Ucrânia

Soldados ucranianos exibem drone russo capturado em agosto passado - Foto: Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia/Creative Commons

Como vencer uma guerra sem disparar um único tiro

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Para mim, as guerras representam a falência da humanidade. Quando governos recorrem a armas para impor pontos de vista ou obter ganhos às custas de incontáveis vidas humanas e enorme destruição, algo dramaticamente deu errado, partindo para a força. A tecnologia vem abrindo novos caminhos para a guerra, em que as armas dividem seu protagonismo com o mundo digital.

Talvez cheguemos a um cenário em que se vença um conflito sem que nenhum tiro seja disparado, o que não quer dizer que não mais existirão prejuízos e sofrimento. Ainda não estamos lá, mas a brutal invasão russa na Ucrânia fez dos dois anos desse teatro de guerra um campo de testes tecnológicos de drones, novos materiais e inteligência artificial para fins militares, que estão transformando o conceito da guerra.

Ela sempre esteve associada à ciência, para o desenvolvimento de melhores estratégias e armamentos. Grandes avanços para a humanidade também se derivaram disso, como a penicilina e até os fornos de micro-ondas.

Agora a Ucrânia vivencia uma guerra de algoritmos, inteligência artificial e satélites. O desconhecido se torna claro, previsível e muitas vezes evitável. Por outro lado, tropas e civis se tornam mais vulneráveis. Generais criam assim suas estratégias com o apoio de algoritmos preditivos e de armas que cumprem “suas missões” sozinhas.

Mas então por que o conflito da Ucrânia chegou a um impasse, sem conclusão aparente? Por que as cidades seguem sendo destruídas e as pessoas continuam sendo mortas? Como se pode ver, nesse videogame, ninguém tem vida extra.


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A resposta passa, em parte, por essas novas tecnologias serem relativamente portáteis, baratas e disponíveis para ambos os lados do conflito. Em janeiro, dois comandantes veteranos, o general Yuri Baluievski, ex-chefe do Estado-Maior russo, e o general Valeri Zaluzhni, chefe do Estado-Maior ucraniano, fizeram publicações em que abordam a digitalização da guerra, respectivamente na publicação russa “Army Standard” e no site do Ministério de Defesa da Ucrânia.

As tropas de ambos os países estão aprendendo as mesmas lições. Entre elas, está que a tecnologia favorece mais a defesa. A exceção são os drones, veículos aéreos e aquáticos não-tripulados, que conseguem causar danos aos inimigos de maneira barata, eficiente e preservando tropas, enquanto tanques, aviões e navios têm sido mais facilmente interceptados. Eles são as estrelas desse conflito sangrento.

Não se trata dos sofisticados drones militares americanos. Os veículos usados no conflito são baratos, às vezes equipamentos de mercado, que podem ser adquiridos em grande quantidade. Eles são modificados para carregar explosivos e para tentarem ser menos suscetíveis aos sistemas do inimigo que embaralham as frequências que usam, fazendo com que os pilotos percam seu controle. E nessas contramedidas digitais, a Rússia vem levando vantagem, com sua massiva máquina de guerra.

Mas uma nova geração de drones tenta resolver esse problema. Graças à inteligência artificial, eles são capazes de cumprir sua missão, mesmo que seu piloto remoto perca o contanto com eles. Nesse caso, o sistema no próprio veículo assume o controle e faz tudo que for necessário para atingir seu alvo, mesmo que ele se mova.

Nem sempre dá certo. Em uma simulação no ano passado, um “drone inteligente” atacou seu próprio centro de comando depois de receber dele um comando para cancelar a missão. O robô entendeu que essa ordem atrapalhava o objetivo de destruir o inimigo, e por isso atacou a própria base. Felizmente era apenas uma simulação.

Às vezes, soluções simples podem ser mais eficientes. As armas antigas, sem inteligência ou guiadas por GPS, ganham uma sobrevida com o apoio da tecnologia, que indica com precisão onde os disparos devem acontecer. Os ucranianos também têm usado celulares espalhados pelo território para captar o zunido típico dos drones. Dessa forma, identificam sua aproximação melhor que caros sistemas de radar.

Smartphones nas mãos dos soldados tornaram-se, por outro lado, uma perigosa ameaça a sua segurança. A Ucrânia infligiu pesadas baixas aos russos ao atacar locais em que identificaram grande concentração de sinais de celulares, WiFi ou Bluetooth.

 

Uma guerra sem disparos

A guerra do futuro tem outras formas, igualmente ligadas ao avanço da tecnologia. Ela pode viabilizar confrontos que acontecerão sem disparos e uso de tropas militares, mas ainda assim criarão grandes prejuízos ao inimigo.

Além dos já citados drones, mais fáceis de compreender e implantar, Forças Armadas de diversos países investem no desenvolvimento de ataques cibernéticos, capazes de inutilizar digitalmente a infraestrutura de inimigos. Em um mundo cada vez mais digital, isso pode colocar uma nação de joelhos em curtíssimo tempo. Militares estão atentos a isso e tratam de proteger seus equipamentos. Mas atacar sistemas civis, muito mais vulneráveis, podem trazer resultados catastróficos.

A inteligência artificial, especialmente modelos de linguagem amplos (como o ChatGPT), está sendo usada para identificar fragilidades em inimigos, analisar fotos de satélite e até decifrar suas mensagens cifradas, o que pode conceder uma vantagem tática incrível. Isso teve um papel decisivo na vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, quando uma equipe de matemáticos britânicos, liderada por Alan Turing, construiu um rudimentar computador mecânico capaz de decifrar a máquina Enigma, usada pelos nazistas para suas transmissões militares codificadas.

Rompendo a tradição de se manterem afastadas de desenvolvimentos militares, algumas big techs e startups americanas, como Microsoft, Amazon Web Services, OpenAI e Scale AI, têm trabalhado com os militares do país para que sua tecnologia seja usada com esse fim. O Google também fazia isso, mas encerrou sua colaboração com o Pentágono em 2019, após protestos de seus funcionários.

A mistura de IA com armamentos desperta medo em muita gente, alguns oriundos da ficção científica, como nos filmes do “Exterminador do Futuro”. Espero que não cheguemos àquilo, mas uma guerra cibernética pode envolver a contaminação de bases de dados dessas plataformas no inimigo, para que elas tomem decisões erradas e potencialmente devastadoras.

O militar prussiano Carl Von Clausewitz (1790-1831), especialista em estratégias militares, escreveu em sua obra “Sobre a Guerra” (1832) que “a guerra é a continuação da política por outros meios”. Segundo ele, trata-se de “um ato de violência destinado a forçar o adversário a submeter-se à nossa vontade.”

Para isso, ao longo da história, o ser humano usou porretes, flechas, rifles, canhões e bombas, armas químicas e biológicas, e dispositivos nucleares. A tecnologia da vez vem do mundo digital. Mas qualquer que seja o meio, a guerra continua sendo o que é, conduzida por homens que desprezam qualquer vida que não seja a sua própria, para atingir objetivos no mínimo questionáveis.

 

O negócio agora é matar o mensageiro

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Alguns acontecimentos recentes demonstram que muita gente, diante da incapacidade de resolver problemas ou do simples desejo de manter as coisas como estão, prefere que a verdade não apareça. Esse comportamento reflete um retrocesso social, em que alguns grupos entendem que podem impor sua visão de mundo sem diálogo.

O primeiro foi o endurecimento da censura do governo russo. Veículos de comunicação foram proibidos de trazer notícias sobre a guerra, e o Facebook e o Twitter foram bloqueados na Rússia. Enquanto isso, na Ucrânia, jornalistas ingleses foram baleados por milicianos russos.

Mas se engana quem acha que isso acontece apenas em terras distantes e por causa da guerra. Na quarta, uma equipe da Rede Globo foi agredida por um homem em São Paulo, que os atacou gratuitamente com uma corrente.


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A expressão “não mate o mensageiro” se aplica perfeitamente a tudo isso. Ela vem do provérbio latino “ne nuntium necare”, que teria sido criado a partir do ato intempestivo do rei da Pérsia Dario III, que, em 331 a.C., mandou executar o mensageiro que lhe havia trazido a notícia de que seu exército havia sido derrotado pelo de Alexandre, o Grande. Criou-se um código de honra em que o mensageiro, mesmo enviado pelo inimigo, deveria ser preservado.

Matar o portador de más notícias não faz com que elas desapareçam, mas pode fazer bem ao ego ferido do governante. Além disso, se a informação negativa for silenciada antes que se espalhe, isso pode permitir que ele continue distorcendo a realidade segundo seus interesses.

Trazendo para um contexto atual, “matar o mensageiro” seria silenciar, a qualquer custo, a imprensa livre e, mais recentemente as redes sociais. E é exatamente o que se observa hoje, inclusive nos exemplos citados.

Na sexta, o parlamento russo aprovou leis que, na prática, criminalizam a cobertura da guerra na Ucrânia, com penas de 1 a 15 anos de prisão e interrupção de atividades de veículos. Não é permitido sequer usar os termos “guerra” ou “invasão” ou mencionar o total de civis mortos.

Como consequência, Facebook e Twitter, que vinham restringindo os canais oficiais russos, foram banidos do país. O mesmo deve acontecer com outras redes sociais, cujos usuários mostram os horrores da guerra, até mesmo de dentro da Ucrânia.

A rede britânica BBC, que vinha sendo restrita na Rússia, encerrou suas operações no país para salvaguardar seus profissionais. Ela foi seguida pelas americanas CNN e Bloomberg, a espanhola Efe, a italiana RAI e a canadense CBC. O jornal russo Novaya Gazeta –de Dmitri Muratov, ganhador do Nobel da Paz em 2021– e o canal alemão Deutsche Welle foram bloqueados pelo governo.

Suas coberturas da guerra continuarão normalmente fora da Rússia. Não se sabe como essa censura impactará os movimentos que combatem a guerra no quintal do presidente Vladimir Putin, mas ele já deixou claro que não vai facilitar a vida dos mensageiros.

 

A verdade como inimiga

Que ninguém duvide da disposição de autocratas como Putin de impor seus desejos sobre a verdade. É um movimento semelhante ao visto em ditadores e se transformou em ferramenta de governos autoritários no mundo todo.

A prisão, o fechamento de veículos de comunicação e a violência moral e física –incluindo assassinato– são os mecanismos usados. Mas uma das facetas mais assustadoras é que eles não são aplicados apenas por agentes repressores do Estado. Incentivados por governantes que atacam abertamente a imprensa, muitas pessoas aliadas ideologicamente a eles se investem do “dever” de calar as vozes dissonantes.

Foi o que aconteceu na sexta com uma equipe de cinco pessoas da TV britânica Sky News, cujo carro foi alvejado por uma milícia russa na Ucrânia. Apesar de gritarem que eram jornalistas para que os agressores parassem de atirar, o correspondente Stuart Ramsay foi atingido na parte inferior das costas, enquanto o operador de câmera Richie Mockler levou dois tiros em seu colete à prova de balas.

Aqui no Brasil, o exemplo mais recente aconteceu na quarta passada, quando os repórteres da Rede Globo Renato Biazzi e Ronaldo de Souza foram agredidos enquanto gravavam uma reportagem na região do Brás, em São Paulo. Um homem que segurava um cachorro preso por uma corrente se aproximou dos dois e começou a xingá-los, sem nenhum motivo aparente. Depois atacou os jornalistas com a corrente. Souza foi atingido na mão e terá que fazer uma cirurgia por isso.

A narrativa dominante sempre foi incrivelmente importante para qualquer grupo de poder. Não é à toa que a imprensa é uma das primeiras coisas atacadas por qualquer governo autoritário, seja qual for sua ideologia. Ter o povo a seu lado aumenta o poder de qualquer um. Mas a verdade acaba se sobrepondo em algum momento, por mais eficiente que seja a história.

Por exemplo, quem tem mais de 40 anos talvez se lembre dos “fiscais do Sarney”, cidadãos comuns que, a pedido do então presidente, procuravam estabelecimentos que estariam aumentando seus preços em uma época de congelamento. Alguns chegavam a baixar a porta de lojas, como se tivessem autoridade para isso. Mas todos os malfadados planos econômicos daquele governo terminaram catastroficamente.

De lá para cá, todos os presidentes brasileiros abusaram desse recurso, uns mais, outros menos. E, de 20 anos para cá, tenta-se criar por aqui o controle da imprensa como política de Estado, com eufemismos como “controle social da mídia” ou com agressões explícitas partindo do próprio presidente da República.

É uma pena observar que o poder seja usado para turvar a verdade, com o único objetivo de se ampliar o próprio poder, mesmo às custas de diminuição da qualidade de vida, de sofrimento e até da morte de inocentes. E é ainda mais triste observar como isso eficientemente convence parcelas significativas da população, seja com uma censura marcial, seja com pregações ideológicas.

Quando temos uma sociedade em que cada indivíduo tenta impor suas ideias sobre todos os demais, temos o caos. Por outro lado, quando um grupo usa da força para calar pensamentos diferentes e institucionalizar suas visões de mundo, temos um regime de natureza fascista. Os dois casos não se sustentam a longo prazo e levam a sociedade à ruína. O ditador italiano Benito Mussolini, pai do fascismo, que o diga.

Precisamos da verdade chegando livremente a todos para não rumarmos a esse abismo social. O mensageiro deve ser salvo, para que ela prevaleça.

O desafio de se manter bem informado em tempos de guerra

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Alguém saberia dizer o que fez Vladimir Putin invadir a Ucrânia? Para muitos, a resposta parece óbvia, e pessoas que se informam por veículos de comunicação profissionais e independentes seriam capazes de enumerar vários motivos.

Mas quem pode garantir com certeza o que se passa na cabeça do presidente russo?

Existe uma máxima que diz que, “em uma guerra, a primeira vítima é a verdade”. Afinal, todo mundo recebe necessariamente mais informações de um dos lados do conflito, e elas são filtradas, até mesmo porque nem sempre jornalistas conseguem chegar ao front para apurar melhor os fatos.

Mas o atual conflito na Ucrânia consolidou um novo tipo de guerra, que, ao lado de tanques e aviões no campo de batalha, acontece nas plataformas digitais. Ela foi criada para conquistar corações, mesmo entre os inimigos. E todos nós estamos sendo alvejados por essa artilharia.


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As razões de Putin estariam mais claras se as pessoas recorressem regularmente a um bom jornalismo para se informar, ao invés das redes sociais. Assim como os músculos, o senso crítico precisa ser continuamente exercitado, e nossa mente precisa ser alimentada com boas informações.

Mas muita gente vem sendo convencida que toda imprensa é ruim, restringindo sua “dieta informativa” ao pão mofado servido mas redes sociais, normalmente por seus políticos de estimação. E isso abre caminho para essa guerra digital, que, não por acaso, tem na Rússia seu maior expoente, que busca apoio para qualquer causa ou ideia, mesmo as mais estapafúrdias.

Por exemplo, uma parcela expressiva da sociedade americana defende as ações russas e o próprio ataque à Ucrânia, algo inimaginável poucos anos atrás. Muitos dizem até confiar mais em Putin que no próprio presidente, Joe Biden.

Misturando opinião com fatos distorcidos e mentiras deliberadas, as narrativas de apoio à Rússia se disseminam em plataformas digitais e em parte da mídia dada a teorias da conspiração, muitas “plantadas” por agentes russos. Por exemplo, desde o início da invasão, circula a ideia de que ela seria legítima porque a Otan (a aliança militar do Ocidente) teria violado acordos territoriais com a Rússia, que não existem.

Mas, como toda guerra, a que acontece nas plataformas digitais tem dois lados, e os opositores a Putin também usam esses recursos para se fortalecer, mesmo dentro da “Mãe Rússia”. O mandatário está tendo que enfrentar protestos em diversas cidades russas e em outros países, que pedem pelo fim da invasão. No caso das manifestações em seu próprio país, Putin as reprime com violência e prisões.

Ele quer agora bloquear qualquer visão contrária a sua. No sábado, o órgão de controle das comunicações da Rússia determinou que a imprensa pare de chamar o conflito de “guerra”, “invasão” ou “ofensiva”. O permitido é “operação militar especial em Donbass, destinada a manter a paz”. Também fica proibido dizer que a Rússia ataca cidades ucranianas ou qualquer referência a civis mortos. Quem não cumprir a regra, pode ter o veículo fechado.

O Kremlin também resolveu mostrar os dentes para empresas de tecnologia globais, como Google, Meta e Apple, cruciais nessa batalha. Elas devem se submeter imediatamente a uma nova legislação que dá poder ao governo russo para censurar conteúdos contrários aos seus interesses. As que não concordarem podem ser multadas, seus funcionários podem ser presos e suas operações impedidas no país.

Putin deseja ter o controle da Internet como acontece na ditadura chinesa, em que as empresas devem se submeter aos caprichos do governo, se quiserem operar no maior mercado do mundo. É por isso que lá praticamente não existe Google, Facebook, Instagram, Wikipedia e até Netflix, substituídos por produtos locais censurados.

Fica claro que a verdade está cada vez mais distante das plataformas digitais, restando ao jornalismo profissional encontrá-la onde quer que esteja.

 

“Não me morra!”

A principal ferramenta para isso é a reportagem, principalmente aquela feita no local dos fatos. Em uma guerra, tudo isso fica muito mais complicado, pois o teatro das operações é literalmente mortífero. Por isso, poucos veículos mandaram repórteres para cobrir a guerra na Ucrânia de perto, menos ainda são os que têm pessoal no país. O Estadão, por exemplo, enviou o jornalista Eduardo Gayer, que está na capital Kiev.

Esses jornalistas seguem um caminho aberto por Joel Silveira, primeiro correspondente de guerra brasileiro, enviado à Itália em 1944 para cobrir a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Antes de despachá-lo, seu patrão, Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, fez a seguinte recomendação: “O senhor vai pra guerra, seu Silveira, vai matar alemão! Só lhe peço uma coisa: não me morra, repórter é pra mandar notícia, não é pra morrer!”

É verdade! Nesses dias, vi repórteres brasileiros e de outras nacionalidades mostrando o que está acontecendo na Ucrânia e nos países vizinhos, conversando com pessoas. Apesar de se comoverem com as vítimas da guerra, mantiveram-se firmes em seu trabalho, algo que nenhum “comentarista de rede social” sequer imagina.

Aprendemos que precisamos ouvir diversos lados de um fato para nos aproximarmos da verdade. Essa premissa –uma das bases do bom jornalismo– continua valendo. Mas cada um de nós tem que tomar muito cuidado com esses tipos que crescem nos últimos anos feito ervas daninhas, que manipulam as plataformas digitais e usurpam a liberdade para destruir a própria liberdade.

Não tenho amigos ucranianos ou russos, e muito menos conheço os presidentes Volodimir Zelenski ou Vladimir Putin. Mas, nessa situação absolutamente extrema, podemos sempre nos fiar em valores inegociáveis e imutáveis, como o direito à vida.

Partindo desse princípio, não dá para justificar o ataque militar de grandes proporções que hoje destrói um país e ceifa incontáveis vidas, muito menos em nome de ameaças hipotéticas contas a segurança nacional. Assim, não há dúvida de quem está do lado errado nesse conflito, de quem é o agressor.

Essa guerra já respinga em nós e isso aumentará, não apenas pela subida dos preços de commodities, como petróleo, gás e trigo, mas também pela crescente desinformação, que carcome nossa sociedade, como cupins.

Temos que fazer a nossa parte, combatendo essa última. Não dá para continuar se informando por redes sociais. Elas devem ser usadas principalmente para amenidades e até promoções, coisas para as quais foram criadas. Se, em tempo de paz, devemos buscar a notícia entre aqueles que vão até ela com uma apuração séria e profissional, em tempos de guerra, isso pode se tornar caso de vida ou morte.