O botão milagroso

Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

Clique no botão, assine a revista e salve-a de um destino pior que a morte

As muitas revistas de uma grande editora onde já trabalhei vêm sofrendo há bastante tempo o mesmo que se observa por aí no mercado: redução nas tiragens, queda na receita publicitária e com assinaturas e diminuição das vendas em bancas. Desde que surgiu, a Internet é apontada internamente como grande vilã desse cenário, o que aliás impede que a empresa invista com seriedade nessa “nova mídia”, temendo que seus próprios sites “canibalizem” (esse é o termo usado) as revistas, roubando-lhes leitores.

Nesse cenário de muita preocupação dos executivos da casa, vira e mexe eles surgem com uma ideia brilhante. Nos últimos dias, foi decretado que os sites de cada publicação deveriam dar destaque ao “botão assine”, aquele que convida o internauta a assinar a revista em papel. E aí vale tudo: jogar o botão para o alto, pintar o bichinho de vermelho e fazê-lo piscar, transformá-lo em uma animação espalhafatosa. Se poluir ainda mais o já complicado layout, azar.

É a típica visão distorcida dos fatos. Não que os sites não devam “ajudar” suas irmãs em couché, mas o buraco é mais embaixo. Conversando com uma gerente de assinaturas da mesma editora, ela confidenciou que, apesar dessa histeria das Redações diante da “ameaça digital”, que já dura anos, até hoje a Web não provocou diferenças significativas nas vendas de assinaturas e em bancas. Sim, é isso mesmo que você leu! Quem está maculando esses números, segundo ela, são o aumento do preço de capa e a redução dos descontos nas assinaturas.

Na verdade, ela tem uma visão parcial da coisa. Esses ex-consumidores de revistas continuam consumindo informação, mas em outro lugar. E esse lugar é justamente a Web. Eles deixam de investir em papel para consumir o mesmo material jornalístico (ou ainda melhor) em outra mídia, que oferece isso de maneira mais cômoda e mais barata, até de graça.

Daí vem o povo com a história do botão milagroso… Como dizia um velho amigo, “o pior cego é o que não quer ouvir”. Quantos títulos deverão ser fechados antes de pararem de enxergar seus sites como meros complementos das revistas e canais de venda de polpa de madeira impressa?

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