os barões da mídia, que precisariam mudar de postura e convencer seus usuários a passar a pagar não apenas pelo seu conteúdo, mas sim para o conteúdo também de seus concorrentes. Afinal, o sistema distribui o dinheiro do usuário entre todos que ele considera merecedores.

Concordo com todas as posições de Outing acima, mas acho que essa é uma visão um pouco simplista e muito radical. Nesse momento, tudo o que NÃO precisamos são posições inflexíveis. Existem maneiras e maneiras de se implantar o micropagamento. Problemas como a indexação pelas spiders e a viabilidade de compartilhamento de links de conteúdo fechado já foram tratados, inclusive por aqui, pela Abril.

O que jamais se pode perder de vista é a simplicidade para o usuário acima de tudo. A Kachingle realmente faz mais sentindo, mas não estou totalmente seguro que ele vingará. E o motivo é apenas um: ele só é interessante se for onipresente e único, sem concorrentes. A partir do momento que aparecem três ou quatro desses sistemas, um site que eu apoiaria poderia estar com a Kachingle e outro estaria com o, digamos, “Letingle”. E aí, vou fazer depósitos em ambos? Já era, ficou difícil!

Há um outro fator que o Outing não menciona e nem poderia, já que ele não vive no Brasil: será que, por questões culturais, pelo famigerado “jeitinho brasileiro” de querer levar vantagem em tudo, pagaríamos pelo conteúdo que consumíssemos pela Internet? A massa prefere pagar R$ 1 por um DVD pirata, quando o original sai por R$ 12,99, um preço bastante razoável por um produto claramente superior -e nem entro aqui na questão da ilegalidade das cópias. Para o pessoal, é diferente assinar um jornal ou uma revista, pois o papel “tangibiliza” esse dinheiro pago. No final das contas, paga-se pelo… papel, pela sensação de ser “dono” de algo, mesmo que amanhã você use esse seu investimento para forrar a caixa de areia do gato.

Admitamos ou não, isso funciona diferentemente na Europa e principalmente nos EUA, onde as pessoas se sentem naturalmente compelidas a pagar por algo que poderia lhes ser entregue de graça, mas que lhes traz algum benefício, mesmo intangível. Ademais lá o jornalismo tem um caráter historicamente mais comunitário que aqui: ele nasceu não puramente como um negócio, mas sim como um serviço a sua comunidade local, que, em troca, o abraça.

Arrisco que a solução desse nó górdio está em algum lugar nesse post, mas eu tenho as hipóteses, não tenho a resposta. E você?

Conteúdo pré-pago (e pós-distribuído)

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Que tal um sistema que distribua o dinheiro que você der a todos os sites que você achar merecedores?

Que tal um sistema que distribua o dinheiro que você der a todos os sites que você achar merecedores?

Como escrevi nos posts anteriores, a indústria de mídia impressa, especialmente nos EUA, vive um ponto de inflexão, de onde alguns sairão fortalecidos, enquanto outros inexoravelmente quebrarão, como aconteceu recentemente com o sesquicentenário Rocky Mountain News, de Denver (EUA). O motivo é a dificuldade da chamada “mídia tradicional”, mais notadamente a impressa, de se adaptar ao Admirável Mundo Novo que a Web representa e, com isso, vê suas receitas sendo drenadas mais e mais.

Muita gente séria enxerga no micropagamento -resumidamente o usuário pagar poucos centavos por cada matéria que quiser ler- a salvação da viabilidade econômica do jornalismo de qualidade na Web. Mas, para isso, existem dois obstáculos a serem vencidos. O primeiro é que os moguls da mídia aceitem a inevitabilidade do fato de que seu produto virou commodity e que, como tal, seu preço no mercado despencou. O segundo é a criação de um sistema que permita ao internauta fazer essa compra de uma maneira muito, muito simples, tão facilmente (ou de preferência mais facilmente) quanto comprar uma música no iTunes.

Mas deve haver outras formas. Uma delas está sendo lançada por uma start-up californiana chamada Kachingle. A idéia é inovadora e boa, a ponto de arrancar elogios de Steve Outing, um dos maiores consultores de mídia dos EUA.

Eu a chamaria de “microprépagamento proporcional”. Como funciona? Você informa seus dados apenas uma vez, um registro universal que valerá para todos os sites de conteúdo que você visitar (pelo menos para aqueles associados da Kachingle). Depois você define voluntariamente quanto quer pagar pelo conteúdo que você consumir -a soma de todo ele- no mês. Por fim, quando visitar um site que você acha que mereça seu dinheiro, clica nele em um link do Kachingle uma única vez. Assim, informa ao sistema que aquele site é “elegível” de receber uma parte do seu dinheiro. E isso vale para tantos sites quanto você achar merecedores. Ao final do mês, a Kachingle soma a quantidade de visitas que você fez entre seus pré-aprovados e distribui proporcionalmente o dinheiro que você depositou entre eles. Como exemplo, se você visitou, ao longo do mês, a Folha Online 25 vezes, o Macaco Elétrico 15 vezes o Limão dez vezes, todos pré-selecionados, o primeiro receberá 50% do dinheiro que você reservou para conteúdo, o segundo 30% e o terceiro 20%. Outros sites pré-selecionados, porém não visitados, não receberão nada.

O sistema da Kachingle embute vários pulos do gato. Primeiramente, transforma o pagamento pelo conteúdo algo praticamente transparente para o consumidor. Em segundo lugar, é um sistema justo, onde quem é mais relevante para o usuário recebe mais dinheiro. Oferece ainda ao usuário a chance de definir quanto quer pagar pelo conteúdo que consumir, sem surpresas. Finalmente, permite que o internauta possa ler o mesmo conteúdo de uma maneira grátis e irrestrita, o que é bom para ele e também para os veículos, que passam a ter a chance de ganhar algo com esse usuário, nem que seja com uma mísera exposição de banners. No modelo atual, de conteúdo fechado, esse internauta é simplesmente perdido.

Parece tudo de bom, não é mesmo? Sem dúvida, mas, como diz o ditado, “as boas idéias morrem na execução”. A Kachingle é certamente uma alternativa viável e mais inteligente ao micropagamento, porém tudo isso ainda é especulação, mesmo nos EUA. De toda forma, esse debate é muito saudável e crítico para o futuro das empresas de comunicação. Meu medo é que, até que se descubra a fórmula, o jornalismo tenha sido destruído por constantes cortes em mão de obra e investimentos. No início de março, o diário espanhol ABC demitiu 238 de seus 456 profissionais, 84 deles na Redação. Nem relógio trabalha de graça.