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Zumbis da série “Walking Dead”: as redes sociais podem nos transformar em uma versão digital dessas criaturas - Foto: reprodução

Ansiedade algorítmica cria zumbis que trabalham de graça para redes sociais

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“Responda aos comentários dos fãs para ajudar a aumentar o engajamento com a sua conta”. Nessa semana, o Facebook me conclamou (de novo) a interagir ainda mais com outras pessoas, como se isso fosse fazer uma grande diferença na minha vida.

Como a principal rede do Mark Zuckerberg definitivamente não me entrega tal valor, dei de ombros. Mas muita gente não consegue praticar esse desapego, seja no Facebook ou em outras redes sociais. E isso vem provocando uma crescente onda de ansiosos por não darem conta de todas as “tarefas” sugeridas pelos algoritmos, como se fossem necessárias para se destacar em uma vida dividida constantemente entre as redes sociais e suas atividades presenciais.

Por que nos permitimos seduzir (ou controlar) por esses sistemas? Quando deixamos de agradar genuína e desinteressadamente pessoas verdadeiras para satisfazer as demandas insaciáveis das plataformas? Como elas conseguem nos dominar de maneira tão intensa e, ao mesmo tempo, subliminar?

A única rede que me traz benefícios reais é o LinkedIn. Meu mestrado se focou na construção de uma verdadeira reputação digital nele, mas, durante a pandemia, eu me debrucei sobre essas inquietações. Decidi então deixar de produzir para os algoritmos, como um escravizado digital, ou seja, como esses sistemas nos veem.

Já passou da hora de pararmos de nos submetermos aos caprichos desse capitalismo de vigilância e recuperarmos o controle de nossas vidas. No formato atual, as pessoas se afogam em sua ansiedade algorítmica, enquanto trabalham gratuitamente, sem perceber, para as redes sociais.


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Mantenho uma produção consistente e cuidadosa no LinkedIn, que me traz contatos qualificados e oportunidades de negócios interessantes. Mas reconheço que, quando parei de criar atendendo as neuroses dos algoritmos, minhas métricas sofreram.

Não escondo isso e, de certa forma, me orgulho desse movimento. Percebi que não precisava impactar, com minhas publicações, dezenas de milhares de pessoas cujos motivos e desejos só os algoritmos conheciam, e que não rendiam nada palpável. Muito melhor é chegar a menos pessoas, mas com as quais possa fazer trocas verdadeiras e produtivas. Outro ganho –tão ou mais importante que essas conexões– é encontrar prazer e leveza em falar com seres humanos, e não com sistemas.

Não é uma tarefa simples. As redes sociais descobriram como reforçar nossa busca por prazeres imediatos, aparentemente exigindo pouco de nós. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca publicou algo em uma rede social na expectativa de receber muitas curtidas e, quem sabe, comentários que afagassem seu ego.

Curtidas não pagam contas! Mas relacionamentos qualificados podem ajudar nisso.

A raiz da ansiedade algorítmica está em sabermos que nossas vidas são controladas por esses sistemas, mas não termos conhecimento sobre como eles funcionam. Dependemos deles para conseguirmos trabalho, diversão e até amor, mas seu funcionamento é uma caixa preta que nunca se abre para nós.

Como consequência, estamos sempre tentando descobrir seus segredos para nos dar bem ou, no jargão das redes, “hackear o sistema”. Lemos artigos, fazemos cursos, acreditamos em gurus, mas o fato é que só quem desenvolve os algoritmos sabe da verdade, e esse é o “ouro do bandido”, um segredo tão bem guardado quanto a fórmula da Coca-Cola.

E assim nos viciamos nas microdoses de dopamina que nós mesmos produzimos quando um post tem uma visibilidade maior que nossa própria média (por menor que seja). A partir disso, buscamos sofregamente repetir aquele sucesso fugaz, tentando replicar uma receita que não temos.

 

O mal da falta de transparência

A inteligência artificial reacendeu os debates em torno da importância da transparência nas decisões dos algoritmos, para que entendamos seus motivos, assim como a explicabilidade e a rastreabilidade do que fazem com nossos dados.

Nisso reside um perverso jogo de poder. As redes sociais jamais nos darão essas informações, pois no obscurantismo está seu ganho. A ansiedade que essa nossa ignorância nos causa faz com que atuemos como zumbis teleguiados por seus sistemas. Se soubéssemos de toda a verdade, só publicaríamos o que “dá certo”, e as redes perderiam o controle que têm sobre nós. Isso seria ruim para seus negócios!

Não há a mínima reciprocidade entre os algoritmos e as pessoas: eles sabem tudo sobre nós, mas não sabemos verdadeiramente nada sobre eles. Temos só suposições e lampejos desconexos do seu funcionamento. Por isso, deixamos de representar, em nossas publicações, quem verdadeiramente somos ou o que desejamos. Ao invés disso, tentamos adivinhar e atender o que os outros querem de nós, esperando sua aceitação e aprovação, como se dependêssemos delas.

Essa é uma tarefa inglória e o caminho para a ansiedade e a depressão. Em casos extremos, vemos influenciadores digitais se suicidando, inclusive no Brasil, diante de sua incapacidade de ter o mínimo controle sobre os resultados de seu trabalho.

A opacidade dos algoritmos os torna mais cruéis quando mudam seus parâmetros continuamente, para que as pessoas não os dominem por muito tempo. Com isso, alguém que estivesse conseguindo ganhos de uma boa visibilidade, poderia subitamente ser descartado, sem explicação ou aviso prévio, gerando mais ansiedade.

As empresas se defendem afirmando que seus algoritmos existem para que as experiências em suas plataformas sejam úteis e divertidas, e não para que viciem os usuários. Dizem ainda que o que nos é empurrado depende de nossas interações na própria rede. Essa explicação, ainda que verdadeira, é tão rasa, que chega a ser hipócrita com quem consome e com quem produz conteúdo praticamente às cegas.

Vale lembrar que, apesar de estarmos falando aqui de algoritmos de redes sociais, eles estão presentes em toda parte, tomando decisões que podem influenciar profundamente nossas vidas. Dois exemplos emblemáticos são as plataformas de recrutamento, que podem definir se conseguiremos um emprego ou não, e os sistemas policiais, que podem decidir se somos criminosos, condenando-nos à cadeia.

Precisamos entender que os algoritmos devem trabalhar para nós, e não o contrário. Mas é inocência acreditar que temos algum controle nessa relação: em maior ou menor escala, somos dominados por esses sistemas, que exercem seu poder impunemente, mesmo quando causam grandes prejuízos aos usuários.

Por isso, o melhor a se fazer é mandar os algoritmos às favas e sermos nós mesmos, como acontecia nos primórdios das redes sociais. Mas você consegue fazer isso hoje?

 

A cantora Taylor Swift, vítima de “deep nudes” que inundaram as redes sociais na semana passada – Foto: Paolo V/Creative Commons

Imagens geradas por IA podem agravar problemas de saúde mental

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Na semana passada, as redes sociais foram inundadas com fotos de Taylor Swift nua. Não se tratava de algum vazamento de fotos íntimas da cantora, mas de imagens falsas criadas por inteligência artificial, uma técnica conhecida por “deep nude”. Apesar da compreensível revolta dos fãs pelo uso criminoso da sua imagem, o episódio não deve ter causado grandes transtornos para ela, que tem uma equipe multidisciplinar para ajudá-la a lidar com os problemas típicos da sua superexposição.

Infelizmente quase ninguém tem essa rede de proteção. Por isso, a explosão de imagens sintetizadas digitalmente vem provocando muitos danos à saúde mental de crianças, jovens e adultos, que não sabem como lidar com fotos e vídeos falsos de si mesmos ou de ideais inatingíveis de beleza ou sucesso.

Isso não é novo: surgiu na televisão, antes das mídias digitais. Mas elas potencializaram esse problema, que agora se agrava fortemente com recursos de inteligência artificial generativa usados inadequadamente.

Junte ao pacote a dificuldade que muitos têm de lidar com os efeitos nocivos da exposição que as redes sociais podem lhes conferir, ainda que de maneira fugaz. Não é algo pequeno, não é “frescura” ou uma bobagem. Família, amigos e as autoridades precisam aprender a lidar com esses quadros, oferecendo o apoio necessário para que o pior não aconteça.


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O youtuber PC Siqueira não teve esse apoio. Neste sábado (27), fez um mês que ele se suicidou em seu apartamento, na zona sul de São Paulo. Um dos primeiros influenciadores do país, quando o termo ainda nem era usado com essa acepção, ele surgiu no YouTube em 2010 e chegou a apresentar um programa na MTV Brasil.

PC Siqueira nunca escondeu que sofria de ansiedade e de depressão. Seu quadro se deteriorou à medida que sua audiência diminuiu com os anos. A situação piorou muito em junho de 2020, quando ele foi acusado de pedofilia. Sempre disse que estava sendo vítima de uma “armação” e, de fato, em fevereiro de 2021, a Polícia Civil concluiu que não havia qualquer indício de que ele tivesse cometido o crime. Ainda assim, nunca conseguiu se recuperar, chegando a essa ação extrema no fim de 2023.

Se PC Siqueira foi vítima de aspectos sórdidos da autoexposição, crescem os casos em que as vítimas são envolvidas de maneira totalmente involuntária. Foi o que aconteceu com um grupo de alunas do Ensino Fundamental II do colégio Santo Agostinho, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, em outubro passado. Alguns de seus colegas usaram plataformas de criação de “deep nudes” para gerar imagens delas nuas, e as espalharam pelas redes sociais.

Para uma adolescente, isso é devastador! Subitamente elas se tornam o “assunto” da escola inteira, de amigos, de parentes e até nas redes sociais. As fotos passam a ser vistas como se elas as tivessem tirado de fato. Como enfrentar tanta pressão, ainda mais não tendo feito absolutamente nada de errado?

Outro fenômeno que não para de crescer com a IA são as “influenciadoras virtuais”. São imagens de mulheres “perfeitas” que atuam como influenciadoras digitais. Mas tanta beldade não existe: elas são sintetizadas por comandos que podem reforçar estereótipos e falta de diversidade. E isso cria padrões de beleza distorcidos e ainda mais inatingíveis, piorando as já conhecidas pressões por conformidade e empecilhos para aceitar o próprio corpo que afetam muitas mulheres, especialmente adolescentes.

O problema fica mais grave quando se observa que, por trás dessas criações, estão homens, o que reforça a visão masculina de como uma mulher deve ser. Tanto que muitas delas também possuem perfis em sites de imagens pornográficas, em que outros homens pagam para ver as avatares nuas, obviamente também sintetizadas.

 

Capturados pelos seguidores

Todas essas práticas podem impactar seriamente o equilíbrio emocional das pessoas. Apesar de já convivermos há duas décadas com as redes sociais, a verdade é que ainda não sabemos lidar adequadamente com a influência de seus algoritmos e a visibilidade que eventualmente recebemos graças a elas. A ascensão violenta da inteligência artificial generativa apenas está acelerando esses efeitos.

O artista americano Andy Warhol disse em 1968 que “no futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos”. Naturalmente ele não antecipava o fenômeno das redes sociais, mas foram elas que viabilizaram sua profecia. Porém, com raríssimas exceções, elas só oferecem mesmo “15 minutos de fama”: da mesma forma que podem alçar um anônimo ao estrelato instantâneo, podem devolvê-lo ao ostracismo com a mesma velocidade. E muita gente não suporta voltar ao lugar de onde veio.

Muitos querem ser famosos e as redes sociais parecem ser o caminho mais fácil para isso. Almejam dinheiro e outros benefícios da exposição, mas poucos estão realmente preparados para lidar com isso. Assim, enquanto poucos são capazes de “capturar sua audiência”, muitos são capturados por ela.

Em algum momento, todos nós ajustamos nossa personalidade para satisfazer expectativas alheias. Isso acontece com muita força na adolescência, no grupo de amigos. Mas com as redes sociais, agora potencializadas pela IA, muita gente se transforma em uma persona que não é, e eventualmente até em algo que lhe cause sofrimento, apenas para agradar seu público online: pessoas que nem conhecem e que, em muitos casos, têm um prazer mórbido de dar suas “curtidas” pelo nosso pior, desvalorizando o que temos de bom a oferecer em um mundo-cão.

Atire a primeira pedra quem nunca produziu uma foto pensando nas “curtidas” que ela geraria! O grande problema disso, para muitas pessoas, é que elas acabam se tornando reféns dessa persona. Para não perderem sua audiência, esquecem do que são e passam a viver uma caricatura de si mesmos, sem escapatória.

Como jornalista, aprendi desde cedo a não cair nessa arapuca. Claro que estou atento aos interesses de meu público, mas, para não entrar nesse “poço narcisista”, nunca esqueço quem sou ou sobre o que falo. Mas admito que essa é uma tarefa muito difícil em um mundo digital que vive de aparências distorcidas pela inteligência artificial.

Todos nós temos a obrigação de resistir aos padrões e pensamentos-únicos que nos são impostos pelas redes sociais e pela inteligência artificial. Isso vai desde não se encantar por influenciadoras virtuais até resistir ao apelo fácil do “copia-e-cola” dos textos desalmados do ChatGPT em nossos posts e trabalhos.

Talvez, se fizermos isso, tenhamos menos gente “gostando” de nós. Em compensação, além de paz de espírito e de uma saúde mental muito mais equilibrada, teremos as pessoas que gostam de nós pelo que genuinamente somos. Isso é essencial, até mesmo para fecharmos negócios sustentáveis e transparentes com o nosso público, e termos mais que os 15 minutos de fama de Andy Warhol.

 

Os personagens Theodore e Samantha (no smartphone em seu bolso), no filme “Ela” (2013) - Foto: divulgação

Inteligência artificial começa a substituir pessoas com suas ideias, personalidades e vozes

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Enquanto o mundo discute o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho, outra revolução, possivelmente mais profunda ainda, começa a tomar forma graças a essa tecnologia: pessoas estão criando representações digitais de si mesmas, simulando suas ideias, vozes e até suas personalidades.

O objetivo é usar esses avatares para conversar com muita gente, como se fossem o indivíduo em si. Isso é particularmente interessante para celebridades com enormes bases de fãs online, mas abre uma série de discussões éticas e até filosóficas sobre a substituição do ser humano por robôs.

Por um lado, eles podem representar um grande avanço no relacionamento com seguidores e clientes, criando uma experiência incrivelmente imersiva e convincente, o que pode ser ótimo para os negócios. Entretanto especialistas temem que esses chatbots hiper-realistas possam provocar estragos na saúde mental de algumas pessoas.


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No começo do mês, a influenciadora digital americana Caryn Marjorie, 23, que tem aproximadamente dois milhões de seguidores no Snapchat, lançou um desses avatares. Batizado de CarynAI, ele é construído sobre a tecnologia do GPT-4, motor do afamado ChatGPT.

Mas ele vai muito além de escrever textos a perguntas de seus fãs. O robô simula a voz, personalidade e até maneirismos de Caryn, conversando com os fãs sobre qualquer assunto. Para uma base de seguidores em que 98% são homens, ninguém se surpreendeu que muitas dessas conversas acabaram tendo cunho sexual, apesar de a influenciadora dizer que espera que esse não se torne o assunto principal.

Os fãs sabem que não estão falando com a verdadeira Caryn. Ainda assim não se importam de pagar US$ 1 por minuto de conversa. Não há limite de tempo, mas quando o papo se aproxima de uma hora, CarynAI sugere que o fã continue em outro momento.

Com isso, na primeira semana, o sistema rendeu nada menos que US$ 100 mil à influenciadora. Quando ela conseguir dar acesso a uma lista de espera de milhares de interessados, ela calcula que faturará algo como US$ 5 milhões por mês! Negócios à parte, Caryn disse que “espera curar a solidão de seus fãs” com a ajuda de seu avatar.

“Entrar na fantasia não é errado: isso nos proporciona criatividade, curiosidade, alegria”, explica Katty Zúñiga, psicóloga especializada em comportamento e tecnologia. “Mas, ao mesmo tempo, a gente precisa entrar em contato com nosso lado mais racional, mais consciente, para encontrar o equilíbrio, e não nos perdermos na fantasia, que é o que essa inteligência artificial está nos apresentando.”

 

Vencendo a morte?

CarynAI foi criada pela empresa Forever Voices. Seu CEO e fundador, John Meyer, disse ao The Washington Post que começou a desenvolver a plataforma no ano passado, para tentar “conversar” com seu pai, que faleceu em 2017. Segundo ele, conversar com o robô que tinha a voz e a personalidade do pai foi “uma experiência incrivelmente curativa”.

É inevitável lembrar do episódio “Volto Já” (2013), o primeiro da segunda temporada da série “Black Mirror”, conhecida por promover reflexões sobre usos questionáveis da tecnologia. Nessa história, a personagem Martha (Hayley Atwell) usa um serviço que cria um chatbot com informações, personalidade e trejeitos de seu recém-falecido marido, Ash (Domhnall Gleeson). Como aquilo parecia aplacar sua saudade e solidão, ela atualiza o serviço para uma versão em que o sistema conversa com ela com a voz dele.

Emocionada com os resultados, parte para um terceiro nível, em que compra um robô fisicamente idêntico a Ash, que passa a interagir com ela, até sexualmente. Claro que, nesse momento, a experiência desanda! Quanto mais ampla pretende ser a simulação, maior a chance de ela dar errado. Martha não consegue lidar com as diferenças, e decide tomar uma atitude extrema.

Impossível não pensar também no filme “Ela” (2013). Nele, Theodore (Joaquin Phoenix), um escritor deprimido, se apaixona por Samantha (Scarlett Johansson), a “personalidade” do novo sistema operacional de seu computador e smartphone. Se isso não fosse estranho o suficiente, ela corresponde a seu amor. Aqui também a história não termina bem, pois, apesar de Samantha agradar a Theodore em tudo, ela ainda não consegue ser humana.

As duas histórias são muito impactantes. No caso de Samantha, é muito fácil se apaixonar por ela, mesmo não sendo Theodore. Afinal, ela é dona de uma ternura rara, sempre “ao lado” de Theodore, disposta a dar a ele o que ele precisa. Mas isso é amor ou apenas as ações estatisticamente mais relevantes para cada momento, envelopadas com muito carinho?

É nessa hora que essas plataformas podem se tornar um problema psíquico. A vida real é composta de contraposições entre coisas positivas e negativas, alegrias e tristezas, tensões e distensões. Ao enfrentarmos isso, amadurecemos. Mas se começarmos a viver relacionamentos que nos “protegem” de dissabores, isso pode prejudicar nosso desenvolvimento.

“A gente está vivendo em um mundo de adultos imaturos, por isso as pessoas não aceitam o diferente”, explica Zúñiga. “É como a criança, que vive despreocupada momentos de prazer o tempo todo, porque tem um adulto por trás para cuidar dela”, acrescenta. Mas a vida não funciona dessa forma.

Meyer acredita que, em poucos anos, todos terão um “assistente humanizado por IA” em seu bolso, que poderá ser um parceiro romântico, um personal trainer ou um professor. Resta saber até onde eles poderão ir e como poderemos nos proteger de “abusos” da tecnologia.

No dia 18, Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT, deu uma palestra no Rio de Janeiro. Contrariando o que muito poderiam pensar, ele defende que a inteligência artificial seja regulamentada logo e, de preferência, de maneira única em todos os países.

Infelizmente a chance de isso acontecer é mínima. Afinal, não conseguimos chegar a um consenso nem com o “PL das Fake News”. De qualquer jeito, o debate não pode ficar restrito aos interesses dos fabricantes, ou correremos o risco de parar de nos apaixonar por humanos chatos, preferindo avatares hipersedutores.

 

Crise no mercado de publicidade afetou também os influenciadores digitais, que estão em menos campanhas e recebendo menos produtos

“Desinfluenciadores” explodem em audiência, mas podem matar a própria reputação

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Diz o ditado que “um cliente satisfeito conta sua experiência para uma pessoa; um insatisfeito conta para dez”. O padrão se repete nas redes sociais, com a diferença de que uma crítica negativa pode alcançar milhares de pessoas no meio digital. Agora essa prática, tão antiga quanto a própria relação entre empresas e consumidores, ganha uma nova roupagem, com o fenômeno dos “desinfluenciadores”.

O termo vem ganhando enorme alcance entre usuários americanos do TikTok nas últimas semanas. A hashtag #deinfluencing já agrega vídeos que se aproximam de 200 milhões de visualizações. Alguns deles individualmente ultrapassam 1 milhão.

O formato é bem conhecido: uma pessoa diante da câmera apresentando produtos. Mas diferentemente dos influenciadores, que enaltecem marcas, os “desinfluenciadores” falam mal explicitamente daquilo que, na sua visão, são produtos ruins, e oferecem alternativas melhores ou mais baratas.

A prática é controversa. Enquanto alguns gostam dela e a veem como um serviço ao público, outros entendem que não passa de uma maneira de se ganhar audiência nas plataformas digitais. O problema é que, em qualquer cenário, a prática pode, a médio prazo, matar a reputação do próprio “desinfluenciador”.


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“É fácil entender por que isso está crescendo: falar mal chama mais a atenção que falar bem”, explica Edney Souza, professor de inovação e marketing digital na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). “As pessoas têm muitas opiniões negativas reprimidas e, quando encontram um ambiente em que se sentem seguras para se manifestar, isso aparece.”

Apesar do termo “desinfluenciador” ser recente, falar mal de produtos no meio digital está longe de ser novidade. Os primeiros relatos surgiram ainda em blogs, no início dos anos 2000, antes das redes sociais. Mas ganhou muita força há uns 15 anos com o Twitter, quando consumidores começaram a citar empresas em postagens com a hashtag #fail (falha, em inglês).

No Brasil, o fenômeno também pode ser encontrado no TikTok, mas ainda de maneira muito tímida. Acredita-se que o surgimento dos novos “desinfluenciadores” esteja associado à retração econômica vivida nos EUA pós-pandemia. Com menos dinheiro no bolso, as pessoas começam a questionar o valor do que compram.

Há ainda um fator ligado à retração do mercado publicitário. Muitos influenciadores passaram a ficar de fora de campanhas, além de deixar de receber produtos para promoção. Com isso, sentiram-se “livres” para expressar suas opiniões negativas, alguns talvez motivados por uma certa “vingança” contra as marcas.

Naturalmente existem aquelas pessoas que querem compartilhar suas experiências ruins com produtos para que outras não passem pelo mesmo. Ainda assim, qualquer que seja a motivação, “desinfluenciar” se tornou um ótimo negócio, graças à política do TikTok de remunerar seus maiores criadores de conteúdo. Alguns deles relatam ganhar até US$ 10 mil da plataforma em um mês.

 

Unidos pelo desgosto

Temos uma necessidade natural de expressar nossas opiniões. Graças a isso, as redes sociais passaram de plataformas simplórias de encontrar amigos para o maior fenômeno de comunicação da história, para o bem e para o mal.

Apesar de se encontrar de tudo nelas, muita gente não se sente segura para fazer críticas online a empresas ou produtos. Por isso, quando um influenciador fala mal de algo em linha com o descontentamento das pessoas, elas se sentem livres para se expressar. “Quando elas encontram um ‘desinfluenciador’ que ecoa o que gostariam de ter dito, aproveitam para endossar aquilo, para comentar, curtir, às vezes compartilhar com um amigo”, explica Souza.

Para as empresas, naturalmente o fenômeno desagrada. Qualquer comentário negativo é ruim. Quando atinge tais magnitudes, pode impactar nas vendas. Em casos extremos, pode desaguar em uma crise de imagem, que precisa ser rapidamente contida, na enorme velocidade das redes sociais. Por isso, as empresas possuem equipes dedicadas a monitorar como suas marcas estão sendo citadas nas redes.

Os “desinfluenciadores” precisam tomar cuidado com a prática. Apesar dos eventuais ganhos financeiros e de exposição pontuais, isso pode trazer prejuízos duradouros e lhes fechar portas.

Acabamos nos tornando conhecidos pelas ideias que expomos nas redes sociais. E seus algoritmos têm uma incrível capacidade de juntar pessoas com ideias e comportamentos semelhantes. Isso quer dizer que alguém que se notabilize por falar mal de produtos pode ficar conhecida como uma “destruidora de marcas”. Além disso, cada vez mais terá pessoas assim a sua volta.

“Não estou dizendo que todo mundo tem que ser positivo o tempo todo, que ninguém possa criticar”, acrescenta Souza. Mas, para o professor, a pessoa fazer disso a sua assinatura a impedirá que transforme sua presença nas redes em uma oportunidade de negócios.

Isso acontece porque uma pessoa pode se tornar realmente muito conhecida por sempre falar mal de produtos. Por mais que faça isso com a intenção de ajudar outros usuários, empresas não gostam de contratar profissionais assim para iniciativas de marketing, como palestras e muito menos campanhas. Até mesmo para vagas de trabalho, um comportamento assim pode atrapalhar.

Como tudo na vida, são escolhas que fazemos, e elas podem nos trazer benefícios ou prejuízos. Tornar-se um “desinfluenciador” pode, portanto, gerar ganhos e visibilidade rapidamente. Mas, se isso pode arranhar a imagem de marcas, pode trazer um prejuízo muito maior à reputação da própria pessoa. Cada um deve escolher se vale a pena seguir por esse caminho.

 

O artista americano Andy Warhol, que disse em 1968 que, no futuro, todos seriam “mundialmente famosos por 15 minutos”

Não basta ser bom profissional, é preciso ser um “influenciador”

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Na noite de sexta, durante uma aula de meu curso de Customer Experience na PUC-SP, uma aluna levantou o debate de que já não bastaria ser um bom profissional: todo mundo agora precisaria ser também um “influenciador” para ser valorizado pelo mercado. Talvez isso ainda não seja determinante para se conseguir um emprego, mas quem faz sucesso nas redes sociais de fato anda sendo supervalorizado, a despeito de suas qualificações profissionais.

Isso vem provocando distorções reais e preocupantes.

Entre elas, profissionais com pouca experiência ou formação deficiente podem mesmo ocupar o espaço de pessoas mais bem preparadas para suas funções, se aparecerem bem online. A curto prazo, isso resulta em entregas piores aos clientes. A médio prazo, isso pode desestimular o investimento em uma boa formação profissional. A longo prazo, perde toda a sociedade, que pode se acostumar com um patamar inferior de qualidade em produtos e serviços.

Mas muita gente acha que ser influenciador digital é um caminho fácil e rápido para o sucesso. Não é de se estranhar, então, que o Brasil já tenha 500 mil deles.


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Por “influenciador digital”, entenda-se alguém que tenha mais de 10 mil seguidores nas redes sociais. Essa foi a métrica adotada pela consultoria Nielsen, no levantamento “Construindo melhores conexões”, chegando a esse impressionante número de meio milhão de influenciadores brasileiros.

O Brasil é o segundo país do mundo em influenciadores, quase empatando com os EUA. Já existem por aqui mais influenciadores que dentistas (que são 374 mil) e engenheiros civis (455 mil) e aproximadamente o mesmo que médicos (502 mil). Seus ganhos por trabalho variam de R$ 1.000 a R$ 600 mil.

Seu sucesso passa por ser relevante para a comunidade a que pertencem. Disso vem a grande pergunta: os influenciadores são realmente relevantes para a sociedade? Ou apenas “criam espuma” em torno de assuntos que interessam só a eles mesmos ou às marcas que os contratam?

Segundo a Nielsen, os influenciadores não chegam a ser determinantes em vendas: 45% das mulheres e 24% dos homens seguem influenciadores, mas 58% delas e 76% deles nunca compraram nada apresentado por esses profissionais. Isso porque 66% não confiam no que eles dizem.

Ainda assim, esse mercado não para de crescer. De acordo com o estudo “The State of Influencer Marketing 2022”, elaborado pela consultoria Influencer Marketing Hub, o setor de marketing de influência deve movimentar US$ 16,4 bilhões nesse ano. Mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo se consideram criadores de conteúdo, e devem fazer circular incríveis US$ 104 bilhões até dezembro.

Esses indicadores nos levam de volta ao questionamento inicial. É claro que existem influenciadores que fazem um trabalho incrível, que traz ótimos resultados às marcas e oferece um valor real a seu público. Mas a maioria deles são eficientes apenas em gerar “engajamentos vazios”, com muitos cliques em “fotos fofas”, mas incapazes de produzir um conteúdo verdadeiramente rico.

Como muitas marcas olham apenas para essas “métricas de vaidade”, profissionais qualificados acabam sendo preteridos.

 

A sedução da fama

Acontece que o desejo de se alcançar a fama é muito poderoso e acompanha o ser humano. As pessoas querem ser artistas, esportistas ou outras atividades que deem grande destaque popular. Mas isso sempre foi muito difícil, sendo alcançado por pouquíssimos, com muito trabalho e às vezes sorte.

Em 1968, o genial artista americano Andy Warhol disse que “no futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos”. Sua profecia se concretizou quatro décadas depois, com a popularização das redes sociais e dos smartphones. Qualquer post potencialmente pode hoje levar seu autor a milhares de pessoas e por muito mais que 15 minutos.

Assim, não é à toa que tenhamos tantos influenciadores! A maioria acha que esse é um caminho fácil para a fama e para o dinheiro. Nada mais equivocado! O trabalho de um influenciador profissional é árduo e exige planejamento. Por isso, chega a ser risível o espanto de muita gente ao descobrir, na semana passada, em um story da influenciadora Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, que ela planeja detalhadamente suas publicações.

E não poderia ser de outra forma! O mercado felizmente começa a tratar os bons influenciadores como profissionais capacitados. Aqueles que não passam de “modelos de fotos bonitinhas”, que trabalham em troca de mimos, perdem espaço. Os bons contratos começam a ir para quem realmente for capaz de produzir conteúdo próprio e relevante. Seu desafio é passar mensagens de maneira orgânica para seu público.

O problema é que esses ainda são poucos! E isso acostumou o público a não querer sair da superficialidade confortável e que não exige que pensem muito.

Em junho de 2015, quando recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Turim (Itália), o escritor e filósofo italiano Umberto Eco fez um polêmico discurso dizendo que, graças às redes sociais, uma “legião de imbecis (…) agora tem o mesmo direito à palavra que um Prêmio Nobel”. Não satisfeito, disse ainda que “o drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

Talvez Eco tenha sido muito duro na escolha das palavras, mas ele antecipou o que se vê hoje, quando esse fenômeno ainda não era disseminado (e isso foi há apenas sete anos). Completos desconhecidos posando em trajes de banho e “fazendo biquinho” têm mais visibilidade hoje que cientistas que pesquisam temas essenciais para a sociedade.

Influenciadores digitais sérios são profissionais, e devem se portar e ser tratados como tal. É preciso “separar o joio do trigo”. Eles não devem ocupar o espaço de pessoas capacitadas nas diferentes áreas do saber, mas sim realizar o trabalho que fazem tão bem, que é o de apresentar e explicar produtos de maneira simples e alinhada a seus públicos. E isso tem muito valor! Se eles forem profissionais formados nas respectivas áreas e ainda tiverem a capacidade de influenciar multidões, melhor ainda!

O mercado precisa valorizar o que cada um tem de melhor a oferecer isso à sociedade, dentro de suas competências. Influenciadores podem não ser engenheiros, jornalistas, psicólogos, médicos ou modelos, mas, dentro de suas atribuições, podem trabalhar com todos eles, de maneira a que todos brilhem mais, sem “roubar” o espaço de ninguém.

 

Limites melhoram a experiência digital de crianças

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No início do mês, o post de uma médica paulistana “viralizou” no Instagram. Ela explicava por que excluiu as contas no Instagram e no TikTok de sua filha de 14 anos, que já tinha cerca de 2 milhões de seguidores. Segundo a mãe, fez isso para proteger a filha dos efeitos da exposição desmedida nas redes.

Como já se tornou praxe em nossa sociedade polarizada, ela recebeu muitos apoios pela iniciativa, mas também foi pesadamente criticada. Mas, afinal, ela extrapolou com seus cuidados maternais?

O fato é que o mundo digital está profundamente integrado à vida de adolescentes e até de crianças. Segundo a versão mais recente da pesquisa “TIC Kids Online Brasil”, realizado anualmente pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, 89% dos brasileiros entre 9 e 17 anos estão online. No Sudeste, esse percentual chega a 96%!

Nesse cenário, fica muito difícil impedir o acesso dos filhos ao meio digital. Por isso, especialistas afirmam que a supervisão dos pais é essencial para que os pequenos aproveitem ao máximo essa experiência.


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O pesquisador americano Philip Kotler, cunhou, em seu best-seller “Marketing 4.0” (2017), o neologismo netizen, combinando as palavras em inglês net e citizen, ou seja, os “cidadãos da Internet”. Segundo ele, “à semelhança de bons cidadãos, que contribuem para seu país, eles contribuem para o desenvolvimento da Internet.”

O papa do marketing moderno explica que “o papel deles de influenciar os outros está ligado ao desejo de estar sempre conectado e contribuir.” Não se limitam, portanto, a “consumir a Internet”.

Não seria diferente com as crianças. Katty Zúñiga, psicóloga integrante do Janus Leptic (Laboratório de Estudos de Psicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação) da PUC-SP, explica que, como computadores e celulares fazem parte do cotidiano das famílias, isso se torna natural às crianças. Para ela, “é um campo novo de diversão, de aprendizado e comunicação”.

Entre as atividades que muitas realizam, está se tornar influenciador digital. A psicóloga explica que isso pode ajudar a desenvolver a criatividade e várias habilidades das crianças, como pensamento mais rápido, comunicação, espontaneidade e a autoconfiança. Ela alerta, entretanto, que os pais precisam ser um fio condutor, para que os filhos não percam os limites. Caso contrário, os benefícios podem dar lugar a problemas como ansiedade, perfeccionismo e cobranças desmedidas para “entregar conteúdo”.

 

Pequenas estrelas, grandes vendedores

Os primeiros influenciadores-mirins surgiram em 2005. Começaram como brincadeiras, mas muitos ganharam legiões de seguidores no YouTube e posteriormente em outras redes, chegando a milhões de fãs.

Especialistas explicam que crianças e adolescentes que se tornam influenciadores devem continuar encarando isso como diversão, e não como um trabalho. Mas muitas empresas e alguns pais descobriram que estavam diante de uma mina de ouro: os vídeos das crianças brincando são uma poderosa ferramenta para vender qualquer produto para seus pequenos seguidores.

Bruno Studer, professor, pesquisador e deputado francês, abordou o tema no 10º RightsCon, evento mundial sobre direitos humanos no ambiente digital, realizado em junho. Para ele, “quando se fala de influenciadores mirins, há um natural conflito de interesses para os familiares: ao mesmo tempo que procuram o bem-estar das crianças, também precisam administrar suas carreiras.”

Essa forma dissimulada ou às vezes escancarada de publicidade infantil afeta os influenciadores e seus fãs. Os primeiros recebem dezenas de brinquedos todas as semanas, o que é uma distorção da realidade, e precisam “brincar” com todos eles diante de câmeras. Já os seguidores, que tampouco têm maturidade para entender isso, são bombardeados com uma mensagem publicitária extremamente eficiente.

As plataformas digitais também precisam fazer mais para solucionar esse problema. Afinal, elas lucram muito com essa superexposição. Não basta, portanto, ter apenas um comportamento reativo de remover vídeos denunciados.

A edição de 2016 da mesma “TIC Kids Online Brasil” identificou que 69% das crianças e adolescentes foram impactadas naquele ano por publicidade em sites de vídeo, e 62% em redes sociais. A pesquisa mostrou também que 43% deles pediram produtos anunciados aos pais.

 

Controle parental

Eles, por sua vez, precisam de apoio. Muitos, mesmo bem intencionados, podem expor seus filhos demasiadamente, por falta de informação.

Não há legislação no Brasil que discipline as profissões de youtuber ou influenciador, mas a Constituição proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de 18 anos, e qualquer trabalho a menores de 16, exceto o de aprendiz, permitido a partir de 14 anos. Pais que queiram regularizar a atividade de filhos influenciadores podem, entretanto, buscar um alvará judicial que classifique a atividade como trabalho artístico.

Mais importante que isso é os pais terem apoio psicológico para a iniciativa. Eles não podem ver seus filhos como “a galinha dos ovos de ouro”, e precisam ajudar crianças e adolescentes a não se sentirem pressionados por entregas, ou ansiosos por aprovações virtuais, como curtidas. A falta de materialidade disso pode causar uma dependência que pode evoluir até para a depressão.

Além disso, celulares não podem ser usado como as “novas chupetas”. “Há pais que aproveitam dessas ferramentas para se livrar do choro das crianças, e acabam as entregando para elas sem limite”, explica Zúñiga.

Especialistas indicam que a exposição a qualquer tipo de tela não deve passar de uma hora por dia até os 6 anos de idade, subindo para duas horas até os 12 anos e no máximo quatro horas por dia após isso. “É importante ter um tempo, pois a criança precisa se desenvolver em todos os aspectos”, explica ela, reforçando que a criança precisa também ter necessariamente experiências concretas.

Portanto, não dá para simplesmente alijar crianças e adolescentes do mundo digital, pois isso faz parte da sociedade em que todos nós vivemos. Fazer isso os privaria do desenvolvimento de habilidades importantes.

O que deve ser feito é orientá-las, supervisioná-las, estar junto a elas. Precisamos nos interessar genuinamente pelo que nossos filhos estão fazendo, e não apenas nas redes.

O que mais vem da China?

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Nunca se falou tanto da China quanto desde o começo do ano!

Por conta da pandemia de Covid-19, o gigante asiático ganhou um destaque global ainda maior que o que naturalmente já tem. É alvo de todo tipo de teorias da conspiração, por ter sido o país onde o novo coronavírus surgiu, e pela guerra particular contra ele do presidente americano, Donald Trump, que busca a reeleição.

A despeito de tudo isso, a China foi um dos primeiros países do mundo a relaxar as medidas de distanciamento social, que lá foram muito mais severas que aqui. Mas, por isso mesmo, duraram menos de um mês.

Hoje o país é um dos que lideram a corrida por uma vacina contra o vírus. Eles também desenvolveram hábitos e tecnologias que podem ser muito úteis no mundo pós-pandemia, inclusive para nós.

O que os chineses estão fazendo que nós podemos copiar?


Veja esse artigo em vídeo:


A China é o maior parceiro comercial do Brasil no mundo. O país asiático tomou esta posição dos Estados Unidos em 2009, e não perdeu mais. Segundo o Ministério da Economia, em 2018, o comércio entre China e Brasil foi de US$ 98,6 bilhões, com superávit para o Brasil de US$ 29,2 bilhões.

Já foi o tempo em que a China era um mero reprodutor de versões baratas e de baixa qualidade de produtos ocidentais, os chamados “Xing Ling”. Sim, a China ainda exporta todo tipo de quinquilharias para o mundo todo. Mas o país é hoje dono de uma das indústrias tecnológicas mais pujantes do planeta, em todos os segmentos.!

No mundo pós-pandemia -pelo menos para eles- algumas novidades podem indicar caminhos a ser seguidos por outros países.

Um estudo realizado pela consultoria Inovasia entre 2 de abril e 15 de junho identificou várias dessas inovações.

Um deles é o pagamento digital pelos celulares. Em uma época em que o contato se tornou um fator potencial de contágio, até o cartão de crédito nas mãos de um lojista ou de um entregador é visto com receio por alguns. Portanto os meios digitais de pagamento crescem fortemente e os pagamentos por aproximação do celular estão consolidados lá. Aqui no Brasil, isso ainda está começando.

Os superapps chineses, como WeChat e AliPay, concentram o processo, algo que também está engatinhando aqui, com operações locais. Dessa forma, dinheiro em papel é cada vez mais raro na China, o que é muito bem-vindo, pois as notas sempre foram instrumentos de propagação de doenças, e não só de Covid-19.

Nessa mesma linha, empresas que ofereçam produtos que não exijam contato com o público ganham espaço. Até o mundo do trabalho deve ir por esse caminho, com menos reuniões em salas fechadas. Aliás, trabalho remoto, sempre rejeitado por muitos, se tornou uma possibilidade vantajosa! O mesmo se observa com o ensino à distância. Mesmo com as escolas reabrindo, parte do público preferiu continuar com as aulas online.

A tecnologia é essencial nesse ponto, com a adoção de equipamentos que ajudam em atividades como telemedicina, além de realidade virtual e realidade aumentada.

O varejo de agora em diante

O varejo também se beneficiou da tecnologia. Não apenas pelo crescimento explosivo do e-commerce, mas pela consolidação do chamado shopstreaming. Trata-se de lives em que vendedores ou celebridades apresentam produtos ao vivo, para que os consumidores tirem dúvidas e façam compras na hora.

Segundo o instituto iMedia Research, o “comércio ao vivo” movimentou US$ 63 bilhões na China, em 2019. Com a pandemia, este número deve saltar para US$ 135 bilhões em 2020.

A Inovasia aponta uma coisa interessante nisso: o apresentador não deve ser uma celebridade qualquer, paga para só “puxar o saco” da marca! O que realmente funciona é um influenciador que seja um especialista no produto, que pode falar com propriedade sobre ele. A agência de comunicação Dentsu Aegis Network indicou que mais de 90% dos gestores aumentarão seu investimento em influenciadores digitais, e 80% melhorarão sua infraestrutura de e-commerce.

Outra tendência ligada ao varejo é a entrega em menos de uma hora. Isso já existe na China há uns cinco anos, mas ficou muito mais importante agora. A consultoria britânica Real Capital Analytics indica que imóveis em bairros de Pequim, Xangai e Shenzhen que são atendidas por supermercados que entregam em até 30 minutos tiveram valorização média de 10% só por essa facilidade.

Outra tendência chinesa ligada ao varejo que se vê timidamente por aqui é a preferência pelo comércio local. Com um consumo mais consciente, as pessoas procuram comprar de pequenos varejistas do próprio bairro, como uma maneira de ajudá-los. Além disso, a Inovasia identificou um crescimento por marcas nacionais, em detrimento de produtos importados.

A alimentação dos chineses também ficou mais saudável. Alimentos frescos estão sendo mais buscados, em detrimento dos congelados. As pessoas também estão cozinhando mais em casa, outra coisa que se observa no Brasil.

Os chineses também estão se exercitando mais, porém não em academias, por serem locais fechados. Cresceu a compra de produtos para atividades físicas na residência.

Do ponto de vista de mobilidade, assim como no Brasil, a venda de carros desabou por lá durante a pandemia: 89% de queda! Mas, com a retomada das atividades, muitas pessoas voltaram a comprar carros. O motivo é não querer usar o transporte público, um foco de contágio.

Além das onipresentes bicicletas, quando o carro se faz necessário, os chineses estão preferindo os veículos LSV, ou Low Speed Vehicles. São carrinhos parecidos aos de campos de golfe, totalmente elétricos, conectados e que se movem a, no máximo, 40 km/h. A sua autonomia varia entre 40 km e 90 km e seu tempo de carregamento é de apenas três horas.

Assim como aconteceu no Brasil, a China experimentou uma explosão de “fake news” durante a pandemia, disseminadas principalmente por redes sociais. E, assim como aconteceu no Brasil, os veículos de comunicação tradicionais emergiram como fontes confiáveis para combater a desinformação. Os mais jovens tiveram um papel interessante nisso, ajudando parentes e amigos mais velhos a separar as notícias falsas de material produzidos por veículos sérios.

Precisamos melhorar muito nisso aqui no país.

Não tem volta!

É interessante observar que essas mudanças vieram para ficar, mesmo entre os “late adopters”. Segundo a consultoria chinesa ChoZan, esse público é, em geral, formado por homens acima de 50 anos, com pouca intimidade com smartphones e que têm medo de sofrer golpes online. O mesmo raciocínio se aplica a empresas que, por questões culturais, não sentiam a necessidade de oferecerem seus produtos digitalmente.

A pandemia forçou todos a mudar de postura. E o fim da crise sanitária no país não fez o comportamento dos “late adopters” retornar ao estágio pré-Covid. O motivo principal para a mudança de postura é que seus temores não se concretizaram: a coisa “deu certo”! No caso das empresas, houve aumento de receita em 87% dos casos. O consumo, aliás, voltou com força após o isolamento, porém mais consciente, incluindo evitar dívidas de longo prazo.

Como se pode ver, a China pós-pandemia traz caminhos interessantes, que podem nos ajudar também. Cabe a nós aproveitar essas ideias da melhor maneira possível.

Vale lembrar que se trata de um país em que as liberdades individuais são restritas e que a arapongagem é algo comum e até aceita. Por exemplo, todo cidadão é obrigado a informar, em um aplicativo, viagens intermunicipais e sintomas de saúde às autoridades. O sistema, que roda nos superapps WeChat e no AliPay, confere classificações verde, amarelo e vermelho a cada cidadão, determinando seu grau de liberdade de circulação.

Fica a questão se queremos fazer algo assim por aqui. O histórico do governo brasileiro de proteção aos próprios cidadãos não anda muito favorável. Devemos estar atentos para que o governo brasileiro não passe dos limites.

Temos muito que aprender com os chineses! Vamos então adotar as coisas positivas que vêm de lá. E aprender o que não fazer com o que não é legal.

Os influenciadores digitais funcionam ou são uma fraude?

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Os influenciadores digitais estão na mira!

Recentes fracassos de grandes estrelas da categoria e muitas decepções de empresas com campanhas desse tipo puseram a efetividade do marketing de influência em xeque. Mas esses casos ruins, que acabam ofuscando incontáveis bons resultados, não podem ser creditados apenas aos influenciadores.

É verdade que existe amadorismo demais no meio: muita gente se lança nesse mercado achando que, para ganhar um dinheiro fácil, basta publicar no Instagram uma sequência interminável de fotos “inspiradoras” ou escancarando produtos sem qualquer critério. Entretanto as marcas são tão ou mais responsáveis pelos resultados ruins, pois contratam essas pessoas olhando apenas para a quantidade de seguidores ou de “curtidas” que eles têm. Não se dão ao trabalho de sequer avaliar se os valores, o público e a linguagem do influenciador combinam com os da marca ou do produto sendo promovido.

Sem esse alinhamento, não precisa ser gênio para entender que os resultados serão frustrantes! Além disso, com o amadurecimento do mercado, as “curtidas” perdem espaço para conversas de qualidade, o que exige que o influenciador seja um especialista no assunto.

Portanto, o marketing de influência pode trazer excelentes resultados! Mas precisa ser feito do jeito certo. Veja no meu vídeo abaixo quais são os pontos que precisam ser observados para se escolher um influenciador adequado para seu negócio, qualquer que seja seu segmento ou porte. E depois compartilhe suas experiências e percepções com todos nos comentários.



Quer saber mais e baixar o estudo State of Influencer Marketing da agência sueca Relatable? É só clicar em https://www.relatable.me/the-state-of-influencer-marketing-2019

Quer ouvir as minhas pílulas de cultura digital no formato de podcast? Basta procurar por “O Macaco Elétrico” no Spotify, no Deezer ou no Soundcloud. Se preferir, pode usar seu aplicativo preferido: é só incluir o endereço http://feeds.soundcloud.com/users/soundcloud:users:640617936/sounds.rss

A personagem Vivi Guedes, interpretada por Paolla Oliveira na novela global “A Dona do Pedaço”, faz uma “live” antes de se casamento - Foto: reprodução

A maldição do influenciador deprimido (e o que faz um influenciador “dar certo”)

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Quem acompanha a novela global “A Dona do Pedaço” viu nesta segunda a personagem Vivi Guedes, aspirante a influenciadora digital, interpretada por Paolla Oliveira, “postando uma live” (vídeo ao vivo nas redes sociais) na porta da igreja antes de entrar para o próprio casamento, e minutos antes de receber um “não” do noivo no altar. Seria só mais uma cena de folhetim se, no mesmo dia, uma tragédia real não guardasse certa semelhança: a blogueira Alinne Araújo se suicidou após ter publicado, nas redes sociais, seu “casamento consigo mesma” nesse domingo, um dia depois de seu ex-noivo desistir do compromisso por WhatsApp.

O “matrimônio”, devidamente documentado nas redes sociais, “viralizou”, atraindo muitos comentários de apoio à noiva, mas também muitas mensagens de ódio de “haters”, que diziam que ela estava querendo apenas ganhar visibilidade. Em sua última postagem, ela escreveu: “última vez que me pronuncio aqui sobre essa palhaçada de eu estar querendo me promover com um dos piores momentos da minha vida… Ridículos!”

Fiquei chocado com essa sequência de fatos, que claramente representa muitos valores da cultura atual, fortemente influenciada pelos meios digitais. Várias perguntas surgem disso:

  • Por que as pessoas estão tão preocupadas em exibir publicamente cada vez mais detalhes de sua vida privada?
  • Como alguém pode cancelar seu casamento na véspera por mensagem instantânea?
  • Por que a noiva decide “casar consigo mesma” e publicar isso nas redes sociais?
  • Por que tantas pessoas destilam ódio contra alguém que nunca lhes fez nenhum mal?
  • Os meios digitais podem estar associados ao aumento de casos de depressão?

A depressão é uma doença séria, que precisa ser tratada. Ela se instala de maneira silenciosa e pode ser devastadora.  Qualquer pessoa pode ser vítima dela, mesmo as que se dedicam a fazer os outros rirem, como o humorista Whindersson Nunes, brasileiro com mais seguidores no YouTube (mais de 36 milhões), e o ator Robin Williams, que se suicidou por causa da doença em 2014. Alinne Araújo também sofria do mal.

Conversei com a psicóloga Katty Zúñiga, pesquisadora da PUC-SP que estuda há duas décadas a influência da tecnologia sobre o comportamento humano. Segundo ela, o meio digital não causa depressão, mas mudanças no comportamento da sociedade podem provocar esses desequilíbrios.

“Vivemos uma época de ansiedade, em que tudo acontece cada vez mais rapidamente, e em que ganha mais quem grita mais alto”, explicou. As redes sociais são o cenário para dar vazão a essas demandas.

“Parece fácil, mas não é”, disse a pesquisadora. Qualquer um pode achar que basta criar contas nas redes e começar a publicar coisas “fofas” para angariar multidões de seguidores e se tornar um “influenciador”. Isso pode até acontecer, mas traz responsabilidades e muita pressão, com as quais muitas dessas pessoas não sabem lidar. Como resultado, problemas relativamente pequenos, da sua vida pessoal, podem ganhar grandes proporções, porque se tornam públicos inadvertidamente ou -o que é pior- por ação do próprio influenciador.

A celebridade digital se sente, cada vez mais, na obrigação de criar “fatos” para manter a sua audiência “aquecida”, e isso pode gerar uma pressão insuportável. Daí, quando algo mais grave acontece, toda aquela imagem, que é na verdade construída sobre uma fundação muito frágil, pode vir por água abaixo. “Sempre existiram influenciadores, como grandes jornalistas e atores, mas eles têm estrutura, sabem como lidar com críticas, que inevitavelmente aparecem”, explica a psicóloga. Por isso, passam por isso sem desmoronar.

A prisão da imagem

Muitas pessoas, quando percebem que se tornaram influenciadores (ou acham que se tornaram), acabam criando um personagem, que se torna maior que o próprio indivíduo. Ele pode até ter surgido de uma característica de sua personalidade, mas cresce de uma maneira tirânica, que não permite ser “contrariado”, mesmo quando a pessoa muda.

É o caso da influenciadora mexicana Yovana Mendoza Ayres, que fez fama como Rawvana e caiu em desgraça com os fãs em março. Ela construiu um império comercial em cima do conceito de crudiveganismo, mas foi flagrada em um vídeo de poucos segundos com um filé de peixe em seu prato. Apesar de tentar explicar que estava comendo aquilo por ordens médicas, os tribunais das redes sociais foram implacáveis, e ela foi obrigada a abandonar a personagem que a fez rica. Abordei esse caso em um vídeo na época, que pode ser visto abaixo:


Vídeo relacionado:


Essa “ditadura do personagem” surge com o aumento dos seguidores, com quem o suposto influenciador se sente comprometido, e cresce quando aparecem vantagens disso. Começam com pequenos presentes e convites -o que no jornalismo chamamos de “jabá”- e podem se transformar em polpudos contratos publicitários ou mesmo linhas de produtos, como no caso de Rawvana.

Em grande parte, o problema se agrava pelas marcas e agências que contratam esses influenciadores de uma maneira irresponsável. Para essas empresas, o único que importa são grandes visualizações e curtidas. Ignoram se aquela pessoa tem relação com o produto que está promovendo e se é sequer capaz de sustentar uma conversa sobre ele. E a celebridade digital, que na maioria das vezes não tem qualquer preparo profissional para lidar com aquilo, vê uma oportunidade aparentemente fácil de ficar famoso e de ganhar muito dinheiro. E embarca na onda.

Foi o que aconteceu com Arianna Renee, uma norte-americana de 18 anos conhecida como arii no Instagram, onde tem 2,6 milhões de seguidores. Ela abandonou seu projeto de criar uma linha própria de moda. O motivo, que ela própria explicou publicamente: foi incapaz de vender míseras 36 camisetas, o mínimo que a confecção contratada exigia para tocar a obra. Em um post no dia 27 de maio, depois apagado, ela disse que “ninguém cumpriu a promessa de comprar” suas peças.

Oras, ninguém compra algo, nem mesmo uma camiseta, assim. Aquilo tem que fazer sentido para o consumidor. Se for por um influenciador, ele precisa -bem- convencer por que aquilo é realmente bom. Como diz o ditado, “não é só pelos seus lindos olhos”.

Felizmente essa fase de deslumbramento dá sinais de que está chegando ao fim. As empresas estão percebendo que, muito mais que milhões de visualizações, o que realmente é capaz de vender algo são argumentos sólidos, autoridade no assunto e uma comunidade interessada no tema, mesmo que seja proporcionalmente pequena. Em resumo, é necessário profissionalismo.

Marketing de influência não é um passatempo, uma diversão inconsequente. É um trabalho que deve ser feito com seriedade, como qualquer outro. Caso contrário, isso pode causar grandes prejuízos financeiros às marcas, e, muito mais grave que isso, profundos problemas pessoais aos próprios influenciadores. E isso é um cenário em que todos perdem.


E aí? Vamos participar do debate? Role até o fim da página e deixe seu comentário. Essa troca é fundamental para a sociedade.


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Videodebate: aparecer bem nas redes sociais pode MATAR?

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Uma influenciadora brasileira de 26 anos pensou em suicídio, porque não estava aguentando a pressão de ter que publicar o tempo todo. Ok, esse é um caso extremo. Mas é para pensar: muita gente quer construir a sua reputação aqui, o que é ótimo. Só que não sabe como dosar o esforço, e acaba pirando, atrapalhando (muito) a sua vida. E isso é muito grave!

Então como construir a sua autoridade nas redes sem prejudicar suas tarefas? Qual o limite?

“Keep calm and keep publishing” 😉 Existem técnicas para isso! Veja no meu vídeo abaixo como chegar ao topo e se manter lá, construindo sua reputação sem truques baratos.

Participação especial de Athena, a gata, no final 😉

 


Links de conteúdos mencionados no vídeo:

O que acontece quando as marcas nos transformam em máquinas de propaganda

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Foto: Marco Del Torchio/Creative Commons

Quem nunca ganhou alguma coisa e ficou tão feliz que quis compartilhar a alegria com quem estivesse a sua volta? Isso é perfeitamente saudável e faz pare da nossa natureza humana. Entretanto, se antes fazíamos isso apenas com nosso círculo próximo de amigos e familiares, agora, com as redes sociais, podemos contar nossa experiência ao mundo todo! Algumas marcas perceberam que isso embutia um incrível potencial para promover seus produtos e criaram um inteligente mecanismo para estimular as pessoas a fazer exatamente isso.  Fica a questão: estamos nos transformando em eficientes máquinas de propaganda?

Essa discussão veio à tona na aula do meu curso de extensão Comunicação Digital: Muito Além do Óbvio ontem. Debatíamos se quando um comunicador fala bem de um produto que ele tenha recebido, precisa informar que se trata de publicidade, nem que seja usando a hashtag #publi.

A primeira questão que surge disso é: se você fala bem de um produto, isso é necessariamente publicidade? Se você é um profissional de comunicação, como um jornalista, e uma marca lhe envia um produto com essa expectativa, a princípio a resposta seria “sim”, e seria de bom grado informar isso a seu público. Entretanto, essa é uma simplificação causada pelo momento em que vivemos, em que muitos jornalistas e influenciadores automaticamente promovem qualquer coisa que lhe enviam (o que me dá uma vergonha enorme).

E quem não é um profissional da área e resolve falar bem de algo que ganhou? Tem que informar a seu público que é uma propaganda?

É aí que o bicho pega.

 

O direito de gostar e de falar mal

Sou jornalista desde 1993. Comecei a minha carreira na Folha e passei por outras grandes empresas de comunicação, como Abril e Estadão. Se agora enfrentamos essa discussão ética, lá atrás esses veículos já tinham a coisa muito bem resolvida. A regra era simples: recebíamos produtos de todo tipo e valor para análise, mas não tínhamos nenhuma obrigação de falar bem daquilo. Aliás, tínhamos toda liberdade de falar mal do que não gostássemos. E, em muitos casos, nem sequer mencionávamos o produto. Se viajávamos a convite de uma empresa, informávamos isso, e passava a valer a regra acima.

Afinal a marca mandou o produto ou fez o convite porque quis, e sabia como a coisa funcionava. Ok, algumas não sabiam “brincar” e reclamavam se a coisa não saía exatamente como elas queriam, mas aí azar o delas.

Eventualmente gostávamos de verdade de algo que recebíamos, e aí a análise era francamente favorável. E isso não acontecia por qualquer tipo de favorecimento, e sim porque o produto era bom mesmo. E isso NÃO É propaganda, e sim uma análise isenta que chegou a essa conclusão. Logo, não precisa –e nem deve– ser indicada como publicidade.

De maneira geral, jornalistas, veículos, marcas e o público estavam alinhados com isso. Ninguém estava enganando ninguém. A coisa começou a azedar quando veículos e principalmente alguns influenciadores (especialmente na área de moda e maquiagem) começaram a se “vender” escandalosamente. De repente, tinha youtuber rasgando elogios por uma marca qualquer, só porque tinha recebido uma caixa de maquiagem.

Péssimo para elas mesmas, pois as pessoas não são trouxas, e isso acaba sendo um tiro na sua credibilidade. A porcaria é que isso criou uma nuvem negra sobre quaisquer promoções legítimas e isentas, e agora tudo é visto como propaganda.

Não é! Propaganda é quando se recebe para forçosamente falar bem. Se existe a possibilidade de falar mal ou simplesmente não falar do produto, isso é uma análise isenta.

 

Somos todos veículos

Esclarecido o lado dos profissionais de comunicação, vem a questão mais delicada: as redes sociais transformaram cada um de nós em pequenos veículos. Qualquer coisa que publicamos em qualquer rede tem potencial para atingir centenas, talvez milhares de pessoas! Então, se falarmos bem de um produto nas redes, isso é publicidade? E mais: temos que avisar nosso “público” que aquilo é propaganda?

Em um primeiro momento, a resposta é não! Quem não é comunicador não está sujeito aos códigos de ética dessas profissões. Se o indivíduo quiser falar bem (ou mal) de um produto, ele está dentro de seu direito de se expressar livremente. E fazer isso porque foi “estimulado” por um presente não muda nada.

Apesar disso, algumas coisas precisam ser avaliadas. Se o nosso direito de nos expressarmos livremente é inalienável, isso não pode comprometer outras coisas.

Em primeiro lugar, a primeira vítima pode ser a nossa própria reputação. Falar bem de algo não é um problema. Mas ficarmos “forçando a amizade” e fazer isso o tempo todo, especialmente se ficar evidente que estamos sendo estimulados de alguma forma, não dá.

É exatamente o que aconteceu com as youtubers de maquiagem citadas acima: elas haviam criado uma boa reputação pelas suas habilidades técnicas e de comunicação. Mas, no momento em que começaram a “carregar nas tintas” em favor de algumas marcas, tudo o que tinham construído foi por água abaixo.

Esse processo de desconstrução pode acontecer com qualquer um. Portanto, temos total liberdade de falarmos o que quisermos, inclusive falar bem de marcas. Mas devemos cuidar de nossa imagem para não cair no velho ditado “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.

Somos responsáveis pelas mensagens que publicamos, inclusive pelo que isso pode causar nos outros e a nós mesmos,

 

Abuso infantil

Mas há um ponto que é particularmente grave: o uso de crianças para promover produtos a outras crianças.

Assim como acontece com adultos, algumas crianças se tornam pequenas celebridades, especialmente no YouTube. Do alto de sua Primeira Infância, angariam centenas de milhares de seguidores, de maneira geral crianças como elas.

Muitas desses mini-influenciadores se tornaram vítimas de marcas, que lhes entregam semanalmente uma grande quantidade de brinquedos. A ideia é que esses pequenos gravem vídeos mostrando e comentando todos esses “presentes”. Por mais inocentes que sejam em suas ações, essa promoção é extremamente eficiente, pois se trata de uma criança mostrando brinquedos a outras crianças.


Vídeo relacionado (minha participação no JC Debate, sobre uso de YouTube por crianças, em 21 de outubro de 2016):


Algo que toda criança faz naturalmente a seus amiguinhos no pátio da escola ou em casa. Mas agora elas podem fazer isso em escala global!

Vale dizer que isso fere o Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe publicidade infantil. As marcas perceberam a possibilidade de burlar essa restrição justamente usando esses youtubers mirins. Mas essas empresas não são as únicas responsáveis por isso: talvez ainda mais complicada seja a situação dos pais dessas crianças, que não apenas permitem que seus filhos se prestem a isso, como ainda os “agenciam”, como uma excelente fonte de renda.

 

O papel de cada um

No final das contas, o poder está nas mãos de cada um de nós.

Esse é um terreno ainda pantanoso, com muitos pontos ainda obscuros e abertos ao debate. Como se pode ver, existem itens conflitantes, envolvendo até mesmo liberdade e ética. E isso não se aplica de maneira uniforme a todos.

O que é importante é que nos apropriemos do que essas plataformas nos oferecem, seja como produtores de conteúdo, seja como consumidores, papeis que todos nós temos atualmente. E principalmente temos que ter consciência para que não sejamos feitos de bobos por ninguém.

Em outras palavras, liberdade com ética e sem bobeira!


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Quem merece a sua confiança hoje?

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O Gato da animação “Alice no País das Maravilhas” (1951): “se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve” - Foto: reprodução

O Gato da animação “Alice no País das Maravilhas” (1951): “se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”

Pela nossa natureza humana, nós precisamos viver com outras pessoas.  Somos seres gregários. Compartilhamos o que temos e o que sabemos com o outro, e, dessa forma, a sociedade e cada um de seus membros se desenvolvem. Mas isso só é possível quando existe confiança entre as partes.  Assim eu lhe pergunto: em quem você confia atualmente? Quais são seus modelos?

Essas não são perguntas retóricas, e não trazem nenhuma carga religiosa ou política. Entretanto são essenciais! Observo, com grande apreensão, um forte movimento de descrença global, e isso ganha contornos mais agudos no Brasil, devido à crise profunda que persiste há tantos anos. O problema é que, quando deixamos de acreditar, perdemos grande parte da nossa iniciativa, da capacidade de inovar, de sermos empáticos, de construirmos algo com quem estiver a nossa volta.

Esses questionamentos apareceram para mim com bastante força na semana passada, durante as primeiras aulas do meu mestrado na PUC-SP. Discutimos o impacto social e as causas das “fake news”, as infames notícias falsas que inundam as redes sociais, o conceito de “pós-verdade” e até mesmo o que define a verdade. Pois, em um mundo em que as versões valem mais que os fatos, em que nossa própria capacidade de escolha fica prejudicada, como é possível escolher qual caminho devemos seguir?

E como dizia o Gato de Cheshire, em “Alice no País das Maravilhas”, “se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”

 

Alguém sempre vai ocupar o espaço

Grande parte dessa nossa atual descrença se deve à falência moral de muitas instituições essenciais da comunidade. Nem vou falar da classe política, pois chutar cachorro morto não vale. Mas as pessoas também têm acreditado pouco na imprensa, justamente quem guarda o papel de fiscalizar diferentes grupos da sociedade, além de informar o cidadão. E, pelo ralo da confiança perdida, também descem religiões, empresas, escolas, entre outros pilares da civilização.

O curioso na nossa falta de confiança é que, por mais que ela cresça, paradoxalmente mantemos a necessidade de acreditar em alguém. Entretanto, se os atores acima não se prestam mais a isso, em quem acreditaremos?

Aí é que mora o perigo.

Nesse vácuo criado pela ausência daquele pessoal, surgem os aventureiros, os demagogos, a turma de fala vazia, porém encantadora. Nós compramos esses “cantos da sereia” e as redes sociais, a despeito de todos seus pontos positivos, têm um papel essencial em espalhar esse tipo de mensagem.

Por exemplo, tenho realizado palestras em eventos da área de saúde, e conversado com profissionais de diferentes especialidades desse segmento. De maneira geral, a maioria já percebeu a importância de se comunicar com o seu público, mas não sabe como fazer isso. Pior: muitos deliberadamente não querem fazer isso!

Esses mesmos profissionais estão em pé de guerra com blogueiras e youtubers “fitness”, que dão “dicas de saúde” ou que ensinam “dietas” ou “novas formas de alimentação”. O problema é que a maioria delas não tem qualquer formação para orientar ninguém nesse aspecto. Pior: quase tudo do que falam não tem nenhum embasamento científico, sua eficácia é questionável e -o mais grave- pode colocar a saúde das pessoas em risco. Mas elas falam com grande segurança e têm milhares (às vezes milhões) de seguidores, que espalham e repercutem o que disserem.

Resultado: aquelas versões ou ideias acabam se tornando “verdade’, por mais que sejam, em alguns casos, a mais rotunda porcaria!

A culpa principal do desserviço à saúde público é dessas meninas? Claro que não! A culpa vem daqueles que detêm a informação correta, mas se recusam a compartilhá-la! Entretanto as pessoas querem ter acesso à informação sobre isso, e consumirão o que estiver disponível. Quando o negócio der errado, toda a instituição pode perder o crédito. Se não for pela informação errada, será pela omissão.

 

Nem tudo está perdido

Recentemente a agência Edelman publicou o seu relatório anual “Trust Barometer”, onde analisa o grau de confiança das pessoas em diferentes instituições da sociedade. O levantamento foi feito a partir de mais de 33 mil questionários respondidos por cidadãos de 28 países (inclusive o Brasil) no final do ano passado. Interessantíssimo: vale olhar suas conclusões!

Algumas delas merecem destaque. Do ano passado para esse, a confiança no jornalismo subiu cinco pontos percentuais, enquanto que o conteúdo originado de “plataformas” (redes sociais e buscadores) caiu dois. A credibilidade de “pessoas como você” chegou ao menor nível desde que o estudo começou a ser feito, em 2001 (mas ainda marca expressivos 54 pontos), enquanto que a de “especialistas” aumentou: os jornalistas subiram 12 pontos (mas ainda marcam apenas 39) e os CEOs cresceram 7. Especialistas técnicos e acadêmicos (os mais confiáveis), analistas financeiros e empreendedores de sucesso ficaram todos com pelo menos 50% de aprovação.

O país em que a população mais perdeu a confiança foram os Estados Unidos: incríveis 37% de queda, claramente ligada ao presidente Donald Trump. O Brasil foi o terceiro país que mais perdeu entre os 28 pesquisados: queda de 17%. Quem mais ganhou foi a China, com 27% de crescimento.

E por falar em Brasil, apesar de a confiança nas “plataformas” ter caído cinco pontos, as pessoas ainda confiam ligeiramente mais nelas que no jornalismo (64 pontos versus 63). Dos países pesquisados, essa preferência só aparece também na Malásia, no México e na Turquia.

O “Barômetro da Confiança” indica uma interessante mudança em seu eixo: os chamados “especialistas” (inclusive a imprensa) ficam cada vez mais confiáveis que a turma que fala muito, mas contribui pouco para a sociedade. Mesmo entre os influenciadores digitais, observa-se uma crescente divisão entre os “especialistas” e os “populares”.

Isso é muito bem-vindo, especialmente graças ao avanço das “fake news”. Na verdade, pode-se atribuir pelo menos parte desse movimento ao crescimento explosivo das notícias falsas. As pessoas estão conscientes disso, e querem se proteger, mesmo porque 63% dos entrevistados disseram que não sabem como diferenciá-las de bom jornalismo e 59% acreditam que isso está cada vez mais difícil de ser feito. Como resultado, 59% dos entrevistados não sabem o que é verdade e o que não é, 56% não sabem em que políticos confiar e 42% sentem o mesmo quanto a empresas ou marcas.

Entretanto, nesse mar de incertezas, decepções e notícias falsas, não somos vítimas inocentes e passivas.

 

O que devemos fazer

Qual o nosso papel para melhorar o cenário geral? É importante ressaltar que o poder para resgatar a confiança está principalmente nas mãos de cada um. Peguemos como exemplo as “fake news”: elas só explodiram porque seus criadores perceberam que as pessoas disseminariam as mentiras se elas fossem habilmente construídas para atender aos anseios de parcelas da população, que fariam isso sem questionar o conteúdo.

Temos, todos nós, que desenvolver um aguçado senso de desconfiança saudável!

Desde a redemocratização do Brasil, nos anos 1980, assistimos ao crescimento constante dos demagogos, dos populistas e dos “salvadores da pátria”, tanto do lado de conservadores, quanto de liberais. Chegamos provavelmente ao seu ápice, no que eu chamo de “escala messiânica”.

Estamos em um ano de eleições. Em 2016, no pleito anterior, as notícias falsas promoveram uma polarização na sociedade brasileira sem precedentes, e isso só tem piorado. Um estudo do BuzzFeed do ano passado chegou a demonstrar que as notícias falsas sobre a Operação Lava-Jato geraram mais engajamento que as verdadeiras. Nos EUA, aconteceu o mesmo, com as fake news engajando mais que o jornalismo na reta final da campanha presidencial.

Portanto, prepare-se para um banho de sangue nesse ano. Mas prepare-se para fazer a sua parte para que seja, pelo menos, um pouco menos terrível. Sim, as instituições -especialmente a imprensa- precisam colocar de sua parte e fazer um trabalho (muito) melhor, mais transparente e comprometido com a verdade que o observado atualmente. Mas cabe a nós cobrar isso de todas elas. E premiar quem fizer isso bem, compartilhando seus conteúdos, ao invés de qualquer coisa.

Se não fizermos a nossa parte, podemos nos afundar ainda mais no perigoso fosso da descrença, em que nada parece bom, entrando em um ciclo destrutivo de nos tornarmos mais isolados, egoístas, e menos colaborativos. E ainda podemos contaminar quem estiver a nossa volta, prejudicando a sociedade como um todo.

Precisamos reverter esse ciclo de descrença. Preste atenção no que o Gato disse à Alice, e escolha o seu caminho conscientemente. Acredite e vá em frente!


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Quanto vale a palavra de um influenciador digital?

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Cena do vídeo “Influenciadora”, do Porta dos Fundos - imagem: reprodução

Cena do vídeo “Influenciadora”, do Porta dos Fundos

Resposta rápida à pergunta do título: vale muito! Mas, se você estiver pensando em usar um deles para uma campanha publicitária, muita calma nessa hora: é preciso separar o joio do trigo. Milhões de seguidores não significam necessariamente um discurso que possa emprestar credibilidade a sua marca. Mas, se bem usado, é um recurso que pode trazer ótimos resultados. Então como saber se vale a pena contratar um influenciador digital?

Essa discussão surgiu a partir do vídeo Influenciadora, lançado no dia 22 de maio, e que pode ser visto abaixo. Várias pessoas me enviaram o tal vídeo, perguntando o que eu achava daquilo. Nele, o grupo Porta dos Fundos ironiza dois tipos de influenciadores digitais: aqueles que, apesar de ter milhões de fãs, aparentemente não tem nada de útil a dizer, e os que se dedicam a produzir conteúdo apenas para promover escancaradamente produtos de empresas que os contratam.

Pode parecer bizarro, e o Porta dos Fundos naturalmente carrega um pouco nas tintas para reforçar o aspecto humorístico do vídeo, mas a Internet está cheia de exemplos reais disso. Mas não foi sempre assim.

A certa altura, o vídeo menciona que a tal celebridade promove todos os presentes que ganha de empresas, destacando maquiagens. Isso não foi por acaso: uma das primeiras categorias de influenciador que surfou nessa onda foi justamente as youtubers maquiadoras. A primeira geração delas construiu sua reputação com vídeos que ensinavam boas técnicas do assunto.

As marcas de cosméticos identificaram ali uma incrível oportunidade: se essas youtubers construíram credibilidade sobre o tema junto a um enorme público que consome esses produtos, por que não pagar a elas para fazer seus programas usando (e elogiando) produtos do patrocinador?

Essas parcerias começaram a dar certo! Tão certo que abriram a porta para uma segunda, uma terceira geração de youtubers que não estavam assim tão preocupados com a qualidade do seu material: a ideia era só criar um canal para despejar uma propaganda escandalosa sobre a base de fãs. Às favas com a seriedade e questões éticas!

Desnecessário dizer que isso corroeu a credibilidade do modelo, pois os próprios seguidores começaram a perceber que eles estavam sendo enrolados. Mesmo assim, muitas marcas continuam insistindo no formato.

Mas como esses influenciadores conseguem essa legião de fãs, se “não têm nada útil a dizer”?

 

É tudo identificação

Para entender esse fenômeno, precisamos nos despir de alguns preconceitos e aceitar que algo que consideramos a mais bela porcaria pode ser bastante relevante para outras pessoas.

Ninguém chega a milhões de fãs por acaso: alguma coisa certa esses megainfluenciadores fizeram. E, de uma maneira geral, todos eles se destacam em um ponto: eles conhecem muito bem seu público. Eles sabem quem são essas pessoas, do que elas gostam, como elas falam, sobre o que estão querendo saber, onde estão. Além disso, usam muito bem os recursos do meio digital para se promover.

Isso explica o surgimento dos youtubers teens e mirins, inclusive fenômenos como Kéfera ou Christian Figueiredo. Possivelmente você ache o que eles falam uma perda de tempo. Talvez você reprove a linguagem que eles usam. Se duvidar, você nunca ouviu falar deles! Sem problemas: você não é seu “target”. Mas seus milhões de fãs pensam de outra forma. Pois essas pessoas se identificam com esses ídolos digitais. E, por isso, tudo o que eles dizem faz um enorme sentido!

Mas há também youtubers teens que se preocupam genuinamente em produzir conteúdo de qualidade. A sua maneira, claro. O vídeo abaixo, do youtuber Cauê Moura, traz uma curiosa crítica aos influenciadores com discurso “vazio”. Ele explica a escalada histórica desse tipo de ídolo e termina o vídeo conclamando seus “colegas youtubers” a produzir conteúdo de qualidade. Alerta: se você não gosta de palavrões, não veja esse vídeo!

Recentemente assisti a um vídeo (abaixo) de Felipe Castanhari que era um belo exemplo de conteúdo relevante para seu público. Ele explicou nada menos que o conflito na Síria de uma maneira que qualquer adolescente é capaz de entender, melhor que qualquer veículo de comunicação ou livro.

Como se pode ver, existe de tudo nesse mundo, e não seria diferente com os youtubers. Portanto, se você quiser fazer uma campanha com um influenciador, vale a pena avaliar, primeiramente, se ele é capaz de produzir um conteúdo de qualidade, e se esse conteúdo (incluindo sua linguagem) combina com o produto a ser promovido.

Mas existem outros cuidados a serem tomados.

 

O valor de uma reputação

Infelizmente as marcas usam muito mal os influenciadores digitais. Na maioria dos casos, eles contratam o sujeito para emprestar seu rosto e a sua base de fãs para uma campanha pontual. E é fácil de se entender esse comportamento, pois a publicidade sempre usou pessoas famosas, especialmente astros da TV, para vender qualquer coisa, inclusive produtos que eles jamais usariam.

Mas influenciadores digitais são diferentes: eles são o seu próprio veículo! A sua base de seguidores vai com eles a todo lugar, não se restringindo a um meio.

Além disso, um bom influenciador digital normalmente construiu uma reputação em torno de algum tema, que pode ir desde mecânica aeroespacial até comportamento adolescente. E nisso reside o grande potencial de campanhas com eles.

Uma campanha publicitária é tão melhor quanto mais eficientemente sua ideia é “plantada” no público. E a melhor maneira de se fazer isso é disseminá-la de maneira consistente, subliminar e por um longo período de tempo. Nessa hora, os bons influenciadores se destacam, pois, por terem uma grande reputação junto a seu público, podem realizar esse trabalho com maestria!

Claro que isso só dará certo se houver um alinhamento entre o produto a ser promovido e o próprio influenciador digital. Se você quer vender material cirúrgico de alta precisão, um youtuber teen não poderá lhe ajudar muito. Da mesma forma, se o produto for para consumo de adolescentes, não adiante fazer a campanha com um influenciador acostumado a falar sobre mercado financeiro.

O motivo é simples: se eles fizessem isso, essa mudança de discurso abalaria a sua credibilidade, justamente o que eles têm de mais valioso. Seu público perceberia que aquilo se trataria de conteúdo pago, e não apenas desconfiaria da mensagem, como ainda poderia abandonar sua base de fãs.

O mesmo acontece quando a promoção do produto é muito escandalosa, o que nos leva de volta às youtubers maquiadoras satirizadas pelo Portas dos Fundos. Vão com tanta sede ao pote, que sua credibilidade escorre pelo ralo.

 

Vídeo relacionado:

Por isso, em muitos casos, influenciadores “menores”, com milhares de seguidores ao invés de milhões, são mais eficientes que as grandes celebridades digitais para promover algo com essa eficiência máxima. Pois eles são mais focados nos seus valores e estão mais próximos de seu público.

Então, respondendo a pergunta do primeiro parágrafo: sim, vale muito a pena contratar um influenciador digital para promover qualquer tipo de coisa. Desde que isso seja feito de maneira criteriosa, com inteligência. Reduzi-lo a um mero garoto-propaganda não apenas reduz a efetividade da iniciativa, como pode até queimar a imagem do produto.


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