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WSJ abraça o micropagamento enquanto rejeita Kindle

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Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Murdoch não está surdo aos movimentos do mercado: adotará o micropagamento e deve lançar seu próprio e-reader em breve

Enquanto a indústria de mídia discute e discute qual será o seu modelo de negócios do futuro, especialmente para o impresso, o The Wall Street Journal anunciou que está criando um sistema de micropagamento que permitirá que pessoas que não assinem o seu serviço acessem notícias e artigos individualmente, pagando por cada um. Além disso, lançará um serviço Premium que oferecerá o serviço noticioso da Dow Jones. Em tempo: o WSJ é dono de um dos poucos bem-sucedidos casos de assinatura paga na Web, com mais de um milhão de usuários desembolsando US$ 100 por ano pelo acesso.

Rupert Murdoch, dono da News Corporation, que, por sua vez, é dona do WSJ, anunciou que o modelo deve ser ampliado para todos os jornais do grupo. Para o mogul das comunicações, a era do conteúdo online grátis logo acabará. Murdoch lidera a resistência dos descontentes com o jeito que a notícia virou commodity com a Internet e condena serviços como o Google News, que cria publicações agregando conteúdos de diferentes fontes.

A metralhadora giratória não poupa nem o Kindle, que acaba de ter uma terceira versão –a DX– anunciada e vem ganhando manchetes como uma possível maneira de se distribuir os “jornais do futuro”. Tanto que o The New York Times –concorrente da News Corp– é uma das estrelas de seu portfólio. “Não vamos dar o nosso conteúdo à boa gente que produz o Kindle”, disparou Murdoch recentemente.

Isso não quer dizer que ele seja contra os e-readers, como o produto da Amazon. Na verdade, o próprio empresário já ventilou que seu conglomerado de mídia estaria desenvolvendo o seu próprio equipamento. Claro, ele não quer dividir a sua margem com outros: o mercado especula que a Amazon fique com 70% do valor das assinaturas de periódicos baixados e lidos pelo Kindle. Nesse sentido, a resistência de Murdoch é compreensível. Mas a News Corp terá força para, por si só, criar uma alternativa viável de produto? De todo jeito, teria que se associar a algum concorrente da Amazon, pois, por mais que confie na qualidade e relevância de seu conteúdo, ele não é suficiente para abocanhar uma fatia significativa desse mercado. A própria Sony, que já está na estrada com o Reader, pena para fazer frente ao Kindle.

Claro, são apostas.Murdoch está fazendo as deles corajosamente, mas muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte. Ele está certo em se posicionar logo e, se as suas idéias se transformarem no modelo vencedor, a News Corp aumentará a sua influência de uma maneira decisiva.

Não deu… não daquele jeito

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Pois é, Alex, o modelo de assinaturas não deu certo, mas existem outros!

Pois é, Alex, o modelo de assinaturas não deu certo, mas existem outros!

Esse post é uma atualização do post “Jornalistas salvando jornais“, de três dias atrás. Nele eu mencionei a iniciativa de 35 ex-jornalistas do recém-finado Rocky Mountain News que decidiram lançar um site para tentar ocupar, na Internet, o espaço que o Rocky deixou no jornalismo local de Denver. Nada de papel: apenas online. Para que desse certo, eles calcularam que precisariam de 50.000 assinantes que pagassem US$ 4,99 por mês. O conteúdo do InDenverTimes.com é irrestritamente aberto: os pagantes teriam o privilégio de “fazer parte” do produto, participando de ferramentas de criação de comunidades e, o que mais me chamou a atenção, tendo acesso direto aos jornalistas.

Apesar de criativo, questionei no post anterior que talvez isso não fosse o suficiente em um momento em que as pessoas justamente consomem mais conteúdo que nunca, mas que paradoxalmente não querem mais pagar por ele. E foi o que aconteceu: o deadline que o próprio site se deu para arrebanhar os assinantes foi ontem, quando o Rocky completaria 150 anos. E não deu: não atingiram essa meta.

“Nós acreditamos que existe dinheiro no jornalismo local, feito por jornalistas locais, e que há um oportunidade única em Denver com o fim do Rocky Mountain News”, disse David Milstead, jornalista de economia e um dos criadores do inDenverTimes.com. A equipe buscará agora viabilizar a publicação com modelos de negócios alternativos.

E devem mesmo. O jornalismo local é o jornalismo em sua forma mais essencial (em diferentes acepções da palavra). Em um cidade de quase 600 mil habitantes, como Denver, um único jornal local -no caso, o The Denver Post- é muito pouco. E modelos alternativos também existem. Para um veículo que já se mostrou disposto a inovar na parte editorial, há espaço para inovarem também no seu modelo de negócios.

Jornalistas salvando jornais

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O InDenverTimes.com, publicação online criada por ex-jornalistas do Rocky, precisa arrebanhar 50 mil assinantes para que deixe de ser beta

O InDenverTimes.com, publicação online criada por ex-jornalistas do Rocky, precisa arrebanhar 50 mil assinantes para que deixe de ser beta

“A necessidade é a mãe das invenções.” O velho ditado explica bem algo que vem sendo observado nos EUA diante da crise vivida pela mídia, especialmente o jornalismo impresso. Lá, jornalistas estão tentando salvar os veículos onde (ainda) trabalham ou tratando de ressuscitar aqueles que já deixaram de circular. E vêm fazendo isso de maneira mais criativa e mais ousada que os donos do próprio negócio jamais pensaram.

Talvez façam isso porque profissionalmente não correm muitos riscos, pois seus empregos já viraram fumaça ou já estão em chamas no modelo de negócios atual. Mas o fato é que os colegas estão se mexendo, enquanto os moguls ficam se debatendo em torno de formas que garantiriam uma sobrevida a seu negócio, de preferência sem realizar grandes mudanças.

Aí reside o problema: chegamos (especialmente a mídia na Gringolândia) a um ponto em que mudanças de monta se fazem necessárias. Por conta do imobilismo, jornais estão fechando suas portas ou pedindo concordata. Os que sobrevivem -e isso certamente vale para a mídia impressa brasileira- estão cada vez mais finos, previsíveis e rasos em sua qualidade.

Qual a saída? A Redação do Star Tribune, em concordata há três meses, não sabe, mas não teve vergonha de vir a público para perguntar. Lançaram uma campanha pública, o Save the Strib. O objetivo do site é sensibilizar a população e eventuais interessados em comprar o jornal, para que ele não morra. Criou um abaixo-assinado e pede idéias e sugestões aos internautas, além de propostas de aquisição.

A novidade aí está na coragem da iniciativa. Mas há outros casos mais interessantes aparecendo em diversas regiões nos EUA. Em Denver, por exemplo, 35 ex-jornalistas do recém-finado Rocky Mountain News juntaram-se a três investidores e criaram o InDenverTimes.com. Atualmente em beta, o lançamento oficial está marcado para o dia 4 de maio, mas isso só acontecerá se conseguir juntar, até o dia 23 de abril (ou seja, quinta), pelo menos 50 mil assinantes dispostos a pagar US$ 4,99 por mês pelo produto. Longe de ser uma coincidência, essa data marcaria o 150º aniversário do Rocky, caso ele tivesse sobrevivido.

O conteúdo do veículo é completamente livre. O que os assinantes ganham? A possibilidade de conversar em tempo real com os jornalistas e também participar da comunidade em torno do site, como fóruns, comentando notícias e por aí vai. Em resumo, de fazer parte da publicação. O desafio da equipe é criar um produto pelo qual os cidadãos de Denver queiram pagar. E é um tremendo desafio, pois eles não conseguiram fazer isso no finado Rocky, impresso ou online. E, se por um lado US$ 5 parece nada, por outro passamos por um momento em que as pessoas cada vez menos querem pagar pelas notícias que consomem.

Para deixar o pacote mais suculento aos assinantes, a publicação promete a maneira de pensar do mundo ponto-com, afastando-se da arrogância típica da “mídia tradicional”, em que os jornalistas estão “acima de tudo e de todos”, dizendo o que é importante para os seus leitores (para dizer o mínimo). A cobertura passa a ter rosto: os jornalistas são pessoas próximas dos internautas, como eles, ao lado deles.

Honestamente, não sei se isso será suficiente para a turma arrebanhar os seus 50 mil assinantes. Como são nomes conhecidos (e muitos deles queridos) da população de Denver, uma cidade de quase 600 mil habitantes, talvez consigam, nem que seja a título de “colaboração” nesse primeiro ano. Mas como será no segundo ano?

De qualquer forma, é uma aposta válida, no mínimo por demonstrar que jornalistas podem fazer muito mais que aquilo a que costumam ser limitados nas grandes Redações e para deixar claro que o jornalismo ainda é um negócio viável.