
Professores têm influência grande demais sobre as crianças para que sejam usados na promoção de produtos, ainda mais dentro da sala de aula
A Folha de S.Paulo de hoje abre o caderno Cotidiano com uma reportagem sobre a transformação de professores em garotos-propaganda. A prática vem acontecendo nas escolas das redes COC e Dom Bosco, ambas do SEB (Sistema Educacional Brasileiro), que juntos têm mais de 4.800 professores. Os mestres vestem camisetas com logotipos de patrocinadores, promovendo seus produtos na porta de vestibulares e –bem pior– distribuem brindes e amostra-grátis dentro da sala de aula. Em alguns casos, a promoção vem acompanhada de “atividades pedagógicas”.
Não vou nem entrar no mérito da desmoralização da figura profissional do professor. Na matéria da Folha, o sindicato da categoria já deixou clara a sua posição contrária à iniciativa. Vou me ater ao que isso representa na formação das crianças. Professores têm uma enorme influência sobre seus alunos, especialmente os menores. Em assuntos discutidos na sala de aula, a posição do mestre chega a ter mais credibilidade que a dos próprios pais. Dá então para imaginar o “estrago” feito nas cabecinhas por promoções feitas pelos “donos do conhecimento” em pessoa.
É um escárnio com a educação! No Brasil, ela já tem um nível desprezível, mesmo nas escolas de elite. Onde isso vai parar? Se vale tudo até na sala de aula, qual o problema de o presidente do Senado fazer o que bem entender?
Em tempo, o Valor Econômico publicou hoje que o SEB pagou R$ 41 milhões por cinco das sete unidades do grupo Pueri Domus (as outras duas continuam sob administração da família Zocchio). Em comunicado distribuído aos pais, a escola garante que nada mudará, nem mesmo na filosofia de ensino ou no material didático. Não falaram nada de brindes nas salas.