altruísmo

Não alimente os trolls da Internet

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Trolls comendo no filme “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (2012) - imagem: reprodução

Trolls comendo no filme “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (2012)

Desde que me tornei um LinkedIn Top Voice, as pessoas me fazem algumas perguntas recorrentemente. Uma delas é como eu lido com gente com todo tipo de comportamento inadequado nas redes sociais, inclusive no LinkedIn. Afinal, qualquer pessoa pode ser vítima dessas péssimas abordagens, porém, quanto mais exposto estamos, maior o risco de virarmos alvo. A minha resposta é: não alimente os trolls! E todos nós temos que fazer isso, ou corremos sérios riscos.

Para começar, gente chata, grosseira ou até mesmo violenta sempre existiu e sempre existirá. Mas as redes sociais criaram um novo tipo de inconveniente: o “hater”. Para quem não sabe o que é, trata-se de um indivíduo que, como o nome em inglês sugere, destila um ódio exagerado e quase sempre gratuito contra alguém nas redes sociais. Ele não se preocupa em explicar, ele não avisa que está chegando: simplesmente aparece e parte para os insultos, normalmente muito pesados, tentando magoar e até mesmo destruir seu desafeto.


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Não se engane: até quem tem sangue de barata sofre o baque de um ataque desses, especialmente na primeira vez. Eu mesmo já fui vítima desse tipo de troll em algumas ocasiões (felizmente poucas).  E o mais triste é notar que isso aconteceu quando eu havia produzido algum conteúdo que tentava despertar coisas boas nas pessoas.

Só que, por algum motivo, pisei no calo do troll, e ele partiu para a ataque. E esse é um risco que qualquer profissional ou empresa corre, especialmente nas redes sociais. O que fazer diante disso?

Nessas horas, o melhor é entrar em uma caverna! Ou, em outras palavras, não responda na hora! Pois, se fizer isso, provavelmente a sua resposta estará contaminada pelas emoções que o hater plantou no seu coração: você devolverá na mesma moeda.

E é isso que esse troll mais deseja.

 

Desvie da rota de colisão

Quem se dirige a outra pessoa com insultos perde a razão, mesmo quando está apenas reagindo a outra ofensa. Só que o hater normalmente tem pouco ou nada a perder, ao contrário de sua vítima, cuja reputação já está sendo atacada. Portanto nunca, jamais devolva na mesma moeda, por mais que esteja coberto de razão.

Vá dar uma volta para esfriar a cabeça e acalmar o coração. Converse com alguém. Faça algo que gosta. Só então responda. E nunca deixe de responder, ou a última palavra será a do troll.

O que responder é o próximo desafio. Mesmo usando a lógica, não entre em rota de colisão com o agressor, pois os argumentos dele (se é que tem algum) são passionais, irracionais até. Portanto, acolha aquilo da melhor maneira possível, mas explique que vocês têm pontos de vista divergentes sobre o tema. Diga que, mesmo assim, a agressão não é necessária, pois opiniões conflitantes podem coexistir. E então reforce o seu ponto de vista educadamente.

É bem possível que o troll volte à carga. Nesse caso, avalie se vale a pena uma outra rodada de respostas, pois, a essa altura, provavelmente já ficou claro que o diálogo não é possível, pois o outro lado é surdo e fala mal. Então, se diante do que já foi dito, a criatura continua vociferando, deixe-o falando sozinho a partir desse ponto. O importante é que, para seu público –e toda essa discussão normalmente é pública– você já se posicionou adequadamente.

Aliás, disso surge outra dica: nunca apague as ofensas, pois o troll voltará com mais força, acusando-o de censura, e talvez ainda traga seus amigos. Ao invés disso, já que ele armou um pequeno palco para aparecer, suba ali junto com ele para reforçar os seus valores. Aproveite esse infortúnio para expor aquilo em que acredita.

 

Não negocie com terroristas

Mas há outros tipos de trolls nas redes sociais. Um deles atinge principalmente as mulheres: os assediadores.

Eles são resultados da combinação da sociedade machista em que vivemos com uma sensação de impunidade que as redes sociais provocam. Uma sensação completamente equivocada, diga-se de passagem, pois é possível rastrear criminosos usando os próprios recursos da rede.

A grande maioria das mulheres –e alguns homens– já foi vítima desse tipo de agressão ou conhece alguém que foi. Normalmente elas se manifestam na forma de cantadas ostensivas, envio de fotos obscenas ou desqualificação da vítima pelo simples fato de ser mulher (ou homem).

Pode-se tentar usar a mesma tática acima, adotada contra os haters. Mas, nesse caso, talvez o melhor seja usar os recursos das próprias redes sociais para denunciar e bloquear o agressor. Em casos extremos, deve-se acionar a polícia.

Uma amiga me disse recentemente que sofria muitos desses assédios, a ponto de deixar de usar alguns aplicativos. Apesar de compreender a sua dor, recomendei que ela não fizesse isso. Pois, por mais que as agressões sejam constantes., não podemos deixar de usar alguma coisa que gostamos ou que nos ajuda só por causa dos trolls. Seria como ceder às ameaças de um terrorista. Se nos rendemos, eles vencem e farão isso cada vez mais.

Esse tipo de ataque muitas vezes acontece em bando. Não se acanhe: denuncie e bloqueie todos eles. Sempre!

 

Idiotismo digital

Até há alguns anos, esse tipo de agressor tentava tomar alguns cuidados básicos –pelo menos usava nome, foto e conta falsos– na tentativa de proteger sua identidade, pois sabia que o que estava fazendo era errado e que poderia ser responsabilizado por aquilo, até mesmo criminalmente.

Mas é assustador notar que, de uns tempos para cá, muitos trolls não estão adotando nem essas medidas: cometem as suas barbaridades com seus perfis verdadeiros, com nome e sobrenome reais, para quem quiser ver. Até mesmo no LinkedIn, uma rede com um propósito mais sério, onde muita gente está procurando emprego, o indivíduo se sente à vontade para barbarizar e perpetrar todo tipo de ato de ódio, intolerância, machismo e afins.

Como explicar esse idiotismo digital? Pois é evidente que um recrutador jamais contratará alguém que comete esse tipo de coisa, ainda mais com um alcance potencialmente global. E, se já estiver empregado, isso pode lhe custar (como já custou em inúmeros casos no Brasil e no exterior) a demissão, pois a reputação da empresa pode ser comprometida se tiver trolls em seus quadros.

A psicologia pode ajudar a explicar porque as pessoas fazem no meio digital coisas que não fariam presencialmente. Quando estão online, muitas pessoas entram em um estado alterado da consciência, em que acham que podem tudo, pois a tela do computador ou do smartphone as ofereceria algum tipo de proteção mágica que garantiria que o que for feito na “vida online” não respingará na “vida real”. Quase como se estivessem sob efeito de algum tipo de alucinógeno. E, nessa hora, o pior de cada um pode aparecer.

Só que não existe essa história de “vida online” e “vida real”: são apenas duas instâncias da única vida que cada um de nós tem. Portanto, o que se faz de mal em uma se paga na outra.

 

O bem vence o mal

Sim, os trolls estão por aí, sempre prontos a dar o bote e abater suas presas. Devemos estar atentos e tomar as devidas providências, como descrito acima. Mas há algo ainda melhor a se fazer.


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Se as redes sociais podem mostrar o que temos de mais feio, também podem servir como instrumento para realizarmos coisas incríveis e muito construtivas. Como qualquer ferramenta, o que tiramos dela depende do uso que fazemos.

Como disse acima, já fui vítima de diferentes tipos de trolls nas redes sociais. Mas felizmente isso aconteceu poucas vezes, em contraste com uma infinidade de bons sentimentos trocados por mensagens, comentários, conversas telefônicas ou pessoalmente.

E não podia ser diferente disso: apesar de todas as mazelas que vemos todos os dias no mundo, acredito sinceramente que o ser humano tem muito mais bondade que maldade dentro de si. E, se o mal atrai o mal, a recíproca também é verdadeira, e muito mais forte.

Cito um exemplo recente que aconteceu comigo no LinkedIn: no início do mês, fiz uma campanha para que profissionais e empresas de TI ajudassem o Hospital de Câncer de Barretos (veja um exemplo de post criado). Ele foi vítima de um enorme ataque de hackers no dia 27 de junho, que estava atrapalhando o atendimento que presta à população, totalmente gratuito. Poucos dias depois, fiquei sabendo que um grande número de pessoas havia entrado em contato com eles se voluntariando, até mais que o necessário. Além disso, eu pessoalmente fui agraciado com muitas mensagens de agradecimento de pessoas que estavam muito felizes por poder ajudar a instituição.

Aquilo encheu o meu coração de alegria! Que mais eu poderia desejar?

Por isso, estou certo que há muito mais heróis que trolls por aí. É isso que eu vejo até mesmo nas redes sociais.


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Qual é a melhor coisa de ter 300 mil seguidores?

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O professor Keating, de “Sociedade dos Poetas Mortos”, explica a seus alunos a importância de cada um exercer o seu papel no mundo - Imagem: reprodução

O professor Keating, de “Sociedade dos Poetas Mortos”, explica a seus alunos a importância de cada um exercer o seu papel no mundo

Na noite desta quinta (22 de junho), atingi a marca de 300 mil seguidores no LinkedIn. É um número incrível, que me encanta e ainda me surpreende! E, pelo jeito, também a muita gente, pois toda semana alguém me pergunta o que eu ganho com isso.

Só que, depois de trilhar esse caminho por quase dois anos, eu cheguei à conclusão que nada supera a alegria de perceber que consegui construir, com a ajuda de cada uma dessas pessoas, um espaço virtual de troca de ideias e de experiências em que todos os participantes ganham. E isso é um tremendo privilégio!

Isso só foi possível porque o algoritmo do LinkedIn é muito mais generoso que o de outras redes sociais, e eu descobri isso da melhor maneira possível.  O Facebook, por exemplo, coloca no seu feed de notícias posts das pessoas que você já conhece e se relaciona, o que talvez faça sentido ali. Porém o do LinkedIn é muito mais eficiente para nos mostrar IDEIAS, mesmo de pessoas com quem temos pouca ou nenhuma relação!

As ideias são o que movem esse mundo, são o que inspiram as pessoas a ser melhores, são o que dão sentido a nossas vidas. Especialmente em um momento tão difícil em nossa país, com uma crise política e econômica que parece não ter fim, que atrapalham muito os negócios, geram desemprego, e deprimem toda a população, não podemos entrar nesse turbilhão que nos leva para mais fundo.

E o motivo é simples: todos nós temos o nosso papel nesse mundo! Não se engane: qualquer um pode contribuir com a sociedade, de um jeito ou de outro. Cada um tem algo de bom a oferecer a quem está a sua volta. Para alguns, isso jorra naturalmente; às vezes, é necessário algum estímulo.

Por isso, poder compartilhar ideias com tanta gente não tem preço e por isso sou agradecido.

Há alguns dias, estava me lembrando da poesia “O Me! O Life!”, do escritor americano Walt Whitman (1819 – 1892), que acho que combina muito bem com essa discussão. Nela, Whitman questiona o que pode ser encontrado de bom em meio a um mundo cheio de mazelas. E sua resposta é belíssima. Transcrevo abaixo o texto em inglês, seguido de uma versão em português:


O Me! O Life!

O Me! O life!… of the questions of these recurring;

Of the endless trains of the faithless -of cities fill’d with the foolish;

Of myself forever reproaching myself, (for who more foolish than I, and who  more faithless?)

Of eyes that vainly crave the light – of the objects mean- of the struggle ever renew’d;

Of the poor results of all – of the plodding and sordid crowds I see around me;

Of the empty and useless years of the rest – with the rest me intertwined;

The question, O me! so sad, recurring – What good amid these, O me, O life?

Answer.

That you are here – that life exists, and identity;

That the powerful play goes on, and you will contribute a verse.


Ó eu! Ó vida!

Ó eu! Ó vida!… Destas perguntas recorrentes;

Dos infindáveis trens de incrédulos – das cidades cheias de insensatos,

De mim mesmo sempre me censurando, (quem é mais tolo que eu, e quem é mais desesperançoso?)

Dos olhos que em vão suplicam pela luz – do significado dos objetos – do esforço sempre renovado;

Dos resultados insignificantes de tudo – das lentas e sórdidas multidões que vejo ao meu redor;

Dos anos vazios e inúteis que restam – com o resto de mim entrelaçado;

A pergunta, ó eu! tão triste, recorre – O que há de bom em tudo isso, ó eu, ó vida?

Resposta.

Que você está aqui – que a vida existe e identifica;

Que a poderosa peça teatral continua, e que você contribuirá com um verso.


Tive contato com esse texto pela primeira vez no filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), quando o icônico professor Keating (Robin Williams) recita seus versos para inspirar seus alunos da ultraortodoxa Academia Welton. Ele certamente me inspirou na maneira como decidi ser um professor, um palestrante e a pessoa que sou hoje.

Pois, como se pode ver, por mais desesperançoso que o mundo possa parecer no momento, sempre há algo de incrível nele. E isso pode vir de dentro de você, daquilo que você compartilha com o outro, da sua vontade de construir algo grandioso, do seu verso.

Qual será o seu verso?


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