Depois do meu último post, sobre o fim da versão impressa do Jornal do Brasil, várias pessoas vieram conversar comigo sobre isso, e se a Internet pode ser mesmo a salvação para veículos que não conseguem mais se manter em suas mídias de origem.
Para essa inquietação, a minha resposta é: depende. Como demonstrei no referido post, essa migração jamais salvará um veículo mal administrado, como é o caso do Jornal do Brasil. Ele morreu no papel e, salvo aconteça alguma improvável mudança empresarial, a morte também na Web é apenas uma questão de (pouco) tempo. Mas a passagem de uma mídia que já não atende aos interesses econômicos do veículo para os meios digitais é -sim- algo a ser considerado.
Afinal, quanto custa produzir o jornalismo, o “conteúdo” de um veículo? Vou me concentrar na grande mídia impressa, apenas para ficar no exemplo do JB (se bem que diria que ele já deixou de ser “grande” mídia há muitos anos). Fiz a minha lição de casa e constatei uma coisa muito interessante: se considerarmos todos os custos de um grande jornal (e isso inclui os associados à impressão e distribuição), a parcela referente ao jornalismo (considerando salários, infraestrutura para apuração, viagens, prêmios e qualquer tipo de despesa ordinária) gira em torno de apenas 20%. Ou seja, de tudo que custa um jornal, 80% não se refere ao jornalismo.
Oras, qual é o produto do jornalismo? Pelo que as pessoas pagam? Por mais que o grande furo noticioso de hoje esteja forrando a gaiola do passarinho amanhã, as pessoas compram informação, e não papel impresso.
Quando as prensas primitivas começaram a soltar os primeiros exemplares do que se pode chamar de um jornal “moderno”, o papel era fundamental para a disseminação da notícia, simplesmente porque não havia outra maneira de se fazer isso (pelo menos não tão eficientemente). As revistas surgiram depois como uma alternativa de melhor qualidade gráfica, mas faziam essencialmente o mesmo. O problema é que, depois de alguns séculos fazendo isso, o papel e a notícia passaram a ser vistos como uma entidade homogênea e indissolúvel, o que não é verdade. Papel e tinta são apenas veículos do verdadeiro jornalismo.
No ano passado, publiquei um post sobre estudo feito por Nicholas Carlson, do The Business Insider. Basicamente o que ele fez foi calcular quanto custa ao The New York Times, em um ano, imprimir os exemplares enviados a cada um de seus assinantes. Dividiu essa cifra pela quantidade de assinantes e descobriu que isso é mais que o dobro do preço de um Kindle, o popular e-reader da Amazon, que, a propósito, oferece a assinatura digital do mesmo jornal a um custo bastante competitivo se comparado à versão impressa. O autor sugeriu então que o jornal presenteasse cada um de seus assinantes com um Kindle e economizasse, assim, muito dinheiro.
Claro que as coisas não são tão simples assim (e Carlson sabe disso): nem todos os anunciantes do jornal, quem paga a maior parte dos custos do negócios, são tão simpáticos a uma ideia dessas. Mas é um fato matemático que um jornal digital pode ser produzido a um custo muitíssimo menor que um impresso, sem prejuízo algum de seu jornalismo.
Não se trata, portanto, daquela conversinha fiada que o JB publicou em seu site de estar abandonando a versão impressa por se preocupar com as árvores. Eles não estão nem aí para o verde, exceto o do dólar, que eles não têm mais. Trata-se, isso sim, de uma alternativa viável para os grandes títulos continuarem no negócio, produzindo jornalismo de qualidade, algo que eles tanto prezam e que a sociedade muito necessita.