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Crianças com “laptop de US$ 100” do projeto “One Laptop Per Child”, criado por Nicholas Negroponte - Foto: OLPC/Creative Commons

Volta às aulas reacende debate sobre o lugar da tecnologia na escola

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Estamos em plena volta às aulas! Com os alunos, ressurge o debate sobre como usar a tecnologia na educação, com uma inteligência artificial cada vez mais poderosa. E a prefeitura do Rio de Janeiro jogou lenha na fogueira ao proibir, na sexta passada, que os alunos usem celulares nas escolas públicas municipais, mesmo no recreio.

Especialistas aprovam a decisão, que tem 30 dias para ser implantada. Já debatemos longamente, nesse mesmo espaço, como os celulares em sala de aula em atividades não acadêmicas roubam a atenção dos alunos e prejudicam profundamente seu aprendizado. No caso do recreio, eles atrapalham os processos de socialização entre as crianças, necessários para o seu desenvolvimento. Pela nova regra, os equipamentos devem ficar desligados ou silenciados na mochila do estudante, podendo ser usados apenas se o professor os solicitar para alguma atividade, ou em casos excepcionais, como alunos com algum problema de saúde.

A determinação é interessante para ampliarmos o debate sobre a digitalização do ensino. Nessa mesma época, no ano passado, os professores estavam em polvorosa devido ao então recém-lançado ChatGPT. Muitos achavam que não conseguiriam mais avaliar seus alunos e alguns temiam até perderem o emprego para as máquinas.

Passado um ano, nada disso aconteceu, até porque descobrimos que essa tecnologia ainda erra muito. Mas todo aquele burburinho serviu para, pelo menos, os professores repensarem os seus processos de avaliação. Em uma sociedade altamente digitalizada, não dá mais para só pedir que alunos entreguem textos escritos em casa.

Mas se sabemos o que não deve mais ser feito, ainda não há clareza sobre como usar todo esse poder digital de maneira criativa e construtiva com os estudantes, desde a infância até a universidade. A despeito dos riscos e problemas conhecidos, os alunos devem aproveitar o que ela também oferece de bom, de forma adequada a sua idade. Essa é uma lição de casa que todos nós temos que fazer.


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Há 15 anos, eu trabalhava com o desenvolvimento de conteúdos didáticos digitais e sistemas de apoio pedagógico. Era uma época em que Nicholas Negroponte, fundador do Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), propunha o uso de notebooks de US$ 100 para crianças estudarem melhor com o apoio da tecnologia.

Essas máquinas chegaram a ser criadas e pude conhecer alguns modelos. Eram pequenas maravilhas tecnológicas para a época, a um preço convidativo. O projeto foi implantado em alguns países, mas em muitos casos (inclusive no Brasil) não evoluiu, não pela tecnologia, mas porque os professores não sabiam bem o que fazer com ela.

De certa forma, vivemos algo semelhante agora. Estamos cercados por telas, e as crianças têm acesso a elas cada vez mais cedo. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil, divulgada em 25 de outubro pelo Cetic.br (órgão de pesquisa ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil), 95% dos brasileiros entre 9 e 17 anos estão online, e 24% tiveram seu primeiro acesso até os seis anos de idade.

O ChatGPT popularizou a inteligência artificial, e muitas empresas correm para criar soluções educacionais com ela. Como exemplo, em maio, Salman Khan, fundador e CEO da Khan Academy, uma organização que oferece educação online gratuita, demonstrou uma ferramenta que auxilia professores e alunos. Ela não dava respostas aos estudantes, ajudando-os a pensar na solução dos problemas. Para professores, a ferramenta ajudava a planejar aulas engajadoras. Khan afirmou que, para os alunos, a IA atua como um tutor, enquanto, para os professores, age como um assistente.

Esse é um sonho antigo do Vale do Silício. Não tenho dúvidas que a tecnologia pode ajudar na educação: eu cresci com isso! Mas também sei que ela sozinha não resolve, nem mesmo a “IA tutora” de Khan. Uma educação eficiente em qualquer idade não se resume a conteúdo de qualidade ou tutores que façam provocações inteligentes. Ela depende também da humanidade dos professores, capazes de ensinar, mas também de engajar e acolher seus alunos além de suas necessidades pedagógicas.

De todo jeito, está na hora de repensarmos a educação à luz da tecnologia.

 

Celulares e IA como apoio

Vivemos um cenário paradoxal. Segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), o excesso de telas sem orientação prejudica a aprendizagem e até a saúde mental de crianças e adolescentes. O órgão sugere também que a IA não seja usada antes dos 13 anos de idade. Por outro lado, a ausência de tecnologia põe estudantes em desvantagem educacional.

Devemos ter cuidado para não nos deslumbrarmos com as possibilidades da tecnologia nem tampouco rechaçá-la por temor do desconhecido. Isso significa que as escolas não podem abraçar inconsequentemente uma solução como a de Khan (que tem muitos méritos), especialmente como marketing, nem demonizar as telas na sala de aula, como alguns podem entender a determinação da prefeitura do Rio de Janeiro.

Precisamos ser guiados por consciência e equilíbrio. Vimos, no ano passado, a tentativa do governo do Estado de São Paulo de abandonar os livros, que seriam substituídos por questionáveis slides produzidos pelo próprio governo. Isso sim é um uso inadequado da tecnologia, reduzindo profundamente o papel do professor.

Há muito tempo, a sociedade brasileira debate a “atualização” e a “utilidade” dos currículos escolares. E nos últimos anos, uma parcela da população aprendeu a demonizar os professores. Para esses, quanto menos professor, melhor, e a inteligência artificial poderia ser a resposta a suas preces.

Naturalmente a escola precisa estar alinhada ao nosso mundo em constante transformação. Mas devemos ter cuidado para não reduzi-la a algo meramente utilitário. A escola deve principalmente formar cidadãos conscientes e viáveis, capazes de lidar com os desafios da sociedade e melhorá-la, e isso não se faz só com a capacidade de ler ou de fazer contas: são necessárias empatia, inteligência emocional, pensamento livre e humanidade.

Quem ensina isso são os professores e o melhor lugar para uma criança e um adolescente aprenderem é a escola. A tecnologia deve ser vista como uma parceira valiosa nesse processo de transformação, não uma substituta.

Por tudo isso, tenho visto professores em algumas listas de “profissões do futuro”. Mas naturalmente serão aqueles que usam a tecnologia para ampliar seus próprios limites e os de seus alunos. O amanhã pertence a quem domine a tecnologia, sem perder nada de sua humanidade.

 

Salas de aulas presenciais vazias e online lotadas: EAD vem provocando mudanças na educação – Foto: Creative Commons

Ganância de faculdades massifica ensino ruim a distância

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Na quarta passada (29), o Ministério da Educação (MEC) publicou uma portaria suspendendo por 90 dias novos cursos a distância em 17 áreas, incluindo todas as licenciaturas. Mais que bem-vinda, a decisão já deveria ter sido tomada há tempos, pois o ensino a distância (EAD) vem deixando de ser uma poderosa ferramenta de inclusão e flexibilidade na educação, para se tornar um mecanismo de massificação de ensino de baixa qualidade por instituições que visam apenas o lucro.

Segundo o Censo de Educação Superior, publicado em outubro, em uma década os cursos acadêmicos por EAD cresceram 700%, ficando hoje com dois terços dos ingressantes no Ensino Superior e formando 31% do total. Mas a qualidade é muito ruim: apenas 19% dos cursos privados e 34% dos públicos obtiveram notas 4 ou 5 nas avaliações do MEC.

Se considerarmos a formação de novos professores, que pede presença em sala de aula para se aprender o ofício, a situação fica dramática: na licenciatura e pedagogia, 65% dos formandos são por EAD. Na rede particular, 93,7% dos ingressantes desses cursos, onde a média de alunos em sala é de 171, estudam online.

Cursos da área de saúde, os de áreas que exijam ir a campo como parte da formação, Pedagogia e licenciaturas jamais deveriam acontecer por EAD. Esses profissionais acabam sendo despejados no mercado com formações muito deficientes. A sociedade precisa parar de ver esses números como “democratização do ensino”, porque essas pessoas aprendem muito pouco, na prática apenas “comprando um diploma barato”.


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O ensino a distância traz vantagens inegáveis. Provavelmente a maior delas é a flexibilidade de horários e a dispensa de se deslocar até a escola, o que economiza muito tempo e dinheiro em grandes cidades. Também é uma ferramenta de inclusão para pessoas com deficiência ou que vivam em locais que não oferecem os cursos. Por fim, eles tendem a ser mais baratos que os presenciais.

Naturalmente também há desvantagens. Uma delas é a exigência de uma autodisciplina muito maior dos alunos, para que aproveitem o curso, algo que muitos não têm. A distância também prejudica seriamente a interação social entre alunos e professores. É necessário ainda ter uma infraestrutura digital para assistir às aulas. E como o MEC aponta, a qualidade dos cursos realmente tem ficado a desejar.

“Eu sou uma grande defensora da educação a distância, mas nós estamos imersos nos grandes grupos empresariais, para quem a educação é um produto”, afirma Ana Lúcia de Souza Lopes, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em tecnologia para educação. “Isso pasteuriza a educação e as turmas acabam sendo enormes, com 200 alunos, e aí você pode ter o melhor professor do mundo, que ele não dá conta!”

O EAD explodiu com o relaxamento de suas regras em governos anteriores e com a pandemia. Antes dela, muita gente torcia o nariz para o ensino a distância. Agora a situação se inverteu.

Representantes do ensino privado afirmam que o EAD permite que alunos mais pobres estudem. Em muitos casos, é verdade, mas há instituições que aproveitam isso para criar cursos baratos, que não se sustentam na qualidade. Seu modelo exige centenas de alunos em sala, para que sejam lucrativos. Mas, com isso, os professores nem sabem quem são os alunos, prejudicando severamente o ensino.

Quando o MEC instalou um grupo de trabalho sobre o tema, diversas entidades públicas e privadas ligadas à educação publicaram uma carta aberta solicitando melhorias estruturais em três frentes: a expansão desenfreada do EAD, a baixa qualidade dos cursos e a alta evasão de alunos.

 

Professores sem sala de aula

Uma das principais críticas da formação de professores a distância é estarem justamente fora de uma sala de aula presencial. Especialmente no caso de crianças e adolescentes, isso exige habilidades muito específicas, que só se adquirem com o contato com esses grupos. Em alguns anos, teremos uma geração de professores em salas de aula formados sem essa experiência.

Como já foi dito, o ensino a distância não é necessariamente ruim. Na verdade, se for bem implantado, pode ser ótimo! Mas para isso, várias coisas precisam ser observadas.

A primeira delas, responsabilidade das instituições, é a qualidade do material pedagógico, que, no caso, se reflete em bons conteúdos e boa infraestrutura digital. A quantidade de alunos nas turmas também deve ser limitada, para que exista uma troca proveitosa entre professores e alunos. Os professores, tanto os conteudistas (que preparam o material) quanto os tutores (que ministram as aulas), precisam ser formados para aulas nessa modalidade, que exige conhecimentos técnicos para tirarem proveito pleno desses recursos. Por fim, os alunos precisam de muito mais autodisciplina, para realizar todas as tarefas e interações adequadamente.

Essa explosão da formação de professores a distância tende a corroer ainda mais o já raso prestígio da carreira no Brasil. Segundo o relatório “Global Teacher Status”, entre 35 países avaliados, o Brasil é o que menos prestigia seus docentes. Nos países desenvolvidos, os professores vêm dos 30% melhores alunos; por aqui, a esmagadora maioria está entre os 10% com pior desempenho no Enem.

“Muito se fala do ‘apagão docente’, que mesmo quem faz a graduação em Pedagogia não tem interesse em atuar nessa área”, explica Lopes. “Faz porque, no nosso país, o diploma universitário é um status dentro da sociedade, não porque quer ser professor”.

Essa explosão de cursos a distância rasos por R$ 99 cria uma lógica perversa no mercado. Os alunos são atraídos pelo preço, mesmo não aprendendo grande coisa com eles. E isso força mesmo instituições que prezam pela qualidade a oferecer algo nessa linha, ou correm o risco de fecharem as portas.

É por isso que o governo precisa “colocar ordem na casa”! Esse mercado claramente não sabe se autorregular e os gestores educacionais criaram uma armadilha para si mesmos.

O EAD deve ser implantado da maneira correta, pelo que traz de benefícios. Ele não pode ser usado para criar cursos com salas lotadas, baratos e que não ensinam os alunos. Da mesma forma, não deve ser demonizado. Mas para isso precisa ser regulamentado, para ganhar credibilidade e qualidade. Quantidade de alunos e excelência acadêmica devem ser objetivos permanentes de todos.

Agora que o governo suspendeu novos cursos, o próximo passo é descredenciar os já existentes que não consigam comprovar o nobre papel de ensinar. Educação não pode ser vista de maneira tão displicente e focada apenas nos lucros. Enquanto isso não mudar, o Brasil continuará descendo a ladeira em todas suas métricas sociais. Até onde chegaremos no fundo desse poço?

 

Alunos precisam de 20 minutos para se reconectar ao estudo depois de usar smartphones para outras coisas - Foto: RDNE/Creative Commons

Pais e educadores devem “fazer as pazes com o não” para combater excesso de telas

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Ganha força a tese de que crianças e adolescentes fazem um uso excessivo de telas na escola e em casa, e que isso provoca grandes prejuízos ao seu desenvolvimento. No dia 26 de julho, um relatório da Unesco (a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) destacou pela primeira vez o problema e como um quarto dos países já faz alguma restrição de celulares em sala de aula. Mas ainda se fala pouco sobre como professores sem autoridade e até coibidos por pais de alunos podem ser levados a contribuir com essa situação.

Isso aparece no recém-lançado estudo “Educando na era digital”, da consultoria educacional OPEE. Ele indica que 97% dos educadores brasileiros concordam que há “uso excessivo de telas sem acompanhamento”, mas paradoxalmente apenas 9,7% deles acham que elas devem ser proibidas na sala de aula.

O exagero digital dos jovens vai além da escola. Outra pesquisa, a TIC Kids Online Brasil, divulgada no dia 25 de outubro pelo Cetic.br (órgão de pesquisa ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil), indica que 95% dos brasileiros entre 9 e 17 anos estão online, e que isso acontece cada vez mais cedo: no ano passado, 24% tiveram seu primeiro acesso até os seis anos de idade; em 2015, eram 11% nessa faixa etária.

Todos esses fatos estão interligados e se retroalimentam. Enquanto pais e educadores não resgatarem a consciência de sua autoridade para impor limites aos mais jovens, esse quadro tende a se agravar. É impensável negar o acesso à tecnologia digital no nosso mundo hiperconectado, mas é preciso ensinar crianças e adolescentes a usarem-na de maneira construtiva e responsável.


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“Muitos educadores nem podem dizer ‘não’, porque a escola está muito refém da ‘carteirada’, no caso da escola particular, e até da agressão ou da humilhação, na escola pública”, afirma Leo Fraiman, mestre em psicologia educacional e autor da metodologia OPEE. “O professor hoje é tido, por muitas famílias, como um funcionário, um empregado seu, e não mais como uma autoridade.”

Segundo o psicoterapeuta, existe uma esquizofrenia entre famílias e escolas. As primeiras exigem das segundas o ensino de limites, de valores, de humanidade. Mas quando surge algum limite, até em uma simples nota baixa, os pais reagem negativamente.

“Viemos de um modelo mais rígido, de onde muitos adultos saíram ressentidos, até machucados emocionalmente”, explica o pesquisador. “E hoje, como pais, é como se quisessem se vingar das suas próprias feridas, superprotegendo os filhos.”

As telas de crianças e adolescentes são subprodutos dessa cultura. Muitos pais argumentam que elas desenvolvem, nos mais jovens, necessárias habilidades digitais, o que não deixa de ser verdade, desde que feito com orientação. Entretanto, o que se observa é que principalmente o celular se tornou um “companheiro” que ocupa o tempo dos pequenos, uma “babá eletrônica” (posto que foi ocupado pela TV há 30 anos) que falsamente desobriga os pais de dar mais atenção aos filhos.

Isso se reflete na escola, com pais exigindo a possibilidade de falar com seus filhos a qualquer momento, mesmo nas horas em que estiverem em aula. Com o smartphone, os alunos acabam impactados pelas incontáveis notificações, além da sedução das redes sociais, destacadas pela Unesco como fortes fatores de distração. E os alunos podem levar até 20 minutos para se concentrar novamente no que estavam aprendendo depois de usarem o smartphone para atividades não-educacionais.

É importante que fique claro que ninguém está dizendo que os jovens não devem usar a tecnologia, e sim que façam isso de forma comedida e sob orientação de adultos. A Unesco aponta que o excesso e a falta de critérios podem levar ao surgimento de problemas de alimentação, sono, saúde mental e saúde ocular.

 

Cyberbullying e outras agressões digitais

Outro estudo do Cetic.br, o TIC Educação, divulgado em 25 de setembro, indica que um terço dos professores brasileiros disseram que seus alunos pediram ajuda após terem sofrido assédio ou agressões pelo meio digital, ou terem suas fotos publicadas sem consentimento. Em um ano, os casos de vazamento de fotos saltaram de 12% para 26% e os de cyberbullying passaram de 22% para 34% dos estudantes. Esses números estão em linha com as observações dos educadores ouvidos pela pesquisa da OPEE: 80,9% deles acreditam que o acesso às telas favorece o cyberbullying.

É muito bom observar que os alunos recorrem a seus professores para lidar com problemas gravíssimos criados ou agravados pelo meio digital. Isso demonstra uma relação de confiança diante de algumas das maiores agressões que eles podem sofrer. Entretanto os professores precisam ter autonomia para atuar como necessário, até mesmo limitando o uso das telas e das redes sociais. A escola ganha também um novo papel, que é o de educar os pais no convívio digital, uma habilidade que possivelmente eles mesmos não dominem.

Fraiman alerta que estamos “contraindo uma dívida enorme para as próximas gerações” ao não as educar para um uso construtivo do meio digital, abrindo brechas para o surgimento de todos esses problemas educacionais e emocionais. E provoca: “diante de um mundo que vai ser cada vez mais competitivo, exigente, caro, acelerado, complexo, qual é a chance de uma criança, de um adolescente realmente se tornar ativo e inserido na sociedade e no mercado de trabalho, se ele for uma pessoa rasa, individualista, narcisista, acomodada e amedrontada?”

Isso vem de quebras de paradigmas sociais que a tecnologia continuamente nos impõe. As potencialidades oferecidas são fabulosas e surgem em escala exponencial, assim como problemas da nossa inadequação a tantas novidades. Começou com o surgimento da Internet comercial, foi seguida pela explosão das redes sociais e posteriormente dos smartphones. Agora a inteligência artificial é a bola da vez. É muito difícil absorver adequadamente tanta mudança!

A Unesco defende o uso de telas nas escolas, desde que claramente destinadas ao apoio ao ensino, e não como distração dos alunos. Além disso, nunca podem substituir o papel dos professores. Esses, por sua vez, precisam ter sua autonomia e autoridade resgatadas por boas políticas educacionais e pelas próprias instituições de ensino. Quanto às famílias, cabe a elas trabalharem em parceria com as escolas para a criação de limites a seus filhos, respeitando e valorizando os educadores.

A escola é um espaço de aquisição de conhecimento, mas também de respeito a diferenças e de fortalecimento de uma cidadania inclusiva, com um uso inteligente de todos os recursos disponíveis. Isso só acontecerá com a colaboração de todos os envolvidos, e nossos jovens precisam desesperadamente disso.

 

Ilustração oficial do Comitê Nobel no anúncio do Nobel da Paz de 2023 concedido à iraniana Narges Mohammadi - Foto: reprodução

Como a verdade desejável para alguns pode ser um ato abominável para outros

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Provavelmente você a as pessoas que conhece defendem os direitos das mulheres. Isso parece ser algo tão óbvio, que o oposto nem passa pela sua cabeça. Mas você se surpreenderia com a quantidade de pessoas que discordam disso, ainda que parcialmente, em pleno ano de 2023! Como justificar então um Estado e uma parcela significativa de sua população negando direitos básicos às mulheres?

Tivemos um bom exemplo na sexta, quando o Comitê Norueguês concedeu o Prêmio Nobel da Paz à iraniana Narges Mohammadi, pelo seu trabalho como defensora dos direitos das mulheres. Ela está presa no seu país, sentenciada a 31 anos de reclusão e a 154 chibatadas. O governo de Teerã protestou contra a escolha, classificando-a como “tendenciosa e política”, uma “pressão do Ocidente” que favorece alguém que, para eles, praticou “reiteradas violações da lei e cometeu atos criminosos”.

Como se pode ver, o “óbvio” pode ser construído. O fenômeno de convencimento de massas existe desde que os humanos desceram das árvores e se organizaram em sociedade, e seus métodos vêm se refinando de lá para cá. Seu ápice se deu com as redes sociais que manipulam bilhões, mas a inteligência artificial pode sofisticar esse processo ainda mais.

Agressões contra mulheres podem parecer um exemplo extremo, mas não podemos esquecer que isso acontece diariamente no Brasil. E, apesar de aqui ela não ser apoiada pelo Estado, vale lembrar que apenas recentemente, no dia 1º de agosto, o STF (Supremo Tribunal Federal) declarou inconstitucional o uso da tese da “legítima defesa da honra” como defesa para feminicídio e outras agressões contra mulheres.


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É interessante notar que, antes da Revolução Islâmica de 1979, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, o Irã era uma das nações mais progressistas do Oriente Médio. Comandado pelo xá Mohammad Reza Pahlavi, o país desfrutava de um razoável desenvolvimento econômico e tecnológico, com avanços na industrialização, na educação e na saúde pública. Havia modernização do código de vestimenta, a promoção dos direitos das mulheres e a ocidentalização da cultura.

Mas nem tudo eram flores. O governo do monarca era autoritário e corrupto, o que gerava um descontentamento crescente na população. Khomeini soube capitalizar isso com apelo religioso, tornando-se o principal opositor ao xá, que acabou deixando o país em 1979. A população então votou para tornar o Irã uma república islâmica teocrática e antiocidental, tendo o aiatolá como líder supremo do país.

A Revolução Iraniana é apenas um exemplo entre incontáveis casos de persuasão de grandes massas populares, alguns por motivos nobres, outros para satisfação de desejos mesquinhos de alguns grupos, muitas vezes ligados à política.

Coincidentemente, na semana passada terminei de rever a série “Irmãos de Guerra” (“Band of Brothers”, 2001) na Netflix. Ela conta a história real das missões de um grupo de paraquedistas americanos na Segunda Guerra Mundial, desde o “Dia D” até o fim do conflito. Menos preocupada na ação e mais em retratar os dramas humanos da guerra, a série se presta muito bem a nos fazer pensar o que leva milhões de pessoas a embarcar voluntariamente em um confronto assassino e suicida ao mesmo tempo, com controle mínimo das próprias ações.

Cada episódio começa com breves entrevistas atuais com os próprios soldados representados na produção. No penúltimo episódio, um deles afirma: “Nós pensávamos que os alemães eram o pior povo do mundo, mas, com o desenrolar da guerra, descobrimos que não era bem aquilo.” Outro sugere que “muitos daqueles soldados alemães, em circunstâncias diferentes, poderiam ter sido bons amigos meus, poderíamos ter muito em comum”.

Mas na loucura da guerra, a preocupação de todos era apenas “matar o inimigo”. Se eles pudessem pensar em tudo aquilo, talvez não houvesse guerra por falta de tropas.

 

O poder da narrativa única

Precisamos ter muito cuidado antes de apontar dedos. Aqueles que nos querem convencer de algo abusam do recurso de silenciar ou desqualificar vozes dissonantes, pois seu público não pode ter acesso “ao outro lado” e conhecer seus argumentos. A narrativa única é essencial para o convencimento. Por isso, costuma-se dizer que, “em uma guerra, a verdade é a primeira vítima”.

Temos experimentado isso nas últimas eleições, com as redes sociais sendo usadas pelos diferentes grupos políticos para manter seu “curral eleitoral” dentro de uma bolha que apenas exalta suas virtudes e demoniza seus adversários. A imprensa profissional e livre, nesse e em todos os casos de convencimento de massa, deve ser combatida, pois ela insiste em explicar a realidade à população.

No final, tudo recai sobre nossos valores. A escolha em quem votaremos afeta nosso cotidiano pelos próximos quatro anos, mas é algo bem menor que a decisão de ir para uma guerra pronto para matar ou morrer, ou apoiar um regime que abertamente assassina opositores e violenta mulheres.

É verdade que o governo teocrático iraniano foi instalado por escolha popular, o que lhe dá legitimidade. Ele ascendeu ao poder atendendo a necessidades e desejos dos iranianos da década de 1970, trabalhando habilmente, com aspectos religiosos, suas emoções e um apelo à construção da identidade de um povo.

Mas tudo tem limites e eles começam a aparecer mais fortemente à medida que o tempo passa. O regime dos aiatolás está no poder há 44 anos, mas vem enfrentando oposição aberta nos últimos tempos, que é reprimida com grande violência. Os maiores movimentos contrários aconteceram no ano passado, depois que a Polícia da Moralidade matou em setembro Mahsa Amini, de 22 anos, por deixar uma mecha de seu cabelo aparecer fora do seu véu.

Isos é demais, até mesmo para uma sociedade oprimida pelo medo ou cega pela religião. O regime dos aiatolás sabe que, da mesma forma que foi guindado ao poder por revoltas populares contra o xá Reza Pahlavi, pode ser apeado dali assim. Por isso, não pode dar espaço a vozes contrárias ou a uma população bem-informada. Nesse cenário, o Prêmio Nobel da Paz para Narges Mohammadi funciona como um perigoso convite a fazer as pessoas pensarem.

Assim caminha a humanidade! Quero crer que, na média, evoluímos, apesar de enormes retrocessos que teimam em aparecer de tempos em tempos, como a ascensão do nazismo e de outros regimes totalitários políticos ou religiosos.

Crescemos mais fortemente quando a sociedade tem acesso amplo a uma educação de qualidade e a uma imprensa forte, profissional e livre. Precisamos desses recursos! Afinal a verdade costuma fugir dos extremos e abraçar o diálogo e o respeito.

 

Troca de empregos formais pela flexibilidade da “gig economy” pode levar a queda nos rendimentos - Foto: Ono Kosuki/Creative Commons

Estudar tem dado menos dinheiro, mas não investir na sua formação é uma armadilha

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O mercado de trabalho brasileiro vem criando mais vagas de baixa qualidade, mesmo com a população estudando mais. Isso empurra profissionais bem-preparados para posições que pagam menos e para a informalidade, e arma uma perigosa arapuca.

Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), divulgado recentemente com dados do IBGE, demonstrou que os brasileiros que estudaram mais foram os que perderam mais renda na última década, com um aumento abrupto na informalidade. O levantamento aponta ainda que despencou a vantagem dos seus rendimentos frente aos dos que estudaram muito pouco.

Outra pesquisa, essa da consultoria IDados sobre a população “sobre-educada”, indica que 5,4 milhões de brasileiros com ensino superior trabalham fora de sua área de formação ou em atividades que não tiram proveito de todo o seu potencial. Esse número vem crescendo desde 2019, quando os “sobre-educados” eram 4,5 milhões.

Esses levantamentos contrastam com a mais recente taxa de desemprego no país, divulgada pelo IBGE na sexta (29), que foi de 7,8%. É o menor índice desde fevereiro de 2015, quando era de 7,5%.

Isso se explica por uma economia sem dinamismo, com empresas que investem pouco, acostumadas a uma produtividade baixa. O grande perigo nisso tudo é se criar uma ideia errada de que não vale a pena estudar, ou pelo menos estudar muito.

Apesar dessas evidências, as pessoas que caem nessa armadilha colocam em risco a própria sobrevivência profissional, especialmente em um cenário de grande automação.


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Segundo a pesquisa do Ibre-FGV, os profissionais com mais de 16 anos de estudo viram sua renda média cair, entre 2012 e 2023, de R$ 7.211 para R$ 6.008, em valores corrigidos pela inflação. Nessa faixa, a informalidade saltou de 1,9 milhão para 4,1 milhões de trabalhadores entre 2015 e 2023. Vale apontar que percentualmente, o aumento não foi tão grande: de 14% para 19,5%, o que indica que mais pessoas chegaram a esse patamar superior de estudo no período.

De todas as faixas avaliadas no levantamento, a única que viu sua renda crescer sensivelmente de 2012 a 2023 foi justamente a dos com menos de um ano de ensino: de R$ 1.094 a R$ 1.396. Para quem estudou de 1 a 11 anos, permaneceu praticamente estável, caindo a partir daí. A informalidade também diminuiu para quem estudou até 8 anos, permaneceu estável na faixa de 9 a 11 anos de escola, e cresceu entre os que estudaram a partir de 12 anos.

O achatamento salarial é velho conhecido dos brasileiros, especialmente em momentos de crise, como a que estamos mergulhados há anos. A recente digitalização galopante agora afeta camadas profissionais mais especializadas, que antes se sentiam mais protegidas.

Mariane Guerra, vice-presidente de Recursos Humanos para a América Latina da ADP, acredita que a chamada “gig economy” também pode estar influenciando nesse processo. Por esse modelo, profissionais trocam empregos regulares por trabalhos pontuais, muitas vezes por tarefas. Se antes o grande expoente disso era a Uber, hoje temos profissionais em todos as áreas adotando o modelo, em busca de flexibilidade.

“Quando você passa a ser um trabalhador autônomo, você tem uma flutuação de renda”, afirma a executiva. “Demora até você ter uma carteira de clientes que permite ter uma renda constante, sólida, no mesmo patamar”, explica.

Para aqueles que insistem em um emprego, a situação econômica pode provocar um impacto perverso. Cresce o número de profissionais que “diminuem sua formação” no currículo (por exemplo, omitindo um doutorado) para conseguirem ser contratados.

“A gente tem a necessidade de pessoas com um perfil mais preparado, mais aculturado, mais transdisciplinar, para atender demandas mais sofisticadas”, afirma Marcelo Graglia, professor da PUC-SP e coordenador do Observatório do Futuro do Trabalho. “E a gente vê essa prática arcaica, que não faz mais sentido”, acrescenta.

 

Investindo no que importa

Os especialistas são unânimes em reafirmar a importância do estudo. Mas é preciso escolher no que focar.

O diploma de graduação deixou de ser suficiente para o sucesso profissional há muito tempo. É um consenso no mercado que se deve estudar continuamente, porque novas metodologias, recursos tecnológicos e modelos de negócios surgem a todo momento.

No cenário atual de pouco dinheiro e tempo, vemos o crescimento de busca por cursos de curta duração, para aprender habilidades técnicas específicas e de uso imediato no cotidiano profissional. É uma maneira rápida de se conseguir algum destaque no currículo.

Apesar de seu inegável valor, eles não substituem os cursos mais longos, como especializações, MBAs e até mestrados e doutorados. São eles que formam profissionais verdadeiramente diferenciados, capazes de enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais exigente e em constante transformação.

“Os profissionais que enxergam esse momento do mercado como uma mudança estrutural cometem um equívoco estratégico para a carreira”, afirma Graglia. Ele e Guerra destacam ainda a importância das “soft skills”, competências interpessoais e emocionais para o trabalho. Para ele, “as pessoas muito especializadas, sem essas outras habilidades, são as mais suscetíveis à substituição pela tecnologia”.

Não se pode esperar que o governo resolva isso sozinho, apesar de seu papel fundamental na criação de novas políticas educacionais, que formem melhores cidadãos e profissionais mais alinhados ao mundo atual, desde o Ensino Básico até a universidade. As empresas precisam também assumir seu papel na solução, não apenas valorizando profissionais com boa formação, mas também investindo, elas mesmas, em cursos de capacitação e reciclagem. E naturalmente cada um de nós deve assumir o protagonismo da própria carreira, estudando para melhorar sempre.

“Conhecimento é perecível, então quem vai produzir mais, quem vai continuar fazendo pesquisa, se todo mundo acha que não precisa estudar mais”, questiona Guerra. Em um cenário de competição tecnológica cada vez mais acirrada, ela provoca: “quem vai dar o próximo passo qualitativo, desenvolver a próxima tecnologia?”

O mercado de trabalho e a educação caminham de mãos dadas. Quando um vai mal, a outra sente, e vice-versa. Não se pode, diante do cenário ruim que o país passa, esquecer do ensino e da valorização profissional como pilares para o crescimento de qualquer sociedade. Isso colocaria nosso futuro ainda mais em risco.

 

Crianças participam em atividade de aula de robótica em sua escola - Foto: Arno Mikkor/Creative Commons

Pensamento computacional em crianças e jovens ajuda a formar melhores cidadãos

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Em uma famosa entrevista em 1995, Steve Jobs disse que “todos neste país deveriam aprender a programar um computador, pois isto ensina a pensar.” O cofundador da Apple foi visionário, pois dominar a tecnologia se tornou crucial em um mundo imerso nela. A explosão no debate e aplicações de inteligência artificial reacendeu o tema, pois fica cada vez mais claro que ela pode colocar pessoas e empresas em um patamar superior àquelas que não se aproveitam de seus recursos.

Mas o pensamento computacional transcende programar computadores. Na verdade, hoje podemos fazer usos incríveis das máquinas sem escrever uma linha de código. Essa maneira de raciocinar envolve a capacidade analítica de resolver qualquer tipo de problema, de identificar padrões, de modelar processos. Ela aprimora nossa capacidade de aprender e de pensar criativa e criticamente, mesmo sem nada digital.

Nas últimas décadas, muitas escolas tentaram implantar computadores no cotidiano escolar em iniciativas muitas vezes improdutivas. Até pouco tempo, muitas ainda tinham “aulas de informática” sobre Windows e Word. Isso já erra por segregar a “informática” a uma aula, ao invés de encará-la de maneira transversal nas disciplinas.

Agora nos aproximamos do momento em que as escolas precisarão implantar a Política Nacional de Educação Digital, que estabelece diretrizes e metas para a promoção da educação digital, instituída no dia 11 de janeiro pela lei 14.533/23. Resta saber se as escolas estão preparadas para isso.


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Não podemos esquecer que muitas dessas instituições no país não têm infraestrutura para isso, carecendo de computadores e acesso à Internet. Mas esse trabalho pode começar mesmo sem o lado digital.

“Se a gente trabalha isso desde cedo nas escolas, com crianças e jovens, a gente consegue uma geração que sabe pensar de um jeito melhor, mais estruturado”, explica Cristina Diaz, diretora da UpMat Educacional, empresa que atua na educação básica a partir de conteúdos de matemática e pensamento computacional. Para ela, as crianças que desenvolvem essas habilidades desde cedo têm mais chance de criar um gosto pelo aprendizado, que levarão para o resto da vida.

Uma resolução do MEC (Ministério da Educação), de 4 de outubro do ano passado, determina que, a partir do mês que vem, as escolas passem a ensinar computação. A lei de janeiro detalha como isso deve ser feito, considerando a inclusão digital da sociedade, a educação digital nas escolas, as ações de capacitação do mercado de trabalho e o incentivo à inovação, à pesquisa e ao desenvolvimento.

Se isso já não bastasse, o lançamento do ChatGPT em novembro passado provocou um enorme debate sobre como a inteligência artificial impacta as atividades escolares, com professores e alunos usando a ferramenta sem preparo. Coincidentemente, na quinta passada, a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) publicou orientações sobre o uso da inteligência artificial na educação e na pesquisa. Nelas, o órgão sugere que a IA não seja usada antes dos 13 anos de idade.

Diaz não acredita que a inteligência artificial deixará as pessoas menos inteligentes ou preguiçosas, um temor que vem sendo ventilado por muita gente. O motivo é simples: “para manusear esse tipo de tecnologia, a gente vai ter que aprender coisas mais sofisticadas, uma leitura crítica, a utilizar competências superiores”, afirma.

De fato, uma ferramenta tão poderosa como a inteligência artificial generativa oferece os seus maiores benefícios àqueles que sabem tirar proveito dela, com perguntas inteligentes. Infelizmente, a recíproca também é válida.

Como diz um ditado americano, “se entra lixo, sai lixo”.

 

Aliada da educação

Ao contrário do que muitos temem, a tecnologia digital –e a inteligência artificial particularmente– não ameaça a educação ou o papel do professor. Pelo contrário, pode ser uma incrível aliada no processo, se bem usada.

Em uma palestra há quatro meses, Salman Khan, fundador e CEO da Khan Academy, uma organização que oferece educação gratuita pela Internet, demonstrou uma ferramenta de IA generativa que auxilia professores e alunos. Nela, é possível ver, no caso dos estudantes, a máquina não lhes dando respostas prontas e ajudando-os a pensar na solução dos problemas. Para os professores, a ferramenta ajuda no planejamento de aulas mais engajadoras. Como disse Khan, para os alunos, a IA atua como um tutor, enquanto, para os professores, age como um assistente.

Os professores, as escolas e as políticas educacionais precisam se modernizar para absorver essas mudanças aceleradas da sociedade. Ainda temos um sistema educacional conteudista, com uma quantidade de informação tão grande, que pode desestimular o aluno a querer aprender mais.

Isso se reflete nos péssimos resultados do Brasil nas diferentes avaliações internacionais de eficiência educacional. Nossos estudantes, na média, sabem muito pouco de linguagem, ciências e matemática. Essa última é particularmente maltratada em nosso país, cujas últimas gerações parecem não gostar dela por definição.

Mas como ser um bom cidadão em uma sociedade profundamente digital sem uma boa base de pensamento computacional?

Engana-se quem acha que isso impacta apenas habilidades ligadas às Exatas. Um pensamento computacional limitado afeta diretamente o senso crítico do indivíduo. Em um mundo em que redes sociais e smartphones se transformaram em ferramentas de dominação ideológica pelas infames fake news, nada é mais necessário e determinante para a criação de um cidadão consciente, com sua mente livre.

“As escolas já estão reconhecendo a sensação de que não tem para onde escapar, e não porque é uma demanda da lei, mas porque é uma demanda da sociedade, das crianças, das famílias, da vida”, acrescenta Diaz. “Ninguém fala em outra coisa: o mundo do trabalho depende disso!”

Pais e escolas precisam se unir para que as crianças sejam incentivadas a desenvolver seu pensamento computacional. A matemática e o raciocínio lógico não podem continuar sendo encarados como “coisas chatas”, pois são os alunos que dominam esses recursos que escreverão o futuro de um mundo melhor para si e para todos os demais.

 

Crianças leem livros entregues pelo Programa Nacional do Livro Didático ¬ Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Tirar livros de escolas paulistas representa enorme retrocesso disfarçado de modernidade

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Na semana passada, uma decisão do governo do Estado de São Paulo causou revolta em educadores: o secretário da Educação, Renato Feder, determinou que, a partir do ano que vem, os alunos da rede estadual no Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e no Ensino Médio não usarão mais livros impressos. Ao invés disso, os professores ministrarão as aulas com slides criados pela equipe da Secretaria de Educação, projetados em telas.

Um outro aspecto da medida igualmente problemático é a decisão do governo paulista de abandonar o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) nessas faixas etárias. Por esse mecanismo, há mais de 80 anos o Governo Federal compra e entrega os livros para todos os alunos das escolas públicas do país, depois de os professores de cada instituição ou rede escolherem os títulos que preferem.

Feder disse que o conteúdo dos livros do PNLD estão “rasos e superficiais”, uma afirmação leviana e questionável. Para ele, o material digital do governo paulista é “mais assertivo”.

Dificilmente uma decisão poderia estar mais errada e desagradar tanta gente. Ela contraria as pesquisas de ponta em educação e as práticas adotadas em países com os melhores sistemas de ensino do mundo.

Tanto que, depois dos protestos dos educadores, o governo de São Paulo recuou e disse, no sábado, que também oferecerá seu material digital impresso em apostilas. Isso só demonstra que eles ainda não entenderam onde está o gritante retrocesso na “modernidade” que estão impondo.


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A simples digitalização do material didático é um erro por diferentes motivos. O primeiro é que, contrariando o que muitos pensam, crianças necessariamente não sabem estudar em telas. Por mais que sejam nativos digitais e usem computadores e celulares em seu cotidiano, estudar em uma tela é muito diferente de usar uma rede social ali. Além disso, o estudo em meios digitais exige uma disciplina que crianças e adolescentes não têm, o que ficou evidente durante a pandemia.

Diversos relatórios internacionais atestam que o uso intensivo de tecnologia piora o processo de aprendizagem, ao invés de melhorá-lo. Com base nisso, estudo recente da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) recomenda seu uso moderado, sempre como complemento, nunca como substituição a outras estratégias em sala de aula.

No Pisa, avaliação internacional de desempenho escolar organizado pela OCDE, entre os 79 países participantes, os melhores resultados vêm daqueles que usam moderadamente a tecnologia em sala de aula. Entre os que fazem uso mais intensivo, os resultados pioraram.

Isso é tão verdadeiro que os países com melhor educação no mundo vêm diminuindo a adoção de material didático digital, que passa a ser apenas um complemento. Vale dizer que, nesses países, essa adoção foi feita de maneira gradual, sem eliminar livros e com a participação dos professores, bem diferente da decisão paulista, abrupta e tomada no gabinete do secretário.

“Nessa era digital, o que a gente mais precisa recuperar no estudante é a capacidade de concentração”, afirma Ana Lúcia de Souza Lopes, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em tecnologia na educação. “A escola ainda é um lugar para isso.”

 

E o professor?

Se a intensa digitalização da sala de aula é ruim para o aluno, precisamos também considerar o professor. Ele foi formado sem esses recursos, portanto, em primeiro lugar, precisa aprender a ensinar com eles. Não se trata de mera transposição de conteúdo entre mídias. E ele não foi consultado se esse material atende a suas necessidades e às de seus alunos, que variam muito de escola para escola.

Esse é mais um prego no caixão da autonomia e do reconhecimento social desses profissionais. Suas funções e sua liberdade vêm sendo tolhidas há muitos anos e, com a decisão do governo paulista, ele parece ficar reduzido a um mero aplicador de apostila digital, que pode até melhorar os indicadores da prova que os alunos de São Paulo fazem, mas que piora sua formação.

É de se perguntar que tipo de professores que desejamos: o que resulta desse achatamento profissional ou um verdadeiro educador? Da mesma forma, que escola desejamos: uma que se concentra em “passar a matéria” ou aquela que, além disso, forma cidadãos preparados para usar esse conhecimento e transformar o mundo?

Tenho debatido longamente nesse espaço o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho. Fica cada vez mais claro que as máquinas substituirão os profissionais mais operacionais, enquanto darão mais poder àqueles com uma visão ampla da sociedade. Se a escola se limita a aspectos técnicos, está formando pessoas que, em breve, não terão mais espaço no mundo.

Nesse sentido, o abandono do PNLD por São Paulo é emblemático. Apesar do desdém do secretário, as obras oferecidas pelo programa seguem rigorosos padrões para serem produzidas e aprovadas. Tanto que também são usadas pelas melhores escolas particulares do país, inclusive em São Paulo. Além disso, elas oferecem algo que a “obra única” do governo local não tem: diversidade e validação de sua qualidade por pares.

Isso não quer dizer que o PNLD seja perfeito: há controvérsias em torno dele, e isso faz parte de uma democracia. “Se por acaso não considera o PNLD adequado, São Paulo tem que contribuir para melhorá-lo, e não se retirar”, sugere Lopes. Para ela, o maior risco disso tudo é querer uniformizar a educação, pois ela não é assim, inevitavelmente são realidades diferentes em cada caso e isso precisa ser respeitado.

Ainda há tempo para o governo paulista reverter essa insanidade arbitrária. Quando se fala de educação, os professores continuam sendo os principais atores, e precisam ser ouvidos. A simples digitalização de processos jamais garantiu sua melhora, em nenhuma área. Uma transformação digital só faz sentido se solucionar os verdadeiros problemas dos clientes, que precisam ser conhecidos e considerados.

Nesse caso, os clientes são os alunos e os professores. Mas a proposta do governo paulista ignora a realidade dos primeiros e passa ao largo dos reais desafios que os últimos enfrentam, como salários indecentes, enorme desprestígio social, formação limitada, infraestrutura pedagógica ruim e políticas educacionais ultrapassadas.

Nada disso está sendo sequer tocado! Esse “verniz digital” não serve nem para deixar os problemas mais bonitos.

 

Mercado brasileiro terá até 2025 um déficit de 530 mil profissionais na área de TI - Foto: Creative Commons

Edtech combate déficit de profissionais de TI com capacitação gratuita

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Há anos, o Brasil enfrenta um déficit de trabalhadores na área de TI. Apesar de o mercado demandar cada vez mais pessoas em diferentes funções no setor, as faculdades não dão conta de prepará-las. Atenta a essa demanda, e edtech BePRO Institute pretende capacitar 800 pessoas por ano, sem custo para os estudantes.

Em dezembro de 2021, a Brasscom, associação das empresas de TI e comunicação, calculou que o mercado brasileiro demandaria 797 mil profissionais de TI entre 2021 e 2025, mas apenas 53 mil pessoas se formavam no setor por ano. Ou seja, se o país dependesse apenas dessas graduações, faltariam mais de meio milhão de profissionais até 2025. Outro estudo, feito pela consultoria McKinsey em 2019, indicou que 68% dos recrutadores do Brasil têm dificuldade de preencher vagas de nível básico em TI.

“Um dos grandes entraves que se tem hoje na educação é o dinheiro para fazer o curso”, explica Leandro Torres, fundador da BePRO. “Então um curso rápido dá oportunidade de a pessoa se empregar”, acrescenta.

A edtech oferece uma formação a distância de 140 horas, divididas em quatro semanas. Os estudantes são capacitados na plataforma “low-code” da Outsystems. Esse tipo de sistema permite que aplicativos sejam desenvolvidos com pouca ou nenhuma programação, graças a um ambiente que permite visualmente organizar recursos disponíveis em sua biblioteca de funções.

Torres afirma que isso é suficiente para que o estudante ingresse rapidamente no mercado de TI como um desenvolvedor júnior, com salários em torno de R$ 3.000. Com isso, a pessoa pode até mesmo viabilizar uma graduação na área e ampliar mais seus conhecimentos.

O público-alvo da BePRO são profissionais em transição de carreira ou que buscam um primeiro emprego na área de TI. Na primeira turma, realizada em abril com 26 participantes, a média de idade era de 32 anos, sendo que oito eram mulheres.

Para participar do processo seletivo, o candidato deve ter feito um curso técnico ou estar nos primeiros semestres de uma faculdade na área de TI. Além disso, é preciso ter um inglês pelo menos básico, pois, apesar de as aulas gravadas e da mentoria serem em português, o material oficial do fabricante é nesse idioma.

As primeiras três semanas do curso são de teoria e prática. Na quarta, cada aluno realiza um projeto final. O acompanhamento da evolução de cada um é diário. A instituição também oferece conteúdo comportamental e acompanhamento psicológico.

Torres investiu do próprio bolso quase R$ 500 mil para criar a edtech. Agora busca diferentes parcerias para seguir com o projeto. Ele já fechou acordos de divulgação com diferentes faculdades, para que seus alunos aprendam a plataforma “low-code” da Outsystems, de maneira complementar a seus estudos.

A próxima turma acontecerá em junho. As inscrições podem ser feitas pelo site da edtech: https://www.beproinstitute.com . A expectativa de Torres é realizar mais seis turmas até o fim do ano.

Para isso, o empreendedor espera agora conseguir parcerias com empresas, em um movimento em que todos ganhariam. Para fabricantes de software, por exemplo, isso aumentará a quantidade de profissionais capacitados a trabalhar com suas plataformas.

Mas Torres busca também apoio financeiro de grandes companhias para continuar capacitando gratuitamente pessoas, que poderão suprir demandas por profissionais das próprias organizações. “Uma das formas que eu vejo que vai resolver esses pontos é a entrada do empresariado ajudando cada vez mais a financiar esses estudos, seja ele uma formação acelerada, como a gente está propondo, seja numa formação mais tradicional, como uma graduação superior”, conclui.

 

Chacrinha, dono de bordões memoráveis, como “quem não comunica se trumbica” - Foto: divulgação

Precisamos resgatar a arte de conversar

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O brasileiro moderno e digital poderia aprender algo com o Chacrinha. Abelardo Barbosa foi um dos maiores comunicadores do país entre as décadas de 1950 a 1980 por conseguir se conectar com o seu público e por saber fazer boas leituras de cada momento da sociedade. Com isso, ajustava seus programas e suas falas. E dentre seus memoráveis bordões, um sempre captou minha atenção: “quem não comunica se trumbica!” Ou seja, a arte de conversar é essencial para termos sucesso no que for.

Na sociedade polarizada, egoísta e impaciente das redes sociais, muitos parecem estar esquecendo de como fazer isso. Todos querem falar, mas poucos aceitam ouvir. Porém uma conversa exige, por definição, trocas entre pessoas. Para que seja boa, os interlocutores precisam estar dispostos a ouvir genuinamente o que o outro tem a dizer e demonstrar empatia. E –claro– ter algo útil a compartilhar ajuda nessa atividade.

Quando isso não é observado, tudo piora. Um exemplo emblemático aconteceu há duas semanas, na tentativa do Governo Federal de taxar compras em sites asiáticos, como a Shein, Aliexpress e Shopee. A medida é inescapavelmente impopular, pois deixará mais caras transações adoradas pela classe média. Mas uma comunicação falha e até arrogante tornou tudo mais confuso, gerando uma crise desnecessária.


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Entre idas e vindas, pessoas do governo dando declarações descontextualizadas e distantes do público, e a tradicional enxurrada de desinformação das redes sociais, muita gente continua sem entender como ficarão suas compras vindas do outro lado do mundo. Isso dói no bolso da população.

Ignorar isso nas comunicações é ignorar as necessidades do interlocutor, no caso, o povo. Por isso, a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que não conhecia a Shein, só a Amazon “onde compra todo dia um livro, pelo menos”, foi entendida como elitista e arrogante. Graças a tudo isso, levantamento da consultoria Quaest mostrou que, naqueles dias, 83% das menções ao tema nas redes sociais foram negativas para o governo. A oposição tripudiou!

Mesmo sendo impopular, a comunicação poderia ter seguido outro caminho. Como os produtos ficarão mesmo mais caros, o governo deveria reforçar o discurso de que esse dinheiro extra será revertido para a própria população, melhorando a saúde e a educação, por exemplo. Além disso, precisa explicar por que a evasão de impostos dos portais asiáticos prejudica seriamente varejistas brasileiros, que pagam corretamente seus impostos e empregam muita gente.

Para se ter uma ideia da magnitude da “invasão asiática” no comércio de vestuário, levantamento do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) mostra que, em 2019, a Shein nem aparecia entre os principais nomes do setor. Dois anos depois, já abocanhava 16,1% do mercado, muito mais que marcas brasileiras tradicionais, que não param de cair. Por isso, elas apoiam a ideia de taxação das asiáticas.

Toda a gritaria resultante dessa falha de comunicação fez o governo recuar na proposta de eliminar o imposto de importação de produtos até US$ 50 entre indivíduos, mecanismo que as asiáticas usam para escapar da taxação (como empresas, não poderiam aproveitar isso). A ideia agora é forçar essas empresas a cobrar os impostos já na compra, o que a encarecerá do mesmo jeito. Mas nem isso foi bem comunicado à população.

O que não dá é insistir no discurso de que “nada mudou, pois o imposto sempre existiu, apenas era ignorado”. Na visão do consumidor, continua a sensação de que comprar da China é mais barato que do Brasil, e que a iniciativa do governo tornará isso mais caro e sua vida mais difícil.

 

Fazendo concessões

Uma boa conversa também implica em fazer concessões. Quem tenta impor seu ponto de vista, acaba ficando sozinho.

Em muitos casos, há interesses conflitantes no debate, mas isso não quer dizer que não se possa chegar a um consenso. No exemplo acima, a inabilidade na comunicação colocou os consumidores do lado dos portais asiáticos e contra os varejistas brasileiros e o próprio governo.

Poderia ter sido diferente!

Não dá para agradar todo mundo! Insistir nisso é um erro de muitas pessoas e empresas. Todos precisam conhecer quem forma seu público, pois as pessoas têm gostos, valores e visões de mundo diferentes. Ao se tentar abarcar muita gente, o que acontece é que se cria uma comunicação genérica e sem graça, que não agrada verdadeiramente ninguém.

Isso não quer dizer que devamos sair por aí cometendo “suicídios de imagem” ao dizer, sem nenhum cuidado, o que precisa ser dito. Precisamos expor as ideias e as informações necessárias, mas levando em consideração as necessidades de todos os envolvidos, negociando o que pode ser concedido em cada caso, sem que isso desfigure o objetivo original.

Sobre isso tudo, precisamos exercitar nossa sensibilidade e nossa empatia. Demonstrar esses sentimentos genuinamente pode pelo menos suavizar uma má notícia.

É uma pena que, em tempos de redes sociais, que criam bolhas que reforçam nossos pontos de vista (mesmo os piores), a empatia se tornou artigo de luxo. Isso acontece porque ela exige tempo e energia, duas coisas que as pessoas não querem conceder.

Em uma situação complexa como essa da taxação das compras nos portais asiáticos, em que há interesses diametralmente opostos, a empatia fica ainda mais importante. O governo precisa trazer a população para o seu lado, ao invés de afastá-la. Não é uma tarefa simples, pois a medida dói no bolso das pessoas, que ainda são incendiadas pela oposição.

Ainda assim, é possível, pelo menos, melhorar um pouco esse quadro. Mas, para isso, é preciso de conversa e de empatia.

Afinal, como diz a sabedoria popular, “é conversando que se entende”. Isso vale para o governo, para empresas e para cada um de nós.

Chacrinha que o diga!

 

Escolas se tornaram alvo porque abordam questões que podem alimentar o extremismo - Foto: Max Klingensmith / Creative Commons

Como as redes sociais influenciam os ataques a escolas

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Na quarta passada, o Brasil vestiu luto mais uma vez diante do ataque à creche Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau (SC). Ela foi invadida por um homem de 25 anos que, de maneira brutal e imotivada, assassinou quatro crianças. O delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, afirmou que não há indícios de que o crime tenha sido coordenado por meio de redes sociais ou games. Mas apesar de ele estar correto ao dizer que não existe vínculo direto no caso, o papel do meio digital em ataques como esse não pode ser ignorado.

A declaração me fez lembrar de um crime semelhante. No dia 13 de março de 2019, dois ex-alunos invadiram a escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP). Eles mataram estudantes e funcionários e depois se suicidaram. Autoridades, ainda no local do atentado, sugeriram que a culpa seria do game que os assassinos jogavam.

Especialistas descartam a relação entre jogos digitais e a violência, mas o mesmo não pode ser dito das redes sociais. O aumento de grupos de ódio em suas páginas incentiva pessoas a praticar esses atos bárbaros. A sociedade precisa entender suas dinâmicas, para buscar soluções sustentáveis e eficientes.


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O crescimento desses grupos e dos ataques não é uma coincidência. Nove dias antes do atentado em Blumenau, um aluno de 13 anos assassinou uma professora de 71 anos em uma escola na Vila Sônia, na capital paulista. Em 2021, um homem de 18 anos matou duas funcionárias e três bebês em uma creche na também catarinense cidade de Saudades.

Até 2002, não havia relatos de atentados em escolas brasileiras. De lá para cá, 40 pessoas morreram em casos assim. O primeiro aconteceu em Salvador, em 2002. Depois dele, houve um caso em 2003, dois em 2011, um em 2012, 2017 e 2018, dois em 2019 e um em 2021. Já em 2022 foram seis ocorrências. Em 2023, estarmos ainda em abril, e já aconteceram três atentados, um deles felizmente sem vítimas.

“As escolas se tornaram alvos porque abordam questões que podem alimentar o extremismo, como educação sexual, diversidade, racismo e violência de gênero”, explica Evelise Galvão de Carvalho, mestre em Psicologia Forense e especialista em comportamento antissocial na Internet. “Dessa maneira, é necessário considerar esses ataques como crimes de ódio”, afirma.

Quando atentados assim acontecem, os participantes de um movimento online conhecido como “True Crime Community” se agitam, repercutindo os ataques como se fossem grandes feitos. Eles destacam os nomes dos autores e, quando disponíveis, distribuem fotos e vídeos da ação. Por isso, muitos desses participantes buscam essa perversa “fama”, por mais fugaz e doentia que seja.

O problema fica ainda mais preocupante quando se observa que esses grupos agora podem ser encontrados facilmente nas redes sociais, inclusive naquelas preferidas por adolescentes, como o TikTok. Até pouco tempo atrás, eles trafegavam apenas em áreas restritas nas redes sociais a na chamada “Dark Web”, em que são necessárias ferramentas e autorizações especiais para entrar, o que a torna ideal para criminosos.

Essa nova “liberdade” amplia o efeito de “contagiar” pessoas para que outras ações sejam realizadas. É o que aconteceu em 15 março de 2019, quando um supremacista branco matou 51 pessoas em duas mesquitas na Nova Zelândia. A ação foi transmitida ao vivo pelas redes, sendo massivamente compartilhada depois.

 

Redes de intolerância

Tais grupos são motivados por crenças de superioridade racial, étnica, religiosa ou nacionalista, e consequente inferioridade de quem é diferente. Alguns visam proteger valores tradicionais que consideram ameaçados. Frequentemente promovem suas ideias por desinformação e violência, e chegam a propor uma sociedade em que os outros sejam subjugados ou excluídos.

Esses ataques não são atos terroristas convencionais. As pessoas que os praticam costumam agir sozinhas, incentivadas pelo que veem na Internet, mas não se pode atribuir seus atos exclusivamente a esses grupos.

Os agressores seriam predispostos a cometer os atentados pois viveriam em ambientes violentos. Fatores como agressividade em casa, bullying nas escolas e insucesso em relacionamentos podem contribuir. Vale dizer ainda que a sociedade se tornou muito mais intolerante e radicalizada nos últimos anos, com grupos de poder desvalorizando o afeto, pregando o ódio e até desumanizando quem pensa de forma diferente. Por fim, a pandemia agravou problemas de saúde mental na população.

“Alguns grupos podem enxergar meninos como futuros líderes e tentar doutriná-los desde cedo, para garantir seu engajamento contínuo à medida que envelhecem”, explica Carvalho. “Os meninos são frequentemente socializados para valorizar a força e a agressão, e grupos de ódio podem tentar explorar essas normas culturais para recrutar novos membros.”

Não se trata, portanto, apenas de casos de polícia. Detectores de metal e até policiais das escolas podem reduzir esses ataques, mas não resolvem a violência, que se manifestará de outras formas.

A escola deve ser fortalecida, como um espaço de diversidade e de debate. Professores precisam ser valorizados e pais e mães devem se unir nesse esforço, ao invés de combatê-los por não concordar com algo. Também é um problema de saúde pública, com as autoridades precisando ficar atentas ao crescimento de isolamento social e problemas de saúde mental. As famílias também precisam de apoio para que consigam construir relacionamentos positivos com seus filhos, minimizando o desejo de se unir a esses grupos, por exemplo, por falta de afeto.

A mídia pode contribuir ao não divulgar nomes e imagens dos crimes, dificultando a sua promoção nas redes de ódio, que é o “prêmio” desses criminosos. No atentado de quarta passada, grandes veículos de imprensa agiram assim.

Da mesma forma, as redes sociais precisam fazer mais. Para Carvalho, “é de extrema importância que sejam regulamentadas, e indivíduos e empresas que permitem que esses grupos se organizem e disseminem o ódio e desinformação sejam penalizados”.

Caímos no tema da regulamentação das redes sociais, que tanto debate vem provocando. Qualquer que seja seu desfecho, casos como esses escancaram o tamanho do estrago que essas plataformas causam por se portar apenas como inocentes “mensageiros”: ao não serem responsabilizadas pelo que seus usuários publicam, continuam oferecendo os caminhos para fake news e o ódio destilado.

Se a desinformação política já não fosse ruim o suficiente, a fluidez digital do discurso de ódio agora está literalmente matando crianças.

 

A Finlândia firmou-se como referência em educação midiática, após mudanças nas escolas em 2016 – Foto: Felicity Weary/Creative Commons

Precisamos de uma boa educação midiática para nossa sociedade não desaguar na barbárie

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Sempre que viajo, costumo analisar a mídia de onde vou. É cristalino que, quanto mais livre e profissional é a imprensa do lugar, mais bem informada é a população e consequentemente mais vibrante é a sociedade. Por essas e outras, governos autoritários combatem a imprensa, algo que vem sendo praticado no Brasil de maneira sistemática e crescente nos últimos anos.

Não se trata apenas de ataques a veículos de comunicação e a jornalistas, inaceitáveis em uma democracia. Como exemplo, na terça passada, a repórter Renata Cafardo e o fotógrafo Tiago Queiroz, do Estadão, foram agredidos física e verbalmente por moradores de um condomínio de luxo em São Sebastião, enquanto cobriam as tragédias causadas pelas chuvas. De onde vem tanto ódio gratuito?

O afastamento das pessoas de boas fontes de informação, substituindo-as por questionáveis redes sociais, coloca a própria democracia em risco à medida que derrete a capacidade do cidadão de discernir entre a verdade e a mentira, entre o bem e o mal. O resultado desse processo em nosso país é a grotesca polarização que nos rachou ao meio, culminando nos abomináveis ataques à democracia de 8 de janeiro.

A reversão do caos em que vivemos passa pela educação midiática, um conjunto de práticas que ensina crianças e adolescentes a desenvolver uma visão crítica sobre o que a mídia –em todos seus formatos– lhes apresenta, para que sejam capazes de consumir, compreender e até produzir informação de qualidade.


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“É mais que preparar para o uso da mídia: é preparar para compreender esse mundo em que a gente vive”, explica Ana Lúcia de Souza Lopes, professora de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “E todo esse universo midiático faz parte dele.”

Um ótimo exemplo dos ganhos da educação midiática para uma sociedade vem da Finlândia. Quando a vizinha Rússia tomou da Ucrânia a região da Crimeia em 2014, os finlandeses começaram a ser bombardeados com altas cargas de desinformação, para influenciar o debate política em favor dos russos.

O governo então reformou seu sistema educacional em 2016, para incluir uma disciplina de alfabetização midiática, que também é abordada de maneira transversal em todas as matérias. Como resultado, a Finlândia tornou-se o país mais resistente à desinformação entre as nações da Europa pelo estudo anual do instituto Open Society, firmando-se como uma referência mundial no combate às fake news.

Se me permitem um abuso de linguagem, uma “boa desinformação” é aquela que parece ser verdadeira e que reforça desejos de quem a lê. É por isso que se espalha rapidamente e ganha ares de fato incontestável. E quanto menos a pessoa tiver uma visão crítica das informações, mais suscetível será a esse controle.

Se já não bastasse esse desafio, especialistas temem que as recém-popularizadas inteligências artificiais generativas, como o ChatGPT, sejam usadas para criar fake news ainda mais críveis. Fiz alguns testes com essa ferramenta e –justiça seja feita– na maioria das vezes, ela respondeu que não poderia entregar o que eu pedia porque era falso. Mas nas ocasiões em que fiz pedidos que já continham várias mentiras, ela pariu obras-primas da desinformação.

Ter uma visão crítica da mídia e do mundo torna-se uma questão de sobrevivência!

 

Mudança de época

Em junho de 2014, em entrevista ao jornal italiano “Il Messaggero”, foi perguntado ao papa Francisco se o aumento da corrupção se deveria à mídia dar mais destaque ao tema. O pontífice explicou que “vivemos não só uma época de mudanças, mas uma mudança de época”. Para ele, isso altera profundamente aspectos culturais.

A digitalização da vida está no centro desse processo. Os mais jovens têm grande acesso a conteúdo, normalmente sem a necessária visão crítica. E assim como podem influenciar positivamente suas famílias com o que aprendem na escola, como respeito ao meio ambiente e diversidade, também podem ser vetores de fake news.

“A criança não só consome a desinformação: ela é uma propagadora”, explica Maria Carolina Cristianini, editora-chefe do “Joca”, um jornal brasileiro dedicado a crianças e adolescentes. Por isso, segundo ela, os pequenos leitores precisam entender a sua responsabilidade sobre o que leem e o que reproduzem em seus círculos sociais.

“Participar de um meio de comunicação é uma das maneiras de dar a dimensão real da importância da imprensa, da conscientização sobre a desinformação, e que informação de qualidade não é uma expressão vaga”, conta Mônica Gouvêa, diretora educacional da Editora Magia de Ler.

Crianças são naturalmente curiosas e participativas, por isso a educação midiática ganha ainda mais importância. “É nessa geração que a gente tem que trazer essa mudança de época, para mudar a sociedade”, explica Lopes. “Senão, cada vez mais, estaremos com uma sociedade alienada”, conclui.

A escola é o melhor lugar para isso, pela visão diversa de mundo que embute. No Brasil, a educação midiática ainda engatinha, com iniciativas pontuais de algumas escolas e redes de ensino. Ainda assim, alguns pais e mães se colocam contra essas práticas, argumentando que a escola estaria doutrinando ideologicamente seus filhos.

Cristianini argumenta que essa reação é inócua, pois é impossível manter a criança em uma “bolha de pensamento único”. É melhor que ela esteja preparada para lidar com pensamentos divergentes, que a impactarão mais cedo ou mais tarde. Além disso, ela explica que as famílias podem usar até conteúdos de que discordem para explicar aos filhos suas visões de mundo. “As notícias podem ajudar nisso, podem ser a base para essa conversa”, acrescenta.

“Alguns pais acham que tem o momento certo para você saber de algumas coisas, mas não existe isso”, explica Gouvêa. Os jovens consomem conteúdo o tempo todo, e sempre é uma oportunidade de se desenvolver seu senso crítico.

Aqueles que lucram com a desinformação atuam maquiavelicamente na contramão disso. Ao invés de dizer o que as pessoas devem fazer, oferecem um mecanismo para que essas pessoas se enredem em uma narrativa profunda que distorce a realidade, acreditando que elas chegaram a essas conclusões, e que não estão sozinhos.

A Finlândia é um exemplo a ser seguido. Governo, escolas, educadores e famílias precisam se unir para a disseminação da educação midiática, para formar gerações saudavelmente críticas e menos suscetíveis à desinformação. Elas construirão uma sociedade melhor e ajudarão as gerações anteriores a fazer o mesmo.

Caso contrário, corremos o risco de ver a democracia se esfacelando, com os ataques de 8 de janeiro parecendo manifestações legítimas.

 

ChatGPT não ameaça educação, mas nos desafia a repensar como aprendemos e ensinamos

By | Educação | No Comments

Educadores estão em polvorosa, diante de uma nova plataforma de inteligência artificial. Apesar de ter sido liberada há apenas dois meses, o ChatGPT vem provocando discussões éticas, tecnológicas e profissionais sobre se o digital poderá substituir seres humanos em tarefas intelectuais em que ainda nos sentíamos “seguros”. Nas escolas, esse temor chegou quando estudantes começaram a apresentar trabalhos que haviam sido escritos pela máquina.

Diante da qualidade dos argumentos e da fluência da escrita naquelas tarefas, professores passaram a se perguntar se perderiam a capacidade de identificar “plágios” de seus alunos. Outros, mais fatalistas, já se questionam se a própria profissão poderia desaparecer, sendo substituídos pelas máquinas.

Essas perguntas estão erradas! E a escola, mais que ensinar boas respostas aos alunos, deve ensiná-los a fazer as perguntas certas na vida.

Entendo que professores estejam preocupados. Esse desafio não pode ser ignorado, mas ele não pode servir como motivo para bloquearem a entrada da inteligência artificial nas aulas. Isso, sim, seria uma ameaça à manutenção de seu ofício.


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O ChatGPT é uma plataforma criada pela empresa OpenAI capaz de escrever textos complexos a partir de comandos em linguagem natural. Ele simula uma conversa com uma pessoa, permitindo o encadeamento entre respostas e perguntas. Funciona em vários idiomas, inclusive no português, e suas produções vêm surpreendendo especialistas e o público, pela qualidade.

Os mais entusiasmados dizem que poderia até ameaçar a supremacia do Google como ferramenta de busca. Tanto que, no dia 23, a Microsoft fez um investimento bilionário na empresa (o mercado estima em algo como US$ 10 bilhões), para incluir essas funcionalidades em seus produtos, como o Office e o Bing.

“A tecnologia, desde a invenção de Gutenberg, entra cada vez mais no âmago do humano”, explica Lucia Santaella, professora-titular da PUC-SP. “Com a inteligência artificial, ela penetra nas questões que a gente considera o mais nobre do humano, que é a sua capacidade de pensar e de falar.”

De fato, essa interação como conversa é decisiva para seu sucesso. “Ele é baseado em perguntas, e é da natureza do humano a investigação, a pergunta, a exploração e a conversa”, afirma Ana Paula Gaspar, especialista em tecnologia e educação.

Para muitos, o ChatGPT pode vencer o “teste de Turing”, método criado há 70 anos para descobrir se uma máquina é inteligente. Ele prevê que uma pessoa tenha uma longa conversa por texto e, ao final, não consiga distinguir se falou com outra pessoa ou um robô.

“É uma visão totalmente equivocada achar que a tecnologia é uma mera ferramenta”, sugere Santaella. “Ela é linguagem!”

 

Ferramenta pedagógica

Tanto que o caminho para resolver os temores escolares já citados passa pelos professores se apropriarem da inteligência artificial, ao invés de tentar bloqueá-la.

“Toda tecnologia, quando aparece, muda comportamentos”, afirma Diogo Cortiz, professor da PUC e especialista em IA. “Isso causa medo, espanto, porque a gente não sabe muito bem o que vai acontecer.”

“A grande questão é de educação do humano para utilizar bem esse recurso”, propõe Ana Lúcia de Souza Lopes, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “E o que a escola faz? A escola se retira!”

Os entrevistados são unânimes ao afirmar que tentar impedir que os alunos usem a ferramenta é inócuo, pois encontrarão maneiras de burlar as restrições. Mas manter os processos atuais de aprendizagem e de avaliação é igualmente inadequado.

A tecnologia deve ser usada como aliada para alunos ganharem recursos para entender o porquê do que aprendem, abandonando o infame “decoreba”. “A partir do momento em que tem um desafio que o algoritmo vence, eu preciso liberar o estudante cognitivamente para tarefas mais complexas”, explica Gaspar.

Como exemplo, pode ser usada para uma produção colaborativa dos alunos, em que avaliem a qualidade e a precisão do que o robô gerou. Ela também pode ser usada como apoio para debates e até estudo de idiomas. “Devemos colocar os estudantes para usar essa ferramenta, mas sempre com um olhar muito crítico”, indica Cortiz.

A inteligência artificial faz parte do nosso cotidiano de maneiras que nem suspeitamos, como viabilizando, de maneira transparente, alguns dos recursos mais incríveis de nossos celulares. E ela cresce de maneira exponencial: o ChatGPT deu apenas mais visibilidade ao tema. Ainda assim, essas transformações têm acontecido sem debates com a sociedade sobre suas consequências.

As escolas –as universidades especialmente– têm um papel importantíssimo nesse processo. São elas que realizam as pesquisas sobre seus impactos sem um viés econômico. As empresas criadoras desses recursos deveriam, por sua vez, fazer o mesmo, mas nem sempre isso acontece, preferindo promover inconsequentemente seus lançamentos que podem lhes render bilhões em lucros. “A gente tem que entender qual é a responsabilidade que a gente tem quando a gente põe um conhecimento no mundo”, alerta Lopes.

É nas escolas também onde crianças e adultos precisam entender a se apropriar desses recursos para aprender mais e melhor. Um uso da inteligência artificial que respeite isso favorecerá nossa própria inteligência humana. Como explica Santaella, “a inteligência é metabólica, então ela cresce através do aprendizado.”

Por tudo isso, plataformas como o ChatGPT não podem ser temidas nas escolas. Pelo contrário, precisam ser abraçadas pelos educadores, para prepararem seus alunos para um mundo já inundado pelo digital. Precisamos reaprender a aprender diante de tantas e incríveis possibilidades. E quem melhor que os próprios professores para nos ensinar a fazer isso?

 

“Matemática ruim” e baixa identificação de jovens com TI fazem Brasil importar tecnologia

By | Educação | No Comments

Na semana passada, publiquei nesse espaço uma reportagem que indicava como o setor de TI no país “rouba” profissionais de outras áreas para suprir um déficit de formação universitária que pode passar de meio milhão de trabalhadores até 2025. Mas, se a procura é tão grande e essa área paga tão bem, é natural perguntar por que então não temos mais pessoas procurando por essas graduações.

Apesar de a pergunta ser simples, a resposta é complexa. A procura existe, os cursos estão cheios, entretanto poderia ser mais. Isso começa por um interesse relativamente baixo pelo aprendizado de Matemática, passa por questões culturais e familiares, choca-se com barreiras para grupos sociais nessas profissões e desemboca em um Ensino Médio Técnico que poderia suprir muitas dessas necessidades do mercado.

É uma combinação que demonstra como o problema é sistêmico, prejudicando profissionais, empresas e a própria sociedade. Os primeiros perdem oportunidades, as segundas pagam caro por trabalhadores e a última enfrenta o fato de que importa tecnologia ao invés de produzi-la nacionalmente, aproveitando a criatividade brasileira.

Da mesma forma que todos sofrem com o problema, a responsabilidade para sua solução precisa envolver a sociedade como um todo.


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“A escolha da profissão tem a ver, entre outras coisas, com o status social”, explica Ana Paula Gaspar, especialista em tecnologia e educação. “Falta uma dimensão subjetiva e humana na análise desses fenômenos sociais, porque as pessoas não escolhem apenas por conta de quanto vão ganhar.”

Segundo ela, não se pode esperar que jovens se decidam por uma graduação de Engenharia se eles não tiverem acesso a produtos com boa engenharia. “Então é muito natural que uma criança deseje mais ser youtuber que astronauta, porque tem a ver com o que ela consome”, explica. “E há esses dados escabrosos que mostram que muitos ainda têm dificuldade de estar no mercado de trabalho por conta de preconceito de classe ou de raça”, acrescenta.

“É um pressuposto equivocado da cultura brasileira de que o profissional, para trabalhar, precisa sair do ensino universitário”, afirma Marcelo Krokosc, diretor do Colégio FECAP, em São Paulo. Segundo ele, países da América do Norte e da Europa têm um Ensino Técnico muito valorizado, que supre parte da demanda por profissionais. “O aluno que faz o Ensino Técnico sai preparado para o mercado de trabalho com 17 anos, porque já veio aprendendo aquilo que tem interesse”.

Alunos de cursos técnicos de TI levam vantagem se prosseguem na área no Ensino Superior. David de Oliveira Lemes, diretor da Faculdade de Estudos Interdisciplinares da PUC-SP, explica que muitos deles chegam com uma maturidade em Matemática e aspectos técnicos que os demais estudantes não costumam ter. “Já passaram por alguns percalços, já ‘sofreram’ com programação, com Matemática, com Lógica”.

O aprendizado deficiente em Matemática acaba atrapalhando na escolha e no desenvolvimento nessas carreiras. “A educação matemática no Brasil é muito pobre: entre alunos que saem do Ensino Médio, apenas 5% têm a proficiência necessária para essa etapa”, explica Gaspar.

“Nos anos iniciais, a escola deve manter o interesse pela Matemática da mesma forma como mantém pela alfabetização”, afirma Krokosc. Ele conclui que “as famílias devem vibrar quando o filho lê uma palavra, mas também quando faz uma conta”.

Gaspar explica que essa baixa qualidade matemática no país se deve a como ela chegou por aqui, por uma influência francesa de uma “matemática pura”, sem ser aplicada e com a “matemática do dia a dia” desvalorizada. “Se a matemática que chega na escola está muito distante da realidade dos alunos, é um problema”, conclui.

 

Novos caminhos

Lemes acredita que a nova BNCC –a Base Nacional Comum Curricular, o conjunto de regras que determina como escolas devem organizar seus currículos e propostas pedagógicas– pode melhorar o ensino da disciplina. Ele explica que, “com ela, os professores precisam aplicar a Matemática em situações dentro e fora da escola, não só naquele contexto da Matemática pura”.

Isso não pode ser encarado apenas como um problema escolar. Esses desafios afetam a sociedade em geral e todos precisam se unir para sua solução.

“A responsabilidade do governo é a formulação de políticas públicas, e a das instituições de ensino é a oferta, quantidade e qualidade de vagas”, explica Gaspar. Ela afirma que “o mercado ‘lava as mãos’ para a formação, porque acha que seu papel é dar emprego, fazer negócios e gerar renda”.

Mas essa é uma visão míope e ultrapassada, especialmente em uma área tão dinâmica quanto TI, em que o conhecimento envelhece muito rapidamente. Por isso, as empresas devem cuidar da formação contínua de seus profissionais.

Gaspar sugere que um profissional só poderia ser considerado sênior e fosse capaz de formar outras pessoas, mas isso hoje não é feito. “Daí fica todo mundo roubando sênior de todo mundo, ao invés de formar júnior”. E conclui: “se as pessoas não forem parte do resultado das empresas, a gente nunca vai sair desse buraco.”

Não há outro caminho viável: qualquer que seja a sua profissão, se você quiser continuar relevante no mercado, precisará continuar estudando até o último dia. Por outro lado, precisamos ajudar crianças e jovens a desenvolver as competências necessárias, tanto em linguagem, quanto em Matemática. Além disso, precisamos dar a eles exemplos e modelos para que façam escolhas profissionais conscientes.

Se apresentada do jeito certo, a Matemática pode ficar até mais divertida. “É muito interessante ver um aluno com o cubo mágico na mão ao invés do celular”, sugere Krokosc. Precisamos dela para uma leitura crítica do mundo e uma vida melhor.

“Fala-se que vai faltar muito programador, mas para qualquer profissão hoje, para ser cidadão no mundo, é preciso ter fluência em competências digitais”, afirma Gaspar. E não adianta que apenas um pequeno grupo social atinja isso, ou a sociedade não se desenvolverá plenamente, nem diminuiremos nossa dependência tecnológica de fora. Como diz Lemes, “a gente tem que ser o produtor de conhecimento!”

 

Congresso Nacional ao amanhecer

Como diminuir o discurso de ódio

By | Educação | No Comments

A eleição passou, a apuração foi concluída e todas as autoridades (cada uma a sua maneira) reconheceram os resultados. Isso seria mais que suficiente para que o processo democrático prosseguisse normalmente. Mas, em um cenário inédito desde a redemocratização do país, parcelas da população se recusam a aceitar os vencedores e ocupam espaços públicos e as redes sociais, exaltados em um ódio que não pode ser ignorado como se fosse birra infantil.

Esse descontentamento tem um considerável potencial de destruição da sociedade. Ele está instalado nesses corações, que entendem que, em nome de sua liberdade e de seus valores, podem, por exemplo, obstruir estradas ou fazer uma perseguição na rua empunhando uma arma. Submete-se, assim, a ordem pública ao que consideram “certo”.

Leis existem para manter a sociedade funcionando, por isso não podem ser ignoradas por conveniência pessoal. O discurso de ódio, disseminado pelo meio digital, é o combustível dessa anarquia. E isso se agrava porque aqueles que se indignam com essas ações inconscientemente aumentam a fervura desse caldeirão, ao usar as mesmas plataformas digitais para distribuir muita ironia e mais ódio.

As redes sociais servem assim a uma “espiral da morte” que traga o Brasil para um caos que só beneficia uns poucos, que vivem dessa desunião. Por isso, se desejamos reencontrar o crescimento, temos que desarmar todos os lados desse conflito.


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Nada disso aconteceu de uma hora para a outra. Tudo é resultado de um processo consistentemente construído ao longo de anos, um storytelling político eficiente que criou uma conexão genuína entre essa parcela da população e diferentes grupos de poder. Os valores e crenças dessas pessoas foram usados para que, sem se darem conta, fossem transformadas em soldados que defendem cegamente seus líderes.

O storytelling é um recurso amplamente usado no marketing e na construção de roteiros de filmes, séries e livros. Essa técnica cria estruturas narrativas com elementos intrínsecos da cultura de um grupo social para construir um vínculo tão forte, que as pessoas compram essas ideias como se fossem suas.

Uma campanha de marketing pontual não tem tempo para criar uma conexão muito forte. Mas, quando o público é bombardeado continuamente por uma mensagem consistente ao longo de anos, essa ligação pode se tornar inquebrantável, manifestando-se nos mais diferentes aspectos da vida do indivíduo.

Além dos casos já citados, ao longo da semana passada assistimos a muitas outras atitudes que beiram o bizarro, até mesmo na educação, onde deveria primar o debate sadio e o domínio da ciência. Por exemplo, um dia após a eleição, uma professora doutora em química da Unifap (Universidade Federal do Amapá) enviou mensagens a dois alunos dizendo que eles deveriam buscar outro orientador, pois ela “não queria esquerdistas no laboratório”, concluindo que “ou estão comigo ou contra mim”. Depois de a reitoria da instituição repudiar a postura da professora, ela pediu desculpas publicamente, dizendo que “no calor das eleições, se excedeu nas palavras”.

Isso afeta também adolescentes e até crianças. Vários casos de agressões verbais e físicas, assédio e racismo foram relatados nessa semana. Os jovens replicam o posicionamento de seus pais, muitas vezes sem compreender o que estão fazendo.

Em um caso de grande repercussão, na noite de domingo, alunos do Colégio Porto Seguro de Valinhos (SP) criaram um grupo de WhatsApp chamado “Fundação Anti Petismo”, que chegou a reunir 30 adolescentes. Nele compartilharam mensagens de ódio contra petistas, nordestinos, negros e mulheres, além de fazer apologia ao nazismo. Ainda propuseram uma “reescravização do Nordeste”, e fizeram ofensas racistas e ameaçaram um colega negro que havia declarado apoio ao candidato Lula. A escola acabou expulsando oito alunos envolvidos no caso.

Que país podemos esperar no futuro, quando suas crianças são criadas com ódio já na mamadeira?

 

A Jornada do “Herói”

Outro recurso amplamente usado por roteiristas também foi adaptado pela política: a “Jornada do Herói”. Trata-se de um conceito apresentado pelo mitólogo americano Joseph Campbell em 1949, em seu livro “O Herói de Mil Faces”. Após estudar diversas culturas em diferentes regiões e épocas, ele concluiu que existem elementos comuns a todas elas na maneira como as pessoas contam histórias. Logo, conteúdos construídos dessa forma têm muito mais chance de convencer o público, pois aquilo faz parte de um inconsciente coletivo.

Mas nem sempre o “herói” da jornada é mesmo um herói. Políticos e seus marketeiros descobriram como usar esse recurso, extremamente amplificado pelas redes sociais, para convencer grande parte da população de que eles são aqueles que os “salvarão”.

Nessa “Jornada do Herói” distorcida, em um mudo dominado pelo conflito, quando nos deparamos com alguém que pense diferentemente de nós e daqueles em quem acreditamos, ela serve para reforçar como “estamos no caminho certo”. E o resultado disso é ainda mais conflito, retroalimentando o processo.

Cria-se um “vilão” a ser destruído, em uma eterna narrativa de “luta do bem contra o mal”. Elementos masculinos, como a força, a virilidade e a violência se sobrepõem aos femininos, como a empatia, o cuidado e a visão do todo. Não há espaço para informações que contradigam o “herói”, e vozes dissonantes devem ser silenciadas.

Não adianta substituir um desses “heróis” por outro. Temos que tirar esse caldeirão do fogo, e isso implica em todos pararem de atacar, ironizar ou desprezar os demais. Entendo que seja isso complicado, pois pode ser entendido como “baixar a guarda” para novos ataques e crescimento dos oponentes. Além disso, os diferentes grupos políticos precisam criar líderes com propostas construtivas, afastando os “salvadores da pátria”. Esses são desafios que a sociedade precisa abraçar, sob o risco de nunca conseguir romper esse ciclo destrutivo.

As redes sociais, como via de disseminação do discurso de ódio, têm um papel central nesse processo. Elas precisam se engajar efetivamente nele, encontrando maneiras automáticas ou manuais de eliminar de suas páginas ataques e fake news. Por isso, preocupa a aquisição do Twitter por Elon Musk, que disse que afrouxará esses controles na plataforma, em nome de uma “liberdade de expressão” liberticida.

A escola também é peça fundamental nesse renascimento da nação. É um grande equívoco dizer que o ambiente escolar não deve falar de política. Pelo contrário: o debate construtivo e com ideias diversas deve fazer parte do currículo. Países europeus que fazem isso estão criando jovens mais conscientes de deveres e diretos, tolerantes e autônomos. Exatamente o contrário do que vemos hoje no Brasil, especialmente em escolas particulares que bloqueiam a política por medo de perder alunos.

Se quisermos resgatar um país digno para todos, precisamos reaprender a conviver com o outro em todas as esferas da sociedade. Não há espaço para essas agressões mútuas.

 

Tomamos decisões racionais o tempo todo, mas elas são fortemente influenciadas por emoções, como sugere a animação “Divertida Mente”

Somos escravos de nossos desejos e medos

By | Educação | No Comments

Passamos pela eleição mais tensa de nossa história, com uma polarização radical que fraturou a sociedade brasileira. Apoiadores de ambos os lados ainda se perguntam como alguns de seus familiares, amigos e colegas, que “consideravam razoáveis”, defendem ideias “do outro lado”. Mas tentar entender isso com argumentos racionais é uma tarefa inglória, pois esses alinhamentos são emocionais, por mais que os próprios indivíduos não tenham consciência disso.

Somos guiados pelos nossos sentimentos! Estudo da Faculdade de Psicologia da Universidade da California em Berkeley (EUA) sugere que temos 27 tipos deles. Entre emoções dessa lista, como alegria, ansiedade, empatia, tédio e excitação, duas são fundamentais para compreender esses tempos complexos: o desejo e o medo.

Desejar não é apenas querer algo ou alguém. É algo muito mais intenso e visceral! É um sentimento extremamente poderoso, que nos impulsiona e nos faz tomar decisões. Já o medo funciona em sentido contrário. Ele nos paralisa e impede de fazer escolhas.

Políticos sempre tentaram manipular as populações para conseguir votos. Entretanto, de uns anos para cá, descobriram que, se conseguissem se concentrar nesses dois sentimentos, trocariam eleitores por soldados dispostos a defender seus ideais contra tudo e todos. Essa é uma prática extremamente perigosa, pois pode estraçalhar o tecido social. Ainda assim, fizeram isso sem pestanejar! E o resultado é o que vivemos hoje e ainda viveremos por muitos anos.


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Em 2015, a Pixar lançou sua memorável animação “Divertida Mente”, construída sobre esse conceito. Na história, todos os seres vivos teriam, em seus cérebros, cinco “pequenos indivíduos”, cada um deles representando uma emoção: a Alegria, a Tristeza, o Medo, a Raiva e o Nojo. Lá, teriam acesso a um “painel de comando”, que determinava como cada pessoa agia.

Nosso cérebro é fabuloso! Com ele, tomamos nossas decisões. Entretanto, por mais racional que uma escolha seja, ela pode ser profundamente influenciada por emoções, como se os sentimentos fossem ingredientes dela. Esse é, aliás, o princípio dos “gatilhos mentais”, recursos dos quais equipes de marketing vêm abusando nos últimos anos, para que consumidores “escolham racionalmente” produtos a partir de emoções “plantadas” em suas cabeças pelas campanhas publicitárias.

De volta à realidade um tanto distópica em que estamos imersos, as redes sociais desempenham papéis fundamentais para que os políticos manipulem as massas. O primeiro deles é ajudá-los a descobrir o que as pessoas desejam e do que elas têm medo em dado momento. Afinal, não é possível construir qualquer narrativa visando o controle de mentes se não souberem isso.

A outra função dessas plataformas é servir de veículo para disseminar, em gigantesca quantidade, suas mensagens. Elas são cuidadosamente produzidas para que as pessoas vejam, em determinado candidato, aquele que viabilizará seus desejos e os protegerá de seus medos. E seus algoritmos de relevância se prestam cinicamente a esse serviço sujo, pois as redes sociais lucram com a polarização.

Logo, quem domina o meio digital tem mais chance de transformar suas ideias em “verdades”.

 

O campo de batalha online

Faz todo sentido, portanto, que “pós-verdade” tenha sido escolhida como a palavra do ano de 2016 pelo renomado Dicionário Oxford. Pela sua definição, o termo é “relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais”. Ou seja, as pessoas hoje preferem acreditar naquilo que esteja em linha com seus desejos, por mais que seja uma invenção escandalosa.

Disso vêm as fake news. Elas deliberadamente mentem para que determinado grupo atinja seus objetivos, manipulando as emoções da população. E não se trata de simples boatos, pois são produzidas com método, impactando primeiro aqueles que gostariam que aquilo fosse verdade: isso aumenta seu engajamento inicial, o que leva os algoritmos das redes sociais a distribuir a mentira em grande quantidade.

A série “The Boys”, da Amazon Prime Video, ilustra isso muito bem. Nessa paródia das histórias de super-heróis, superseres fazem ações heroicas midiáticas nas redes sociais apenas para que a população os ame e, assim, compre todo tipo de produtos com suas marcas. Mas, em sua segunda temporada, surge uma personagem que percebe que obter o amor das massas é cada vez mais difícil e pouco produtivo. Ao invés disso, descobre que é mais eficiente manipular o ódio da sociedade. Para ela, é muito melhor ter soldados que fãs, e que cinco milhões de pessoas movidas pelo ódio são mais efetivas que cinquenta milhões com amor. Ela entendeu que não vivemos mais no mundo da cultura de massas, e sim da “viralização”.

Políticos que usam esse método trabalham com o medo da população, pois ele é capaz de travar as pessoas e deixá-las cegas. E, uma vez que elas ultrapassem determinado limiar de ódio e de medo, são facilmente controláveis, até mesmo pelo mecanismo do “apito do cachorro”: comandos que as demais pessoas não percebem, mas que são eficientes para agitar os “comandados” para executar as ordens de seus líderes. Basta observar como costumam seguir ações de maneira coordenada.

Dessa forma, chegamos ao atual cenário de uma nação devastada pelo ódio. Mas há esperança, e ela vem dos mais jovens. O estudo internacional “A nova dinâmica da influência”, divulgado em 22 de setembro pela consultoria americana Edelman, mostra que a Geração Z (pessoas hoje entre 14 e 26 anos de idade) é movida –e não paralisada– pelo medo. Isso demonstra uma percepção mais madura sobre essa poderosa emoção, que existe para nossa autopreservação. Por isso, 70% deles estão envolvidos em causas sociais ou políticas.

Os mais jovens querem resgatar a política como uma ferramenta de transformação social para um mundo mais justo e igualitário, com relações mais transparentes e honestas. Segundo o estudo, eles se preocupam com temas ligados à natureza, saúde, direitos humanos, justiça racial e igualdade de gênero. Esperam ainda que as empresas atuem como parceiras para que esses objetivos sejam atingidos.

Costumo dizer que a melhor maneira de anteciparmos o futuro é olhando para os jovens. Nesse sentido, é reconfortante observar esse comportamento da Geração Z.

Nossas emoções nos definem! Precisamos ter consciência de nossos sentimentos para aprender e crescer com eles, e não ser dominados a partir deles. Os mais jovens já estão fazendo isso. Você consegue também?