Daily Archives: 26 de maio de 2025

Christian Klein, CEO da SAP, durante a palestra de abertura do Sapphire 2025, evento global da empresa - Foto: reprodução

IA avança nas empresas, mas dados ruins e falta de preparo atrapalham o processo

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Os gestores precisam que a inteligência artificial finalmente entregue os resultados prometidos. Não faltam investimentos: empresas brasileiras e globais destinam cifras consideráveis a projetos de IA, mas, na prática, o retorno ainda é tímido. E por mais que haja disposição para continuar, já passou da hora desse dinheiro começar a transformar o negócio de verdade.

O problema não é só tecnológico. Falta compreensão sobre as plataformas de IA, e a carência de profissionais qualificados persiste, especialmente em países como o Brasil. Além disso, muitas plataformas de IA não foram desenhadas para a complexidade dos processos empresariais, sendo generalistas, pouco sensíveis ao contexto e, às vezes, mais atrapalham do que ajudam.

Outro gargalo é a qualidade dos dados. Nas empresas, eles costumam ser desatualizados, fragmentados e até conflitantes entre áreas, o que dificulta análises confiáveis e limita o potencial da IA. Sem uma base sólida, qualquer promessa de inteligência artificial se esvazia rapidamente.

Nesse cenário, as novidades apresentadas na semana passada pela SAP no Sapphire, seu evento anual e maior encontro de tecnologia e negócios do mundo, realizado em Orlando (EUA), surgem como uma tentativa concreta de mudar isso. A gigante alemã apresentou uma estratégia para democratizar o uso da IA, integrando-a profundamente aos processos de negócio e, principalmente, aos dados, inclusive os não estruturados e de fontes externas, como a Internet.

As novidades são bem-vindas, mas não dispensam o olhar cuidadoso do ser humano. As decisões devem continuar nas mãos de pessoas, não apenas por uma questão ética, mas também legal. A IA pode preparar o terreno, analisar cenários e fazer recomendações, mas a palavra final precisa ser humana.


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A SAP apostou forte na Joule, sua assistente de IA generativa, que estará presente em toda suíte de soluções, sem implementações complexas. A partir dela, usuários poderão fazer análises de negócios em linguagem natural, inclusive em português, eliminando barreiras técnicas. Ela oferecerá soluções usando, de maneira automática, diversos agentes e aplicações, mas respeitando os limites de acesso de cada usuário.

A empresa também apresentou o Business Data Cloud, que permite integrar e harmonizar dados de múltiplas fontes, estruturados e não estruturados, mesmo de aplicações externas, preservando contexto e governança. É uma tentativa de resolver o caos informacional que assombra a maioria das organizações.

A SAP sempre se orgulhou da confiabilidade de seus sistemas, graças a um forte controle sobre a integridade dos dados. Por isso, um dos anúncios mais interessantes do Sapphire foi a integração de sua IA à Perplexity. Essa plataforma pública de IA generativa, que funciona como um buscador na Internet, passa a ser usada para trazer dados complementares e enriquecer as análises de negócio.

Ainda assim, toda IA generativa pode “alucinar”, ou seja, inventar respostas plausíveis, mas erradas. Questionei Christian Klein, CEO da SAP, sobre como lidar com esse desafio ao integrar a Perplexity. E ele foi taxativo: nos negócios, não dá para trabalhar com precisão abaixo de 100%. Por isso, as garantias do Business Data Cloud asseguram a confiabilidade das informações.

Philipp Herzig, CTO da empresa, acrescentou que, por isso, a IA faz o trabalho pesado, mas não se automatiza totalmente o processo. Além disso, a decisão final precisa ser humana. Por isso, a explicabilidade dos resultados é essencial para que as pessoas possam julgar e decidir se aceitam as recomendações da máquina.

A SAP também anunciou a integração com a plataforma Databricks, que integra e harmoniza dados externos dentro do Business Data Cloud. A parceria permite que empresas conectem seus dados sem necessidade de replicação, mantendo seu contexto e a governança. Isso facilita a consolidação de informações de múltiplas fontes, ampliando a produtividade e a confiabilidade das decisões.

 

Democratizando a IA

Com seus anúncios, a promessa da SAP é que empresas de qualquer porte possam acessar tecnologia de ponta, de forma modular e escalável. Isso é particularmente interessante, especialmente em mercados emergentes como o Brasil.

Mas a desejada democratização da IA só acontecerá se houver preparo das pessoas, e esse contraponto não pode ser ignorado. Muitos profissionais ainda não sabem aproveitar a IA, e a formação técnica deficiente no Brasil limita o aproveitamento pleno da tecnologia.

O futuro pertencerá a quem souber perguntar bem e interpretar corretamente as respostas das máquinas. E essa não é uma habilidade necessariamente de profissionais de tecnologia.

Para isso, as plataformas de inteligência artificial precisam ser transparentes no seu funcionamento, e seus resultados devem ser explicáveis e rastreáveis. Infelizmente poucos desenvolvedores de IA parecem hoje dispostos ou prontos para entregar esse nível de maturidade e de responsabilidade.

A revolução da IA nas empresas só será completa quando a tecnologia for, de fato, compreendida, confiável e, acima de tudo, útil para quem decide. A jornada é longa, mas os primeiros passos rumo a uma IA verdadeiramente empresarial parecem estar sendo dados. Resta saber se as empresas trilharão esse caminho com a sabedoria e o discernimento necessários.