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Mark Zuckerberg, CEO da Meta: redes sociais entraram na briga contra o “PL das Fake News” - Foto: Anthony Quintano / Creative Commons

O poder das redes antissociais

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No começo, as redes sociais eram espaços divertidos, para encontrarmos antigos amigos e conhecer gente nova. Eram os bons tempos do Orkut, do MySpace e do Friendster. O próprio Facebook surgiu em 2004 como um simples diretório de alunos da Universidade de Harvard. Mas isso mudou na última década, e essas redes têm ficado cada vez menos sociais.

No lugar dos conteúdos inocentes de amigos e de familiares, as páginas dessas plataformas foram tomadas de publicidade, publicações de influenciadores e conteúdo de interesse das próprias empresas. Os feeds, que prendem nossa atenção, se transformaram em ferramentas de convencimento fabulosas, que nos induzem desde comprar todo tipo de quinquilharia até em quem votar. O espaço social deu lugar à máquina publicitária mais eficiente já criada.

A redução no aspecto social teve um custo para usuários e para as próprias redes.

Há semanas, o Brasil vem debatendo o Projeto de Lei 2.630/20, apelidado de “PL das Fake News”, que busca regulamentar essas plataformas. E agora elas entraram de sola na briga, combatendo explicitamente a proposta em suas páginas.

Não é de se espantar: são elas as mais impactadas pelo projeto, e não os usuários, os negócios, as igrejas ou mesmo os políticos. As redes, cada vez mais poderosas e menos sociais, não podem mais se eximir de suas responsabilidades, e precisarão fazer muito mais que atualmente para a manutenção saudável da sociedade.


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Nada disso chega a ser novo, mas a magnitude do espaço que ocupa em nossas vidas tornou-se alarmante. Como disse o professor da Universidade de Yale Edward Tufte, no documentário “O Dilema das Redes” (Netflix, 2020), “existem apenas duas indústrias que chamam seus clientes de usuários: a de drogas e a de software”.

Algumas pessoas questionam o aumento desse poder em detrimento dos aspectos sociais. Isso vem provocando sangrias de usuários desencantados. Por isso, essas empresas também são prejudicadas, pois os usuários acabam migrando para plataformas menores e nichadas, onde o aspecto social ainda é relevante. Com isso, o sonho megalomaníaco de moguls como Mark Zuckerberg e Elon Musk de ter uma plataforma onde todos fariam de tudo, fica cada vez mais distante.

“Não é do interesse das redes sociais mudarem o formato de como operam e muito menos abrirem as caixas pretas com algoritmos”, explica Magaly Prado, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. “É notório verificar o espalhamento desenfreado de assuntos polêmicos e, principalmente, quando sacodem emoções.”

Isso explica atitudes como as vistas nos últimos dias, como quando o Google colocou um link para defender sua posição contrária à regulamentação na sua página de entrada, ou quando o Telegram enviou uma mensagem para todos seus usuários no Brasil, com o mesmo fim. Para fazer valer seu ponto de vista, não economizaram em afirmações falsas ou distorcidas. No caso do último, ainda carregou em frases de efeito e falsas, como dizer que “a democracia está sob ataque no Brasil”, que “a lei matará a Internet moderna” ou que “concede poderes de censura ao governo”.

Essas iniciativas provocaram reações no mundo político, jurídico e empresarial. A própria Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, correu para dizer que não concordava com as afirmações do Telegram.

 

Abuso de poder?

Muitos argumentaram que essas atitudes das plataformas digitais poderiam ser consideradas “abuso de poder econômico”, pela enorme penetração que essas empresas têm na sociedade e pelo poder de convencimento de seus algoritmos. Apesar disso, juridicamente não se pode sustentar isso.

“O abuso de poder econômico pode ser resumido como a situação em que uma entidade dominante em um setor empresarial viola as regras da concorrência livre, impedindo que seus concorrentes, sejam eles diretos ou indiretos, conduzam seus negócios”, explica Marcelo Crespo, coordenador do curso de Direito da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Para ele, as iniciativas do Google e do Telegram não se enquadram nisso. “Diferente seria se houvesse uma manipulação algorítmica que privilegiasse conteúdo alinhado com seu posicionamento, em detrimento de posições contrárias”, contrapõe.

De toda forma, esses episódios podem ser educativos. Eles ilustram muito bem o poder que as plataformas digitais desenvolveram, a ponto de se contrapor a governos eleitos e de jogar parte da população contra eles.

Ninguém ganha nada com isso!

“As redes perdem ao entulhar o feed dos internautas com mensagens falsas de interesses escusos, fugindo da ideia da Internet em unir as pessoas em uma esfera de sociabilidade e troca de saberes”, afirma Prado. De certa forma, leis como o “PL das Fake News” ao redor do mundo, como da União Europeia, China e Austrália, são reações aos descuidos com os aspectos sociais pelas plataformas, com a explosão das fake news, do discurso de ódio e de outros crimes nesses ambientes. Se essas empresas tivessem levado mais a sério esses cuidados, assim como os aspectos nocivos de seus algoritmos na saúde mental dos usuários, a sociedade não chegaria a essa cisão e talvez nada disso fosse necessário.

Talvez todos possamos aprender algo com a forma como as redes sociais cresceram. A liberdade nos permite criar coisas incríveis, mas ela não nos permite tudo! A liberdade de um termina quando começa a do outro, e o meio digital não se sobrepõe às leis de um país.

Não é um exagero dizer que as redes sociais são um invento que modificou nossas vidas profundamente, abrindo grandes oportunidades de comunicação e exposição. Mas se perderam pelo caminho. Ficaram demasiadamente poderosas, e isso subiu à cabeça de alguns de seus criadores.

Tristemente as grandes plataformas estão se tornando redes antissociais, onde o dinheiro supera os interesses daqueles que viabilizam o negócio: seus usuários. Por mais que não paguem por seus serviços (quem faz isso são os anunciantes), esse e qualquer negócio só prosperam se forem verdadeiramente benéficos a todos os envolvidos. Se a balança se desequilibra, como se vê agora, os clientes sempre encontrarão quem se preocupe de verdade com eles.

 

Mark Zuckerberg, CEO da Meta: e-mails vazados da empresa propunham aceitar ações violentas contra russos durante a guerra

Como seria nossa vida sem as redes sociais

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Não é exagero afirmar que as redes sociais estão entre os produtos de maior sucesso da história. Poucas criações foram usadas por tanta gente, ocupando um espaço tão relevante em suas vidas. O que aconteceria então se, de repente, essas plataformas digitais fossem sumariamente tiradas de nós?

De certa forma, é o que os russos estão descobrindo agora. A combinação da censura imposta por Vladimir Putin com o posicionamento das próprias empresas contra a guerra na Ucrânia está bloqueando parcial ou completamente o acesso a redes no país. Por exemplo, desde esta segunda, a Rússia restringe o acesso ao Instagram, como já vem fazendo com o Facebook e com o Twitter há dez dias.

A guerra não acontece apenas no campo de batalha. Mas agora, os mecanismos para o domínio da narrativa, que sempre foram importantes em qualquer conflito, afetam diretamente o cotidiano digital de pessoas e empresas.


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Uma polêmica decisão da Meta, empresa dona do Facebook, jogou lenha nessa fogueira: e-mails internos vazados na semana passada indicavam que a companhia decidiu permitir que usuários em alguns países, incluindo Ucrânia e a própria Rússia, defendam atos de violência contra russos no contexto da guerra. Contrariando suas próprias políticas também aceitará temporariamente publicações que defendam a morte do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou de Belarus, Alexander Lukashenko.

A Meta não comentou o assunto até o momento.

Isso fez o Kremlin classificar a empresa como uma “organização extremista”, bloqueando o Instagram. Facebook e Twitter já vinham sendo restritos desde o dia 4, por estarem limitando o acesso a veículos de comunicação governamentais russos, além de marcar alguns de seus conteúdos como “fake news”.

Outras redes digitais, como o YouTube, estão impedindo que canais que apoiem Putin possam ganhar dinheiro com suas publicações nessas plataformas. O TikTok, por sua vez, está proibindo que usuários na Rússia façam publicações, pois o governo ameaça com prisões de até 15 anos a quem publicar conteúdo que o Kremlin considere como falsas. Ainda assim, YouTube e TikTok continuam acessíveis na Rússia até agora.

É incrível ver como o poder dessas empresas chega a rivalizar com o de governos, inclusive o da maior nação do mundo, dono do principal arsenal nuclear do planeta. E quem lhes garante isso somos nós mesmos, com nosso uso incessante de seus produtos, que supostamente deixam nossas vidas mais divertidas e mais fáceis. De fato, muitos profissionais e empresas dependem hoje umbilicalmente desses recursos para a manutenção de seus negócios.

Não é pouca coisa: segundo o relatório Digital 2022 Global Overview, publicada pelas consultorias Hootsuite e We Are Social, o mundo terminou 2021 com 4,62 bilhões de usuários de redes sociais, que ficam, em média, 2 horas e 27 minutos nessas plataformas todos os dias. No Brasil, usamos ainda mais: 3 horas e 41 minutos em média!

Vale notar que a Internet russa sempre foi bastante livre, apesar do caráter autoritário de Putin. Isso é muito diferente do que se vê em uma de suas principais aliadas: a China. Lá o governo sempre controlou a rede com mão de ferro. Tanto que as grandes plataformas digitais sempre foram restritas no país. Os chineses têm que se contentar com produtos locais, que são censurados e adaptados à sua cultura.

Portanto, cabe uma pergunta: e se o Brasil, de repente, banisse o Facebook, o Instagram, o WhatsApp, o Twitter, o YouTube e o Google, como ficaria sua vida?

 

Censura ou proteção?

O WhatsApp já foi bloqueado quatro vezes no Brasil, por determinação da Justiça: duas em 2015 e duas em 2016. De lá para cá, o relacionamento da Meta com a Justiça brasileira melhorou. Hoje ela faz parte de um acordo contra a desinformação, especialmente em um cenário eleitoral, uma iniciativa que também conta com outras empresas, como Google, Twitter e TikTok.

Desde o ano passado, o Telegram está sob os holofotes por se recusar a colaborar nesse sentido, o que o deixa em risco de ser bloqueado no Brasil. Com sua política de não interferir nas publicações de seus usuários, tornou-se a principal ferramenta de desinformação no mundo. Assim muita gente ficou surpresa quando a plataforma suspendeu a conta do blogueiro Allan dos Santos no último dia 26, atendendo a pedido do STF (Supremo Tribunal Federal) no seu combate às fake news.

Muitos questionam qual a diferença de um eventual bloqueio do Telegram no Brasil do que se pratica agora na Rússia. Afinal, os mecanismos pareceriam os mesmos, executados pelos poderes centrais de cada país. Mas existe uma diferença essencial: na Rússia, o bloqueio está sendo feito para permitir que o governo continue disseminando sua desinformação; aqui, o bloqueio aconteceria para justamente evitar a desinformação.

A legislação brasileira oferece bons recursos para esse combate: precisam apenas ser aplicados. O Marco Civil da Internet é um ótimo exemplo: equilibrado e construído a partir de um debate amplo com a sociedade. Por outro lado, vemos iniciativas para novas leis, que, apesar de bem intencionadas, estão sendo feitas sem o devido debate, deixando brechas que podem levar a censura de conteúdos legítimos que desagradem o governo e à liberação do que lhe interesse, mesmo que ruim. É o caso do Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como o “Projeto de Lei das Fake News”.

A “virtualização” de nossas vidas acontece com força desde que a Internet comercial foi lançada, em 1994. A popularização dos smartphones, há uma década, acelerou muito esse processo e a pandemia reforçou isso ainda mais.

No momento de distanciamento social mais severo, no primeiro semestre de 2020, muitas pessoas e muitas empresas só conseguiram continuar operando graças às redes sociais. Apesar da grande dor que isso causou inicialmente, muitas desenvolveram novos e poderosos recursos de relacionamento com seu público. Tanto que hoje, com tudo já reaberto, continuam com essas boas práticas.

Fica difícil imaginar alguém completamente fora do mundo digital hoje. É possível não se gostar de uma ou outra plataforma, mas sempre existe aquela que combina mais com cada um de nós, trazendo benefícios reais a nossas vidas. Por isso, estar completamente off line, faz de alguém quase um “cidadão de segunda categoria”, pelos recursos que deixa de usufruir.

Temos que usar o que essas plataformas nos oferecem, e ficar atentos aos riscos associados a elas. Da mesma forma, temos que cuidar para não abusar dos poderes que elas nos dão, que poderia causar restrições evitáveis por serem transformadas em armas para se atacar os direitos alheios.

As redes sociais são um caminho sem volta! Usemos, então, seus recursos com inteligência.

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, que deixou a lista das dez pessoas mais ricas do mundo com o tombo no valor das ações na quinta

O tombo do Facebook afeta um pouco cada um de nós

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Na quinta passada, a Meta, empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, perdeu 26% de seu valor de mercado, equivalente a US$ 252 bilhões. Foi a maior queda de uma empresa em um único dia na história! Para muitos, isso representaria o começo do fim do império de Mark Zuckerberg. Mas, apesar do tombo multibilionário, é pouquíssimo provável que isso aconteça, não apenas porque ainda tem muito “caixa para queimar”, mas também pelo espaço que ocupa na vida de quase 3 bilhões de pessoas e incontáveis negócios.

A desvalorização está associada à relação simbiótica que desenvolvemos com essas plataformas. Dependemos do que elas nos oferecem e moldamos nossa comunicação e até nosso comportamento para aproveitarmos seus recursos ao máximo. Por outro lado, elas vivem de nossos cliques. Se as usarmos menos, perdem seu valor.

Cabe uma pergunta: o que aconteceria com cada um de nós se os produtos da Meta subitamente desaparecessem?


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O valor de mercado de uma empresa depende menos de quanto está faturando e mais das perspectivas do negócio. Se os investidores sentem que ele pode piorar, vendem suas ações e o valor delas cai.

Foi o que aconteceu com a Meta na semana passada, após divulgar seus resultados do último trimestre de 2021. A empresa começou bem, superando as expectativas com uma receita de US$ 33,6 bilhões no período (20% a mais que no último trimestre de 2020) e US$ 117,9 bilhões no ano (alta de 37% frente ao ano anterior). Os lucros anuais também cresceram, 35% sobre 2020, chegando a US$ 39,3 bilhões.

O problema é que a Meta decepcionou na quantidade de usuários que entram na plataforma pelo menos uma vez por mês, uma de suas principais métricas. Eles chegaram a 2,91 bilhões, 4% a mais que no mesmo período de 2020, mas abaixo dos 2,95 bilhões esperados pelo mercado. Mais grave foi a queda observada entre os usuários que entram todo dia nessas plataformas, regredindo de 1,930 bilhão para 1,929 bilhão. Ainda que proporcionalmente muito pequena, foi a primeira redução na história do Facebook, que sempre aumentou sua base de usuários ativos em seus 18 anos de atividade.

Para muita gente, o crescimento na receita e no lucro pode parecer mais importante que a estagnação na base de usuários. Mas é justamente essa última que deixou os investidores de cabelos em pé. Afinal, Facebook, Instagram e WhatsApp estão ficando menos importantes na vida das pessoas?

Zuckerberg culpou o TikTok e a Apple pelos números. O primeiro, que se tornou o aplicativo com crescimento mais rápido da história em 2020, atrai muito os jovens, justamente quem movimentará a Internet no futuro. E essa é uma faixa etária em que o Facebook perde popularidade há muitos anos. Já a Apple fez alterações no sistema operacional do iPhone no ano passado que dificultam que aplicativos como o Facebook coletem informações dos usuários.

Zuckerberg tenta jogar nas costas dos concorrentes um problema que, na realidade, é dele. Já não é de hoje que usuários mais jovens fogem do Facebook. A situação só não é pior porque o Instagram ainda atrai esse pessoal. Por outro lado, o negócio de anúncios do Facebook depende de uma coleta excessiva de dados pessoais. A Apple percebeu que as pessoas começaram a se incomodar seriamente com isso e deu um jeito de ajudar seus clientes a preservar suas informações.

 

Invasão nada discreta

Essa preocupação com os dados pessoais, que já vinha crescendo, explodiu com o documentário O Dilema das Redes, lançado pela Netflix em 2020. Ele demonstra, de maneira bastante didática, como essas plataformas coletam nossas informações e como seus algoritmos são capazes de nos convencer a comprar de tudo, de produtos a ideias. O choque foi tão grande, que muita gente abandonou as redes sociais.

Do lado do convencimento eficientíssimo dos algoritmos, outro documentário da Netflix, Privacidade Hackeada, esse de 2019, expôs o escândalo da Cambridge Analytica, empresa britânica de marketing político que usou o Facebook para roubar dados de 87 milhões de usuários para a campanha à presidência dos Estados Unidos de Donald Trump, em 2016. Quando isso veio à tona em março de 2018, por uma investigação dos jornais The New York Times e The Guardian, Zuckerberg tentou se isentar de qualquer responsabilidade e até se fazer de vítima. E isso pegou muito mal!

Eventos como esses podem indicar que a empresa não está assim tão preocupada com o bem-estar das pessoas, explicando essa perda de usuários, que se sentem desrespeitados. Outro escândalo, o “Facebook Papers”, corrobora essa percepção. Ele foi detonado no ano passado por uma ex-gerente da empresa, Frances Haugen, que expôs milhares de documentos que sugerem em que a Meta é muito mais preocupada em aumentar os seus lucros que em proteger seus usuários.

A essa altura, poderíamos simplesmente pensar que bastaria deixar de usar os produtos da empresa. Mas a coisa não é tão simples assim: Zuckerberg transformou as redes sociais em eficientíssimas plataformas de negócios, interessantes para qualquer um, de multinacionais a microempreendedores.

Vale observar como, nos últimos anos, mudamos a maneira como nos apresentamos ao mundo, o que acontece fortemente nessas redes. Mesmo quem não está vendendo nada parece ter aprendido empiricamente o que se deve e o que não se deve fazer para aparecer bem nelas. Virou quase um mantra dizer que “todos nós somos uma marca”.

Essa insistente autopromoção acontece em toda parte, mas o Facebook e o Instagram se prestam muito bem essa tarefa. Por isso, por mais que muitos se sintam até ultrajados com a Meta, essas pessoas continuam usando seus produtos. Existem concorrentes, como o LinkedIn, o TikTok, o Twitter, cada um com vantagens e problemas. Mas Zuckerberg ainda reina soberano e não pretende perder a sua coroa, como deixou claro ao direcionar sua atenção ao conceito do metaverso, que pode representar o caminho das redes sociais em um futuro próximo.

Por isso, os investidores devem mesmo se preocupar com a estagnação na base de usuários. Se essa tendência se consolidar e o Facebook começar a perder muitos usuários enquanto sua capacidade de coletar informações das pessoas se reduz, seu negócio pode “fazer água”.

Por outro lado, nós, usuários, somos o produto vendido aos anunciantes, mas também aprendemos a nos beneficiar desse sistema. Se ele funcionar mal ou simplesmente desaparecer, teremos que encontrar alternativas para nossa autopromoção ostensiva, preconizada pelos “gurus” das redes. E, até o momento, a maioria das pessoas só faz isso no Facebook e no Instagram.

Seja na natureza ou no meio digital, uma relação simbiótica só faz sentido quando todos os envolvidos se beneficiam um do outro. Além disso, se um deles morrer, pode levar junto os demais, se eles não tiverem alternativas viáveis.

Esse é um alerta importante! Se a Meta quiser continuar crescendo, precisa respeitar muito mais seus usuários, e encontrar maneiras mais equilibradas para ganhar seu dinheiro. Quanto a nós, devemos aprender a nos promover de uma maneira mais genuína, sem criar personagens que, às vezes, são completamente diferentes de nossa realidade. Precisamos aparecer pelo que somos, e não pelo que não somos!

 

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, depõe ao Senado americano em abril de 2018, sobre o escândalo da Cambridge Analytica

O cinismo das redes digitais

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No início de 2002, o jornalista americano John Battelle perguntou a Eric Schmidt como o Google havia se tornado uma empresa da mídia. O então recém-empossado CEO disse que a pergunta não tinha cabimento, pois o Google era uma empresa de tecnologia. Um ano depois, os dois se encontraram de novo, e Schmidt começou a conversa dizendo: “o negócio de mídia não é incrível?”

De lá para cá, as gigantes de tecnologia se tornaram companhias de mídia de uma maneira que as empresas tradicionais do setor jamais sonharam. Não apenas porque arrebataram o mercado de publicidade, centavo a centavo, mas porque desenvolveram um mecanismo de convencimento das massas poderosíssimo e sem precedentes.

Tanto poder carrega consigo grandes responsabilidades. Mas quando são confrontadas nisso, essas empresas se fazem de desentendidas, pois querem apenas a parte boa do domínio sobre seus bilhões de usuários.


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Por exemplo, na quinta, o comitê da Câmara dos EUA que investiga o ataque de 6 de janeiro do ano passado ao Congresso emitiu intimações ao Google, Facebook, Twitter e Reddit, criticando-as por permitir que a desinformação e o ódio se espalhassem em suas páginas e por não cooperarem adequadamente com as investigações. Apesar de outras empresas também estarem sendo investigadas, apenas essas quatro foram notificadas, porque, segundo o comitê, “não estavam dispostas a se comprometer a cooperar voluntária e rapidamente”.

Isso me lembra do depoimento de Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, ao Senado americano em abril de 2018. Na época, ele disse que havia sido vítima da empresa britânica de marketing político Cambridge Analytica, pois ela havia usado os recursos da plataforma para roubar dados de 87 milhões de usuários, que foram usados para convencer, também com recursos da rede social, as pessoas a votarem em Donald Trump, candidato à presidência americana dois anos antes.

Sim, o que a Cambridge Analytica fez é crime. Mas é basicamente o que o Facebook faz com seus mais de 2 bilhões de usuários para convencê-los a comprar de tudo em suas páginas.

Em novembro, o instituto Pew Research Center divulgou um levantamento feito com 862 desenvolvedores, líderes empresariais e políticos, pesquisadores e ativistas, sobre como eles viam o futuro do meio digital e seu papel na democracia. Desse total, apenas 61% disseram que acham que, nos próximos 15 anos, essas plataformas servirão ao bem comum, ao invés de interesses específicos. Além disso, 70% acreditam que a evolução digital traz aspectos positivos e negativos, 10% veem apenas os positivos e 18% veem só coisas ruins nisso.

Os otimistas acreditam que as próprias empresas de tecnologia trabalharão com governos e a sociedade civil para melhorar os algoritmos para o surgimento de debates mais saudáveis e democráticos. De fato, eles indicam que esses códigos são a primeira coisa a se corrigir, pois hoje eles são feitos para maximizar os lucros com o engajamento contínuo dos usuários, mas isso também favorece a polarização e o ódio. Para eles, os governos devem ser responsáveis por regulação e alguma pressão, mas sem exageros, pois isso poderia atrapalhar a inovação.

Já os pessimistas acreditam que nada disso deve acontecer, e que o aumento da inteligência artificial, a “hipervigilância” e a transformação de tudo na vida em dados pode amplificar ainda mais as fragilidades e o lado mal de cada um. Além disso, afirmam que os seres humanos são autocentrados e não “pensam a longo prazo”, concentrando-se em sua necessidade imediatas. Tampouco conseguem acompanhar a velocidade das mudanças tecnológicas. Tudo isso ampliaria ainda mais a manipulação das massas, a polarização e o ódio, colocando a própria democracia em risco.

Os brasileiros devem ter logo uma boa prévia de qual grupo tem mais razão: estamos iniciando um ano eleitoral.

 

Não há santos

Se nada for feito, e candidatos e seus apoiadores puderem atuar livremente como fizeram nas duas últimas eleições, 2022 pode representar uma verdadeira carnificina digital, com as pessoas sendo manipuladas em uma escala sem precedentes pelos diferentes grupos. Isso porque, depois de alguns anos, eles se aprimoraram no uso dos recursos tecnológicos e na criação de narrativas falaciosas.

E não nos enganemos: infelizmente o ódio é uma poderosa ferramenta para atingirem seus objetivos. Isso foi demonstrado na segunda temporada da série “The Boys” (Amazon Prime Video), em que a personagem Tempesta explica que “é muito melhor ter soldados que fãs”.

O ódio não é monopólio de apenas um lado da disputa eleitoral. Não há santos nisso! Diferentes grupos de poder já perceberam sua efetividade na manipulação das massas, pois despertam os sentimentos mais primitivos dos indivíduos. Com isso, as pessoas agem mais por impulso e menos pelo racional.

Muito melhor seria promover o amor, mas a última eleição presidencial foi decidida pelo ódio e, ao que tudo indica, essa também será. Pelos discursos dos pré-candidatos, eles não aprecem dispostos a abrir mão dessa “segurança” para estimular apenas bons sentimentos no eleitorado.

O ideal mesmo seria propor um debate em torno de ideias viáveis e construtivas, estimulando o lado racional de cada um. Mas esse é o cenário diametralmente oposto do desejado para a manipulação das massas, portanto devemos ver isso bem pouco.

Meu receio é que isso contamine toda a disputa eleitoral, nos diferentes cargos eletivos e no país todo. Com isso, o voto, tido como a “festa da democracia”, poderia ser convertido em uma ameaça a uma sociedade equilibrada.

Como não podemos, de forma alguma, abrir mão dele no processo democrático, as causas desse problema devem ser resolvidas. E isso nos traz de volta às plataformas digitais.

Estamos nessa situação insustentável porque essas redes criaram os recursos para esse controle da população. Fizeram isso para seu próprio uso, o que já é questionável, dado o grau de alienação que provocam. Mas, para piorar, não deram a devida atenção quando outros indivíduos começaram a se apropriar disso para atingir seus objetivos espúrios.

Não dá mais para essas plataformas se fazerem de desentendidas no seu papel na sociedade. Elas trabalharam duro para se tornar elementos centrais na vida das pessoas, e conseguiram isso de uma maneira jamais vista por qualquer empresa, governo ou instituição. Rivalizam e possivelmente superam a influência de religiões!

Essas empresas precisam fazer mais, muito, muito mais que já fazem para tornar seus espaços mais saudáveis e democráticos. Se não fizerem isso por vontade própria –e é isso que parece estar acontecendo– devem ser pressionadas por órgãos reguladores ou pela Justiça. Ou então desligar essas ferramentas de controle de massas.

Adivinhem o que vai acontecer? Façam suas apostas!

Frances Haugen, ex-gerente de integridade cívica do Facebook, depõe no Senada americano sobre acusações nos “Facebook Papers”

A solução para o lixo nas redes passa por cada um de nós

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O Estadão destacou, em sua primeira página nesse sábado, novas informações retiradas dos “Facebook Papers”, como estão sendo chamados os milhares de documentos internos da empresa vazados pela sua ex-gerente Frances Haugen. E essas impactam particularmente os brasileiros: levantamento da plataforma concluiu que o discurso de ódio, a desinformação, a violência explícita e o desencorajamento cívico em suas páginas são bem altos no nosso país.

Qualquer um que navegue pelas redes sociais –e não apenas as de Mark Zuckerberg– sabe disso. Entretanto, o mesmo levantamento demonstra que os brasileiros são os que mais se sentem mal ao se deparar com esses conteúdos tóxicos.

Isso é um aparente paradoxo, pois o sucesso desses conteúdos ruins na rede está intimamente ligado às ações desses mesmos usuários. Por isso, não podemos apenas assumir uma postura passiva ou de vítima diante do problema. Sua solução depende necessariamente de cada um de nós.


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O Facebook fez a pesquisa entre março e abril de 2020 no Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Índia, Indonésia, Japão e Reino Unido, com amostras de 5.000 pessoas de cada país. Ela visava saber se seus produtos conseguem manter sua “integridade”, ou seja, evitar conteúdos que violem suas regras. Essas violações são conteúdo cívico inflamatório, desencorajamento cívico, inautenticidade cívica, bullying cívico, conteúdo cívico falso ou enganoso, bullying, desinformação, contas falsas, roubo de identidade, violência explícita, discurso de ódio, nudez, terrorismo, exposição infantil indevida, venda de animais e venda de drogas e profanidade.

O levantamento indica que 37% dos brasileiros entrevistados identificaram publicações assim no Facebook. Nos Estados Unidos, isso chegou a 46%. Já no WhatsApp, esse índice bateu 30% no Brasil, o mais alto entre os países avaliados; nos EUA, foi sentido por apenas 13%. Mas é preciso considerar que apenas 30% dos americanos estão no aplicativo, enquanto, no Brasil, ele é usado por praticamente todas as pessoas online. Também foram analisados o Instagram, o Twitter, o Snapchat, o TikTok e o Line.

Entre os países verificados, os brasileiros são os que consistentemente se sentem pior quando veem esse tipo de conteúdo. Considerando Facebook e WhatsApp, os temas mais sensíveis para os brasileiros são exposição infantil indevida, terrorismo, violência explícita, discurso cívico inflamatório e discurso de ódio. A desinformação é um dos tópicos que menos choca os usuários por aqui.

Todas essas categorias são terríveis, mas o fato de a desinformação se classificar tão mal entre o que causa desconforto entre os brasileiros é emblemático. Isso está associado a aspectos culturais e a uma educação historicamente de baixa qualidade.

Por conta disso, o brasileiro já era proporcionalmente pouco acostumado a investir em informações de fontes de boa reputação. O fortalecimento das redes sociais agravou esse quadro, pois criou-se uma percepção que não era mais preciso pagar para se ter acesso a informações. Isso pode até ser verdade: o problema é o nível do que se encontra nas redes, majoritariamente muito baixo.

E os indivíduos consomem isso alegremente. Pior: divulgam esse material!

As pessoas acreditam no que elas quiserem, e isso é uma característica da nossa humanidade. Tentamos encontrar argumentos para validar aquilo que nos interessa.

Alguns não demoraram a perceber que poderiam combinar isso com os algoritmos das redes sociais, que nos colocam em contato com quem pensa da mesma forma que nós, para obter uma incrível máquina de convencimento para quaisquer que fossem seus objetivos. Assim surgiu uma minoria organizada e extremamente barulhenta no meio digital, que usa a desinformação como ferramenta.

Por exemplo, fiquei estarrecido ao ver publicações que sugerem que o trágico acidente que vitimou a cantora Marília Mendonça e os demais ocupantes do avião na sexta-feira teria sido causado por um mal súbito do piloto, que seria resultado de uma reação à vacina contra Cvoid-19.

Como alguém pode se aproveitar de uma tragédia que comoveu o país para fazer valer uma monstruosa teoria de que o imunizante é prejudicial à saúde?

O cérebro tem mecanismos curiosos. Graças a eles, essa teoria atingirá seu objetivo de desacreditar a vacina com uma quantidade considerável de pessoas, que estão enlutados pela cantora e buscam explicações para sua morte. Essas pessoas, por diferentes motivos, também têm suas próprias reservas à imunização e assim buscam argumentos para não se vacinar. A junção das duas coisas em uma única ideia, por mais bizarra que seja, dispara a sua aceitação.

É como se o indivíduo estivesse à beira do precipício, e precisasse apenas de um empurrãozinho…

 

Trabalho profissional

Isso não é uma molecagem, como alguns poderiam pensar. A desinformação se transformou em uma indústria milionária que move a política mundial.

Diversos estudos ajudam a explicar isso. Por exemplo, a pesquisa destacada na capa da revista Science, a mais importante publicação científica do mundo, no dia 9 de março de 2018, demonstra como, a despeito das ações de robôs, são as pessoas as grandes responsáveis pela disseminação das fake news. Isso acontece, em parte, porque a desinformação dispara mecanismos emocionais que induzem ao engajamento com esse material.

Em janeiro, a Universidade de Oxford (Reino Unido) divulgou o estudo “Desinformação industrializada: inventário global de manipulação de mídia social organizada”, que demonstra que essas táticas vêm sendo usadas por cada vez mais governos: em 2020, foram vistas em 81 países! Segundo os autores, no Brasil, as “tropas cibernéticas” (como eles chamam os apoiadores dos governos nas redes) se dedicam principalmente a atacar opositores e aumentar a polarização na sociedade.

Vale notar que os países onde a democracia aparece mais atacada pelas “tropas” são os mesmos em que a população acredita pouco na imprensa, como visto no relatório “Trust Barometer”, publicado em março pela consultoria Edelman. A China é uma exceção: 70% da população acredita na mídia por lá, mas ela é dominada pelo governo, o que reforça a tese de Oxford de que os governos autoritários combatem a imprensa livre.

A essa altura, dizer que a população se tornou massa de manobra dos poderosos graças a essa dominação digital se tornou uma obviedade. Mas precisamos insistir nesse debate, pois a solução do problema passa por rompermos esse quadro!

O Facebook nega oficialmente as acusações feitas a partir dos “Facebook Papers” e afirma que investe bilhões de dólares no combate ao conteúdo tóxico, inclusive a desinformação. O próprio estudo sugere uma preocupação em mapear o problema, colocando o Brasil como um “país de risco”, em que a população é fortemente impactada por esse material, e que precisa ser monitorado com prioridade, com “ações de integridade mais agressivas”.

Melhorar os algoritmos e ampliar equipes treinadas para reduzir ao máximo esses conteúdos são iniciativas fundamentais, mas é preciso investir na educação midiática da sociedade. As pessoas precisam aprender a separar a verdade de absurdos.

Essa não é uma tarefa trivial, e depende fortemente dos veículos de comunicação profissionais, mas também das escolas e até da Justiça. E as plataformas digitais desempenham um papel crítico nisso, pois é graças a elas que a mentira chega à população como uma “versão dos fatos” muito mais suculenta, pronta para ser consumida ser raciocinar.

É difícil resistir e até identificar as fake news. Aos olhos do brasileiro, elas nem encabeçam a lista de preocupações, como indica essa pesquisa do Facebook agora revelada. Perdem até da nudez!

Mas a nudez não pode destruir a sociedade. A desinformação pode, e já fez um estrago enorme.

Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook, demonstra seu metaverso com um avatar de si mesmo

Os benefícios e os riscos do metaverso de Zuckerberg

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A nova fixação de Mark Zuckerberg, criador e CEO do Facebook, é o seu metaverso. Trata-se de um ambiente digital em que as pessoas entrarão usando equipamentos de realidades virtual e aumentada, e farão diversas atividades lá, como trabalhar, estudar ou se divertir. Isso pode representar um grande salto tecnológico, com benefícios incríveis. Mas quais são os riscos que pode embutir?

Parece ficção científica. E, por enquanto, é! Ninguém sabe com certeza quando isso deixará de ser um conceito e passará a ser um produto maduro e acessível às massas. Entretanto precisamos saber se as pessoas estão prontas para viver nessa realidade alternativa. Afinal, se tanto já debatemos sobre os efeitos da exposição exagerada às redes sociais, o metaverso pode potencializar esses problemas.


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Esqueça as videochamadas que se popularizaram na pandemia! O novo mundo de Zuckerberg permitirá que usuários sintam como se estivessem lado a lado, mesmo que, na verdade, estejam em países diferentes. Poderão ter o aspecto que desejarem e o próprio ambiente será construído de acordo com suas necessidades. Todos poderão interagir com o que estiver ali, como se tudo realmente existisse.

Quando vi a proposta, eu me lembrei do Second Life, um mundo virtual lançado em 2003. Apesar de ter pretensões muito menores que as de Zuckerberg, foi revolucionário ao permitir que qualquer usuário criasse um mundo digital em que entrasse e interagisse com outros. A diferença fundamental é que o Second Life continuava sendo algo apenas como um game, enquanto a proposta atual permite que o usuário “entre” no ambiente e interaja com elementos ali, graças às realidades virtual e aumentada agora disponíveis.

Apesar de ainda funcionar, hoje o Second Life tem poucos “residentes”, como seus usuários se autodenominam. O principal motivo para a perda de interesse foi a necessidade de equipamentos poderosos e uma conexão muito rápida para que a experiência fosse boa, e isso estava fora do alcance da maioria das pessoas.

Esse também é um problema do novo mundo de Zuckerberg. Os equipamentos de realidade virtual e aumentada ainda são caros e limitados, e uma boa conexão de banda larga é luxo restrito a poucos. E, se a experiência imersiva não for realmente convincente, a grande vantagem do metaverso cai por terra.

 

Trocando o real pelo virtual

O termo “metaverso” foi cunhado em 1992 por Neal Stephenson, em seu livro “Nevasca”. E, como acontece com muitas ideias da ficção científica, inspirou a realidade. O próprio Second Life é um metaverso.

Mas o conceito nunca teve tanta chance de “virar” como agora, graças à betoneira de dólares e à atenção de Zuckerberg. Tanto que, na quinta passada, durante a conferência anual da empresa, ele anunciou a criação de uma holding que controlará todas as suas empresas. Ela foi batizada de Meta, uma clara referência ao metaverso.

Para se ter uma ideia de quanto isso representa, a empresa já tem mais de dez mil pessoas trabalhando em projetos ligados às realidades virtual e aumentada, que começaram há alguns anos. A Meta pretende dobrar essa equipe e o investimento nesses projetos está na casa de bilhões de dólares

Um metaverso traz benefícios inegáveis, como elevar os ambientes de trabalho e de estudo a distância a um patamar antes inimaginável. Pode ser também um poderoso espaço de relacionamento com o consumidor e de experimentação, barateando o lançamento e a venda de produtos. Até a telemedicina pode ganhar com isso!

Mas nada deve ser tão beneficiado quanto o entretenimento e os aspectos sociais. Imagine a sensação de estar dentro de um filme ou de um game! Ou ainda de se encontrar com amigos a distância, de uma maneira bastante convincente. Há ainda o sexo virtual, que se tornará cada vez mais realista, à medida que novos equipamentos para simular sensações se tornem disponíveis e estejam conectados ao metaverso.

A imaginação é o limite! E isso nos leva a possíveis riscos dessa experiência.

Por muito menos, pessoas descobriram, durante o distanciamento social provocado pela Covid-19, vantagens de se fazer coisas a distância, ao invés de presencialmente. Agora, mesmo com a flexibilização das regras, elas mantiveram esses hábitos online.

Uma realidade virtual poderosa pode diminuir nossa capacidade de distinguir entre o presencial o virtual. Nosso cérebro pode ser “enganado” para acreditarmos que a simulação seja algo real. E reagirmos a isso com nosso corpo.

Isso pode se tornar uma possível fuga das limitações da realidade. De certa forma, as redes sociais já oferecem isso, mas, com o metaverso isso pode ser maximizado pelo seu aspecto imersivo, criando uma distração idealizada dos problemas. E isso pode levar as pessoas a se tornarem mais suscetíveis a ideias e a produtos, pois baixam suas defesas mentais.

Há ainda riscos físicos! Durante uma simulação imersiva, as pessoas podem inadvertidamente se mover em um espaço a sua volta que não condiz com o que seu cérebro acha que está. E o menor dos problemas que podem surgir daí são tropeços.

Do ponto de vista da saúde mental, estudos sugerem que uma exposição prolongada a uma experiência virtual tão profunda pode levar indivíduos a casos de comportamentos antissociais, violência, depressão e, no extremo, suicídio. E justamente por ser algo tão novo e pouco estudado, não se sabe exatamente quais seriam esses efeitos colaterais e como preveni-los.

O que nos leva a um ponto crucial: como isso impactará crianças e adolescentes. Uma das piores acusações contra o Facebook feitas por Frances Haugen, uma ex-gerente da empresa que vem fazendo delações nas últimas semanas, é a de que a companhia sabe que o Instagram, um de seus principais produtos, acentua problemas de saúde mental em adolescentes, especialmente em meninas, e faz muito pouco para prevenir isso.

Com o metaverso, esses problemas na formação dos mais jovens podem se tornar exponencialmente maiores. Como suas capacidades cognitivas ainda estão em formação, a diferença entre realidade e simulação se torna ainda mais difusa. Tanto que empresas que produzem essas tecnologias sugerem que não sejam usadas por quem tiver menos que 13 anos. Mas como garantir isso?

Os jovens são, portanto, ainda mais suscetíveis aos estímulos que recebem em realidade virtual, o que cria preocupações não apenas em questões comerciais, mas também de bullying e até de pedofilia. Para tornar a situação mais dramática, é muito difícil monitorar um ambiente tão dinâmico. E vale destacar que Zuckerberg deseja criar estratégias para atrair e reter o público jovem, algo essencial para seus negócios, que estão ficando envelhecidos e pouco atraentes para os mais novos.

À medida que o metaverso ocupe mais espaço em nossas vidas, todos esses aspectos precisarão ser cuidados. Sem falar que, caso se torne um recurso importante para trabalho e estudo, pode provocar um novo tipo de abismo social, separando aqueles que conseguirão aproveitar a simulação daqueles que não terão como fazer isso.

Não deixa de ser curioso todas essas novidades aparecerem justo quando o Facebook passa pela sua maior crise de reputação, que pode levar à divisão da empresa e até à queda de Zuckerberg do posto de CEO. Se o metaverso der certo, isso pode ampliar ainda mais a dominância que ele tem sobre as pessoas e as empresas no mundo todo, e emergir como um visionário. Mas, se der errado, pode entrar para a história como um vilão que destrói democracias e vicia pessoas. É uma aposta alta!

Do nosso lado, temos que cuidar que o mundo online não se torne mais importante que o real. Os valores que verdadeiramente contam estão aqui, “do lado de fora”, e não devem ser simulados ou sintetizados.

 

Nicotina, algoritmos, dopamina, curtidas e outras drogas

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Sinto lhe dizer, mas você provavelmente é um viciado em drogas. Não me refiro às “clássicas”, como crack, heroína, cocaína ou maconha, ou às “drogas legais”, como bebidas alcoólicas ou cigarros. Estou falando de redes sociais, e isso não é um abuso de linguagem.

O que nos faz ficar grudados nas telas é a dopamina que nosso cérebro produz ao sermos bombardeados pelos algoritmos dessas plataformas com conteúdos que nos agradam. Trata-se, portanto, de uma dependência química real.

Esse debate pegou fogo na semana passada, quando a americana Frances Haugen, ex-gerente da equipe de integridade cívica do Facebook, veio a público para dizer que a empresa sabe disso e que não apenas faz pouco para combater esse efeito, como o reforça com seus algoritmos.


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Haugen começou a trabalhar no Facebook em janeiro de 2019. Ela se demitiu em maio deste ano por discordar das diretrizes da companhia. Mas não antes de coletar milhares de documentos que indicariam que a empresa sabe que os conteúdos que geram mais engajamento –e mais lucros– são os que, segundo ela, “fazem mal às crianças, alimentam a divisão e enfraquecem a nossa democracia”.

Ela já vinha informando, de maneira anônima, o jornal americano The Wall Street Journal, que publicou, em setembro, várias reportagens expondo essa gestão da empresa de Mark Zuckerberg. Com sua repercussão, o Congresso dos Estados Unidos decidiu investigar a companhia.

No dia 3, Haugen decidiu mostrar o rosto no programa 60 Minutes, da emissora CBS. Dois dias depois, falou ao Congresso americano. Deixou claro que o Facebook priorizou o lucro às custas da dependência e da saúde mental de seus usuários. Ao 60 Minutes, disse que “o Facebook percebeu que, se mudar o algoritmo para ser mais seguro, as pessoas vão passar menos tempo no site, vão clicar em menos anúncios e eles vão ganhar menos dinheiro”.

As acusações são gravíssimas e precisam ser naturalmente verificadas. Mesmo assim, já na segunda, as ações da empresa despencaram cerca de 5%. Zuckerberg veio a público negar tudo e dizer que seria “ilógico” promover conteúdo que criasse polarização social, e que o Facebook trabalha ativamente pelo bem-estar de seus usuários.

Mas, como diz o professor da Universidade de Yale (EUA) Edward Tufte, “existem apenas duas indústrias que chamam seus clientes de usuários: a de drogas e a de software”.

 

O dilema da rede

No sábado, um dia após ganhar o Prêmio Nobel da Paz, a jornalista filipina Maria Ressa acusou o Facebook de ser uma ameaça à democracia, justamente porque ele falha em proteger seus usuários contra a disseminação do ódio e da desinformação.

Passamos cada vez mais tempo nas redes sociais. Segundo o mais recente relatório “Digital Global Overview”, publicado pela Hootsuite e pela We Are Social, o brasileiro fica, em média, 3 horas e 42 minutos por dia nas redes sociais, atrás apenas dos filipinos e dos colombianos.

Haugen não disse nada que já não se soubesse ou pelo menos suspeitasse. O documentário “O Dilema das Redes”, lançado em setembro de 2020 pela Netflix, explicou tudo isso de maneira bastante didática. A novidade agora é uma informante tão bem documentada “colocando o dedo na ferida” de maneira pública.

Não é o primeiro grande escândalo envolvendo o Facebook. Em março de 2018, explodiu o da empresa britânica de marketing político Cambridge Analytica, que usou os recursos da plataforma para roubar os dados de 87 milhões de usuários, para manipulá-los em favor da eleição de Donald Trump em 2016. Em um primeiro momento, Zuckerberg se colocou como vítima, mas, diante da pressão do governo americano, disparou iniciativas para proteger os usuários.

Haugen diz agora que propositalmente ele faz pouco!

Isso me lembra de outro escândalo gigantesco, esse da indústria do cigarro. Em 1996, o mesmo 60 Minutes divulgou uma entrevista-bomba com Jeffrey Wigand, ex-diretor de pesquisa da Brown & Williamson, então a terceira maior empresa do setor no país.

“Somos uma empresa de entrega de nicotina”, ele disse na época. O executivo, que teve a vida devastada pelas revelações, deixou claro que os fabricantes sabiam que os cigarros faziam mal à saúde das pessoas e que eram altamente viciantes. E o que é pior: deliberadamente incluíam produtos para aumentar o vício. O caso foi retratado no filme “O Informante” (1999), com Al Pacino e Russell Crowe.

Isso provocou profundas mudanças na indústria, que ficou muito mais regulamentada no mundo todo. De maneira geral, toda sua publicidade foi proibida, a venda ficou mais controlada e intensas campanhas de conscientização foram feitas. O resultado é que a quantidade de fumantes diminuiu, especialmente entre os mais jovens.

Ainda assim, a indústria do cigarro continua ativa. De uns anos para cá, tenta uma nova roupagem com os “cigarros eletrônicos”, que fazem sucesso justamente com adolescentes.

 

O que pode ser feito

Pelo que Haugen sugere, Zuckerberg quer solucionar o problema, desde que não atrapalhe os negócios do Facebook. Mas eles (pelo menos na atual forma) são o problema! E sua dominância rendeu US$ 86 bilhões de receitas em 2020 à empresa.

Muita gente acha que a solução seria forçar a divisão do império em empresas menores concorrentes, a exemplo do que foi feito em 1982 na telefonia americana, com a AT&T, que acabou dividida em sete empresas, conhecidas como “Baby Bells”. Vale dizer que isso já foi sugerido há alguns anos com a Microsoft e o Google, sem sucesso.

Haugen acha que isso não funciona. Ela sugere que o caminho seria os algoritmos se tornarem totalmente transparentes, e a criação de uma agência para supervisionar as plataformas digitais, além de aumentar a idade mínima dos usuários.

Tudo isso é bem-vindo, mas não deve ser suficiente. A inteligência artificial precisa ser refinada para limitar conteúdos potencialmente perigosos, e usuários reconhecidamente nocivos à sociedade precisam ser banidos. Por fim, a “tirania das curtidas”, que faz com que as pessoas prefiram conteúdos “de gosto fácil” àqueles e alta qualidade, precisa ser impedida.

O usuário é o elo frágil da corrente. Como nas drogas, não consegue sair de seu vício, por mais que lhe faça mal. Por isso, provavelmente as redes sociais precisem sofrer um controle severo como o que foi imposto à indústria tabagista.

O que não é possível é não se fazer nada. A situação dramática pela qual o mundo passa, com uma polarização que cria uma ameaça real à manutenção da sociedade e da democracia, cresceu graças a essas plataformas. O negacionismo científico, que ceifou centenas de milhares de vidas pelo mundo na pandemia de Covid-19, e a radicalização política são apenas os destaques.

As redes sociais podem ser um ambiente incrível de trocas de ideias. Mas seus usuários precisam de ajuda para vencer esse vício.

 

O valor da notícia que informa você

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Na semana em que o Brasil teve mais de dez mil mortos pela Covid-19, Bolsonaro disse para a população “parar de mimimi” e questionou “até quando as pessoas vão continuar chorando”, ao invés de “enfrentar o problema de peito aberto” e sem “frescura”. Para a maioria das pessoas, essas bravatas são um ataque frontal à vida. Mas há uma fatia considerável da sociedade que não apenas concorda com ele, como o defende.

Como explicar essa polarização em um caso tão extremo e literalmente de vida ou morte?

A resposta passa por outra doença crônica do nosso país, que também se agrava: a maneira ruim como as pessoas se informam. Isso se deve não apenas pela escolha de fontes questionáveis de notícias, mas também como elas chegam até nós, o que hoje acontece majoritariamente pelas plataformas digitais. As duas coisas desempenham igualmente um papel crítico na guerra da desinformação.

Para “combater esse bom combate”, existem, portanto, três atores principais: os veículos de comunicação, as big techs e nós mesmos, o público. Cada um tem seu papel e seus interesses nesse cenário, mas inimigos em comum: a desinformação e as fake news. Para vencê-las, é preciso que os três trabalhem em conjunto, fazendo adaptações e concessões.


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Quando isso não acontece, surgem os efeitos nefastos, como os que estamos vivendo. Não se engane: a qualidade da informação que você consome tem um efeito decisivo na sua vida. Essa afirmação pode soar óbvia, mas, às vezes, o óbvio precisa ser reforçado.

A desinformação não é naturalmente um fenômeno exclusivo do Brasil, mas o fato de ser muito forte aqui explica, ao menos em parte, o fato de estarmos na contramão do mundo no combate à pandemia. Como mostrou a manchete do Estadão desse domingo, dos dez países com mais mortes pela Covid-19, oito registram queda na média móvel de novos óbitos e um, a Índia, tem alta de 8,9%, enquanto, por aqui, esse indicador subiu 30,5%.

Isso acontece porque o tripé entres produtores, distribuidores e consumidores de notícias está desequilibrado. Enquanto as empresas de comunicação sérias se esforçam para produzir um conteúdo de alta qualidade, mas sofrem para impactar uma parcela grande da população, as plataformas digitais atingem virtualmente todo mundo, mas distribuem uma enorme quantidade de porcaria. O público, por sua vez, consome qualquer coisa que lhe é apresentada, tornando-se presa fácil da desinformação.

As empresas de comunicação e as plataformas digitais são um tipo especial de empresa, pois suas atividades influenciam profundamente a vida das pessoas. Portanto, precisam assumir com seriedade seu papel social. Claro que, como qualquer empresa, têm seus objetivos comerciais, mas eles não deveriam jamais se sobrepor ao que melhora a sociedade.

 

Simbiose informativa

Isso nos leva a um intenso debate sobre a eventual obrigação das redes sociais e de buscadores remunerarem as empresas de comunicação por usarem os conteúdos jornalísticos nas páginas dessas plataformas.

A origem desse debate remonta à criação do Google Notícias, serviço noticioso do buscador, lançado em 2002. A partir das notícias de veículos do mundo todo, ele cria um “jornal digital” personalizado para cada usuário.

Os produtores de informações sempre reclamaram que o Google criou um produto com seu conteúdo, sem pagar nada por isso. Ele, por sua vez, se defende dizendo que não tem nenhum ganho direto com a plataforma e que, na verdade, aumenta a audiência dos veículos, pois, se alguém clica em uma notícia, cai direto nela, no site ou aplicativo do produtor.

Com o tempo, essa cisma se expandiu também para as redes sociais, pois seus feeds são inundados de posts com notícias, criados pelos próprios usuários ou pelos veículos. Assim como o Google, Facebook e afins se defendem dizendo que não lucram diretamente com esses links, e que ainda aumentam a audiência dos produtores do conteúdo.

Mas a coisa não é tão simples assim.

O físico britânico Tim Berners-Lee, que criou a Web há 30 anos, já afirmou que um link não carrega em si conteúdo ou valor autoral, pois ele simplesmente leva o usuário de uma página para outra. Isso reforça os argumentos de defesa das plataformas digitais.

Por outro lado, dizer que não ganham nada com essas chamadas de conteúdo alheio é uma falácia! Podem até não ter ganho direto dali, mas elas aumentam a percepção de valor de toda a plataforma pelos usuários, aumentando até mesmo o valor dessas marcas bilionárias.

Há alguns anos, a organização Pew Research Center publicou um estudo que demonstrava que a maioria das pessoas não entra no Facebook para consumir notícias, porém, quanto mais tempo elas ficam nele, mais notícias consomem. Mais que isso: elas se engajam mais com notícias vistas a partir da rede social. Trata-se, portanto, de uma relação simbiótica, de ganho mútuo. E, como tal, todos os envolvidos precisam colaborar entre si.

Há ainda um outro fator a se considerar nesse embate. Os veículos de informação tradicionalmente tinham duas formas de financiamento: a assinatura de seus produtos e a publicidade. As plataformas digitais praticamente acabaram com esse modelo de negócio.

Do ponto de vista da publicidade, muitos anunciantes preferem agora colocar seu dinheiro nas redes sociais e nos buscadores, que custam menos e podem trazer melhores resultados, se bem usados. Quanto às assinaturas, muitas pessoas não se sentem mais atraídas a pagar pela informação, pois o meio digital inundou suas vidas com conteúdo, por mais que a maioria seja ruim.

 

Quem paga a conta?

Diante disso, as big techs vêm sofrendo pressões de conglomerados de mídia e de governos para remunerar os produtores de conteúdo. E, a contragosto, têm se rendido a elas.

No mês passado, um episódio foi emblemático. Depois de o governo australiano introduzir um projeto de lei que obrigaria o Facebook a pagar por todos os posts noticiosos em suas páginas no país, a empresa bloqueou a exibição de qualquer material jornalístico a usuários australianos. Além disso, usuários do mundo todo deixaram de ver material de veículos daquele país. Quatro dias depois, o bloqueio acabou após o governo fazer concessões à empresa de Mark Zuckerberg. O Facebook, por outro lado, se comprometeu a remunerar produtores no mundo todo, anunciando que investirá US$ 1 bilhão no setor jornalístico nos próximos três anos.

A Alphabet, controladora do Google, enfrenta pressões semelhantes e também chegou a ameaçar interromper seus serviços na Austrália pelo mesmo motivo. Mas, assim como o Facebook, a empresa também fechou um acordo de pagamento pelo conteúdo, como vem negociando no mundo todo, inclusive no Brasil. Também no mês passado, ela anunciou um grande acordo com o conglomerado de mídia News Corporation, do magnata Rupert Murdoch, para usar o conteúdo de seus diversos veículos, entre eles “The Wall Street Journal”, “The Times” e “The Sunday Times”. Vale dizer que Murdoch sempre foi um ferrenho crítico do meio digital, como algo que destruía o valor de seus negócios.

As empresas de comunicação, por sua vez, precisam abandonar o papel de vítima, que não lhes cai bem. Em parte, estão nessa situação porque, quando o meio digital ainda se consolidava, se recusaram a adaptar seus modelos de negócios a um público em rápida transformação. Agora “perderam esse bonde” e dependem umbilicalmente das plataformas para que seu conteúdo de qualidade chegue ao público. Basta observar que a audiência de suas home pages desaba há anos, pois as pessoas chegam diretamente às notícias a partir de buscadores e redes sociais.

Sei que em um ambiente de capitalismo selvagem, as boas intenções costumam ser colocadas de lado e até ridicularizadas. Mas, como disse antes, essas empresas têm um papel social que está na essência de seus negócios e podem se beneficiar mutuamente do trabalho umas das outras. Portanto, precisam aprender a colaborar mais.

Quanto a nós, o público de todo esse conteúdo, cabe escolher e incentivar aqueles que realmente produzem bom jornalismo. Apesar de estar “fora de moda”, assinar uma ou mais publicações melhorará nossa visão de mundo e ajudará quem trabalha contra a desinformação. Do lado das plataformas digitais, como inevitavelmente continuaremos consumindo conteúdo por elas, precisamos reforçar o nosso senso crítico, para não acreditarmos em qualquer porcaria ali.

Caso contrário, se nenhum desse atores fizer a sua parte, continuaremos vendo pessoas apoiando a morte e se negando a tomar vacinas, temendo virar jacaré.

Facebook, Google, Apple e Amazon na berlinda

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Você acha que o Facebook, o Google, a Apple e até a Amazon manipulam você?

Nós nos acostumamos tanto a usar os produtos dessas companhias, a maioria deles aparentemente gratuitos, que fica difícil imaginar a nossa vida sem isso. Não seria nenhum exagero dizer que essas quatro companhias definitivamente mudaram a nossa vida nos últimos vinte anos. Mas agora todas estão sendo acusadas de abusos e podem ser obrigadas a se dividir em empresas menores para concorrer entre si.

Se isso acontecer, como essa mudança impactaria nossa vida?


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O Facebook, o Instagram e o WhatsApp são um bom exemplo. Todos esses produtos são de uma única empresa: o Facebook. E estão cada vez mais integrados, o que traz recursos inegavelmente interessantes. Nessa pandemia de Covid-19, muitos negócios, especialmente os pequenos, se reinventaram em cima dessas plataformas. Em um momento de distanciamento social e lojas fechadas, muita gente vendeu bastante graças a elas.

E se esses produtos não fossem da mesma companhia gigantesca? E se eles fossem, na verdade, concorrentes? Será que isso teria acontecido? Ou quem sabe poderiam ter feito ainda mais, justamente por serem competidores entre si?

Bom, o Facebook, o Instagram e o WhatsApp já foram concorrentes!

O Facebook comprou o Instagram em 2012 por US$ 1 bilhão e o WhatsApp em 2014 por incríveis US$ 19 bilhões! Fez isso justamente porque seu CEO, Mark Zuckerberg, os via na época como ameaças ao seu negócio.

O problema é que isso potencialmente viola as leis que protegem a concorrência nos Estados Unidos. Por conta disso e de outras práticas de suas companhias, na quarta passada, o próprio Zuckerberg, além de Sundar Pichai, CEO do Google, Tim Cook, CEO da Apple, e Jeff Bezos, CEO da Amazon, tiveram que prestar depoimento ao Congresso americano.

A sessão, que durou mais de seis horas, foi feita por videoconferência, usando o sistema Webex da Cisco, que não é controlada por nenhum dos quatro conglomerados. Realizado pelo comitê antitruste da Câmara dos Deputados, o depoimento foi o ápice até agora de uma investigação que já dura treze meses e que já juntou 1,3 milhão de documentos.

Isso pode provocar uma profunda mudança nas quatro das cinco maiores empresas de tecnologia do mundo, inclusive forçando sua divisão em empresas menores. Isso já aconteceu no passado em outros setores, como nos casos da petrolífera Standard Oil e da gigante das telecomunicações AT&T.

As quatro empresas foram acusadas de usar dados de consumidores e de concorrentes para favorecer seus negócios.

Contra o Facebook, foi dito que espiona dados de aplicativos rivais para decidir se devem ser comprados ou copiados. É o caso dos stories, que hoje estão no próprio Facebook, no Instagram e até no WhatsApp, e são uma clara cópia de um recurso do Snapchat. Vale dizer que Zuckerberg tentou comprar o Snapchat e não conseguiu. Depois disso, seus produtos lançaram essa funcionalidade, o que praticamente enterrou o competidor.

O Google também foi acusado de usar informações de concorrentes, e que diminuiria suas exibições nos resultados de sua busca e outros produtos seus.

Já a Amazon foi acusada de usar dados de parceiros que usam sua plataforma para determinar que produtos a gigante deve desenvolver.  Também foi dito que pratica preços anticompetitivos para afetar rivais. Os congressistas ainda disseram que a empresa vende sua caixa de som conectada, a Amazon Echo, abaixo do custo, e que a assistente de voz da empresa, a Alexa, direciona consumidores para produtos da própria Amazon ou de parceiros, ao invés dos que seriam as melhores opções para o usuário.

Já a Apple foi acusada pelo poder que tem com a App Store, a loja de aplicativos para iPhone e iPad, por poder vetar aplicativos na loja e por cobrar uma comissão de até 30% sobre os ganhos dos desenvolvedores.

Os executivos se defenderam das acusações de irregularidades, naturalmente. Todos disseram que trazem grande benefício aos Estados Unidos e aos consumidores, e que não são contra a concorrência. Disseram ainda que precisam crescer constantemente justamente pela competição feroz que enfrentam.

Concorrência inclusive de empresas chinesas, um tema sensível aos Estados Unidos no momento, graças à guerra que Trump declarou a Pequim, com vistas a sua reeleição em novembro. Zuckerberg chegou a sugerir que regular empresas americanas aumentaria o poder das chinesas, que não se pautam pelo que chamou de “valores americanos”, como democracia, livre concorrência e liberdade de expressão.

Apesar de tudo isso, os negócios dos quatro aparentemente não se abalaram com a sabatina e com a pressão que vêm sofrendo há meses. O Facebook, apesar da desaceleração no seu crescimento, aumentou seu faturamento em 11% durante a pandemia, chegando a US$ 18,7 bilhões. Já a Apple reportou um aumento de 11% em seu faturamento nos meses de abril, maio e junho sobre o mesmo período do ano anterior. O aumento na busca por aplicativos e equipamentos para trabalho à distância compensou a perda de receita pelo fechamento de suas lojas no mundo todo. A Amazon, por sua vez, viu seu lucro trimestral duplicar, batendo US$ 5,2 bilhões, puxado pelo negócio de venda e entretenimento on line. Por fim, a Alphabet, controladora do Google, registrou o primeiro decréscimo trimestral de faturamento em 17 anos de cotação na Bolsa: 2% com relação ao mesmo trimestre do ano passado. Isso se deu por uma diminuição no investimento dos anunciantes. Mas o faturamento com publicidade no YouTube e seu negócio de computação na nuvem cresceram.

O que isso significa na prática?

Apesar de todo esse barulho, grandes mudanças regulatórias não são esperadas para tão cedo. Isso se acontecerem!

Mesmo que as empresas sejam divididas, isso não causará uma grande mudança em nossas vidas. Do nosso lado, as grandes questões são se estamos sendo manipulados e se nossos dados estão sendo roubados, por exemplo.

Sejamos claros: sim, somos rastreados e nossos dados são coletados o tempo todo! E, sim, os algoritmos de relevância nos manipulam! E a divisão dessas empresas não vai mudar isso.

Precisamos -isso sim- aceitar e entender que isso está acontecendo e como o mundo funciona agora, para, pelo menos, não sermos enganados! Os algoritmos nos rastreiam para nos entregar ofertas supostamente incríveis e feitas para cada um de nós! Mas nós não somos obrigados a aceitá-las!

Por outro lado, se a oferta for realmente boa e para algo que realmente precisamos, ótimo! O que não podemos é comprar por impulso, por exemplo. E isso não é uma recomendação que vale só para o meio digital, claro!

O mesmo acontece com as “fake news”, as infames notícias falsas, que tampouco foram inventadas com as redes sociais, mas que se tornaram um gravíssimo câncer social graças a elas. Não podemos acreditar em tudo que vemos! Temos que entender que grande parte dos problemas que temos hoje no mundo são causados por pessoas, empresas, grupos e governos que usam esses recursos das redes para fazer valer os seus interesses em detrimento dos da sociedade.

É possível usar esses recursos para atingir o público certo de maneira eficiente e ética: muita gente faz isso! O problema são os bandidos, que criam “fake news”, por exemplo. Não sabemos em quem acreditar, nem sabemos mais o que é a verdade! Por isso, temos que escolher muito bem em quem confiar, e não nos deixar levar pelo que as redes sociais jogam em nossa cara.

Precisamos nos apropriar de todos esses muitos recursos do meio digital, que são realmente incríveis! Mas temos que fazer isso de uma maneira que mais nos beneficie que nos prejudique. Porque, aconteça o que acontecer com essas quatro gigantes, o que elas criaram nunca mais deixará de existir.

O que pode ser muito bom!

A cultura do ódio não vem de hoje, mas só aumenta

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Desde 1º de julho, quase 700 empresas, entre elas algumas das marcas mais importantes do mundo, não anunciam mais no Facebook e em outras redes sociais. Elas pressionam essas plataformas a combater com mais afinco o discurso de ódio em suas páginas, nos bilhões de posts feitos diariamente pelos seus usuários.

Mas o problema transcende as postagens. Graças ao poder que as redes sociais têm sobre nós, esse império do ódio que se instalou nelas já transformou nosso comportamento. Hoje somos uma sociedade de gente raivosa, intolerante e vingativa.

O que podemos fazer para melhorar isso?


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Os executivos das redes sociais se defendem dizendo que eles não têm como verificar tudo que se publica ali. Foi o que Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, disse no Senado americano em abril de 2018, sobre o escândalo da empresa Cambridge Analytica, que roubou dados de 87 milhões de usuários da plataforma para ajudar a eleger Donald Trump.

Eu posso até concordar com isso. De fato, essa é uma tarefa surreal! Mas essas plataformas precisam fazer muito mais que estão fazendo, seja com sistemas automatizados, sejam com equipes dedicadas a combater o ódio em suas páginas. E o motivo é que a sua onipresença na vida de todos está transformando as pessoas em seres humanos piores!

Houve uma época em que, quando não gostávamos de alguém, simplesmente ignorávamos a pessoa. Depois a coisa piorou: as pessoas começaram a falar mal dos desafetos. E agora chegamos a um ponto horrível, em que o outro deve ser silenciado ou até destruído, pelo menos sua reputação. Surgem comportamentos hediondos, com os de “cancelamento” de pessoas ou de “exposed”, para usar termos da rede.

O “exposed”, como sugere o nome, expõe amplamente algo ruim que uma pessoa fez –ou pior, que alguém disse que fez– para um apedrejamento digital, que pode ter desdobramentos legais. Já o “cancelamento” cria um movimento para que um grande número de pessoas cancele o vínculo com a vítima e a bloqueie, em uma tentativa de fazer com que suas ideias não sejam mais ouvidas por ninguém.

Isso é cruel! É desumano! Onde vamos parar?

A chance de podermos expressar amplamente nossa opinião que as redes sociais nos deram é algo incrível! Mas o discurso de ódio que se instaurou de uns tempos para cá criou uma sociedade que adora falar, mas detesta ouvir.

Criou-se um culto de que “a minha opinião vale muito e é ela que tem que prevalecer”. E isso se esconde covardemente debaixo do manto da liberdade de expressão, que não tem nada a ver com isso.

Em um tempo de imediatismo, as pessoas tomam ações sem refletir, um convite ao desastre. Logo, “se você não está comigo, você está contra mim!” Isso é perigosíssimo, pois a vida não é preta e branca: tem incontáveis nuances de cinza, e é ali que estão a beleza da vida e a verdade.

As pessoas nem verificam se aquela acusação que estão repassando é verdadeira. Contribuem para destruir a imagem de uma pessoa só porque ouviram alguém falar algo que não gostaram, e jogam gasolina na fogueira da Inquisição digital. Agem como testemunhas, juízes e algozes, em ritos sumários!

Daí entram em cena os algoritmos de relevância das redes, que ampliam ainda mais a destruição, pois, pela sua lógica computacional, “se tem muita gente batendo em alguém, isso deve ter valor e precisa ser disseminado ainda mais”.

Intolerância e autoritarismo

Sabe aquela história do bullying, que algumas crianças praticam com colegas na escola? Agora o bullying é feito em escala global, e muitas vezes é criado ou incentivado por pessoas famosas e até autoridades.

Aliás, trata-se de uma característica de regimes autoritários, que não toleram quem pensa diferentemente. Isso se viu pela primeira vez com força na ascensão do nazismo, em que Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolph Hitler, calava todas as vozes dissonantes do regime, começando pela imprensa. É por isso que os valores pregados pelo partido pareciam então legítimos e corretos, por mais que hoje eles nos soem como absurdos!

Isso me lembrou um caso que aconteceu em janeiro de 2018. Naquela ocasião, a francesa Catherine Deneuve, uma das atrizes mais respeitadas do mundo e ícone de sua geração, publicou no prestigiado Le Monde, junto com outras 99 mulheres artistas e intelectuais da França, uma carta em que criticavam o “puritanismo” de campanhas contra assédio sexual.

Elas defendiam o que chamaram de “liberdade de importunar” dos homens, considerada pelo grupo como “indispensável para a liberdade sexual”. Elas disseram textualmente no manifesto: “O estupro é crime. Mas o flerte insistente ou desajeitado não é um delito, nem o cavalheirismo uma agressão machista”. Também disseram que “não se sentem representadas por esse feminismo que, além das denúncias dos abusos de poder, adquire uma face de ódio aos homens e sua sexualidade”.

Resultado: as signatárias do documento foram apedrejadas nas redes sociais, sendo inclusive acusadas de fazer apologia ao estupro.

Oras, elas disseram exatamente o contrário disso na carta! Mas a massa raivosa fica cega a quem não pensa exatamente igual a ela.

O conceito foi brilhantemente explorado no episódio “Odiados pela Nação”, o último da terceira temporada da série “Black Mirror”. Na história, pessoas passam a ser misteriosamente mortas depois que seus nomes são associados à hashtag #DeathTo no Twitter. A pessoa com mais “votos” no dia acabava morta. Criou-se então um perverso jogo em que qualquer um podia literalmente determinar a morte de alguém que não gostasse, qualquer que fosse o motivo, simplesmente twittando seu nome.

Metaforicamente falando, é o que estamos vivendo hoje. Mesmo que a pessoa tenha uma vida imaculada –o que não existe– ela pode ser vítima de um “cancelamento”.

Eu pergunto: quem somos nós para acusar e destruir alguém?

Como diz aquela passagem bíblica, “quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

Não podemos entrar nessa onda de ódio e intolerância! Isso é uma afronta e um seríssimo risco a uma sociedade organizada! Se todo mundo que se sentir incomodado tiver o poder de um canhão para alvejar seus desafetos, viveremos um cenário de caça às bruxas!

As redes sociais deram voz a todos, e isso é maravilhoso! Mas não podemos usar esse direito para criar uma nova versão dos tribunais da Santa Inquisição. Ou em breve estaremos queimando mulheres em praça pública apenas por serem ruivas. E, assim como acontecia naqueles tempos sombrios, quem em um dia condena poderá ser queimado no dia seguinte.

Basta um desafeto lançar uma suspeita.

Ao invés disso, fico com o que cantavam os Beatles: “all you need is love!”

E convido você a fazer o mesmo.

Facebook mira seus canhões para meios de pagamento e e-commerce

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Você provavelmente é um dos mais de cem milhões de usuários do WhatsApp no Brasil. Usa o comunicador do Facebook para conversar com seus amigos, familiares, colegas, para fazer negócios, mandando fotos, áudios, “figurinhas” e arquivos.

Mas você toparia mandar dinheiro de verdade do mesmo jeito?

Essa é a mais recente novidade do Facebook em seus esforços para ocupar o varejo eletrônico e os métodos de pagamento. E tem potencial de sacudir o mercado.


Veja esse artigo em vídeo:


Na segunda passada, o próprio Mark Zuckerberg, dono do Facebook, disse em uma postagem na rede social que o Brasil foi escolhido para um amplo teste de envio de dinheiro pelo WhatsApp. Por “amplo teste” entenda-se que todos os usuários -pessoas e empresas- terão acesso ao recurso.

Antes de nós, ele já tinha sido testado na Índia, mas em um grupo reduzido de usuários, em condições mais controladas. Agora, no Brasil, a novidade vai ser solta na “vida selvagem”.

E isso é algo que pode acontecer no varejo, prejudicando a experiência global do consumidor

O recurso já estava sendo desenvolvido, mas a pandemia de Covid-19 antecipou o lançamento. Afinal, o comércio eletrônico cresce aceleradamente desde que o distanciamento social foi definido, em março.

É como diz o ditado: “enquanto alguns choram, outros vendem lenços”. E um dos que estão vendendo mais lenços é a Amazon.

Segundo “The Wall Street Journal”, a empresa de Jeff Bezos teve, em abril, o mesmo volume de pedidos de períodos como o Natal e o Dia dos Namorados. E em 16 de abril, as ações bateram sua maior alta histórica: 28% ao ano. Bezos sozinho ganhou US$ 24 bilhões desde o começo da pandemia! Foi um dos poucos bilionários a aumentar sua fortuna no período.

Zuckerberg também quer participar dessa festa! E o serviço de pagamentos pelo WhatsApp é importantíssimo nesse projeto.

Ele poderá ser utilizado por pessoas físicas e jurídicas. Usuários poderão transferir dinheiro para outros contatos e fazer compras sem ter que pagar taxas. Por outro lado, pequenas empresas que usam o WhatsApp Business pagarão uma taxa de 3,99% para receber os pagamentos de clientes, nos mesmos moldes do que acontece com recebimentos por cartões de crédito.

As transferências entre pessoas só poderão ser feitas com cartão de débito, limitadas a R$ 1.000 por transação, com um limite de 20 transações por dia e de R$ 5.000 por mês. Já para empresas, os pagamentos poderão ser tanto com cartão de débito quanto de crédito.

Por enquanto, só dará para fazer isso entre usuários no Brasil e tendo o Real como moeda.

Para evitar transações não-autorizadas, todas deverão ser aprovadas pelo usuário, com uma senha de seis dígitos ou a biometria do celular, quase sempre a impressão digital que alguns modelos leem.

Os usuários precisarão usar cartões de débito e crédito das bandeiras Visa e Mastercard, emitidos pelo Banco do Brasil, pelo Nubank ou pelo Sicredi.

Com o tempo, outras instituições devem aderir ao sistema. Todos os pagamentos serão processados pela Cielo. Ou seja, os comerciantes que desejarem utilizar a novidade para receber pagamentos terão de ter uma conta da Cielo, pelo menos por enquanto.

As transferências pelo WhatsApp estão vinculadas ao Facebook Pay, que já funciona nos Estados Unidos e permite pagamentos pelo Facebook e pelo Messenger. A ideia é que, em breve, seja possível fazer pagamentos entre todos os aplicativos da empresa, o que inclui também o Instagram

“Lojinha” e delivery de comida

Outra iniciativa do Facebook nessa seara é o Facebook Shops, ou Loja do Facebook, como deve ser conhecida aqui. Ele permite que pequenos lojistas criem vitrines de seus produtos no Facebook e no Instagram, podendo até personalizar a aparência do ambiente. Com o Facebook Pay, é possível que as pessoas até mesmo concluam as compras dentro da plataforma. A novidade, que já funciona nos Estados Unidos, deve estar disponível no Brasil em dois meses.

O Facebook ainda pode ingressar no negócio de entrega de comidas, invadindo o terreno do iFood, do Uber Eats e da Rappi. A informação saiu do próprio Zuckerberg, em entrevista ao jornal “Financial Times”.

Surge então a pergunta: isso tudo será bom aos consumidores e aos lojistas?

A princípio, tendo a dizer que sim!

Em primeiro lugar, as transferências pelo WhatsApp diminuem ainda mais a curva de adoção de meios de pagamento digitais, por ser uma plataforma totalmente disseminada no país e com a qual os usuários se sentem muito à vontade. Na prática, o Facebook entra na chamada “guerra das maquininhas”, sem sequer ter uma maquinha.

Para os pequenos negócios também pode ser uma boa ideia, pelo mesmo motivo. Resta saber se o modelo de negócios, que exige uma conta na Cielo e a cobrança de 3,99% por transação, será interessante para eles.

Do outro lado, os clientes também precisam de um cartão emitido por um dos bancos participantes, que ainda são poucos, e isso que restringe muito sua adoção. Mas a expectativa é que outros bancos se juntem aos pagamentos pelo WhatsApp depois.

Riscos de golpes

Daí vem a grande questão: a segurança.

O consumidor é sempre o elo mais fraco nisso. Tanto que a maioria dos golpes digitais não acontecem por uma invasão de sistemas.

Os disseminadores de “fake news” não são os únicos criminosos no WhatsApp. Há outro tipo de bandido que prefere essa rede: o que percebeu que é relativamente fácil enganar as pessoas para assumir suas contas e dar golpes de todo tipo. Isso acontece até com usuários que têm um bom domínio do meio digital. A bandidagem está ficando cada vez mais convincente nos seus métodos de convencimento.

Não é de se estranhar que esteja acontecendo uma verdadeira explosão de golpes virtuais nessa pandemia. E é possível que esse patamar se mantenha quando tudo estiver um pouco mais normalizado.

Ou seja, os golpes virtuais já fazem parte do chamado “novo normal”. Por isso, independentemente de você usar a novidade do WhatsApp, já deixo aqui uma dica essencial: ative a verificação em duas etapas no sistema. Isso coloca uma bem-vinda camada adicional de segurança a sua conta.

Apesar desse receio com a segurança, vejo como inevitável que essas novidades do Facebook deem certo e sejam amplamente adotadas. O brasileiro adora tecnologia, adora redes sociais e adora o WhatsApp. Não é de se estranhar que Zuckerberg tenha escolhido o Brasil para testar a novidade. E, com os devidos cuidados, o recurso pode ser mesmo bacana.

Temos apenas que entender bem como isso tudo funciona, para aproveitarmos o que elas têm de bom e não sermos vítimas de todo tipo dos criminosos.

Querem calar suas redes sociais

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Uma nova batalha ocupa as redes sociais, afetando profundamente o cotidiano de todos nós, pela importância que elas ocupam em nossas vidas. Dessa vez, ela vem de políticos, que usam seus apoiadores nas mesmas redes, robôs e a força do cargo para tentar piorar o nível das discussões e até censurar essas plataformas.

O exemplo mais recente desse embate aconteceu na semana passada, porque o Twitter começou a marcar publicações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, limitando as suas visualizações, por enaltecerem a violência.

Isso deixou Trump furioso!


Veja esse artigo em vídeo:


O Twitter sempre fez vista grossa aos impropérios de Trump e de outros líderes mundiais em sua plataforma, mesmo quando violavam seus termos de uso. Na avaliação da empresa, apesar dessa violação frequente, essas mensagens tinham valor como notícia, então as toleravam.

Só que, por muito menos, usuários comuns eram banidos da plataforma!

Agora a empresa resolveu mudar e endurecer contra esses políticos. Em represália, Trump assinou, na quinta passada, uma ordem executiva que poderia, na prática, regular as redes sociais e intervir no que se publica nelas. Em outras palavras, para combater o que ele chama de censura a suas publicações, Trump promete censura e outras retaliações contra as redes sociais, e não apenas o Twitter.

O presidente americano diz que quer eliminar o viés político nas redes. Na verdade, quer eliminar o que for contra ele nesse ano em que tenta a reeleição, deixando o caminho livre para continuar falando o que quiser.

As regras das redes sociais são claras sobre o que se pode postar ali: não aceitam “fake news”, incentivo a violência, terrorismo, racismo, ações contra a vida e a saúde.

Especialistas afirmam que Trump não pode fechar empresas que não estejam violando a lei. E mesmo a censura que ele quer fazer não deve passar, pois bate de frente com a chamada Primeira Emenda, que protege a liberdade de expressão nos Estados Unidos.

Sem falar que ele depende totalmente dessas redes para governar e se reeleger. Trump só está onde está graças ao contato que ele tem com seus apoiadores via Twitter.

No Brasil, a história é muito parecida. Nas últimas semanas, Bolsonaro teve várias mensagens apagadas pelo Twitter por violar as suas regras, com notícias falsas sobre o Covid-19. Antes dele, isso só tinha acontecido com chefes de governo nos casos de Nicolás Maduro, da Venezuela, e do aiatolá Khamenei, do Irã. Outros políticos brasileiros também já tiverem conteúdos removidos, como Flávio Bolsonaro, Ricardo Salles e Osmar Terra. Bolsonaro também já teve conteúdos eliminados no Facebook e no Instagram, segundo a empresa por “causar danos reais às pessoas”.

Bom, daí surgem as grandes perguntas! Será que essas ações das redes sociais são um ataque à liberdade de expressão? Se forem, será que governantes podem promover represálias contra as redes sociais porque seus conteúdos estão sendo eliminados? E como ficamos todos nós, os usuários das redes, no meio disso tudo?

O fato é que as redes sociais, e o Twitter principalmente, são essenciais para a eleição dessas pessoas, além da sua própria manutenção no governo.

A política dessas plataformas de até então tolerar as publicações incendiárias desses grupos permitiu que essas pessoas crescessem em popularidade e atingissem seus objetivos. Por conta disso, agora as redes têm que lidar com suas plataformas terem se tornando oceanos de desinformação e de ódio, em um nível que representa uma ameaça à sociedade organizada.

Esses grupos sabem usar e abusam desses recursos como ninguém. Combinam “fake news”, discursos de ódio e um incrível entendimento dos algoritmos de relevância das diferentes redes para espalhar seus conteúdos com o uso de robôs e de influenciadores. Por isso, qualquer coisa que ameace essa operação é uma ameaça real a seus planos de poder.

Sem as redes sociais, eles não são nada!

Ao assinar a ordem executiva na quinta passada, Trump disse que estava fazendo aquilo para “defender a liberdade de expressão”. Isso, por si só, já são “fake news”! Liberdade de expressão não implica poder falar o que quiser, atacar pessoas, grupos ou instituições, disseminar informações que coloquem em risco a saúde da população ou até a democracia.

“Fake news” não são liberdade de expressão: são crimes!

A desinformação é uma das maiores mazelas do planeta atualmente, com potencial de destruir a sociedade e matar pessoas, como literalmente está acontecendo na pandemia do Covid-19. Basta ver as ações e os resultados no combate à doença no Brasil e nos Estados Unidos comparados a, por exemplo, a Nova Zelândia, que já praticamente eliminou o vírus em seu território ao seguir rigorosamente as indicações da ciência. E só agora o país da Oceania está flexibilizando as regras de distanciamento, e de maneira bem lenta.

Portanto, liberdade de expressão não prevê que o indivíduo possa falar absolutamente qualquer coisa, pois muitas coisas que são faladas constituem crimes definidos no Código Penal. E, em tempos de redes sociais em que os algoritmos de relevância se tornaram gigantescas caixas de ressonância de qualquer ideia, isso se torna ainda mais grave!

Por isso, as redes sociais podem e devem -sim- coibir essa prática! Isso inclui eliminar ou limitar publicações de qualquer pessoa, mesmo de presidentes, que violem seus termos e o próprio conceito de civilidade.

E uma última ressalva, que precisa ser feita: os grupos conservadores acusam as redes sociais de perseguição política, pois são os que têm mais publicações eliminadas. Só que o combate às “fake news”, a desinformação, ao discurso de ódio deve ser feito igualmente contra todos que pratiquem isso. Se há mais publicações do grupo A sendo eliminadas que as do grupo B, é porque o primeiro abusa muito mais dessas práticas.

Assim sendo, nenhum governante ou grupo de poder pode legitimamente tentar cercear as redes sociais por elas eliminarem suas publicações que promovem esses atos nocivos à sociedade. Isso é uma intimidação digna de uma ditadura, usando recursos ilegítimos e prejudicando toda a população.

E nós, os usuários, o que podemos fazer para ajudar?

Em primeiro lugar, precisamos parar de acreditar em tudo o que vemos nas redes sociais. Por mais que apoiemos um político, devemos ser críticos ao que ele publica, pois muitos fazem qualquer coisa para se manter no poder.

Nós somos a chave para combater as “fake news”. Se não interagirmos com elas e principalmente se não as compartilharmos, elas perdem a força! Verifique meios de comunicação sérios, consulte agências checadoras de fatos antes de espalhar qualquer coisa. Uma notícia falsa raramente resiste a uma busca bem feita no Google.

Esse é o nosso papel para garantirmos que as redes sociais não apenas continuarão funcionando, como ainda se tornarão um ambiente melhor para todo mundo.

Videodebate: Google, me esquece!

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Você se preocupa com o Google, o Facebook, a Apple, e muitas outras empresas monitorando tudo que você faz online? Tem toda razão: elas sabem mesmo muito sobre nós!

Agora você pode pedir que o Google automaticamente apague tudo que sabe sobre você depois de um tempo. Simples e indolor!

Bacana, né? Mas será que isso faz diferença?

Queremos que nossa privacidade seja preservada, mas não queremos abrir mão das coisas boas que os meios digitais nos oferecem “de graça”, justamente por nos conhecer tão bem.

Então o que é mais importante para você? Sua privacidade ou os benefícios digitais? Ficou em dúvida? Então assista ao meu vídeo abaixo para entender isso melhor. E depois conte o que acha aqui nos comentários.



NOVIDADE: quer ouvir as minhas pílulas de cultura digital no formato de podcast? Basta procurar por “O Macaco Elétrico” no Spotify, no Deezer ou no Soundcloud. Se preferir, pode usar seu aplicativo preferido: é só incluir o endereço http://feeds.soundcloud.com/users/soundcloud:users:640617936/sounds.rss

Videodebate: o Facebook mudou o jogo

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Talvez você nem use mais o Facebook tanto. Mas as mudanças que Mark Zuckerberg e a sua turma anunciaram na F8, a convenção anual da empresa, na semana passada, certamente afetarão a sua vida.

Primeiro porque você deve usar outros produtos da empresa, no mínimo o WhatsApp. Depois porque, pelo seu gigantesco tamanho, o que o Facebook faz acaba impactando outras redes sociais.

Além de mudanças que visam melhorar questões de segurança e de privacidade dos usuários, o calcanhar do Aquiles que está derrubando a rede, o Facebook apresentou uma série de alterações na maneira como as pessoas devem se relacionar entre si e com empresas. Na prática, eles querem que as pessoas se preocupem menos com números como “curtidas” e mais em publicar conteúdo de qualidade e construir conversas interessantes a partir disso. Ou, como disse o próprio Zuckerberg, as redes serão menos como “praças públicas”, em que as pessoas vão para saber o que está acontecendo no mundo, e mais como “salas de estar”, onde recebemos pouca gente para conversar melhor.

Quer saber? Acho isso ótimo! As pessoas andam mesmo muito “viciadas em curtidas” e até fazendo algumas coisas questionáveis para isso. O resultado é uma queda dramática na qualidade do que se publica nas redes, mesmo no LinkedIn, que é o melhor lugar para se encontrar conteúdo e conexões de qualidade.

São nessas conversas que encontramos o verdadeiro ouro das redes sociais, onde nos tornamos autoridade no que fazemos, onde conseguimos mais clientes.

E você, concorda? Veja como isso funcionará no vídeo abaixo, e depois vamos debater aqui nos comentários.



Reflexão: o Facebook deprime você!

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Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook

Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook

Pelo menos é o que concluiu duas pesquisas mencionadas nessa reportagem do El País: https://bit.ly/2X0QdN5

A primeira é da Universidade de Nova York e de Stanford; a segunda, da Universidade A&M do Texas. Compararam usuários que deixaram a rede por um mês e por uma semana, respectivamente, com grupos que continuaram se conectando.

As duas confirmaram que não usar mais o Facebook, mesmo por curtos períodos de tempo, reduziu depressão e ansiedade nas pessoas. Outra coisa que achei particularmente interessante: as pessoas ficaram menos intolerantes! E ainda passaram a realizar outras atividades sociais.

Sempre trago para o debate a importância de não nos rendermos à manipulação dos algoritmos e do mau uso que algumas pessoas fazem deles, como no meu artigo mais recente (leia: https://tinyurl.com/paulo21fev19). As redes sociais são ferramentas incríveis de comunicação interpessoal, de informação e de aprendizado. Mas não podemos acreditar candidamente em tudo que nos é exposta ali. Além disso, não dá para achar que todo mundo é melhor que nós, pois normalmente as pessoas colocam só seus melhores momentos na rede.

E você, toparia ficar um mês sem usar o Facebook? Ou já saiu de vez dessa rede?