Red Hat

Thiago Araki, diretor-sênior de Tecnologia da Red Hat na América Latina, no palco do Summit Connect, no dia 18 – Foto: Red Hat

Negócios e empregos mudam exponencialmente com novas tecnologias e modelos

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O ano de 2023 será lembrado como o momento em que a inteligência artificial ganhou as ruas. O lançamento do ChatGPT, no final de 2022, disparou uma corrida em que todos os negócios parecem ser obrigados a usar a IA, quase como se ela fosse um selo de qualidade, o que obviamente não passa de uma distorção do que ela representa. O grande desafio reside, portanto, em conhecer e se apropriar dessa tecnologia, para tirar proveito dela adequadamente.

As empresas têm um papel central em ajudar nessa tarefa, não apenas com o lançamento de produtos que tragam soluções consistentes com a IA, mas também na educação do mercado. Isso ficou claro durante o Red Hat Summit: Connect, principal evento de tecnologia open source da América Latina, que aconteceu em São Paulo no dia 18.

É curioso pensar que a inteligência artificial já está em nosso cotidiano há muitos anos, em incontáveis aplicações empresariais e até em nosso celular, ajudando-nos a fazer escolhas melhores. A diferença é que, até então, ela se escondia nas entranhas desses sistemas. Agora ganhou a luz do sol, exposta em conversas que temos com a máquina, que nos responde como se fosse outra pessoa.

Ainda há deslumbramento demais e conhecimento de menos sobre a inteligência artificial entre consumidores e empresas. O próprio lançamento de tantas plataformas de inteligência artificial generativa, na esteira do sucesso explosivo do ChatGPT, indica um certo descuido de alguns desenvolvedores de soluções, liberando um enorme poder para pessoas que não sabem como usá-lo corretamente.

Nesse sentido, a Red Hat, que é a maior empresa do mundo no fornecimento de soluções empresariais open source, entende que deve ir além do seu papel de desenvolver produtos que tiram proveito da IA: deve também educar seus usuários, seja pelas suas próprias iniciativas, seja pela colaboração com o mundo acadêmico. “As empresas não só podem como devem colaborar na formação de profissionais”, explica Alexandre Duarte, vice-presidente de Serviços para a América Latina na Red Hat. “Nós temos que juntar esforços do mundo corporativo com o mundo educacional, estando alinhados.”

A versão latino-americana do Summit, que também acontece em Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile), Tulum (México), Lima (Peru) e Montevidéu (Uruguai), traz para esses mercados produtos e conceitos que foram apresentados em maio no evento global da empresa, realizado em Boston (EUA). Entre eles, o Ansible Lightspeed e o OpenShift AI, que usam a inteligência artificial na automação de tarefas, como geração de códigos a partir de pedidos simples em português, liberando o tempo das equipes para funções mais nobres.

E assim como pude ver em Boston, aqui a empresa também deixa claro que a inteligência artificial não chega para substituir profissionais, e sim para melhorar suas rotinas. “Se você for um novato, poderá criar melhor, mais rápido; se for um especialista, poderá melhorar muito o que faz e usar seu domínio para refinar a entrega”, explicou-me Matt Hicks, CEO global da Red Hat, em uma conversa com jornalistas durante o Summit na cidade americana. “Nessa nova fase, temos que conhecer a pergunta para a qual queremos a resposta”, concluiu.

É auspicioso observar essa visão em uma das empresas de software mais respeitadas do mundo, em um momento em que muita gente teme pelo seu emprego pelo avanço da inteligência artificial. “Essas ondas tecnológicas não tiram o emprego das pessoas, os profissionais precisam se acomodar”, acalma Duarte. Mas ele faz uma ressalva: é preciso querer aprender! “Se você tem propensão a aprender coisas novas, eu não acredito que a inteligência artificial vai tirar seu emprego, e ainda vai gerar novas oportunidades de trabalho”, acrescenta.

 

O poder da “coopetição”

Em março deste ano, a Red Hat completou 30 anos. Ele cresceu a partir de sua distribuição do sistema operacional Linux, provavelmente o software open source mais famoso do mundo. Nessa modalidade, o produto e o código-fonte ficam disponíveis gratuitamente. A regra fundamental é que, se alguém fizer uma melhoria no sistema, ela deve ser compartilhada de volta com a comunidade.

Essa forma de pensar inspira seu próprio modelo de trabalho, que ficou conhecido como “open business”, uma abordagem empresarial em que equipes, a comunidade e até concorrentes são convidados a cooperar de maneira transparente. Ela valoriza a transparência e a responsabilização, distribuindo os benefícios para todos. “Há 30 anos a gente fala sobre essa abertura, essa transparência, essa possibilidade de diferentes perspectivas”, afirma Sandra Vaz, diretora-sênior de Alianças e Canais para a América Latina na Red Hat.

Surge então a chamada “coopetição”, um neologismo que une “cooperação” e “competição”. “Nada mais é que dois competidores cooperando e criando novas soluções para o bem de seus clientes”, explica Vaz. “Nós colaboramos, nossas equipes de desenvolvimento se conectam e criam o melhor dos mundos, simplificando soluções já existentes.”

A “coopetição” também é uma poderosa ferramenta para ampliar a base de clientes, pois um dos participantes pode trazer consumidores a que o outro lado não teria acesso. Sandra dá, como exemplo, um provedor de serviços na nuvem, como a AWS ou a Microsoft, que podem até ter produtos concorrentes aos da Red Hat, mas que se associam a ela justamente nessas soluções, se assim for o desejo do cliente.

A tecnologia avança a passos muito rápidos, assim como modelos de negócios inovadores. Qualquer que seja o mercado ou a função, está claro que profissionais precisam estar não apenas abertos à inovação, como também dispostos a aprender como tirar proveito dela de maneira eficiente e ética.

A inteligência artificial talvez não acabe com os empregos das pessoas que não a adotem, mas isso pode acabar acontecendo pelas mãos daquelas que passarem a usá-la.


Você pode assistir à íntegra em vídeo das minhas entrevistas com os executivos da Red Hat. Basta clicar no respectivo nome: Alexandre Duarte, Sandra VazMatt Hicks.

 

Diversidade e inclusão tornaram-se poderosas ferramentas de negócios e inovação - Foto: Christina Morillo/Creative Commons

Diversidade e inclusão tornam-se aliadas da inovação

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Quando se pensa em inovação, normalmente o que vem à mente são investimentos em tecnologia, novos processos e talentos ligados às tendências do mercado. Mas algumas empresas estão percebendo que, além disso tudo, investir em diversidade e inclusão em seus quadros lhes permite inovar ainda mais e oferecer produtos mais alinhados com seus clientes.

Algumas das inovações mais importantes para a sociedade têm muito pouco ou nada de tecnologia envolvida. Basta fazer algo que traga benefícios reais para as pessoas, seja uma coisa que ainda não exista ou dando uma nova perspectiva para algo já disponível.

Mas fica difícil desenvolver essa perspectiva inovadora quando todos na equipe são mais ou menos iguais e pensam da mesma forma. Diante de um mundo crescentemente complexo, acelerado e imprevisível, com clientes cada vez mais exigentes e participativos, trazer para dentro de casa visões diversas da vida torna-se essencial.

Portanto, investir em diversidade e inclusão nos times não é algo apenas socialmente responsável: é um incrível diferencial de negócios de empresas inteligentes.


Veja esse artigo em vídeo:


“Vemos que grupos diversos tomam decisões melhores, que trazem aumento de lucros”, explica Shuchi Sharma, vice-presidente global de Diversidade, Equidade e Inclusão da Red Hat, líder mundial em software open source. “Certamente é uma vantagem competitiva porque, quando você tem perspectivas mais diversas para a forma como você toma decisões todos os dias, você vê resultados muito diferentes do que quando você tem apenas um grupo homogêneo fazendo as coisas da mesma maneira, pensando o mesmo caminho”.

Entretanto, ter diversidade nas equipes não é suficiente. Sharma explica que a empresa precisa desenvolver uma cultura de inclusão e de pertencimento, porque todos precisam se sentir psicologicamente seguros para expor sua criatividade e assumir os riscos necessários para impulsionar a inovação. A inclusão prevê que todos não só tenham voz, como que ela seja efetivamente ouvida.

Essas ações precisam ser concretas e os gestores devem estar preparados para elas. Isso significa, em primeiro lugar, que precisam genuinamente prestar atenção no que os funcionários lhes dizem, procurando entender suas perspectivas e suas experiências, que podem ser muito diferentes das deles. Devem também validá-las, para que a equipe perceba que elas são valiosas.

É um trabalho constante e permanente. Empresas que investem há mais tempo em diversidade e inclusão, como IBM, SAP e Coca-Cola, hoje colhem muitos frutos disso. A executiva explica que não se deve interromper as iniciativas se as metas forem atingidas, ou tudo que se construiu pode ser perdido, como em qualquer outra parte do negócio. “Se você atinge suas metas de vendas, você não para de vender”, exemplifica.

Não é algo trivial. É preciso mudar a cultura corporativa de uma mentalidade de comando e controle para um ambiente mais distribuído e matricial. Tanto que os líderes que se destacam hoje são mais orientados para mentoria da equipe, o que exige muito mais escuta e um comprometimento em servir o próprio time.

 

Atração e retenção de talentos

Esses esforços se pagam! O relatório “A inclusão não é apenas legal: é necessária”, publicado em fevereiro pelo Boston Consulting Group após ouvir mais de 27 mil profissionais de 16 países (incluindo o Brasil), indica que melhorar a experiência de inclusão no local de trabalho é uma das ferramentas mais efetivas que as empresas têm para atrair e reter talentos. Se bem-feita, a inclusão reduz pela metade os atritos.

Isso acontece porque os funcionários sentem que podem ser autênticos com o que são e com o que acreditam, sem medo de discriminação. Assim ficam mais felizes e motivados para dar o melhor de si, pois sentem que suas perspectivas são importantes. Eles têm quase 2,4 vezes menos probabilidade de pedir demissão.

É importante que esses benefícios sejam conhecidos. Poucas empresas ainda investem em iniciativas de diversidade e inclusão, pois é difícil de definir, medir e influenciar suas ações e resultados no ambiente de trabalho. Por isso, elas acabam sendo subvalorizadas.

O estudo sugere algumas medidas para melhorar a inclusão nas empresas, começando por haver diversidade no nível de liderança, que deve se demonstrar comprometida com o tema. As gerências devem criar equipes e ambientes seguros para minorias, com medidas rigorosas contra comportamentos discriminatórios e tendenciosos. Por fim, os resultados da companhia devem ser medidos com foco em diversidade e inclusão.

Equipes diversas também permitem que se inove em produtos para atender necessidades de grupos específicos, que acabam favorecendo a população como um todo. Um bom exemplo são as rampas em calçadas, nas esquinas. Criadas originalmente para cadeirantes, eles passaram a ser usadas também por ciclistas e por pessoas com carrinhos de bebês ou de compras, entre outros.

“Acreditamos que as melhores ideias podem vir de qualquer lugar, e essa é a essência do open source, bem como a essência da inclusão”, afirma Sharma, que construiu sua carreira na indústria de TI, um mercado fortemente dominado por homens brancos. Graças ao seu histórico de promoção de mulheres e minorias nos setores de tecnologia e saúde, foi nomeada uma das 50 Líderes do Futuro pelo jornal “Financial Times” em 2018.

“Mulheres podem melhorar os resultados em empresas de tecnologia pelas suas perspectivas diferentes, melhor tomada de decisão, mais empatia com seus clientes e compreensão de diferentes formas de fazer as coisas”, acrescenta. Ela destaca o caso de mães solteiras, muitas vezes estigmatizada pela sociedade, mas que são resistentes e persistentes, sempre têm um “plano B” e têm que resolver problemas de forma criativa. “São qualidades que queremos ter em todos os negócios: que ótimo lugar para encontrá-las”, provoca.

Já passou da hora de as empresas de todos os setores pararem de encarar a diversidade e a inclusão como palavras vazias apenas para serem bem vistas por uma sociedade que valoriza esse assunto cada vez mais. Elas são incríveis ferramentas de inovação e de negócios! Mas isso só acontecerá para aqueles que estejam dispostos a sair de sua zona de conforto e fazer os movimentos necessários.


Assista à íntegra da conversa com Shuchi Sharma, VP de Diversidade e Inclusão da Red Hat.

 

Matt Hicks, CEO da Red Hat, durante a abertura do Red Hat Summit 2023: “esse é o momento da IA” - Foto: Paulo Silvestre

Inteligência artificial produz coisas incríveis, mas não podemos perder nosso protagonismo

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Estive na semana passada em Boston (EUA), participando do Red Hat Summit, maior evento de software open source do mundo. Apesar desse modelo de desenvolvimento de programas aparecer a todo momento, a estrela da festa foi a inteligência artificial. E algo que me chamou a atenção foi a preocupação da Red Hat e de seus executivos em demonstrar como essa tecnologia, por mais poderosa que seja, não deve fazer nada sozinha, precisando ser “treinada” com bons dados, com o ser humano ocupando o centro do processo.

O próprio CEO, Matt Hicks, abriu a conferência dizendo que esse é o “momento da IA”. Muitos dos principais anúncios do evento, como o Ansible Lightspeed e o OpenShift AI, embutiam um incrível poder da inteligência artificial na automação de tarefas, como geração de código a partir de pedidos simples em português, liberando o tempo das equipes para funções mais nobres.

Isso não quer dizer, entretanto, que os profissionais possam simplesmente “terceirizar” o raciocínio e a sua criatividade para as máquinas. Pelo contrário, por mais fabulosas que sejam essas ferramentas, elas pouco ajudam se o usuário não conhecer pelo menos o essencial do que os sistemas produzem.

Tanto é verdade que assistimos a casos de pessoas e de empresas que enfrentam grandes contratempos por usar plataformas generalistas de inteligência artificial (como o ChatGPT) de maneira descuidada. Precisamos ter em mente que, por mais que ela chegue a parecer mágica, não é infalível!


Veja esse artigo em vídeo:


Foi o que aconteceu recentemente com o advogado americano Steven Schwartz, da firma Levidow, Levidow & Oberman, com mais de 30 anos de experiência: ele enfrentará agora medidas disciplinares por usar o ChatpGPT para pesquisas para o caso de um cliente que processava a Avianca. Tudo porque apresentou à corte um documento com supostos casos semelhantes envolvendo outras empresas aéreas.

O problema é que nenhum desses casos existia: todos foram inventados pelo ChatGPT. Schwartz ainda chegou a perguntar à plataforma se os casos eram reais, o que ela candidamente confirmou. É o que os especialistas chamam de “alucinação da inteligência artificial”: ela apresenta algo completamente errado como um fato, cheia de “convicção”, a ponto de conseguir argumentar sobre aquilo.

“Nessa nova fase, temos que conhecer a pergunta para qual queremos a resposta”, explicou-me Hicks, em uma conversa com jornalistas durante o Summit. “Se você for um novato, poderá criar melhor, mais rápido; se for um especialista, poderá melhorar muito o que faz e usar seu domínio para refinar a entrega”, concluiu.

Para Paulo Bonucci, vice-presidente e gerente-geral da Red Hat para a América Latina, “não adianta você chegar com inteligência artificial assustando a todos, dizendo que vai faltar emprego”. Para o executivo, a transformação que a inteligência artificial promoverá nas empresas passa por uma transformação cultural nos profissionais. “A atenção principal enquanto se desenvolvem os códigos e as tecnologias de inteligência artificial são as pessoas, são os talentos”, acrescenta.

Chega a ser reconfortante ver lideranças de uma empresa desse porte –a Red Hat é a maior empresa de soluções empresariais open source do mundo– demonstrando essa consciência. Pois não se enganem: a inteligência artificial representa uma mudança de patamar tecnológico com um impacto semelhante ao visto com a introdução dos smartphones ou da própria Internet comercial.

A diferença é que, no mundo exponencial em que vivemos, as transformações são maiores e os tempos são menores. E nem sempre as empresas e ainda mais as pessoas têm sido capazes de absorver esse impacto.

 

Corrida do ouro

Infelizmente o que se vê é uma corrida tecnológica, que pode estar atropelando muita gente por descuido e até falta de ética de alguns fabricantes. “Existem empresas grandes que fazem anúncios quando sua tecnologia não está madura”, afirma Victoria Martínez, gerente de negócios e data science da Red Hat para a América’ Latina. “Essa corrida tornou-se muito agressiva”.

É interessante pensarmos que as pesquisas em inteligência artificial existem há décadas, mas o assunto se tornou um tema corriqueiro até entre não-especialistas apenas após o ChatGPT ser lançado, em novembro. Não é à toa que se tornou a ferramenta (de qualquer tipo) de adoção mais rápida da história: todos querem usar o robô para passar para ele suas tarefas. E, graças a essa corrida, isso tem sido feito de maneira descuidada, pois alguns fabricantes parecem não se preocupar tanto com perigos que isso pode representar.

“Isso é uma coisa que a gente deveria estar discutindo mais”, sugere Eduardo Shimizu, diretor de ecossistemas da Red Hat Brasil. “Entendo que nós, não só como especialistas em segurança ou em tecnologia, mas como seres humanos, precisamos discutir esses temas éticos da forma de usar a tecnologia”, acrescenta.

Martínez lembra das preocupações que educadores vêm apresentando sobre o uso de plataformas de IA generativas, como o próprio ChatGPT por crianças. “Não podemos esquecer de aprender o processo”, alerta. Em uma situação limite, seria como entregar uma calculadora a uma criança que não sabe sequer conceitualmente as quatro operações básicas. Ela se desenvolveria como um adulto com seríssimos problemas cognitivos e de adaptação à realidade.

Por isso, a qualquer um que não saiba fazer uma divisão deveria ser proibido usar uma calculadora. Por outro lado, para quem domina suficientemente a matemática, a calculadora e mais ainda uma planilha eletrônica são ferramentas inestimáveis.

É assim que devemos encarar essa mudança de patamar tecnológico. Como escreveu Hicks em um artigo recente, “não sabemos o que o futuro reserva –nem mesmo o ChatGPT é precognitivo ainda. Isso não significa que não podemos antecipar quais desafios enfrentaremos nos próximos meses e anos.”

Quaisquer que sejam, quem deve estar no comando somos nós. Os robôs, por sua vez, serão ajudantes valiosíssimos nesse processo.


Você pode assistir à íntegra em vídeo das minhas entrevistas com os quatro executivos da Red Hat. Basta clicar no seu nome: Matt Hicks, Paulo Bonucci, Victoria Martínez e Eduardo Shimizu.

 

Entenda como a “cloud computing” pode melhorar a tecnologia em seu negócio

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A “computação da nuvem” (ou “cloud computing”) está profundamente disseminada em nossa vida, até mesmo sem nos darmos conta disso. Muitos serviços que usamos no nosso cotidiano “rodam na nuvem”.

Do lado das empresas, ela vem se tornando cada vez mais popular nos últimos anos. Mas ainda há muitas dúvidas sobre o que ela é, como funciona e quem deve fazer uso desse serviço.

E é curioso que a tecnologia de “cloud computing” está longe de ser uma nova. ela já existe há muitos anos, mas vem ganhando notoriedade de uns tempos para cá, pois tem aparecido bastante na mídia.

Para explicar um pouco mais sobre a “computação na nuvem”, responder a essas dúvidas e como ela pode ajudar seus negócios, conversei com Thiago Araki, diretor de Tecnologia e GTM da Red Hat para a América Latina, um grande especialista no assunto. A Red Hat é a maior e mais importante empresa de software open source do mundo.

Confira a seguir a íntegra da conversa:

Videodebate: você colabora ou compete?

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Você seria capaz de criar algo junto com o seu concorrente?

Para muitos, há uma inevitável contradição nessa pergunta. Mas os negócios mudaram. Cada vez mais empresas aprendem que é possível colaborar com seu competidor em aspectos pontuais para benefício mútuo.

A colaboração é um dos pilares do “open business”, movimento que também prega ampla participação de funcionários e até de clientes em decisões da empresa, preocupação com a comunidade, crescimento de todos os envolvidos, entre outras coisas. Algumas empresas que adotam essas práticas hoje lideram seus mercados, pois conseguem inovar mais rapidamente.

Na semana passada, a IBM concluiu a compra multibilionária da Red Hat, maior empresa de software open source do mundo. Valor da fatura: US$ 34 bilhões! No vídeo abaixo, trago minhas conversas com Jim Whitehurst, CEO global, e com Paulo Bonucci, VP para a América Latina da empresa, sobre a aquisição e sobre cultura empresarial.

Mas será que dá para implantar isso na sua empresa? Descubra no meu vídeo. E depois conte para nós aqui as suas percepções.



Quer ouvir as minhas pílulas de cultura digital no formato de podcast? Basta procurar por “O Macaco Elétrico” no Spotify, no Deezer ou no Soundcloud. Se preferir, pode usar seu aplicativo preferido: é só incluir o endereço http://feeds.soundcloud.com/users/soundcloud:users:640617936/sounds.rss

A tecnologia pode ser uma poderosa ferramenta de inclusão social para meninas

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A tecnologia também pode ser um poderosa ferramenta de inclusão social!

A organização sem fins lucrativos Women Who Code de Recife realiza um trabalho educacional inspirador para meninas a partir dos 10 anos de idade, usando a programação como meio para que mulheres desenvolvam habilidades e o gosto pela tecnologia. Além de abrirem uma ótima oportunidade profissional para elas, ajuda a equilibrar esse mercado de trabalho, que ainda é majoritariamente masculino.
Conheça seu trabalho e como participar, assistindo abaixo à minha entrevista com Andreza Alencar e Karina Machado, diretoras da ONG. Quer participar? Entre em contato com elas: womenwhocode.com/recife ou @WWCode_Recife


Como a inteligência artificial e a computação em nuvem já ajudam os pequenos

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Imagine se o seu computador resolvesse um problema antes que ele acontecesse.

Bem, isso já acontece!

Nesta terça, foi lançado o Red Hat Enterprise Linux 8, que incorporou inteligência artificial para ficar monitorando continuamente o equipamento e identificar comportamentos que poderão levar a algum problema, com base no que aprende com o que o administrador da máquina faz e com os padrões coletados de usuários do mundo todo. Se algo potencialmente não estiver bem, o sistema dispara o alerta e já propõe soluções, também baseadas em inteligência artificial, para que o problema não chegue a acontecer.

Há 15 anos, isso seria ficção científica. Hoje a inteligência artificial faz parte da nossa vida, até em atividades prosaicas do cotidiano, até em nossos smartphones. E, muitas vezes, nem percebemos que ela está lá. Graças também à computação em nuvem, hoje empresas, mesmo de pequeno pote, têm acesso a recursos que até bem pouco tempo, eram inimagináveis.

Entenda isso melhor vendo abaixo a minha entrevista com Boris Kuszka, líder dos arquitetos de solução da Red Hat Brasil, e cm Thiago Araki, líder dos especialistas de produtos da Red Hat América Latina.

A inovação pode ser inimiga da produtividade?

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Charlie Chaplin em cena do filme “Tempos Modernos” (1936) que contrapõe uma caricata inovação à eficiência - Foto: divulgação

Charlie Chaplin em cena do filme “Tempos Modernos” (1936) que contrapõe uma caricata inovação à eficiência

Já é senso comum que precisamos inovar para nos mantermos no mercado, seja lá o que façamos. Há cada vez menos espaço para fórmulas cristalizadas. Apesar disso, no frigir dos ovos, são poucas as empresas que realmente inovam em seus processos e modelos de negócios, preferindo manter tudo como está, mesmo com o risco de serem passadas para trás. O motivo: inovar nos tira de nossa zona de conforto e embute riscos no negócio. A qual grupo de profissionais você pertence: os inovadores ou os conservadores?

Isso gera um tremendo dilema: como pensar em modelos disruptivos se isso pode, pelo menos em um primeiro momento, atrapalhar algo que esteja funcionando bem há anos? Isso fica ainda mais dramático em um cenário econômico como o que vivemos, com uma crise profunda que resiste há anos.


Vídeo relacionado:


Essa questão me foi apresentada na semana passada, durante o Red Hat Summit, que aconteceu em San Francisco (EUA). Ela surgiu na conversa que pode ser vista no vídeo acima, que tive com Jim Whitehurst, CEO da Red Hat, a maior empresa de software open source do mundo.

Para ele, ainda estamos nos dias inicias em que a inovação mudará os modelos de negócios das organizações. “A maneira como a maioria das empresas é tocada e como os modelos de negócios foram construídos no passado é focada em eficiência”, afirmou. “Como consigo mais escala, como consigo ser mais eficiente?” Considerando que a maioria dos gestores detesta riscos, a inovação acaba encontrando profundas barreiras internas, pois as mudanças que ela inevitavelmente traz batem de frente com esse conceito.

Mas, afinal, por que é tão imperioso inovar?

 

A morte da vaca leiteira

Como jornalista, pertenço a uma indústria que está em crise. A grande maioria das empresas de comunicação tradicionais está com seríssimos problemas. Seus faturamentos estão em queda livre há anos, há uma gigantesca fuga de público e sangria de publicidade, veículos tradicionais são descontinuados e várias empresas já fecharam as portas. Muitas outras, verdadeiros colossos empresariais até bem pouco tempo atrás, definham melancolicamente.

Diante desse cenário aterrorizante, seus gestores jogam a culpa nos meios digitais e no próprio consumidor. Alguns dizem até que o jornalismo está morrendo! Nenhum olha para o espelho e assume a sua inoperância como o verdadeiro problema.

Isso não passa de chororô de quem não faz a sua lição de casa e se recusa a inovar!

Acontece que essas empresas foram inovadoras há algumas décadas, criando produtos que lhes garantiram enorme prestígio financeiro e político. Criaram um negócio muito bem azeitado. Agora insistem em continuar vivendo dessa glória do passado.

Entretanto, essas “vacas leiteiras”, que alimentaram a organização por décadas, morreram ou estão moribundas. Em outras palavras, se transformaram em “abacaxis”, ou seja, esses produtos não apenas deixaram de ser fontes consistentes de recursos sustentáveis para se transformar em preocupações que drenam energia e dinheiro das organizações.

Até uns 15 anos atrás, se quiséssemos nos manter bem informados, tínhamos que forçosamente assinar um jornal, uma revista semanal e uma ou outra revista segmentada. E era assim porque não tínhamos alternativas! Apenas as grandes empresas de comunicação produziam conteúdo de qualidade.

O cenário mudou completamente. Os meios digitais baratearam imensamente a produção de novos veículos de comunicação. E, com isso, esse mercado foi inundado por novas empresas, muito mais ágeis, com produtos adequados aos novos anseios do público, com uma nova linguagem, modelos de negócios inovadores e bom uso dos recursos digitais.

O público –que não é trouxa– percebeu que tinha mais poder de escolha, e migrou para os novos produtos, que lhe ofereciam muito mais vantagem. O consumidor, portanto, mudou –e para algo melhor!

Os meios digitais não estão matando aquelas empresas tradicionais. Quem está fazendo isso é a sua própria incompetência em inovar para se manterem competitivas.

E não se engane: isso acontece da mesma forma com qualquer negócio.

 

O infame departamento de inovação

A inovação deve ser um processo de liberdade e amplo. Uma empresa só é verdadeiramente inovadora quando oferece, a todos os seus funcionários, a possibilidade de correr riscos e criar coisas novas.

Muitas companhias, quando decidem “inovar”, criam “departamentos de inovação”. Ou seja, elegem algumas mentes e os colocam em uma salinha, onde serão responsáveis por tirar a organização da mesmice.

Nada mais equivocado!

Quando os gestores fazem isso, passam uma mensagem ao resto da companhia de que a inovação é exclusividade daquela turma. A todos os outros, cabe manter a máquina girando, executando os processos já consagrados.

Mas a inovação pode vir de todo lugar, mesmo do funcionário mais insuspeito! E pode acontecer até mesmo em pequenas mudanças no cotidiano da produção, que podem ter impactos significativos no negócio.

De volta ao Red Hat Forum, Whitehurst construiu sua fala na abertura do segundo dia do evento em cima do conceito de “configurar, habilitar, engajar”. Em outras palavras, as empresas precisam criar e oferecer recursos para que seus públicos internos e externos se envolvam com o negócio.

A inovação vem, portanto, com mudanças culturais.

 

O caminho para a inovação

Uma mudança cultural de uma organização pode ser um processo doloroso, pois ela implica em mudanças essenciais na maneira como a liderança é exercida. Envolve os valores da companhia, seus processos, seus sistemas, sua gestão.

Portanto, a mudança tem que inevitavelmente envolver a liderança. Pode até começar em níveis inferiores, mas precisa forçosamente ser conduzida pela chefia. E isso não quer dizer que “o pessoal do andar de cima” de repente ficará “bonzinho” ou se preocupará menos com os lucros.

A mudança verdadeira acontece quando a liderança permite que qualquer um possa contribuir com ideias. Mais que isso, quando cria mecanismos para que as equipes implantem protótipos de novos modelos e produtos, mesmo que a maioria acabe sendo rejeitada depois, sem medo de serem punidos por isso. E isso deve acontecer de maneira recorrente e rápida!

Mesmo que, de cada dez ideias apresentadas, nove sejam abandonadas, a que “vingou” pode ser aquela que levará a empresa a um novo patamar de crescimento. E, no caso de ciclos recorrentes de inovação, o aprendizado dos anteriores, inclusive com as ideias desprezadas, faz com o processo se torne cada vez mais eficiente.

Em outras palavras, quando a empresa inclui a inovação em seu DNA, esse processo se torna tão natural, que não impacta a eficiência e a produtividade. Pode-se criar o novo sem impactar o que já está funcionando.

O guru da administração Tom Peters costuma dizer que “o fracasso é uma medalha de honra”, pois ele demonstra que se buscou o novo. E conclui: a única maneira de não fracassar em algo é não tentar. Mas essa também é a garantia de que jamais se atingirá o sucesso!

E então: vai continuar parado aí?


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A inovação não vem da tecnologia: vem das pessoas (e o que você faz sobre isso?)

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Imagem: Visual Hunt (Creative Commons)

“Inovação” é uma dessas palavras que está na boca de todo bom profissional e de qualquer empreendedor que se preze. Em tempos em que a concorrência é imensa e o consumidor tem cada vez maior poder, isso verdadeiramente deixou de ser um luxo para se tornar uma questão de sobrevivência. Então eu lhe pergunto: você sabe o que precisa para inovar?

A pergunta é legítima: na prática, vemos poucas empresas inovadoras. Essa escassez se deve a algumas ideias equivocadas, como a de que a inovação depende de grandes investimentos em tecnologia, que não passa de uma ferramenta. Verdade seja dita, uma ferramenta cada vez mais poderosa e acessível, mas ainda só uma ferramenta. O que realmente faz a inovação acontecer são as pessoas.


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Nós nascemos com todas as habilidades necessárias para inovar. Além disso, a tecnologia digital onipresente faz com que hoje quase todo mundo tenha pelo menos uma noção do que pode fazer para usar essa ferramenta criativamente.

Isso ficou muito claro em dois grandes eventos de tecnologia do qual participei nas últimas semanas: o Red Hat Forum e o SAP Forum, do qual fui Mentor de Conteúdo. Apesar de o melhor da tecnologia estar presente em toda parte ali, nada daquilo adiantaria sem a fagulha que nasce em cada um de nós. Tanto que o slogan do Red Hat Forum era “o impacto do indivíduo”. Perguntei a Gilson Magalhães, presidente de Red Hat Brasil, o porquê dessa frase. E ele explicou que a inovação depende de dois ingredientes básicos: a criatividade e a liberdade.

A primeira das duas é o que transforma necessidades em ideias, em produtos! Foi assim que a dificuldade para se conseguir um táxi deu origem ao Uber ou o desejo de compartilhar vídeos com amigos criou o YouTube, por exemplo. Hoje são duas operações multimilionárias, mas surgiram de necessidades muito simples, que todos nós temos, que foram conduzidas criativamente e com liberdade para se tentar. E veja só onde chegaram!

Todos nós temos necessidades não atendidas como essas o tempo todo. Então por que não temos muito mais exemplos assim por aí?

 

Os riscos da zona de conforto

Acontece que as pessoas e, ainda mais, as empresas têm medo da inovação.

Todos nós buscamos a nossa “zona de conforto”, um espaço em que temos a sensação de que dominamos todas as variáveis e onde não somos ameaçados. Nesse lugar, somos os senhores absolutos da situação.

Pena que isso não passe de uma ilusão.

Nunca somos os senhores absolutos do castelo: sempre algo está além do nosso controle, da nossa visão. Por isso, ao contrário de ser uma fortaleza, a “zona de conforto” é uma tremenda vulnerabilidade, pois, quando achamos que estamos “tranquilos”, ficamos cegos ao que está acontecendo a nossa volta. Perdemos a chance de identificar novas tendências e novos concorrentes. Ou pior: identificamos, mas não damos a devida atenção, até que seja tarde demais, e já estejamos sendo chutados para fora do mercado.

Mas o grande problema da “zona de conforto” é que ela inibe a inovação.

Sabe aquele ditado que diz que “em que que está ganhando não se mexe”. Profissionais e empresas que pensam assim estão condenados a desaparecer. Pois vejamos ou não, queiramos ou não, a concorrência sempre está se mexendo. Nosso próximo concorrente pode estar sendo criado nesse exato momento na mesa de um café qualquer. Essa nova empresa, inovadora e disposta a correr riscos, chegará ao mercado com potencial de destronar negócios consolidados há décadas, pelo uso criativo da tecnologia e modelos de negócios ousados.

Não podemos nos dar ao luxo de não correr riscos. Temos que estar prontos para isso o tempo todo, pois o mercado já não comporta quem quer ficar sempre igual. Não se enganem: a inovação chegará mais cedo ou mais tarde.

A questão que fica é: você estará no grupo inovador ou no que foi colocado para fora dos negócios?

 

A delícia de se correr riscos

Sim, temos medo de inovar, de correr riscos. É o nosso instinto de autopreservação gritando em nossos ouvidos, tentando evitar que quebremos a cara. Mas a única maneira de ter essa garantia é não tentando nada.

Oras, mas, se não tentarmos, nunca chegaremos a lugar nenhum. Nunca progrediremos. Nunca atingiremos o sucesso. Nunca conseguiremos sair do lugar medíocre em que a vida tende a colocar aqueles que ficam imobilizados por muito tempo.

Em resumo: nunca inovaremos.

Como disse o presidente da Red Hat Brasil, a inovação depende da criatividade e da liberdade. A primeira delas é mais fácil de entender. Precisamos pensar coisas novas, mas também pensar de um jeito diferente coisas que já existem, como nos exemplos do Uber e do YouTube. Já a liberdade é um conceito ainda mais nobre.

Liberdade não é a porta da gaiola aberta. É ter a garantia de poder ser criativo, sem que possíveis falhas no percurso da inovação sejam punidas. Como as empresas não conseguem garantir isso aos funcionários (mas ainda querem se dizer inovadoras), elas criam os famigerados “departamentos de inovação”. Esse é um jeito bonitinho de colocar a inovação dentro de quatro paredes, deixando-a bem controlada.

Nada mais equivocado!

A inovação não pode ser controlada, não pode ser parametrizada, não pode jamais ser restrita! Todos os funcionários de uma empresa devem ser incentivados a inovar, inclusive naquilo que não faz parte do seu trabalho. Pois a criatividade mais brilhante pode brotar nos lugares mais inesperados, como uma flor que escolhe nascer na rachadura de uma parede de concreto.

Querer restringir isso aos poucos escolhidos do “departamento de inovação” não faz o menor sentido. Da mesma forma, cabe a cada um querer ampliar os seus horizontes e fazer esses movimentos. Isso o tornará um profissional e uma pessoa melhor.

Em tempos de grande desemprego, isso pode ser decisivo.

 

Continue faminto!

Vivemos um momento riquíssimo em que a tecnologia digital está barata e fácil de usar como nunca, inclusive tecnologia de ponta! Felizes aqueles que conseguem aproveitar isso com criatividade e liberdade para criar produtos que podem redefinir o mercado. Precisamos resgatar aquela mente livre com a qual todos nascemos, mas que, com o passar dos anos, vai sendo aprisionada, primeiramente por um sistema educacional tacanho, depois por empresas acovardadas, ambos intolerantes a falhas e contrários à colaboração genuína.

Isso me lembra do histórico discurso de Steve Jobs para a turma de formandos de Stanford em 2005 (que pode ser visto na íntegra abaixo). O fundador da Apple, uma das pessoas mais inovadoras da história, termina sua fala com uma recomendação: “stay hungry, stay foolish’.


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Em uma tradução livre, isso poderia significar algo como “continue faminto, continue inocente”. Jobs não sugeria ser inocente para ser feito de bobo, mas sim para continuar acreditando em suas ideias, mesmo quando todo mundo diz que é ruim ou que simplesmente você não pode querer inovar. E ser faminto no sentido de que nunca saberemos o suficiente: sempre há espaço para aprender mais, para querer mais, para crescermos e sermos ainda melhores.

Portanto, se você é um executivo, não crie “departamentos de inovação” na sua empresa: dê liberdade para que todos os seus funcionários queiram -e sejam- criativos. Não tenha medo de correr riscos, ou você matará seu negócio. E, se você é um profissional de qualquer área, de qualquer nível, mantenha essa chama acesa dentro de você.

Em outras palavras, “continue faminto, continue inocente”.


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Por que colaborar é melhor que competir, até entre concorrentes

By | Educação, Tecnologia | 3 Comments
Cena de “The Wall”, ópera rock do Pink Floyd: escolas massacrando alunos, matando sua criatividade e colaboração, e promovendo a competitividade – Imagem: reprodução

Cena de “The Wall”, ópera rock do Pink Floyd: escolas massacrando alunos, matando sua criatividade e colaboração, e promovendo a competitividade – Imagem: reprodução

Se você costuma me acompanhar aqui no LinkedIn, provavelmente sabe que estive em Boston (EUA) na semana passada, participando do Red Hat Summit. Quando me perguntam qual foi a coisa mais bacana que vi lá, eu respondo: o conceito de colaboração que permeava o evento. Fiquei impressionado como até mesmo concorrentes podem fazer isso com grande sucesso! Então eu lhe pergunto: você e sua empresa conseguiriam fazer isso hoje?

Não chega a ser uma surpresa ver tanta colaboração em um evento de uma companhia que é a líder mundial em software open source. Mas o que me chamou a atenção é como essa filosofia transcendeu o desenvolvimento de software e está modificando a maneira como empresas de qualquer ramo fazem seus negócios, de uma maneira mais moderna, ágil e eficiente.


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Para quem não sabe o que open source, trata-se de uma modalidade de desenvolvimento em que alguém baixa um software cujo código-fonte está “aberto” (pronto para ser editado), realiza modificações no produto e o republica para que outros possam fazer outros incrementos a partir dessa versão melhorada. Entre as vantagens disso, estão produtos com mais recursos e muito mais estáveis, pois, ao invés de ser desenvolvido apenas pela equipe de uma empresa, é melhorado por uma boa parte de toda a comunidade de seus usuários. O exemplo mais emblemático dessa modalidade é o Linux, um sistema operacional que rivaliza com o Windows, especialmente em servidores corporativos.

No caso de negócios, a colaboração pode surgir de diferentes maneiras, como, por exemplo, no compartilhamento de recursos. Um exemplo interessante é o do Estadão e da Folha, que entregam seus jornais com os mesmos caminhões já há alguns anos. Concorrentes ferozes nos anos 1990, inclusive para ver quem chegava primeiro às bancas, a crise dessas empresas fez com que elas percebessem que era muito mais vantajoso juntar forças nessa questão operacional e continuar concorrendo naquilo que é realmente o seu negócio: a produção de conteúdo.

Aliás, a concorrência cada vez mais acirrada é hoje uma grande impulsionadora para a colaboração. Mas nem sempre foi assim. O ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro” explica o pensamento ainda dominante no mundo empresarial, que preconiza que, se o mercado está pequeno, se os recursos são escassos, o melhor a fazer é pisar na cabeça do concorrente e, se possível, tirá-lo do negócio.

Nada mais equivocado!

 

Colabore no essencial, concorra no diferencial

Empresas que já aprenderam a surfar nesse novo mundo colaboram até mesmo no desenvolvimento de seus produtos. E, como disse anteriormente, isso é viável até mesmo entre concorrentes! Isso é possível porque produtos semelhantes costumam ter características básicas iguais entre si. O que os diferencia é o refinamento que surge acima disso.

Apesar disso, em muitos casos, a construção desse alicerce comum acaba tomando a maior parte do tempo e dos recursos de desenvolvimento. Oras, se ele é indiferenciado entre concorrentes, por que então não juntarem suas forças nessa etapa?

Os benefícios imediatos são uma considerável redução nos custos e aumento na agilidade no desenvolvimento. Além disso, o produto final será potencialmente melhor que se fosse feito individualmente por cada empresa, pois ele será resultante de companhias diferentes, o que minimiza potenciais vícios empresariais de cada participante, que podem limitar bastante o escopo do produto. Além disso, cresce a base de clientes dessa solução e suas demandas, o que o torna mais atraente do ponto de vista comercial.

Claro que será necessária a criação de mecanismos para evitar que segredos industriais e comerciais vazem. Mas isso já faz parte do negócio, e a criação de processos bem definidos pode eliminar esse risco.

Mas há quem vá ainda além.

 

Negócios abertos e compartilhados

Algumas companhias vão além disso e adotam o conceito de “open business”. Derivado do “movimento open”, essas companhias possuem uma gestão colaborativa, onde funcionários e até mesmo consumidores participam da tomada de decisões em uma escala inimaginável para empresas tradicionais. Até mesmo as finanças são apresentadas de maneiras transparente.

Parte desses conceitos podem ser encontrados em empresas da chamada economia compartilhada, que tem no Uber e no AirBnB algumas de suas maiores estrelas. Essas companhias e seus modelos de negócios disruptivos estão redefinindo alguns pilares do capitalismo.

Talvez a mudança mais dramática que isso promova seja a construção de uma consciência de que não é mais necessário ter algo para usufruir de seus benefícios. O exemplo clássico disso é a furadeira. Quem tem uma em casa sabe que ela é usada muito, muito raramente. Então por que precisamos comprar uma?

O Uber partiu desse princípio para criar um negócio com milhares de pessoas que têm um recurso ocioso (no caso, um carro) e decidem ganhar algum dinheiro com isso. Por outro lado, um número ainda maior de consumidores pode usufruir de um serviço de transporte diferenciado sem precisar comprar um automóvel. Só para ficar no exemplo dos carros, quem quiser conseguir um sem motorista, pode recorrer ao PegCar, em que indivíduos colocam seus veículos para alugar. Bom para os clientes, bom para os donos dos carros. Ruim para as locadoras convencionais.

 

Mundo exponencial

A verdade é que hoje vivemos em um mundo exponencial. Quem tem mais de 30 anos aprendeu a pensar de uma maneira linear: fazemos uma coisa, depois outra, depois outra, todas elas encadeadas e com uma relação de dependência entre si. Fomos educados dessa forma!

É como construir um muro colocando um tijolo ao lado do outro, até completar uma linha, e só então partir para a de cima. Mas o que se vê, cada vez com mais força, são empresas e pessoas (especialmente entre as mais jovens) que descobriram maneiras melhores para se levantar esse muro. E isso acontece de uma maneira que poderia ser considerada anárquica pelos métodos convencionais, pois vários indivíduos trabalham no muro juntos, ao mesmo tempo, cada uma colocando o tijolo onde acha melhor. Em alguns casos, cada um traz o seu próprio tijolo! Mas longe de ser uma bagunça, isso representa a inventividade e a capacidade de colaboração, resultando em um muro melhor e concluído mais rapidamente.

É interessante observar que as crianças nascem colaborativas. Elas gostam de fazer coisas com outras crianças (e até adultos). Mas então por que, quando ficam mais velhas, as pessoas não são mais assim?

A resposta provavelmente está nos bancos escolares. Nosso sistema educacional tem uma estrutura que é essencialmente a mesma desde o século XIX. As escolas ainda formam indivíduos com a cabeça na Revolução Industrial, onde, mais importante que questionar ou inovar, era obedecer e executar. Uma visão digna da ópera-rock “The Wall”, do grupo Pink Floyd, que ilustra esse artigo.

E isso é um crime contra as crianças e contra toda a sociedade!

 

Escolas e iniciativas do futuro

Felizmente, muitas escolas, inclusive no Brasil, estão conseguindo se libertar dessas amarras com o passado e promovendo uma revolução no ensino, formando cidadãos capazes de viver no mundo atual de uma maneira construtiva e colaborativa. Em alguns casos, a mudança é realmente imensa, como no da escola nova-iorquina Quest to Learn, em que todas as aulas acontecem a partir de jogos, com resultados acadêmicos impressionantes! Aqui mesmo, neste espaço, falamos sobre ela, criando um ótimo debate.

Mas não só as escolas podem ajudar a incentivar as habilidades de colaboração e inventividade de crianças e adultos: as empresas também podem fazer isso. Nessa minha visita à Boston, tive a oportunidade de conhecer o projeto Co.Lab, realizado pela mesma Red Hat. Resumidamente, trata-se de uma iniciativa para aproximar meninas da tecnologia e de conceitos de colaboração. Para isso, elas montaram suas próprias câmeras digitais usando um Raspberry Pi, um pequeno computador de apenas US$ 35 que também incorpora o “modelo open” em sua concepção. Depois elas tiveram oportunidade de sair pelas ruas da cidade e fotografar tudo que elas quisessem para, posteriormente, criar colaborativamente uma releitura de um poema de Emily Dickinson. O vídeo logo no início desse artigo traz detalhes dessa bela iniciativa.

Se pensarmos bem, o que estamos fazendo exatamente aqui também é um bom exemplo de colaboração. Um dos maiores prazeres que tenho no LinkedIn é justamente fomentar debates em torno de temas que sejam importantes para a sociedade.

Vejam que eu disse “debate”, pois os artigos e atualizações que publico aqui são modestamente apenas pontos de partida para discussões. Elas são construídas com a colaboração de centenas de pessoas, que generosamente oferecem parte do seu tempo para tecer comentários com informações que enriquecem ainda mais o conteúdo já existente. E o resultado disso fica disponível para todos.

Portanto, diante de tudo isso, se os negócios estão difíceis, eu sugiro fortemente que você considere a possibilidade de trabalhar com outras empresas, mesmo que sejam concorrentes. Essa divisão do fardo pode deixar todos mais ágeis. E aí todo mundo ganha: as próprias empresas, seus funcionários e a sociedade, que fica mais moderna e humana.


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