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Colapso das criptomoedas mostra que elas não servem para quem tem coração fraco

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Não há grandes ganhos sem grandes riscos. Essa máxima se aplica perfeitamente às criptomoedas, que têm no Bitcoin sua maior estrela. Mas o colapso desse mercado na semana passada demonstra que o investimento em moedas digitais não funciona para qualquer um.

A cotação do Bitcoin despencou para o valor mais baixo desde 2020. A TerraUSD, outra criptomoeda que se promove como “estável”, entrou em colapso. Quando a poeira baixou, cerca de US$ 300 bilhões (mais que R$ 1,5 trilhão) tinham evaporado em poucos dias.

Portanto, se a essa altura você ainda se pergunta se deve ou não investir em criptomoedas, a resposta provavelmente é não! Mas isso não quer dizer que elas sejam ruins.


Veja esse artigo em vídeo:


No pânico dos últimos dias, o Bitcoin despencou 60% frente ao que valia em novembro. O Ether, outra criptomoeda popular, perdeu mais de 30% de seu valor na semana.

Grandes ganhos e perdas fazem parte desse jogo. Mas esse tombo foi muito amargo porque agora há muito mais gente investindo nisso. O instituto Pew Research Center calculou que hoje 16% dos americanos têm algum dinheiro empenhado em criptomoedas; em 2015, era apenas 1%. Isso quer dizer que quase 53 milhões de pessoas, isso considerando apenas os EUA, perderam proporcionalmente muito dinheiro na semana passada.

Como qualquer outro investimento de risco, para minimizá-lo, é preciso estar atento a diversos sinais do mercado que podem impactar a confiança no ativo. É por isso que os grandes investidores perdem proporcionalmente menos que os “amadores”, que não podem ou simplesmente não querem ficar se preocupando com isso.

Nesse caso, os sinais foram a inflação acima do normal, o aumento das taxas de juros em vários países e incertezas pela guerra na Ucrânia. Tudo isso fez investidores tirarem dinheiro de investimentos de risco (como ações nas bolsas), correndo para os mais seguros. Consequentemente, o valor de tudo caiu. A situação das criptomoedas foi a mais dramática justamente por serem mais arriscadas que praticamente qualquer outro investimento, pois não são garantidas por nenhum governo ou instituição.

Para entender melhor, esses fatores de risco provocaram uma espécie de efeito dominó no ecossistema das criptomoedas. Ele depende da confiança que as pessoas têm nele: se ela for comprometida, a coisa toda desmorona.

Para aumentar essa confiança, foram criadas algumas criptomoedas que prometem ser mais estáveis, por serem lastreadas (garantidas) por ativos reais e considerados seguros, como dólar, ouro ou títulos do Tesouro Americano. Por isso, elas são conhecidas como “stablecoins” e seu valor não sofre grandes flutuações. Muitos investidores as usam para fazer transações com outras criptomoedas.

Acontece que surgiram algumas “stablecoins” que não são tão estáveis assim. É o caso do TerraUSD. Ao invés de estarem atreladas a um ativo real e seguro, elas usam uma engenharia financeira complexa para manter seus valores estáveis, apoiando-se em outras criptomoedas.

No caso do TerraUSD, ela é vinculada à Luna, cujo valor evaporou no começo da semana. Isso iniciou a reação em cadeia e, a partir daí foi um banho de sangue, motivado pelo pânico dos investidores, que começaram a vender suas criptomoedas!

É como se você dissesse que inventou uma coisa para garantir outra coisa que você inventou: só funciona se todo mundo acreditar o tempo todo.

 

Dinheiro “do nada”

As criptomoedas surgiram em 2009, quando Satoshi Nakamoto lançou o Bitcoin como uma maneira de se realizar transações sem depender do sistema financeiro tradicional, como os bancos. Ao invés disso, todas as transações seriam garantidas por uma tecnologia chamada blockchain, uma espécie de livro-razão digital replicado em milhares de computadores e praticamente a prova de fraudes.

Talvez a maior de todas as ironias é que Satoshi Nakamoto é um pseudônimo. Ninguém sabe ao certo quem é ele. Alguns especulam até que seria um grupo de pessoas.

O fato é que ele atingiu seu objetivo de criar um método de transações totalmente independente. Mas isso trouxe alguns problemas, como ser um dinheiro completamente irrastreável, criando uma incrível ferramenta para, entre outras atividades lícitas, muitos crimes financeiros.

Isso também atraiu o interesse de investidores vorazes, que compram e vendem grandes quantidades das criptomoedas, responsável pela volatilidade gigantesca e sem precedentes em qualquer investimento. Vale lembrar que, por isso mesmo, nenhuma criptomoeda é garantida por governos ou instituições financeiras. Em outras palavras, se o investimento de uma vida de alguém derreter instantaneamente, não terá a quem recorrer.

Os entusiastas das criptomoedas afirmam que não há motivo para pânico, que esse derretimento do mercado é uma prova de que a tecnologia e o próprio conceito funcionam e que as perdas gigantescas serão recuperadas, em algum momento (não definido), por grandes ganhos, como de costume.

Já os críticos aproveitaram para reforçar que os bancos centrais precisam, de alguma maneira, criar regras para regular transações em criptomoedas, para proteger os investidores (especialmente os pequenos) e o próprio sistema financeiro. Afinal, qualquer país entraria em colapso se as pessoas deixassem de acreditar em seu dinheiro e passassem a operar apenas em criptomoedas.

Com tudo isso, não digo que criptomoedas sejam um mau negócio. Da mesma forma, não estou sugerindo que ninguém deva investir nelas ou mesmo usá-las como meio de pagamento.

Meu ponto aqui é que, para a imensa maioria da população, são necessárias informação e ajuda capacitada e ética para se investir em criptomoedas. Sem isso, para essas pessoas, seria como passar da piscina infantil para o surfe mais radical do planeta, achando que isso acrescentaria apenas um pouco mais de emoção ao que se estava acostumado.

Não há salva-vidas nesse mercado!

 

Blockchain vai muito além de criptomoedas e pode até ajudar a combater “fake news”

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“Vai falar de Bitcoin?”

A provocação de José Luiz Goldfarb, diretor da EDUC (Editora da PUC-SP), reflete a visão limitada que a população tem sobre a tecnologia blockchain. Isto, quando se tem qualquer noção sobre ela!

É verdade que, de longe, o uso mais popular do blockchain recai sobre as chamadas “criptomoedas”, métodos de troca de valores descentralizados, cujo maior expoente é o Bitcoin. Mas, como ficou claro na transmissão moderada por Goldfarb no dia 15, essa tecnologia possui muitas outras aplicações, tão ou mais interessantes que essas moedas digitais.

O evento marcou o lançamento do livro “A Expansão Social do Blockchain” pela EDUC. A obra foi organizada por Lucia Santaella, coordenadora do programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP.

“Embora o tema seja jovem, penetrar em seus meandros se torna imperativo, quando seus efeitos começam a se fazer sentir na vida”, justificou Santaella. “A expectativa era que essa tecnologia fosse capaz de criar um novo modelo de internet, porque esse que está aí, principalmente no que diz respeito a redes sociais, fracassou”, explicou.

A obra aborda usos do blockchain em áreas como a crise de confiança da sociedade, “fake news”, integridade de dados pessoais nas redes, aprendizagem e –claro– criptomoedas e meios de pagamento digitais. Trata-se de uma compilação de artigos dos membros do grupo Sociotramas, organizado por Santaella, que reúne pesquisadores de diferentes áreas e instituições para discutir temas ligados a redes sociais (conheça aqui os coautores e detalhes da publicação).

Quatro dos coautores participaram da transmissão, abordando o tema de seus respectivos artigos. Magaly Prado, por exemplo, falou sobre como o blockchain pode ser usado para combater as “fake news”, as infames notícias falsas. “Uma plataforma descentralizada visando usar a tecnologia blockchain em nome do jornalismo é louvável e torna as informações de uma rede independente de redações mais confiáveis, preponderante em tempos de reputação baixa por conta da desinformação desembestada”, explicou.

 

Confiança, “fake news” e integridade

Marcelo de Mattos Salgado trouxe uma análise sobre a crise de confiança que afeta, de modo geral, o mundo ocidental –e como o blockchain se encaixaria neste cenário. Segundo ele, “talvez a crise de confiança seja movida, pelo menos em parte, pela referida automatização dos processos de segurança, como o blockchain, que efetivamente substitui os elos de confiabilidade, tão humanos”.

O combate às “fake news” também foi abordado por Kalynka Cruz-Stefani. “O meu trabalho tem uma visão analítica sobre esse sistema de propagação de ‘fake news’”, explicou. “Estudos mostram que, a partir de 2023, 30% delas serão descobertas e combatidas pelo blockchain”,

Por fim, Paulo Silvestre esclareceu como essa tecnologia pode ajudar na integridade de informações pessoais nas redes, hoje totalmente pulverizadas e controladas por grandes empresas e instituições. “Nós garantimos, usando o blockchain, não só a integridade dos dados, como também que temos o controle de nossa própria informação”, explicou. Além disso, usos criativos fazem com que isso esteja de acordo com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que entrou em vigor no Brasil em setembro.

O livro já está disponível como e-book ou para ser lido no leitor eletrônico Kindle. A versão impressa estará disponível a partir de janeiro, pela EDUC.

“A inteligência humana tem caminhos misteriosos”, disse Santaella. Em linha com os outros autores, ela acrescentou que “o grande afetado pelas redes sociais, “fake news” e pós-verdade é o jornalismo, e nós não podemos viver sem jornalismo”. A professora concluiu dizendo que “quando nós perdemos a confiança nele, o que nos resta para conhecer o que de fato aconteceu?”

Você pode acompanhar a íntegra em vídeo do lançamento do livro “A Expansão Social do Blockchain” na TV PUC. Ainda, saiba como foi a apresentação de Maria Collier de Mendonça sobre o livro no XIII Simpósio Nacional da ABCiber.


* colaborou Marcelo de Mattos Salgado