“A necessidade é a mãe das invenções.” O velho ditado explica bem algo que vem sendo observado nos EUA diante da crise vivida pela mídia, especialmente o jornalismo impresso. Lá, jornalistas estão tentando salvar os veículos onde (ainda) trabalham ou tratando de ressuscitar aqueles que já deixaram de circular. E vêm fazendo isso de maneira mais criativa e mais ousada que os donos do próprio negócio jamais pensaram.
Talvez façam isso porque profissionalmente não correm muitos riscos, pois seus empregos já viraram fumaça ou já estão em chamas no modelo de negócios atual. Mas o fato é que os colegas estão se mexendo, enquanto os moguls ficam se debatendo em torno de formas que garantiriam uma sobrevida a seu negócio, de preferência sem realizar grandes mudanças.
Aí reside o problema: chegamos (especialmente a mídia na Gringolândia) a um ponto em que mudanças de monta se fazem necessárias. Por conta do imobilismo, jornais estão fechando suas portas ou pedindo concordata. Os que sobrevivem -e isso certamente vale para a mídia impressa brasileira- estão cada vez mais finos, previsíveis e rasos em sua qualidade.
Qual a saída? A Redação do Star Tribune, em concordata há três meses, não sabe, mas não teve vergonha de vir a público para perguntar. Lançaram uma campanha pública, o Save the Strib. O objetivo do site é sensibilizar a população e eventuais interessados em comprar o jornal, para que ele não morra. Criou um abaixo-assinado e pede idéias e sugestões aos internautas, além de propostas de aquisição.
A novidade aí está na coragem da iniciativa. Mas há outros casos mais interessantes aparecendo em diversas regiões nos EUA. Em Denver, por exemplo, 35 ex-jornalistas do recém-finado Rocky Mountain News juntaram-se a três investidores e criaram o InDenverTimes.com. Atualmente em beta, o lançamento oficial está marcado para o dia 4 de maio, mas isso só acontecerá se conseguir juntar, até o dia 23 de abril (ou seja, quinta), pelo menos 50 mil assinantes dispostos a pagar US$ 4,99 por mês pelo produto. Longe de ser uma coincidência, essa data marcaria o 150º aniversário do Rocky, caso ele tivesse sobrevivido.
O conteúdo do veículo é completamente livre. O que os assinantes ganham? A possibilidade de conversar em tempo real com os jornalistas e também participar da comunidade em torno do site, como fóruns, comentando notícias e por aí vai. Em resumo, de fazer parte da publicação. O desafio da equipe é criar um produto pelo qual os cidadãos de Denver queiram pagar. E é um tremendo desafio, pois eles não conseguiram fazer isso no finado Rocky, impresso ou online. E, se por um lado US$ 5 parece nada, por outro passamos por um momento em que as pessoas cada vez menos querem pagar pelas notícias que consomem.
Para deixar o pacote mais suculento aos assinantes, a publicação promete a maneira de pensar do mundo ponto-com, afastando-se da arrogância típica da “mídia tradicional”, em que os jornalistas estão “acima de tudo e de todos”, dizendo o que é importante para os seus leitores (para dizer o mínimo). A cobertura passa a ter rosto: os jornalistas são pessoas próximas dos internautas, como eles, ao lado deles.
Honestamente, não sei se isso será suficiente para a turma arrebanhar os seus 50 mil assinantes. Como são nomes conhecidos (e muitos deles queridos) da população de Denver, uma cidade de quase 600 mil habitantes, talvez consigam, nem que seja a título de “colaboração” nesse primeiro ano. Mas como será no segundo ano?
De qualquer forma, é uma aposta válida, no mínimo por demonstrar que jornalistas podem fazer muito mais que aquilo a que costumam ser limitados nas grandes Redações e para deixar claro que o jornalismo ainda é um negócio viável.