“Eu não acho que seja algo tão ruim ter menos jornais… se eles forem melhores.” A declaração foi publicada há quatro dias no blog FishbowlNY. O autor da fala é Ben Bradlee, editor executivo do The Washington Post na época do escândalo de Watergate e atual vice-presidente do periódico. Ele continua: “quando eu era editor do Post, existiam algo como 7.500 jornais e agora existem 1.200.”
Bradlee está (ou pelo menos disse estar) otimista diante da atual crise da indústria jornalística. Apesar de o Post estar perdendo dinheiro, ele acha que tudo vai se ajeitar com o tempo. “Contanto que os jornais que sobrevivam sejam bons, não será um desastre.”
Não concordo totalmente com isso. A visão acima é de quem está no topo da cadeia alimentar desta indústria, de quem convive cotidianamente com vencedores do Prêmio Pulitzer em um dos jornais mais respeitados do mundo. É uma visão distante do “jornalismo de base”, aquele que cobre o noticiário da comunidade onde circula, o jornalismo em seu estado mais fundamental. O Rocky Mountain News, que deixou de circular no dia 27 de fevereiro, depois de 150 anos de serviço, provavelmente cobria o noticiário de Denver melhor que o The Washington Post. Ok, ainda “sobrou” o The Denver Post (sem relação com o jornal de Washington), mas ele agora está sozinho na cidade: o leitorado local perde muito com essa falta de concorrência.
Já fui editor na Folha e já fui dono de um pequeno jornal. Sei que existem jornais (principalmente os chamados “jornaizinhos” de bairro) que não valem a tinta que os imprime, pois prestam verdadeiros desserviços a suas comunidades. Mas receio que não seja deles que Bradlee falava. E certamente não era o caso do Rocky Mountain News e do Tucson Citizen. Por isso, em nome dos leitores locais, sou a favor da qualidade dos jornais, mas também sou a favor da quantidade de publicações.
“A visão acima é de quem está no topo da cadeia alimentar desta indústria”… exatamente. Mas quem vai publicar entrevista de dono de “jornal pequeno” pregando essa diversidade?
Quando Assis Chateaubriand era foquinha no Gazeta do Norte, ouviu de seu editor uma frase que repetiu muitas e muitas vezes em sua vida como magnata da mídia: “se quer ter opinião, compre um jornal e publique o que quiser nele.” Naquela época, isso era literal, já que não existiam blogs 😉 Mas serviu de inspiração para aquele paraibano iniciar sua carreira como empresário da mídia.
O que estou querendo dizer é que, mesmo no meio desta crise, é possível encontrar modelos de negócios que viabilizem novas publicações, pequenas ou grandes. O jornal (ou a revista ou o site) não precisa ser grande para ser bom, nem para cumprir bem seu papel social. Que venham mais jornais, e que os já existentes resistam, por mais que sejam obrigados a se modificar. Mas que sejam bons, que tenham o leitor como a razão de ser de suas redações.
Não é uma visão romântica. Como qualquer empresa, jornais devem ganhar dinheiro. Mas bons jornais podem conseguir isso fazendo o que devem fazer. Fora disso, viram só balcões de anúncios. E esses vão acabam sendo engolidos pela mídia digital.