China

Sam Altman, CEO da OpenAI, durante o Fórum Econômico Mundial 2024, que aconteceu em Davos (Suíça), em janeiro - Foto: reprodução

Quem deve ser o “dono” da inteligência artificial?

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A inteligência artificial generativa é uma tecnologia diferente de tudo criado antes dela. Ao contrário de ferramentas mecânicas ou digitais, que nos ajudam a realizar melhor as mais diversas tarefas, ela se propõe a “entregar o trabalho pronto”. Se por um lado isso é realmente incrível, por outro exige que sejamos muito criteriosos sobre o criador das plataformas que usarmos e sobre suas produções.

Tudo porque essa tecnologia pode efetivamente, a longo prazo, alterar a maneira como pensamos e encaramos o mundo! O problema é que as pessoas não têm consciência disso, e usam essas plataformas despreocupadamente.

Não proponho que os responsáveis por esses sistemas tenham uma motivação maquiavélica de domínio do mundo. Mas as respostas da IA generativa não apenas trazem o conteúdo das fontes usadas em seu treinamento: também refletem a maneira de falar, a cultura e até os valores dos países que mais contribuíram para tal treino. No momento, isso cabe à Europa Ocidental e principalmente aos Estados Unidos, pelo simples fato de a maior parte do conteúdo na Internet ter essas nações como origem.

Isso pode mudar em pouco tempo! Países do Oriente, especialmente a China, investem pesadamente e com regras muito mais frouxas para criarem suas próprias inteligências artificiais generativas, treinadas com seu conteúdo e sua visão de mundo.

No último dia 25, Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI (criadora do ChatGPT), publicou um artigo no The Washington Post (reproduzido em português no Estadão) questionando qual país deve controlar o futuro da IA. Apesar do tom desbragadamente ufanista em favor dos Estados Unidos, ele faz provocações válidas.

Afinal, a nação que dominar a IA dominará o mundo! E isso não pode ser ignorado.


Veja esse artigo em vídeo:


Não concordo com tudo que Altman escreve em sua publicação, a começar pelo seu ímpeto em apresentar os Estados Unidos como um defensor ilibado da liberdade e dos direitos individuais. Sim, isso faz parte dos valores fundamentais daquele país, mas repetidos escândalos de espionagem digital de seus governos e de abusos de poder econômico de empresas americanas, por manipulação e usos indevidos de dados de seus clientes, desqualificam essa premissa de Altman.

Por outro lado, obviamente os Estados Unidos e principalmente a Europa estão muito mais bem-posicionados na defesa da democracia e de liberdades individuais que nações autoritárias, como a China e a Rússia. E a primeira vem forte na corrida da IA.

“Estamos diante de uma escolha estratégica sobre o tipo de mundo em que viveremos”, escreveu Altman. Considerando o poder sem precedentes de influência e até de dominação cultural que a IA generativa cria, essa é uma preocupação legítima. “O ditador russo Vladimir Putin avisa que o país que vencer a corrida da IA ‘se tornará o governante do mundo’, e a China diz que pretende se tornar o líder global em IA até 2030”, completa.

Ele adverte que, se isso acontecer, empresas do mundo todos seriam obrigadas a compartilhar os dados de seus usuários, o que criaria formas de espionagem e recursos para armas cibernéticas sofisticadas. Novamente o temor é válido, mas, em alguma escala, isso já vem sendo feito com as big techs americanas.

O CEO da OpenAI elenca pontos que considera essenciais para se manter a liderança na inteligência artificial: segurança cibernética, infraestrutura física robusta, investimento substancial em capital humano, diplomacia comercial para a IA, e normas para o desenvolvimento seguro dessa tecnologia. É interessante notar que, nesse ponto, ele defende que se conceda mais protagonismo para países do sul global, tradicionalmente deixados para trás nas decisões econômicas e tecnológicas.

Mas isso implica em trazer a China para a mesa.

 

Dominação pela IA

Desde a Antiguidade, as nações mais avançadas dominam as outras. A Grécia, apesar de ter sido anexada ao Império Romano, influenciou fortemente a cultura do invasor, até em seus deuses! No século XIX, a Inglaterra difundiu suas ideias, seguida pela França. E desde o fim da 2ª Guerra Mundial, o Ocidente é fortemente influenciado pelos Estados Unidos.

O principal mecanismo da dominação cultural dos Estados Unidos é o cinema, a televisão e a música. Basta olhar ao redor e ver como nos vestimos, comemos e até nos comportamos.

A IA pode levar a dominação cultural a um patamar inédito, ao incorporarmos suas respostas diretamente e sem filtros a nossas ações. De uma tacada só, passamos a consumir e a disseminar conceitos e valores de outro país.

A própria interface dessas plataformas favorece isso. Pela primeira vez na história, algo que não é humano consegue conversar consistente e convincentemente, como se fosse outra pessoa. Isso favorece a antropomorfização da IA, ou seja, passamos a atribuir características humanas a uma máquina, e assim absorvemos o que ela nos dá de maneira ainda mais direta, sem questionamentos.

De uma forma bastante ampla e talvez nociva, a IA pode nos aproximar da “aldeia global” do filósofo canadense Marshall McLuhan, que propôs em 1962 o fim de fronteiras geográficas e culturais. Ele acreditava que isso aconteceria pela influência dos meios de comunicação, o que aconteceu apenas timidamente. Agora, com a IA, isso pode finalmente acontecer, com o que tem de bom e de ruim.

Altman sabe disso! Seu artigo defende abertamente que os Estados Unidos liderem uma coalização internacional para manter sua hegemonia contra a ascensão de valores de nações autoritárias, graças à IA.

Para aqueles, como nós, que estão muito mais em posição de dominados que de dominadores, esse alerta serve para entendermos como a nova ordem mundial será construída nos próximos anos.

Qualquer que seja o vencedor dessa corrida, é preciso que existam leis em todos os países que exijam responsabilização no uso e desenvolvimento da inteligência artificial, seja pelas empresas, pelos governos e pelos usuários. Não podemos repetir o erro cometido com as redes sociais, que racharam a sociedade ao meio por não se sentirem responsáveis pelo que acontece em suas páginas.

Quanto a nós, resta investirmos pesadamente em letramento digital das pessoas, para que elas possam aproveitar consciente e criativamente os recursos dessa incrível tecnologia, tentando evitar tal dominação cultural. E essa não é uma tarefa fácil!

 

EUA e outros países ocidentais acusam Pequim de espionar seus cidadãos pelo aplicativo - Foto: divulgação e reproduções

TikTok vira arma na escalada da tensão entre Ocidente e China

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O TikTok cozinha em fogo alto no caldeirão das crescentes tensões políticas entre países ocidentais e a China. Após ser proibido em celulares corporativos de órgãos públicos de EUA, Canadá, vários países europeus e Nova Zelândia, o aplicativo corre o risco de ser banido dos smartphones pessoais de todos os americanos. Mas por que uma plataforma de vídeos curtos de amenidades está enfrentando isso?

Tudo passa pelo temor de que a chinesa ByteDance, criadora do TikTok, compartilhe os dados dos usuários coletados pelo aplicativo com o governo de Pequim. Apesar de a empresa rejeitar categoricamente fazer isso, ninguém consegue afirmar ou negar que exista essa colaboração. Portanto, não se sabe quanto dessas preocupações são fatos, paranoias ou mero teatro político.

O debate fica mais quente quando se observa que os dados coletados pelo TikTok são basicamente os mesmos que os de qualquer rede social, a maioria delas americanas, como Facebook ou Instagram. O mesmo pode ser dito dos sistemas operacionais Android e iOS, que gerenciam nossos smartphones e que, por si só, nos rastreiam de diferentes formas. E essas empresas colaboram com governos.

Grupos de usuários que não querem perder acesso ao TikTok afirmam que tudo isso não passa de hipocrisia, e que o banimento do aplicativo violaria seus direitos.


Veja esse artigo em vídeo:


A ByteDance naturalmente não quer perder esses mercados, por isso vem acenando com várias mudanças para mitigar tais temores, como hospedar os dados dos usuários americanos em servidores no país, e ter seu código revisado por autoridades locais. Em um caso extremo, o TikTok poderia ser vendido e se tornar uma empresa independente.

“Como tudo o que envolve um governo autoritário, é difícil dizer o quanto é verdade e o quanto é ficção ou retórica nos medos ocidentais em relação ao TikTok”, explica Marcelo Cárgano, especialista em direito digital no escritório Abe Advogados. “Mas é fato que há pouca transparência em relação a um eventual compartilhamento de dados entre a empresa e o governo chinês”.

Não é a primeira vez que suspeitas de espionagem recaem sobre empresas chinesas. O ex-presidente americano Donald Trump gostava de acusar a Huawei disso e fez pressão internacional para que países não adotassem seus equipamentos para suas redes de celulares 5G. Mas não teve muito sucesso em sua campanha.

Apesar de o Brasil estar passando por um amplo debate sobre a regulação das plataformas digitais, especialmente para tentar coibir a desinformação, não há nenhum movimento especificamente contra o TikTok. Vale lembrar que, ao contrário desses países, o Brasi não tem restrições políticas ou comerciais contra a China, que, aliás, é nosso principal parceiro de negócios no mundo.

Todos esses países têm mecanismos legais que exigem cooperação de empresas em seus territórios em temas ligados a segurança nacional. Mas, na opinião pessoal de Rubens Kuhl, instrutor de governança de Internet do NIC.br, há diferenças na disposição das empresas de cooperar, mesmo nos EUA. “Já na China, a cultura é tipicamente de cooperação, então um pouco dessa preocupação se justifica, apesar das bases legais serem bem similares”, acrescenta.

 

Riscos reais aos usuários

Além da premissa central do compartilhamento de dados dos usuários com o governo chinês não ter sido comprovada, há dúvidas sobre o risco que a coleta de informações poderia representar às pessoas.

Kuhl explica que, como há a identificação de onde a pessoa está, haveria riscos físicos. Além disso, informações derivadas de interesses e de informações de contatos poderiam causar riscos reputacionais.

A situação fica mais grave em celulares corporativos de empresas e de órgãos governamentais. Em tese, informações sensíveis dessas instituições poderiam ser passadas à administração de um país hostil. É por isso que, até o momento, o TikTok foi banido apenas desses equipamentos.

Outro temor é que o TikTok seja usado para promover a desinformação entre seus usuários, especificamente algo associado a interesses chineses. Em uma situação extrema, serviria como ferramenta de um governo autocrático para inocular mensagens antidemocráticas em usuários contra seus próprios países.

Novamente nesse ponto é importante lembrar que algumas das principais plataformas para disseminar fake news –o Facebook, o WhatsApp e o YouTube– são de empresas americanas. E os agentes da desinformação nessas plataformas podem ser cidadãos e governos de qualquer país, inclusive dos próprios EUA, como tem acontecido nos últimos anos, até no Brasil.

Precisamos pensar também que muita gente está alheia a todo esse debate e nem sonha em deixar de usar o TikTok ou qualquer outra plataforma de sua preferência. Bilhões de pessoas no mundo usam esses sistemas para se divertir, se informar e até trabalhar.

Banir um aplicativo como esse representaria, portanto, um grande prejuízo a essas pessoas. Por isso, grupos de defesa de liberdades individuais nos EUA estão se posicionando contra as proibições. “Nos EUA, qualquer banimento total do aplicativo certamente desencadeará uma discussão a respeito da constitucionalidade de tal medida face à Primeira Emenda da Constituição americana, que protege, entre outras questões, a liberdade de expressão”, explica Cárgano.

No meio do fogo cruzado da política internacional, estamos nós, os usuários. E temos que fazer o que estiver a nosso alcance para proteger nossos interesses. Não encaro o TikTok como um braço de um “império maligno”, nem pior ou melhor que outras redes sociais. Então, como em toda plataforma digital, minha sugestão é compartilhar apenas informações necessárias para que você obtenha os benefícios que ela oferece. Isso exclui, no caso do TikTok, sua localização e seus contatos.

Precisamos entender que nossas ações em qualquer rede social são construções em um terreno instável e que não é nosso. As regras mudam a toda hora e nem conhecemos seus detalhes. Por isso, muita gente vai do sucesso ao ostracismo digital e nem sabe por quê.

No final das contas, devemos usar esses recursos com consciência, pois as redes sociais são as máquinas de convencimento e de coleta de informações mais perfeitas já criadas. Não dá para escapar totalmente de sua influência, mas podemos pelo menos tentar não ser feito de bobos. E a influência do país de onde a empresa vem acaba ficando pequena diante de tantos interesses envolvidos.

 

As ameaças à (e da) Internet

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O aplicativo TikTok, da chinesa ByteDance, vem se destacando nas manchetes nas últimas semanas. E não é só porque ele se tornou o app mais instalado nesses meses de pandemia: de janeiro a junho, foram 315 milhões de instalações, o melhor desempenho de um app na história. O principal motivo foi ter sido alçado à posição de estrela na guerra que o presidente americano, Donald Trump, trava com a China, visando sua reeleição em novembro.

Mas o que um aplicativo de vídeos curtos pode ter de tão importante? Quanto das acusações de Trump são verdadeiras? E principalmente como isso impacta a vida de cada um de nós?


Veja esse artigo em vídeo:


Shakespeare escreveu: “há mais coisas no Céu e na Terra que foram sonhadas na filosofia”. Esse famoso trecho de Hamlet é muito propício ao momento.

Trump, como sempre, cria uma cortina de fumaça para esconder suas reais intenções. Mas há muito, muito mais em jogo, muito além até dos mesquinhos interesses do mandatário americano.

Algo que nos afeta a todos.

Primeiramente vamos contextualizar a história para quem não sabe do que se trata.

O TikTok vem sendo acusado de coletar muitas informações dos usuários, e de uma maneira mais sorrateira que o normalmente feito pelos aplicativos que instalamos despreocupadamente em nossos celulares. Até a famosa rede de hackers Anonymous chegou a levantar essa bandeira em julho.

Trump enxergou nisso uma oportunidade de fustigar ainda mais a China. Ele começou a afirmar, sem nenhum embasamento, que, além de coletar nossos dados, o TikTok os repassa ao governo chinês, como uma poderosa ferramenta de controle da população mundial.

A empresa e até o governo de Pequim sempre negaram isso. A plataforma até contratou, em maio, o americano Kevin Mayer como seu principal executivo, nunca tentativa de demonstrar que o TikTok é independente de seu país de origem.

Trump então ameaçou banir o TikTok do território americano. Foi quando, na semana passada, apareceu na história a Microsoft. A gigante do software disse que gostaria de comprar as operações do TikTok nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia. Ainda que relacionado a apenas esses países, isso lhe daria acesso aos códigos do programa.

Trump resolveu interferir na relação comercial entre duas empresas, o que é, no mínimo, inadequado. Em primeiro lugar, deu 45 dias para que a transação acontecesse. Depois disse que a compra deve ser total. E, por fim, o mais bizarro: disse que, qualquer que seja o valor que a Microsoft pague à ByteDance, uma “grande parte” deve ir para os cofres do governo americano: afinal, ele estaria permitindo que o negócio se concretizasse.

Parece que a conhecida liberdade empresarial americana virou fumaça, em uma narrativa digna de um ditador.

Mas, como já dito, essa história esconde um monte de elementos que vão muito além de Trump, do TikTok e da Microsoft. Coisas que nos afetam profundamente como cidadãos e como profissionais.

Quando eu comecei a desenvolver produtos digitais, bem lá no começo da Internet comercial, em 1995, ela despontava como um espaço idílico em que os dados trafegariam livremente, em que pequenos teriam o mesmo espaço dos gigantes, um mundo de oportunidades infinitas e democráticas.

Infelizmente aquela utopia se dissipou em poucos anos.

O tráfego livre dos dados se tornou um negócio de grandes conglomerados que descobriram maneiras cada vez mais eficientes para coletar nossos dados e organizá-los para serem transformados em informações comerciais valiosíssimas. Ou seja, a terra digital do “amor livre dos dados” rapidamente foi dominada por quem tinha muito dinheiro, de uma maneira que transformou profundamente nossas vidas.

O casamento dos smartphones com as redes sociais

O auge disso começou com a combinação de duas coisas. A primeira foram os smartphones, graças ao seu poder computacional imenso, que carregamos conosco o tempo todo. São a máquina perfeita de espionagem, pois nossa vida hoje acontece neles. A segunda foram as redes sociais, que criaram algoritmos e maneiras de convencimento para que compartilhemos alegremente todo tipo de informação pessoal.

Na verdade, essa combinação provocou uma incrível mudança cultural, em que sabemos que estamos sendo rastreados, mas que aceitamos que nossos dados sejam levados e usados, em troca de serviços supostamente gratuitos que essas empresas nos oferecem.

Trump sabe muito bem disso. Sua eleição como presidente dos Estados Unidos é parcialmente creditada a esse controle. Em março de 2018, explodiu o escândalo da empresa de marketing político britânica Cambridge Analytica. Ela foi contratada pela equipe da campanha de Trump para ajudá-los a convencer os americanos a votar no milionário. Para isso, a empresa roubou dados de 87 milhões de usuários do Facebook e os manipulou para, entre outras coisas, uma enxurrada de disparos em massa de fake news favoráveis a Trump.

O Facebook é a grande estrela nesse mundo de captura de informações dos usuários para fins às vezes inconfessáveis. Ninguém está mais bem posicionado que ele para isso.

Tanto que, na semana retrasada, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, foi sabatinado por deputados americanos sobre o poder imenso de sua empresa, em um processo que pode levar à divisão da companhia em empresas menores. E ele não estava sozinho: também foram questionados Sundar Pichai, CEO do Google, Tim Cook, CEO da Apple, e Jeff Bezos, CEO da Amazon.

Ou seja, o TikTok é só a bola da vez, que ganhou destaque pela sua rápida adoção, mas também por causa de Trump.

Ele coleta nossas informações? Com certeza!

Ele faz isso de maneira mais agressiva e mais furtiva que outros aplicativos, como o Facebook? Há suspeitas não confirmadas.

Ele entrega nossas informações ao governo chinês? Não há nada sério que sugira isso.

Apagar o aplicativo vai nos deixar protegidos de ladrões de dados? Claro que não! No máximo, isso nos protegeria da ByteDance, mas não dos desenvolvedores de todos os outros aplicativos em nosso celular.

Não há inocentes nessa história! Talvez os mais inocentes sejamos nós mesmos, os usuários, que entregamos graciosamente a nossa informação para aplicativos que nos dizem como ficaremos mais velhos ou com qual celebridade nos parecemos.

É a versão do século XXI dos índios que, no início da colonização, trocavam toras de pau-brasil que cortavam por espelhinhos presenteados pelos portugueses. Hoje, com nossos dados, sim, governos podem mudar o eixo de influência geopolítica do mundo.

Outra empresa chinesa que vem sendo pesadamente alvejada por Trump é a Huawei, que hoje lidera a tecnologia 5G, próxima geração de transmissão de dados por celular. O presidente americano usa seu poder para que governos do mundo todo impeçam que equipamentos da Huawei sejam adotados por empresas nesses países. Ele sabe que a nação da qual venha a tecnologia 5G dominante terá monstruosa influência política e econômica no mundo na próxima década, no mínimo. Sem falar no oceano de dinheiro que isso vai gerar, pelos royalties, licenças, compras de equipamentos e suportes.

E, no meio de tudo, estamos nós, como pessoas e como empresas.

Não sejamos otários! Não compremos brigas que não são nossas!

A verdade é que, infelizmente, continuaremos sendo colonizados. Enquanto o Brasil não investir seriamente em pesquisa, incluindo aí pesquisa de base, sempre estaremos à mercê de tecnologias de outros países, com tudo que isso traz. E nós, ao invés de avançarmos na ciência, temos dado largos passos para trás nos últimos anos!

É duro dizer isso! Mas é a verdade.

A questão é saber se continuaremos sendo colonizados pelos Estados Unidos ou se passaremos cada vez mais a ser colonizados pelos chineses. Uma vez que não conseguimos declarar até hoje a nossa independência, temos que ver, pelo menos, o que é o melhor para cada um de nós.

Quanto ao TikTok, use por sua conta e risco. Você não irá para o Inferno se continuar dançando na frente da tela com ele.

O que mais vem da China?

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Nunca se falou tanto da China quanto desde o começo do ano!

Por conta da pandemia de Covid-19, o gigante asiático ganhou um destaque global ainda maior que o que naturalmente já tem. É alvo de todo tipo de teorias da conspiração, por ter sido o país onde o novo coronavírus surgiu, e pela guerra particular contra ele do presidente americano, Donald Trump, que busca a reeleição.

A despeito de tudo isso, a China foi um dos primeiros países do mundo a relaxar as medidas de distanciamento social, que lá foram muito mais severas que aqui. Mas, por isso mesmo, duraram menos de um mês.

Hoje o país é um dos que lideram a corrida por uma vacina contra o vírus. Eles também desenvolveram hábitos e tecnologias que podem ser muito úteis no mundo pós-pandemia, inclusive para nós.

O que os chineses estão fazendo que nós podemos copiar?


Veja esse artigo em vídeo:


A China é o maior parceiro comercial do Brasil no mundo. O país asiático tomou esta posição dos Estados Unidos em 2009, e não perdeu mais. Segundo o Ministério da Economia, em 2018, o comércio entre China e Brasil foi de US$ 98,6 bilhões, com superávit para o Brasil de US$ 29,2 bilhões.

Já foi o tempo em que a China era um mero reprodutor de versões baratas e de baixa qualidade de produtos ocidentais, os chamados “Xing Ling”. Sim, a China ainda exporta todo tipo de quinquilharias para o mundo todo. Mas o país é hoje dono de uma das indústrias tecnológicas mais pujantes do planeta, em todos os segmentos.!

No mundo pós-pandemia -pelo menos para eles- algumas novidades podem indicar caminhos a ser seguidos por outros países.

Um estudo realizado pela consultoria Inovasia entre 2 de abril e 15 de junho identificou várias dessas inovações.

Um deles é o pagamento digital pelos celulares. Em uma época em que o contato se tornou um fator potencial de contágio, até o cartão de crédito nas mãos de um lojista ou de um entregador é visto com receio por alguns. Portanto os meios digitais de pagamento crescem fortemente e os pagamentos por aproximação do celular estão consolidados lá. Aqui no Brasil, isso ainda está começando.

Os superapps chineses, como WeChat e AliPay, concentram o processo, algo que também está engatinhando aqui, com operações locais. Dessa forma, dinheiro em papel é cada vez mais raro na China, o que é muito bem-vindo, pois as notas sempre foram instrumentos de propagação de doenças, e não só de Covid-19.

Nessa mesma linha, empresas que ofereçam produtos que não exijam contato com o público ganham espaço. Até o mundo do trabalho deve ir por esse caminho, com menos reuniões em salas fechadas. Aliás, trabalho remoto, sempre rejeitado por muitos, se tornou uma possibilidade vantajosa! O mesmo se observa com o ensino à distância. Mesmo com as escolas reabrindo, parte do público preferiu continuar com as aulas online.

A tecnologia é essencial nesse ponto, com a adoção de equipamentos que ajudam em atividades como telemedicina, além de realidade virtual e realidade aumentada.

O varejo de agora em diante

O varejo também se beneficiou da tecnologia. Não apenas pelo crescimento explosivo do e-commerce, mas pela consolidação do chamado shopstreaming. Trata-se de lives em que vendedores ou celebridades apresentam produtos ao vivo, para que os consumidores tirem dúvidas e façam compras na hora.

Segundo o instituto iMedia Research, o “comércio ao vivo” movimentou US$ 63 bilhões na China, em 2019. Com a pandemia, este número deve saltar para US$ 135 bilhões em 2020.

A Inovasia aponta uma coisa interessante nisso: o apresentador não deve ser uma celebridade qualquer, paga para só “puxar o saco” da marca! O que realmente funciona é um influenciador que seja um especialista no produto, que pode falar com propriedade sobre ele. A agência de comunicação Dentsu Aegis Network indicou que mais de 90% dos gestores aumentarão seu investimento em influenciadores digitais, e 80% melhorarão sua infraestrutura de e-commerce.

Outra tendência ligada ao varejo é a entrega em menos de uma hora. Isso já existe na China há uns cinco anos, mas ficou muito mais importante agora. A consultoria britânica Real Capital Analytics indica que imóveis em bairros de Pequim, Xangai e Shenzhen que são atendidas por supermercados que entregam em até 30 minutos tiveram valorização média de 10% só por essa facilidade.

Outra tendência chinesa ligada ao varejo que se vê timidamente por aqui é a preferência pelo comércio local. Com um consumo mais consciente, as pessoas procuram comprar de pequenos varejistas do próprio bairro, como uma maneira de ajudá-los. Além disso, a Inovasia identificou um crescimento por marcas nacionais, em detrimento de produtos importados.

A alimentação dos chineses também ficou mais saudável. Alimentos frescos estão sendo mais buscados, em detrimento dos congelados. As pessoas também estão cozinhando mais em casa, outra coisa que se observa no Brasil.

Os chineses também estão se exercitando mais, porém não em academias, por serem locais fechados. Cresceu a compra de produtos para atividades físicas na residência.

Do ponto de vista de mobilidade, assim como no Brasil, a venda de carros desabou por lá durante a pandemia: 89% de queda! Mas, com a retomada das atividades, muitas pessoas voltaram a comprar carros. O motivo é não querer usar o transporte público, um foco de contágio.

Além das onipresentes bicicletas, quando o carro se faz necessário, os chineses estão preferindo os veículos LSV, ou Low Speed Vehicles. São carrinhos parecidos aos de campos de golfe, totalmente elétricos, conectados e que se movem a, no máximo, 40 km/h. A sua autonomia varia entre 40 km e 90 km e seu tempo de carregamento é de apenas três horas.

Assim como aconteceu no Brasil, a China experimentou uma explosão de “fake news” durante a pandemia, disseminadas principalmente por redes sociais. E, assim como aconteceu no Brasil, os veículos de comunicação tradicionais emergiram como fontes confiáveis para combater a desinformação. Os mais jovens tiveram um papel interessante nisso, ajudando parentes e amigos mais velhos a separar as notícias falsas de material produzidos por veículos sérios.

Precisamos melhorar muito nisso aqui no país.

Não tem volta!

É interessante observar que essas mudanças vieram para ficar, mesmo entre os “late adopters”. Segundo a consultoria chinesa ChoZan, esse público é, em geral, formado por homens acima de 50 anos, com pouca intimidade com smartphones e que têm medo de sofrer golpes online. O mesmo raciocínio se aplica a empresas que, por questões culturais, não sentiam a necessidade de oferecerem seus produtos digitalmente.

A pandemia forçou todos a mudar de postura. E o fim da crise sanitária no país não fez o comportamento dos “late adopters” retornar ao estágio pré-Covid. O motivo principal para a mudança de postura é que seus temores não se concretizaram: a coisa “deu certo”! No caso das empresas, houve aumento de receita em 87% dos casos. O consumo, aliás, voltou com força após o isolamento, porém mais consciente, incluindo evitar dívidas de longo prazo.

Como se pode ver, a China pós-pandemia traz caminhos interessantes, que podem nos ajudar também. Cabe a nós aproveitar essas ideias da melhor maneira possível.

Vale lembrar que se trata de um país em que as liberdades individuais são restritas e que a arapongagem é algo comum e até aceita. Por exemplo, todo cidadão é obrigado a informar, em um aplicativo, viagens intermunicipais e sintomas de saúde às autoridades. O sistema, que roda nos superapps WeChat e no AliPay, confere classificações verde, amarelo e vermelho a cada cidadão, determinando seu grau de liberdade de circulação.

Fica a questão se queremos fazer algo assim por aqui. O histórico do governo brasileiro de proteção aos próprios cidadãos não anda muito favorável. Devemos estar atentos para que o governo brasileiro não passe dos limites.

Temos muito que aprender com os chineses! Vamos então adotar as coisas positivas que vêm de lá. E aprender o que não fazer com o que não é legal.

Videodebate: o robô vai substituir até o seu corpo

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A crise está brava! Se isso já não bastasse para criar incertezas e grandes dificuldades para todos, os robôs e os sistemas de inteligência artificial estão cada vez mais eficientes na execução de tarefas que antes eram exclusivas dos humanos. Em alguns casos, são até mesmo capazes de simular os corpos dos trabalhadores!

O que vai sobrar para nós fazermos?

Muita calma nessa hora! Sim, é verdade que a substituição de trabalhadores por robôs só cresce. Mas nem tudo está perdido.

Nesse cenário, despontam duas certezas: o que puder ser automatizado será, e não dá para continuar na zona de conforto. Quem quiser não apenas sobreviver a essa nova revolução, como ainda aproveitar o momento para se destacar precisa fazer as coisas de maneira diferente.

Quer saber como? Veja no meu vídeo abaixo! E depois compartilhe aqui com todos como você vê esse avanço da tecnologia sobre os trabalhos, e como superar isso.

Ou então fique continue na mesma, e aguente as consequências.


Videodebate: o governo está de olho em você!

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O que vale mais para você: sua segurança ou sua privacidade?

Você abriria mão dessa última para se sentir mais seguro? Muita gente diria que sim.

Vivemos uma realidade em que, cada vez mais, câmeras nos observam o tempo todo, em todo lugar. Na liderança mundial, a China já tem 200 milhões delas!

E se isso fosse imposto a você, e talvez você nem soubesse? E mais: e se esse controle começasse a comprometer o seu direito de viver sua vida como acha melhor? Ainda é um preço a se pagar por mais segurança?

O presente começa a se parecer com o mundo sombrio descrito pelo livro “1984”, de George Orwell, em que todos são doutrinados a ter um pensamento único e são controlados pelo governo por câmeras. A diferença é que agora, além das câmeras, há ainda a inteligência artificial nos vigiando.

Dá para ter segurança sem que sejamos manipulados? Veja a resposta no meu vídeo abaixo. E depois vamos debater sobre isso aqui nos comentários.



Videodebate: o governo controla você?

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Não olhe agora, mas o governo está rastreando você! Ele sabe onde você está, o que você pensa, com quem você anda, o que você lê, o que você compra, e muito mais. Tudo isso permite que ele determine, segundo suas regras, se você é um bom cidadão. E os “bons” passarão a ter uma vida mais fácil, enquanto os “maus” enfrentarão dificuldades crescentes. Loucura? Não se você mora na China! Esse sistema já está em testes por lá, e é um fato: não se trata de teoria da conspiração. Quanto disso também acontece no Brasil? E será que o governo está sozinho nesse jogo de controle social da população? Entenda melhor isso assistindo ao meu vídeo abaixo. E depois vamos debater o tema aqui 🙂



Como será quando um robô tomar seu trabalho?

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Foto: Visualhunt/Creative Commons

Podemos estar assistindo à gestação de uma crise de empregos global sem precedente. A troca de pessoas por máquinas na indústria não é uma novidade, mas isso já se observa também em todos os setores da economia, e com uma taxa de adoção cada vez mais intensa. Não se trata só do velho embate “máquina versus humanos”: chegará o momento em que a maioria das atividades produtivas será feita por robôs? Mais dramático que isso: quando isso acontecer, as pessoas ainda terão uma função na sociedade e meios para se sustentar?

Já debatemos aqui o fato de muitos profissionais e empresas estarem se tornando obsoletos diante de novas iniciativas que oferecem produtos ou serviços melhores e mais baratos. O enfoque, naquele outro artigo, era de pessoas ocupando o lugar de outras pessoas, auxiliadas pela tecnologia. E já foi o bastante para muita gente conversar comigo sobre sua preocupação com o tema. Mas a revolução mais comovente deve vir das máquinas, justamente por tirarem o ser humano da equação.


Vídeo relacionado:


Na semana passada, a Foxconn, empresa chinesa que monta os iPhones, substituiu 60 mil postos de trabalho da sua unidade na província de Kunshan por robôs. Mesmo em um país acostumado a quantidades superlativas, é muita gente perdendo o emprego: 55% do total da fábrica.

A empresa diz que, “a longo prazo”, não haverá diminuição de postos de trabalho, pois funcionários poderão passar a fazer atividades mais nobres e menos repetitivas. Esse é o discurso típico de quem automatiza uma linha de montagem. Mas o fato é que, a curto prazo, o pessoal foi para a rua mesmo! Tudo para reduzir custos e atender metas de produção da Apple. E não há nenhuma garantia que essas pessoas sejam reaproveitadas pela empresa. Pior: não se sabe sequer se serão mesmo capazes de aprender as tais tarefas “mais nobres”.

Naturalmente algumas profissões estão mais em risco que outras. A BBC criou um infográfico interativo a partir de uma pesquisa da Universidade de Oxford, que avalia os riscos de automação de 365 profissões nos próximos 20 anos. Apesar de levar em consideração dados do Reino Unido, os resultados podem ser extrapolados para profissionais de todo o mundo. Mais cedo ou mais tarde, a automação impactará quase todos, mas a pesquisa de Oxford demonstra que, para algumas profissões, isso já acontece e de uma maneira absolutamente determinante, forçando categorias inteiras de profissionais a se reinventar.

Impossível não pensar na Revolução Industrial, cujos raízes remontam na Inglaterra do século 18, e os processos industriais acabaram por quase extinguir os artesãos de diferentes segmentos. A transição para um novo formato social e econômico foi traumática, contando até com o surgimento de movimentos que resistiam à automação, como o ludismo.

Porém, apesar de todo aquele drama, o mundo acabou se reorganizando, com uma grande evolução da humanidade. Os artesãos realmente ficaram para trás, mas as pessoas encontraram um novo caminho.

Mas qual será o caminho a seguir agora?

 

Futuro Blade Runner?

A mesma tecnologia que extingue profissões cria outras completamente novas.

Por exemplo, estamos assistindo ao fortalecimento do Movimento Maker, em que pessoas começam a produzir, até mesmo em casa, coisas incríveis e tecnologicamente sofisticadas. Além disso, a tecnologia digital também permite que paradigmas sejam quebrados, subvertendo modelos de negócios consolidados há décadas. O fenômeno dos youtubers, por exemplo, já pode ser considerado uma ameaça à TV, especialmente se olharmos para o público mais jovem. E a economia compartilhada já deixou de ser uma tendência para fazer parte da vida de milhões de pessoas, para desespero de donos de negócios tradicionais, que ganharam novos e eficientíssimos concorrentes (a guerra do Uber contra os táxis é um dos exemplos mais notáveis disso).

Seria ótimo se todo esse pessoal que perdeu o emprego para os robôs conseguisse pular nesse novo barco. Mas sejamos realistas: são poucos aqueles que conseguiriam fazer isso. E haveria mercado para todos? Usando o próprio YouTube como exemplo, existem uns poucos milionários da plataforma, e um mar de microprodutores de vídeos que nunca ganharão dinheiro com isso, nem mesmo sairão do anonimato.

A turma de 40 anos ou mais deve se lembrar do filme Blade Runner, de 1982, em que as ruas de uma Los Angeles decadente de 2019 eram tomadas por engenheiros genéticos que criavam seres artificiais para lucrar ou simplesmente se divertir. É isso que nos espera?

E qual a saída para quem não se encaixa em nada disso?

 

Sobrevivendo à automação

No dia 5 de junho, 78% dos suíços rejeitaram, em plebiscito, uma ideia de renda mínima para todo cidadão do país. Pela proposta, cada adulto receberia mensalmente 2.500 francos suíços (R$ 9.000), estando empregado ou não, enquanto cada criança receberia 625 francos suíços (R$ 2.260). Para quem trabalha, a medida faria diferença apenas para quem ganhasse menos que os R$ 9.000 (o salário médio na Suíça gira em torno de R$ 21.700).

Para os criadores da proposta, ela permitiria que as pessoas pudessem se concentrar em atividades que gostassem, e até mesmo voluntariado. E, de quebra, resolveria o problema de desempregados pela adoção de robôs. Acabou sendo rejeitada porque os suíços preferiram manter outros benefícios sociais que já têm (que seria substituídos pela renda mínima). Além disso, o governo temia que a proposta enfraquecesse o serviço público, aumentasse impostos e prejudicasse o consumo.

É pouco provável que uma proposta como essa seja viável no Brasil. Apesar de já ser lei aqui desde 2004, ainda não está valendo porque não foi regulamentada. Os principais entraves são caixa para se pagar um valor que permita um bem-estar efetivo aos eventuais beneficiados, o tamanho da população brasileira e a nossa corrupção endêmica.

Então, já que a renda mínima não passou nem na rica Suíça, os profissionais precisam dar seu jeito para fazer frente à invasão dos robôs no mercado de trabalho. E ironicamente a melhor maneira de se fazer isso é ser cada vez mais humano.

Os robôs são imbatíveis em tarefas que exigem precisão, repetição e montagens complexas. Mas eles são muito fracos em qualquer atividade que envolva relacionamento social, decisões diante de imprevistos, correr riscos e valer-se de sentimentos.

Trocando em miúdos, vale a pena investir em profissões cujas tarefas não possam ser descritas e controladas por algum tipo de programa de computador. Todo o resto caminhará cada vez mais rapidamente para os robôs.

Ou seja, faça o que os robôs não podem fazer. Pelo menos não ainda.

Além disso, profissionais têm a obrigação de se manter atualizados. Foi-se o tempo em que o que se aprendia na faculdade era garantia de um bom desempenho profissional até a aposentadoria. Com avanços tecnológicos e sociais galopantes, é preciso estar sempre estudando. Essa ação é inegociável.

Da mesma forma, as empresas têm o dever de incentivar a iniciativa e a inovação em seus quadros. Prestar atenção no que seus próprios funcionários e consumidores dizem pode ser muito mais valioso que qualquer robô. O mundo está em constante mudança e novas oportunidades podem estar a uma quadra ou do outro lado do planeta.

Por tudo isso, a melhor maneira de garantir seu lugar ao sol em uma sociedade cada vez mais automatizada é exercendo sua humanidade. Não será necessário se comportar como os luditas, e sair quebrando todas as máquinas pelo caminho para passar por mais essa Revolução Industrial.


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Na China, dedurar o vizinho pode virar um bizarro game da vida real

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Foto: Jonathan Kos-Read/ Visual Hunt/Creative Commons

A partir de 2020, todo cidadão chinês terá o seu “crédito social”, um número constantemente atualizado que identificará quanto cada indivíduo se alinha ao que o governo considera “boas práticas de um cidadão confiável”. Quem tiver bons números será recompensado; os de escore baixo serão punidos.

Essa ferramenta de controle social parece saída do livro “1984”, de George Orwell, mas é muito mais sofisticada que os sonhos mais sórdidos do Big Brother. A faceta mais cruel do sistema é que, em nome de ter uma boa pontuação, as pessoas serão tentadas a controlar seus familiares e amigos, para que “andem na linha”. O motivo: o placar de um indivíduo poderá influenciar no do outro. Assim, se você se relacionar com um “mau cidadão”, perderá parte dos seus pontos, que conseguiu dando duro ao seguir a cartilha chinesa.

O sistema funcionará de maneira semelhante aos sistemas de análise de crédito usados pelos bancos: se o indivíduo tem um trabalho estável, um bom salário, um bom histórico de pagamentos, os bancos tendem a considerá-lo uma pessoa confiável para lhe conceder crédito, pois o risco de dar o calote tende a ser menor. Pessoas com números ruins nesses indicadores têm menos acesso a crédito.

A ideia chinesa teria surgido justamente do fato de aquele país ter um sistema de análise de crédito frágil, com uma parcela imensa da população sem histórico no assunto. A diferença é que a proposta evoluiu rapidamente para uma análise muito mais profunda do indivíduo.

Por exemplo, comprar ferramentas sugere que o indivíduo é “trabalhador”, o que aumentaria o seu placar; comprar videogames pode indicar um “comportamento desleixado”, derrubando o índice. Republicar noticiário oficial é positivo; mencionar o “Massacre da Praça da Paz Celestial” é horrivelmente negativo. Pagar os impostos corretamente é muito bom; levar multas de trânsito nem tanto. Participar de programas de controle de natalidade é legal; ler mangás é subversivo.

Mas ao contrário das análises de crédito ocidentais, que costumam ser restritas ao sistema financeiro, a proposta chinesa será pública e os cidadãos serão encorajados a escancarar os seus números, que variarão de 350 a 950. Isso porque, com essa informação, poderão ter acesso a benesses no seu cotidiano.

A China está “gamificando” a obediência do cidadão!

 

Serve até para namorar

Um indivíduo que tiver um escore de 650 poderá, por exemplo, alugar um carro sem deixar um depósito. Já alguém com 700 pontos poderá “furar a fila” na burocracia para viajar para fora do país. Placares mais altos ainda serão exigidos para se conseguir os melhores empregos. Já quem tiver um escore baixo pode ser impedido de comprar alguns produtos e ter a velocidade da sua Internet reduzida.

O sistema governamental ainda não existe, mas os políticos chineses autorizaram oito companhias a criar programas que caminham nessa direção. O que tem conseguido mais repercussão é o Sesame Credit, criado pelo braço financeiro da gigante Alibaba, o maior varejista online do mundo, que se baseia no histórico de itens adquiridos e pagamentos em dia.

Aliás, “Sesame” vem do personagem Ali Babá. “Abre-te, Sésamo!” Lembram disso?

Esses escores já estão sendo usados para fins no mínimo curiosos. O Baihe, maior serviço online de encontros da China, com 90 milhões de clientes, já exibe o Sesame Credit daqueles que o informarem. Zhuan Yirong, vice-presidente do site, explicou à BBC que “a aparência de uma pessoa é muito importante, mas é mais importante ela ser capaz de se sustentar”. Pois é.

Esses oito sistemas privados não pretendem ter a abrangência do futuro programa oficial, mas certamente funcionam como projetos-pilotos para ele. Apesar de ainda não existir, o projeto já está bem documentado pelo próprio Partido Comunista. Ele traz frases como “estabelecer a ideia de uma cultura de sinceridade e levar adiante sinceridade e virtudes tradicionais” e “gratificar a sinceridade e punir a falta de sinceridade”. Bom, estão sendo sinceros.

Ativistas de liberdades individuais e defensores de privacidade estão em polvorosa. Afinal, além de o sistema invadir a privacidade do indivíduo de uma maneira sem precedentes e ainda tornar o placar público, é capaz de fazer com que as pessoas passem a não se importar tanto com isso. Tudo porque a sensação repugnante de estar sendo controlado e punido é substituída pelo conceito de valorizar e presentear aqueles que “fazem tudo direitinho. Ou seja, o medo é substituído pelo afago. Mas, no final, é tudo a mesma coisa.

 

Dedos-duros

Tenho que admitir: isso é uma ideia de gênio! O Estado não apenas deixa de ser visto como o vilão da história, como ainda passa todo o trabalho de espionar os cidadãos aos próprios cidadãos! Que NSA nada! Isso dá trabalho, custa caro e ainda o governo fica péssimo na foto quando aparece um Edward Snowden para botar a boca no trombone e contar todos os podres.

Deixe que os próprios indivíduos coloquem amigos e familiares na linha! Afinal, quem vai querer ver sua família prejudicada por se associar a um “subversivo”? Se não for possível “convertê-lo”, então que seja relegado ao ostracismo. Assim, no seu isolamento, não incomoda os “cidadãos de bem” nem tampouco (e principalmente) o governo.

Assustador, não é?

Por outro lado, como ninguém pensou nisso antes?

Opa! Facebook e Google têm uma quantidade indescritível de informações sobre nós, que cedemos graciosa e alegremente toda vez que usamos os seus produtos. E continuaremos usando, pois deixam nossas vidas mais divertidas e gostosas.

Provavelmente já são muito mais eficientes que o monstro digital que o governo chinês imporá aos seus cidadãos em 2020. Mas, justiça seja feita, os propósitos dessas empresas são outros.

Certo?

Como dito, o sistema chinês ainda não existe. Talvez nem chegue a se materializar dessa forma. Mas essa possibilidade já está servindo para gerar uma importantíssima discussão sobre como empresas e governos podem extrapolar gigantescamente os limites do razoável graças à tecnologia e como ela é apresentada. E esse debate é fundamental para fortalecer a cidadania!

E –não– isso não acontece apenas na China. Neste espaço, temos discutido como empresas e políticos vêm tentando derrubar, aqui no Brasil, alguns dos maiores ganhos sociais garantidos pelo Marco Civil da Internet, como a “neutralidade da rede”.

Só espero que nenhum deputado espertinho em Brasília fique inspirado pelas ideias vindas da China.

 

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Até onde vai o vale-tudo na China?

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David Drummond, principal executivo jurídico do Google - Foto: divulgação

Drummond botou a boca no trombone, mas o que realmente há por trás da reação do Google?

Pergunte a qualquer grande empresário se ele gostaria de ter uma operação na China e a resposta provavelmente será sim. Entrar no gigante vermelho é quase como uma medalha de mérito, pois representa acesso a um mercado gigantesco e ainda com muito espaço, com custos de produção muito baixos que levam também a exportações para todo mundo de maneira muito competitiva.

Mas, há seis dias, David Drummond, principal executivo jurídico do Google publicou o post “uma nova abordagem para a China” no blog oficial da empresa, informando que a empresa e dezenas de outras foram alvos de ataques de hackers chineses. Até aí, nada demais. Mas o vice-presidente afirmou categoricamente que os ataques tinham, como alvo, contas de e-mail de ativistas de direitos humanos daquele país. Ainda que não tenha dito explicitamente, ficou no ar a ideia de que o governo chinês poderia estar por trás daquelas ações.

O Google afirma que, diante disso, mudará a postura de sua operação local, não mais aceitando a interferência e as regras do governo de Pequim, que obriga a empresa, por exemplo, a censurar os resultados de seu buscador, eliminando links para páginas que o governo considera contrárias a seus interesses. Quando foi anunciada, essa censura causou grande desconforto entre os usuários, inclusive maculando o mote informal do Google, “don’t be evil” (“não seja mau”).

Algumas empresas declararam apoio ao Google –como o Yahoo!– e outras nem tanto –como a Microsoft. E, apesar de a secretária de Estado do EUA, Hillary Clinton, ter dito que as acusações do Google “motivam preocupações e questionamentos muito sérios”, é pouco provável que o incidente provoque alguma crise política entre Washington e Pequim.

Vamos aos fatos! Qualquer empresa que quiser operar no mercado chinês tem que aceitar as regras e a interferência do governo local, e isso não vai mudar. Yao Jian, porta-voz do ministério do Comércio chinês já reiterou isso, após negar que o governo tenha relação com os ataques. Todas as empresas, de qualquer indústria, aceitam essa regra e os computadores vendidos no país vêm com um software-espião, batizado de Green Dam (“barragem verde”).

MAS… será que a China é a única “malvada”? Com toda essa gritaria, alguém se lembrou que as mesmas empresas também colaboram com o governo americano, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001? O próprio CEO do Google, Eric Schmidt, sugeriu publicamente, no fim do ano passado, que ninguém deve colocar na Internet algum tipo de informação da qual possa se arrepender, pois a privacidade total não existe. No final das contas, há mesmo uma diferença nas investidas dos governos dos EUA e da China contra a privacidade? E tem ainda o nosso senador Eduardo Azeredo e seu famigerado projeto de lei, que quer “regular” a Internet brasileira.

Como se pode ver, tá todo mundo com o rabo preso.

O que a “Green Dam” quer barrar

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Para o governo do premiê Wen Jiabao, a pornografia provoca "sérios desvios de conduta e de moral" nos jovens chineses, por isso, deve ser bloqueada

Para o governo do premiê Wen Jiabao, a pornografia provoca "sérios desvios de conduta e de moral" nos jovens chineses, por isso deve ser bloqueada, mas será só isso mesmo?

Hoje era a data definida pelo governo chinês para que todos os computadores domésticos vendidos no país viessem com o software “Green Dam-Youth Escort” pré-instalados. Pela explicação oficial, o programa impedirá que crianças e jovens tenham acesso a pornografia e outros “conteúdos impróprios” na Internet. Na prática, pode impedir que o internauta acesse qualquer tipo de conteúdo online que desagrade o governo, como sites que promovam a democracia, a libertação ao Tibete ou contrários ao Partido Comunista.

Desde que foi oficialmente anunciado no dia 9, o “Green Dam” (literalmente “barragem verde”) vem causado uma enorme gritaria. A única fabricante que confirmou que cumpriria a determinação foi a Acer. Os EUA, a Comunidade Européia e a OMC (Organização Mundial do Comércio) pediram que o governo chinês retirasse a exigência, que representaria um “sério risco à segurança, privacidade e direito de escolha do usuário”. Na sua véspera, a data-limite foi postergada, em data ainda não informada.

A pornografia é considerada crime na China. Ainda assim, estima-se que metade dos jovens consome algum tipo de pornografia online. O governo afirma que “graves desvios emocionais e de conduta” se devem a isso e ao uso de games violentos. Por isso, a “barragem” protegeria crianças e jovens.

Conversa fiada de ambos os lados! Privacidade, liberdade de expressão e de escolha são coisas que não existem na cabeça dos governantes de Pequim. Por outro lado, os 316 milhões de internautas chineses são um mercado em que qualquer empresa quer colocar as mãos. O que o indivíduo realmente quer pouco importa.

O usuário supostamente poderá desinstalar o “Green Dam”. Por outro lado, pais também poderão ampliar a lista de sites censurados para seus filhos. Mas, na prática, quantas pessoas são capazes de fazer isso?

Acho esse software mais uma aberração governamental contra as liberdades individuais. Sou fortemente contrário a ele, não por causa dessa conversinha dos EUA e da Europa, mas por um posicionamento filosófico, íntimo. Os chineses deveriam continuar navegando livremente, limitados apenas pela sua boa educação e moral. Mas receio que o seu governo prefira o jeito mais fácil –e confortável– e o “Green Dam” logo inundará os computadores do pais.

Uma ressalva final: não pensem que só o “gigante vermelho malvado” quer controlar a Internet. Nos anos 1990, o Congresso dos EUA, berço da liberdade e blá-blá-blá-etc., quase aprovou o “Ato de Decência nas Comunicações”, que, na prática, censuraria fortemente o conteúdo publicado na Internet. E, se quiser algo mais próximo e mais recente, olhemos para o nosso próprio umbigo, com o Congresso Nacional brasileiro tramitando aquela que é conhecida como “Lei Azeredo”, que determina várias ações que, no mínimo, ferem as liberdades individuais.

Pois é: liberdade e educação sempre amedrontam os donos do poder.