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O que você ganha com a briga da Folha com o Facebook

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Se nos recusamos a ver o problema, isso não implica que ele deixará de existir - Foto: Creative Commons

Se nos recusamos a ver o problema, isso não implica que ele deixará de existir

Pouco antes do Carnaval, a Folha de S.Paulo surpreendeu o mercado com o anúncio de que estava abandonando o Facebook. Por mais que esse movimento tenha passado despercebido pela maioria das pessoas, ele é um sintoma enorme de algo que afeta a vida de todos, impactando significativamente o desenvolvimento da sociedade. Por exemplo, você prefere o Lula na cadeia ou na presidência? Apoia ou condena as reformas trabalhista e da Previdência? E o que pensa do Bolsonaro? Acha que Luciano Huck deveria ter insistido na sua aventura presidencial?

Qualquer que seja seu posicionamento, ele é construído a partir de informação e influência. Mas quem informa e influencia você? Em outras palavras, em quem você acredita e por quê? Goste ou não, aceite ou não, partimos da imprensa e das plataformas digitais para decisões críticas de nossa vida. Então, é bom prestar bastante atenção nessa bagunça informativa.

O fato de a Folha não mais atualizar a sua página na rede do Mark Zuckerberg desde o dia 8 é reflexo de uma grotesca falência da mídia, especialmente dos veículos mais tradicionais, no seu relacionamento com o público. Demonstra também como as grandes plataformas digitais estão se debatendo contra o avanço das “fake news”, as infames notícias falsas, que inundaram as redes sociais. No meio disso tudo, estamos todos nós: podemos ser os maiores beneficiados ou prejudicados dessa briga. O que ganhamos ou perdemos depende também das nossas atitudes.

Não há mais vítimas inocentes nesse cenário, nem nós mesmos!

 

Os motivos da Folha

A Folha argumenta que saiu do Facebook porque as mudanças em seu algoritmo, anunciadas no dia 11 de janeiro, prejudicariam o “jornalismo profissional” e privilegiariam as “fake news”. Além disso, faz um pouco caso da audiência que, por mais que esteja em queda, ainda vem daquela rede social. Na prática, ela se dá importância e se coloca acima disso tudo.

Seria lindo, se não passasse de uma cortina de fumaça.

Sim, é verdade que as mudanças nos algoritmos do Facebook vêm reduzindo a audiência das páginas das empresas, mas de todas elas, e não só das de comunicação (e muito menos só do “jornalismo sério”). Também é verdade que as “fake news” estão crescendo como um câncer com a ajuda das mesmas redes sociais.

O que esses veículos de comunicação que vivem um eterno chororô diante da sua crescente irrelevância no meio digital não dizem é que os principais responsáveis por sua derrocada e pelo crescimento das “fake news” são eles mesmos! Sim, as redes sociais têm sua indiscutível e gigantesca culpa no cartório, por serem incapazes de separar automaticamente jornalismo de qualidade de notícia falsa. A partir daí, seus algoritmos de relevância fazem o trabalho sujo de replicar aquilo com que as pessoas se engajam mais. Mas isso só acontece porque a imprensa está deixando essa bola quicando na área.

Como expliquei no artigo que publiquei logo após a mudança no algoritmo ter sido anunciada, as pessoas compartilham aquilo que lhes dê prazer imediato, e de preferência o que lhes causa grandes emoções (positivas ou negativas) e não lhes faça pensar demais. Sem nenhum julgamento moral, é assim que o cérebro humano funciona.

Oras, os produtores das “fake news” se valem justamente disso, para criar e “plantar” conteúdos que atendam a essas expectativas de parcelas significativas do público. Dando o que as “pessoas certas” (formadores de opinião alinhados a seus objetivos) querem ouvir, elas começarão o trabalho de espalhar a mentira, que será ampliado pelos algoritmos. Vale dizer que os criadores das notícias falsas também conhecem muito bem o “seu público” e sabem como usar os recursos das plataformas digitais, o que torna o seu trabalho ainda mais eficiente.


Vídeo relacionado:


É óbvio que o que a imprensa deveria fazer seria combater fogo contra fogo. Ou seja, produzir conteúdo de qualidade cada vez melhor e ampliar ainda mais a sua presença em todas as plataformas digitais possíveis, usando seus recursos inteligentemente! Entretanto, já no artigo e no vídeo acima, expressei o meu temor que os veículos partissem para o caminho mais fácil, de piorar seu conteúdo, criando “caça-cliques”, para tentar salvar sua audiência! Mas não previ um movimento tão inusitado, como entregar o campo de batalha à “turma do mal”.

É como um avestruz, que enfia a cabeça na areia para não ver mais o problema, que continua existindo.

 

Por que os veículos falham nas redes sociais

Os produtores de “fake news” prosperam porque eles sabem jogar esse jogo, enquanto os veículos tradicionais continuam presos a fórmulas que funcionaram por um século, mas que perderam a sua eficiência há pelo menos 15 anos. Acusam as redes sociais e os buscadores de serem os causadores de sua derrocada, quando, na verdade, seus produtos perdem relevância diante de novos concorrentes sérios (e não apenas das “fake news”) que sabem usar essas plataformas a seu favor. Esperam que as pessoas continuem pagando pelo seu conteúdo (porque “produzir jornalismo de qualidade custa caro”), quando os modelos de negócios se transformaram completamente.

E custa caro mesmo! Mas o binômio assinatura mais publicidade como fonte de renda ruiu completamente. Apesar disso, tem gente boa ganhando dinheiro com jornalismo, usando outras formas de financiamento. Mas todos eles têm duas características: conteúdo de qualidade superior e bom relacionamento com seu público.

Os grandes veículos, e isso inclui a Folha, vêm sofrendo de descrédito junto à opinião pública, devido a seus próprios erros. Noticiário mal apurado ou irrelevante, reportagem limitada, caça-cliques, cerceamento de opiniões contraditórias e vínculos (às vezes escandalosos) a grupos políticos e econômicos têm abalado séria e continuamente a sua reputação. E imprensa sem reputação não existe!

Isso não vem de hoje. Em sua coluna do dia 24 de junho de 2012, a jornalista Suzana Singer, então ombudsman da própria Folha, escreveu: “O jornal precisará oferecer conteúdo de qualidade superior à que o site tem hoje. Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do ‘mundo B’, ninguém precisa gastar um centavo.” Era uma análise diante do início da cobrança pelo conteúdo do site, que até então era aberto.

Além disso, todos os veículos precisam entender, de uma vez por todas, que precisam se relacionar verdadeiramente com seu público. Eu me lembro que, quando eu iniciei minha carreira na Folha: depois que “fechava” uma notícia, aquilo já era passado, e eu não tinha nenhuma relação com o leitor. Mas isso era nos anos 1990!

Agora as pessoas querem se relacionar com os jornalistas e as empresas, e para isso as redes sociais são excelentes! Os veículos de sucesso (e as “fake news”) hoje sabem como fazer esse relacionamento muito bem, e colhem os frutos disso. Já os veículos tradicionais fazem posts como se fossem chamadas para a primeira página do jornal impresso, e têm zero interação com seu público, o que é inadmissível.

Advinha só para quais veículos as pessoas correm?

 

Todos têm que melhorar!

Meu trabalho não é fazer a imprensa feliz!” A frase é de Campbell Brown, executiva do Facebook, que cuida curiosamente das parcerias com os veículos de comunicação, que concluiu: “se alguém acha que o Facebook não é a plataforma para ele, então não deveria estar no Facebook.” Com sua sutileza paquidérmica, Brown deixou clara a posição do Facebook no caso e ainda sugeriu que “grande parte do melhor jornalismo atualmente é feito por pequenos veículos, mais nichados”.

Mas os pequenos também estão sofrendo com as mudanças, pois a eficiência de sua presença no Facebook se tornou um alvo em movimento. A falta de transparência da plataforma dá a impressão que só é possível ter algum destaque ali pagando. Por isso, assim como a Folha, empresas de todo tipo e porte estão investindo menos na plataforma e buscando alternativas. Como tenho ouvido o tempo todo desde janeiro, “o Facebook deu um tiro no pé”. Até a Unilever ameaçou cortar anúncios no Facebook e no Google, se não houver mais transparência.

Como se pode ver, nesse complexo cenário de interesses, todos têm sua parcela de culpa e, portanto, também a obrigação de melhorar. Se a imprensa quiser realmente combater as “fake news” e aumentar suas receitas e sua audiência, eles devem primeiramente resgatar os princípios do bom jornalismo e estar presentes em cada vez mais canais (e não sair deles). Precisam também aprender que o relacionamento com o seu público mudou, pois as pessoas mudaram. Por isso, as redes sociais e os buscadores podem ser muito mais aliados que predadores. Entretanto, eles possuem dinâmicas que precisam ser entendidas, aceitas e praticadas pelos veículos.

Já essas plataformas digitais precisam ser mais transparentes e se esforçar genuinamente para combater as “fake news” com todos seus recursos. Além disso, devem também identificar quem realmente produz jornalismo de qualidade, e privilegiar esses parceiros em uma troca justa. Não podem ignorar o seu gigantesco papel social como replicadores de todo tipo de conteúdo.

Quando a nós, usuários, precisamos assumir o nosso papel de protagonismo nisso tudo, desenvolvendo uma desconfiança saudável. Não podemos ser inocentes e acreditar em tudo que lemos, seja nas redes sociais, seja em um veículo de comunicação. Portanto, antes de compartilhar qualquer coisa, pensemos se aquilo é mesmo verdade e no impacto de nossas ações!

Se todos fizerem bem a sua parte, ganharemos uma sociedade mais desenvolvida, mais justa e mais igualitária. Qualquer coisa fora disso nos fará rumar mais e mais para a barbárie que inunda o noticiário.


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É incrível, mas tem gente que ainda não sabe usar o LinkedIn

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“Quem não comunica se trumbica!” A célebre frase de Chacrinha define um bom uso do LinkedIn - Foto: divulgação

“Quem não comunica se trumbica!” A célebre frase de Chacrinha define um bom uso do LinkedIn

Você já pensou seriamente sobre o que você faz no LinkedIn? Mais que recursos exclusivos entre as redes sociais, a maior plataforma de caráter profissional do mundo oferece conteúdo de qualidade e um ambiente ótimo para se construir uma boa reputação profissional, até mesmo sem investir um centavo, resultando em empregos e negócios! Então responda honestamente a você mesmo: está tirando o máximo proveito que essa ferramenta lhe oferece?

Não é segredo que o LinkedIn ocupa um espaço importante em minha vida. Posso afirmar categoricamente que o tempo investido na rede tem se revertido em muitos contatos interessantíssimos e consequentes trabalhos. Não estou sozinho nisso: afinal são 31 milhões de usuários no Brasil! Mas eu fico impressionado ao notar que a imensa maioria dessas pessoas faz um uso limitadíssimo da rede. E também me questiono por que o Facebook tem 130 milhões de usuários no país e o LinkedIn tem “apenas” um quarto disso.

De forma alguma estou desmerecendo a rede do Mark Zuckerberg: também a uso intensamente. Mas é inegável que os propósitos das pessoas nas duas redes são diferentes, por mais que tenha ouvido, cada vez mais, que o LinkedIn esteja sendo “facebookado”, tese depreciativa que rejeito. No LinkedIn, os usuários têm um foco em aprender e compartilhar assuntos profissional ou socialmente relevantes, criar vínculos profissionais, promover produtos sem necessariamente investir em publicidade. Essa é a sua grande força, desperdiçada e até mesmo desconhecida pela massa de usuários.

Não me refiro às várias técnicas para criar um bom perfil, conhecer pessoas interessantes e ser visto por elas: elas existem mesmo e são muito úteis, até mesmo essenciais! Mas isso é apenas o começo da sua presença na rede. Limitar-se a buscar um bom perfil é como construir uma casa com uma fundação incrível, mas colocar nela as paredes.

 

Quem tem boca vai a Roma

O erro mais comum que observo é o de as pessoas acharem que o LinkedIn é um “site de currículos”, que serve apenas para procurar emprego. Acredito que esse seja um dos principais motivos para tanta gente boa não participar dele: afinal não estão procurando emprego.

Bem… o LinkedIn não é só isso!

Talvez em sua gênese, fosse. E é verdade que os dois empregos mais bem remunerados que já tive vieram dele. Mas tudo isso foi antes do “novo LinkedIn”, aquele que permitiu publicarmos conteúdo e elevaram os níveis de relacionamento qualificado a um patamar inédito.

Portanto, aqui vai uma grande dica, construída sobre aquelas obviedades da vida que todo mundo sabe, mas poucos praticam: rede social serve para sociabilizar!

Ridículo dizer isso? Nem tanto! A maioria dos usuários cria (bem ou mal) o seu perfil e nunca mais aparece ali. Não lê ou curte o que as pessoas estão publicando, não fala com ninguém, não recomenda seus amigos em seus perfis.

Sabe o que essa pessoa ganha com sua (falta de) participação no LinkedIn? NADA!

O motivo é muito simples. Quando não se tem nenhuma atividade na rede, a “relevância” do perfil para os algoritmos do LinkedIn desaba. Falando em português, sem atividade na plataforma, quando alguém procurar por um profissional com seu perfil, ele até será selecionado, mas ficará tão embaixo na relação de candidatos criada pelo sistema, que será a mesma coisa que não estar lá.

Então, se você já não faz isso, comece a desenvolver o saudável hábito de dar uma passadinha no LinkedIn todos os dias, ver o que as pessoas estão publicando ou comentando, participar das conversas, curtir o que acha que vale a pena, e ser generoso com seus contatos.

Afinal, já dizia o Chacrinha: “quem não comunica se trumbica!”

 

Mostre a que veio ao mundo

Mas o grande diferencial para criar uma boa reputação no LinkedIn e ficar sempre em evidência depende de seu altruísmo.

Isso mesmo! Poucas coisas são tão poderosas quanto participar da rede compartilhando o que você sabe, dando opiniões (embasadas) sobre publicações dos outros, conversando com as pessoas sobre esses temas e ajudando-as da melhor maneira possível.

A verdade é que a maioria das pessoas quer consumir algo (ou muito) na rede, mas poucos são aqueles que estão dispostos a oferecer algo em troca. E não estou dizendo aqui que é necessário ficar horas todos os dias no LinkedIn: claro que não! Mas todos os dias ficamos sabendo ou pensamos em algo que poderia ser útil a outras pessoas. Por que guardar tudo para si?

Compartilhe! Pode ser artigos, um material bem trabalhado, feito com pesquisa e mais longo, ou comentários rápidos a partir de algo que ficou sabendo. Os dois são importantes para construir uma boa reputação na rede, por diferentes motivos.

Os artigos têm vários pontos positivos. O primeiro deles é que você tem liberdade para desenvolver sua tese plenamente: não há restrição de espaço ou de uso de recursos multimídia, como vídeos, áudios e imagens. Além disso, eles ficam permanentemente associados aos nossos perfis no LinkedIn, sendo facilmente resgatados. Por conta de tudo isso, eles normalmente têm excelente engajamento (curtidas comentários, compartilhamentos). Mas a sua audiência é normalmente baixa, inclusive porque os algoritmos do LinkedIn diminuíram imensamente as suas ocorrências nos feeds de notícias dos usuários. Mesmo assim, os artigos são a melhor ferramenta para fundamentar a sua autoridade no seu campo de atuação.

Já as atualizações (ou posts) são o contraponto perfeito. Graças ao algoritmo de relevância, eles costumam ter uma audiência bastante grande, apesar de apresentarem engajamento proporcionalmente baixo. Além disso, são como estrelas cadentes: brilhantes, porém fugazes. Se os outros usuários os virem no dia em que foram publicados, ótimo! Caso contrário, provavelmente nunca mais terão essa chance. Portanto, as atualizações são ótimas para manter você em evidência na rede.

Dessa forma, o ideal é publicar artigos de vez em quando e atualizações frequentemente. Essa é a melhor combinação de qualidade com evidência!

Claro que ainda há a questão de o que e como escrever os artigos e as atualizações. Mas nem mesmo esse artigo seria suficiente para explicar. Fica para uma conversa comigo pessoalmente. É só marcar!

Com tudo isso, o LinkedIn é certamente a melhor ferramenta para você atingir seus objetivos profissionais e até pessoais. Pode ser seguramente a sua melhor mídia (e você nem precisa pagar por ela). Mas não existe almoço grátis: é necessário um perfil bem construído, relacionamento com as pessoas e produção de conteúdo.

Parece muito trabalhoso, parece demasiadamente difícil. Você pode até achar que não é para você. Mas acredite: é como aprender a andar de bicicleta! Todos podem fazer isso e, quando se aprende (e não demora), a coisa fica bem prazerosa. E recompensadora! O que está esperando?


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Não alimente os trolls da Internet

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Trolls comendo no filme “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (2012) - imagem: reprodução

Trolls comendo no filme “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (2012)

Desde que me tornei um LinkedIn Top Voice, as pessoas me fazem algumas perguntas recorrentemente. Uma delas é como eu lido com gente com todo tipo de comportamento inadequado nas redes sociais, inclusive no LinkedIn. Afinal, qualquer pessoa pode ser vítima dessas péssimas abordagens, porém, quanto mais exposto estamos, maior o risco de virarmos alvo. A minha resposta é: não alimente os trolls! E todos nós temos que fazer isso, ou corremos sérios riscos.

Para começar, gente chata, grosseira ou até mesmo violenta sempre existiu e sempre existirá. Mas as redes sociais criaram um novo tipo de inconveniente: o “hater”. Para quem não sabe o que é, trata-se de um indivíduo que, como o nome em inglês sugere, destila um ódio exagerado e quase sempre gratuito contra alguém nas redes sociais. Ele não se preocupa em explicar, ele não avisa que está chegando: simplesmente aparece e parte para os insultos, normalmente muito pesados, tentando magoar e até mesmo destruir seu desafeto.


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Não se engane: até quem tem sangue de barata sofre o baque de um ataque desses, especialmente na primeira vez. Eu mesmo já fui vítima desse tipo de troll em algumas ocasiões (felizmente poucas).  E o mais triste é notar que isso aconteceu quando eu havia produzido algum conteúdo que tentava despertar coisas boas nas pessoas.

Só que, por algum motivo, pisei no calo do troll, e ele partiu para a ataque. E esse é um risco que qualquer profissional ou empresa corre, especialmente nas redes sociais. O que fazer diante disso?

Nessas horas, o melhor é entrar em uma caverna! Ou, em outras palavras, não responda na hora! Pois, se fizer isso, provavelmente a sua resposta estará contaminada pelas emoções que o hater plantou no seu coração: você devolverá na mesma moeda.

E é isso que esse troll mais deseja.

 

Desvie da rota de colisão

Quem se dirige a outra pessoa com insultos perde a razão, mesmo quando está apenas reagindo a outra ofensa. Só que o hater normalmente tem pouco ou nada a perder, ao contrário de sua vítima, cuja reputação já está sendo atacada. Portanto nunca, jamais devolva na mesma moeda, por mais que esteja coberto de razão.

Vá dar uma volta para esfriar a cabeça e acalmar o coração. Converse com alguém. Faça algo que gosta. Só então responda. E nunca deixe de responder, ou a última palavra será a do troll.

O que responder é o próximo desafio. Mesmo usando a lógica, não entre em rota de colisão com o agressor, pois os argumentos dele (se é que tem algum) são passionais, irracionais até. Portanto, acolha aquilo da melhor maneira possível, mas explique que vocês têm pontos de vista divergentes sobre o tema. Diga que, mesmo assim, a agressão não é necessária, pois opiniões conflitantes podem coexistir. E então reforce o seu ponto de vista educadamente.

É bem possível que o troll volte à carga. Nesse caso, avalie se vale a pena uma outra rodada de respostas, pois, a essa altura, provavelmente já ficou claro que o diálogo não é possível, pois o outro lado é surdo e fala mal. Então, se diante do que já foi dito, a criatura continua vociferando, deixe-o falando sozinho a partir desse ponto. O importante é que, para seu público –e toda essa discussão normalmente é pública– você já se posicionou adequadamente.

Aliás, disso surge outra dica: nunca apague as ofensas, pois o troll voltará com mais força, acusando-o de censura, e talvez ainda traga seus amigos. Ao invés disso, já que ele armou um pequeno palco para aparecer, suba ali junto com ele para reforçar os seus valores. Aproveite esse infortúnio para expor aquilo em que acredita.

 

Não negocie com terroristas

Mas há outros tipos de trolls nas redes sociais. Um deles atinge principalmente as mulheres: os assediadores.

Eles são resultados da combinação da sociedade machista em que vivemos com uma sensação de impunidade que as redes sociais provocam. Uma sensação completamente equivocada, diga-se de passagem, pois é possível rastrear criminosos usando os próprios recursos da rede.

A grande maioria das mulheres –e alguns homens– já foi vítima desse tipo de agressão ou conhece alguém que foi. Normalmente elas se manifestam na forma de cantadas ostensivas, envio de fotos obscenas ou desqualificação da vítima pelo simples fato de ser mulher (ou homem).

Pode-se tentar usar a mesma tática acima, adotada contra os haters. Mas, nesse caso, talvez o melhor seja usar os recursos das próprias redes sociais para denunciar e bloquear o agressor. Em casos extremos, deve-se acionar a polícia.

Uma amiga me disse recentemente que sofria muitos desses assédios, a ponto de deixar de usar alguns aplicativos. Apesar de compreender a sua dor, recomendei que ela não fizesse isso. Pois, por mais que as agressões sejam constantes., não podemos deixar de usar alguma coisa que gostamos ou que nos ajuda só por causa dos trolls. Seria como ceder às ameaças de um terrorista. Se nos rendemos, eles vencem e farão isso cada vez mais.

Esse tipo de ataque muitas vezes acontece em bando. Não se acanhe: denuncie e bloqueie todos eles. Sempre!

 

Idiotismo digital

Até há alguns anos, esse tipo de agressor tentava tomar alguns cuidados básicos –pelo menos usava nome, foto e conta falsos– na tentativa de proteger sua identidade, pois sabia que o que estava fazendo era errado e que poderia ser responsabilizado por aquilo, até mesmo criminalmente.

Mas é assustador notar que, de uns tempos para cá, muitos trolls não estão adotando nem essas medidas: cometem as suas barbaridades com seus perfis verdadeiros, com nome e sobrenome reais, para quem quiser ver. Até mesmo no LinkedIn, uma rede com um propósito mais sério, onde muita gente está procurando emprego, o indivíduo se sente à vontade para barbarizar e perpetrar todo tipo de ato de ódio, intolerância, machismo e afins.

Como explicar esse idiotismo digital? Pois é evidente que um recrutador jamais contratará alguém que comete esse tipo de coisa, ainda mais com um alcance potencialmente global. E, se já estiver empregado, isso pode lhe custar (como já custou em inúmeros casos no Brasil e no exterior) a demissão, pois a reputação da empresa pode ser comprometida se tiver trolls em seus quadros.

A psicologia pode ajudar a explicar porque as pessoas fazem no meio digital coisas que não fariam presencialmente. Quando estão online, muitas pessoas entram em um estado alterado da consciência, em que acham que podem tudo, pois a tela do computador ou do smartphone as ofereceria algum tipo de proteção mágica que garantiria que o que for feito na “vida online” não respingará na “vida real”. Quase como se estivessem sob efeito de algum tipo de alucinógeno. E, nessa hora, o pior de cada um pode aparecer.

Só que não existe essa história de “vida online” e “vida real”: são apenas duas instâncias da única vida que cada um de nós tem. Portanto, o que se faz de mal em uma se paga na outra.

 

O bem vence o mal

Sim, os trolls estão por aí, sempre prontos a dar o bote e abater suas presas. Devemos estar atentos e tomar as devidas providências, como descrito acima. Mas há algo ainda melhor a se fazer.


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Se as redes sociais podem mostrar o que temos de mais feio, também podem servir como instrumento para realizarmos coisas incríveis e muito construtivas. Como qualquer ferramenta, o que tiramos dela depende do uso que fazemos.

Como disse acima, já fui vítima de diferentes tipos de trolls nas redes sociais. Mas felizmente isso aconteceu poucas vezes, em contraste com uma infinidade de bons sentimentos trocados por mensagens, comentários, conversas telefônicas ou pessoalmente.

E não podia ser diferente disso: apesar de todas as mazelas que vemos todos os dias no mundo, acredito sinceramente que o ser humano tem muito mais bondade que maldade dentro de si. E, se o mal atrai o mal, a recíproca também é verdadeira, e muito mais forte.

Cito um exemplo recente que aconteceu comigo no LinkedIn: no início do mês, fiz uma campanha para que profissionais e empresas de TI ajudassem o Hospital de Câncer de Barretos (veja um exemplo de post criado). Ele foi vítima de um enorme ataque de hackers no dia 27 de junho, que estava atrapalhando o atendimento que presta à população, totalmente gratuito. Poucos dias depois, fiquei sabendo que um grande número de pessoas havia entrado em contato com eles se voluntariando, até mais que o necessário. Além disso, eu pessoalmente fui agraciado com muitas mensagens de agradecimento de pessoas que estavam muito felizes por poder ajudar a instituição.

Aquilo encheu o meu coração de alegria! Que mais eu poderia desejar?

Por isso, estou certo que há muito mais heróis que trolls por aí. É isso que eu vejo até mesmo nas redes sociais.


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Você não sai mais da Internet… ou é a Internet que não sai de você?

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Cena de “Matrix”: ao contrário do filme, a “vida online” é a nossa própria “vida real”, e isso pode ser bom! – Imagem: divulgação

Cena de “Matrix”: ao contrário do filme, a “vida online” é a nossa própria “vida real”, e isso pode ser bom!

Talvez você já tenha passado por isso: está animadamente conversando com alguém, quando, de repente, seu celular “acorda” sozinho. Na tela, o Google está esperando o seu comando de voz para pesquisar algo. Longe de ser um “bug” –afinal, você não invocou o dito cujo– isso reflete uma nova maneira de nos relacionarmos com o meio digital: mais que estarmos o tempo todo online por opção, está muito difícil nos desconectarmos, mesmo se quisermos. E isso é uma mudança maiúscula na vida de todos nós!

Eu me lembro que, lá nos primórdios da Internet comercial, em meados dos anos 1990, eu tinha um fetiche de estar online o tempo todo, pois eu achava que isso me daria uma sensação de onipresença e até de onisciência. Mas isso era impossível naquela época, pois não havia tecnologia de comunicação para tanto.


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Mas, de alguns anos para cá, isso é perfeitamente viável! Os principais responsáveis são nossos celulares, que carregamos o tempo todo e se tornaram computadores poderosíssimos, recheados de sensores e permanentemente pendurados na Internet.

Portanto, agora se vive um dilema contrário àquele meu desejo antigo: ficou muito difícil ficar off line, mesmo de vez em quando. Pois, além de estarmos conectados o tempo todo, estamos permanentemente produzindo –na maioria das vezes de forma involuntária e inconsciente– todo tipo de informação sobre nós mesmos. E esses dados vão direto para um número crescente de empresas, governos e instituições.

Em troca disso, recebemos uma infinidade de serviços que deixam nossas vidas mais fáceis, produtivas e divertidas. O problema é que, na prática, não temos nenhum controle do que farão com essas nossas pegadas digitais. E nem falei de cybercriminosos, que também podem estar nos monitorando.

Ficou preocupado? É melhor ir se acostumando, pois a tendência é que isso se acentue ainda mais.

Mas então não bastaria desligar o computador e deixar o celular em casa para ficarmos off line?

 

“Vigiados” o tempo todo

É verdade que os computadores foram a nossa primeira porta para a Internet, e os celulares nos mantêm conectados o tempo todo. Mas hoje eles estão longe de ser os únicos pontos de contato com o mundo digital. Cada vez mais, temos equipamentos a nossa volta permanentemente online e nos “monitorando”, prontos para nos fornecer todo tipo de serviço –e para coletar nossas informações.

Quer testar? Se você tiver um celular Android, experimente falar, do outro lado da sala, “Ok, Google”. Se seu celular for um iPhone, diga “E aí, Siri“. Esses comandos disparam os assistentes pessoais dos aparelhos, que ficam prontos para ouvir seus comandos por voz, quaisquer que sejam. E eles tentarão nos atender da melhor maneira possível.

Para que isso aconteça, o telefone está literalmente nos ouvindo o tempo todo. Mas o que mais ele está captando além de nossos comandos? Não estou sugerindo que Google ou Apple estejam violando a privacidade de seus clientes. Mas e quanto àqueles incontáveis aplicativos de terceiros que você instalou no celular: dá para confiar totalmente neles?

Outro aparelho presente em praticamente todos os lares vem ganhando espaço nessa arapongagem doméstica: a televisão. As smart TVs são verdadeiros computadores o tempo todo online. Muitas delas vêm equipadas com câmeras e podem ser controladas por voz. Dá até para ligar a TV falando com ela! Ou seja, assim como os smartphones, muitas das TVs também estão permanentemente nos escutando.

Portanto seria razoável perguntar o que impede que um hacker invada a sua TV e passe a ver e ouvir o que acontece na sua casa. Por isso, alguns fabricantes de TV sugerem que não façamos em frente à TV algo que possamos nos arrepender depois.

Entenda isso como quiser.

 

Incansáveis assistentes

O mais curioso dessa história toda é que as pessoas não veem nenhum problema nisso. Na verdade, os incríveis serviços que recebemos aparentemente fazem tudo valer a pena.

Tanto é assim que, nos EUA, a Amazon está puxando a fila de uma nova categoria de produtos: os assistentes digitais domésticos. Tratam-se de pequenos equipamentos de mesa que combinam microfone e alto falante conectados à Internet. Funcionam da mesma forma que os assistentes dos celulares, sempre prontos para ouvir nossos comandos e nos dar respostas imediatas instantaneamente.

Amazon Echo e Google Home

O produto da Amazon é o Echo, um pequeno cilindro negro de 23,5 cm de altura. O Google também já lançou o seu, o Home, ainda mais discreto: apenas 14 cm. Nenhum dos dois ainda é vendido no Brasil, mas funcionam se trazidos para cá.

Já há muitos outros aparelhos que se conectam à Internet para expandir seus recursos, como geladeiras e até carros! A tendência é que todos passem a ter funções controladas por voz, e coletem algum tipo de informação sobre os usuários. Possivelmente chegará a hora em que a nossa mobília estará online para nos brindar com algum recurso adicional!

Há ainda os “dispositivos vestíveis”, os “wearables”, normalmente lembrados pelos relógios smart e óculos de realidade aumentada. Mas eles vão muito além disso, como uma nova pulseira que mede, sem necessidade de coleta de sangue, o nível de glicose de diabéticos, ou um tênis que ajuda atletas a corrigir suas passadas. Tudo integrado com aplicativos no celular e, portanto, com dados prontos para serem compartilhados.

Isso é o que os analistas chamam de “terceira onda digital”, ou “era pós-digital”: um mundo em que a tecnologia está tão presente e tão integrada ao nosso cotidiano, que nos beneficiamos dela o tempo todo, sem mesmo nos darmos conta da sua existência.

Então não tem volta?

 

Simbiose digital

Quando penso que alimentamos uma enorme quantidade de sistemas de diferentes empresas com nossas informações, garantindo-lhes gordos lucros e troca de serviços, eu me lembro do filme Matrix (1999), das irmãs Wachowski. Mas felizmente a nossa realidade é muito menos terrível: nada de uma máquina que escraviza a humanidade, reduzindo-a a meros fornecedores de energia, em troca de uma ilusória “vida normal”.

Mas essa nossa vida online cada vez mais ubíqua se tornou, de fato, a nossa vida. Não existe mais separação da “vida presencial”. Na verdade, entendo que nunca houve isso, pois as duas são apenas diferentes representações de nossa única vida real.

A diferença é que agora estamos integrados, imersos, vinculados com o ciberespaço. Toda essa integração funciona como extensões do nosso próprio ser, dando-nos “poderes” que efetivamente expandem nossos limites.

Portanto, esse é um caminho que não tem volta. Conceitos de privacidade precisam ser revistos, diante da nossa tolerância o compartilhamento de nossa vida. Assim, não há solução para esse “problema”, pelo simples fato de que não há problema afinal. Então, se você é daqueles que tenta resistir a tudo isso, receio que sua tarefa ficará cada vez mais difícil.

Precisamos apenas ser conscientes dessa nossa realidade, para não passarmos por trouxas. Tudo isso pode mesmo ser muito legal e útil! Mas, da próxima vez que assistir à TV, lembre-se que talvez ela também esteja assistindo a você.

E daí curta a programação numa boa!


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