Paulo Renato

Palavrões… didaticamente

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Além dos palavrões e das frases de cunho sexual, a obra também menciona o PCC mais de uma vez

Além dos palavrões e das frases de cunho sexual, a obra também menciona o PCC mais de uma vez

“Chupava ela todinha!” Isso pode não causar a você repúdio, mas faz parte de um livro que o Governo do Estado de São Paulo distribuiu às escolas de sua rede para ser usado por alunos de nove anos de idade, no terceiro ano do Ensino Fundamental. Ao todo, foram comprados 1.216 exemplares de “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol” (da Via Lettera), uma coletânea de quadrinhos para o público adolescente e adulto que tem o futebol como pano de fundo.

Além do uso recorrente de palavrões e expressões de cunho sexual e de duplo sentido, a grupo criminoso PCC também é mencionado em histórias, o que deixaria José Serra de cabelos em pé, se ele tivesse para tanto. Mas o governador estrilou, disse que essa compra era “um horror”, prometeu punir os responsáveis pela escolha. Classificou essa mancada como mais grave que o material recheado de erros distribuído a toda a rede no início do ano, cujo mais notório foi um mapa da América do Sul com dois Paraguais (e os dois em posições erradas). Pela completa inadequação à faixa etária, diria que é mesmo! E olha que os Paraguais custaram a cabeça da ex-secretária Maria Helena Guimarães de Castro, que caiu no dia 27 de março, sendo substituída pelo Paulo Renato. Apesar disso e das ameaças do tucano, a secretaria se resumiu a emitir uma notinha burocrática, onde prometia apenas recolher os livros (que custaram aos cofres estaduais R$ 35 mil) e abrir sindicância interna.

Como disse Caco Galhardo, um dos autores do livro, à Folha, “o cara que escolheu não leu o livro”. Realmente é uma das poucas explicações plausíveis para uma coisa dessas ter passado. Ou então é sabotagem! As editoras de livros riem quietinhas de novo, pois, apesar de o Governo Federal continuar comprando seus livros didáticos a todos os alunos do país anualmente, elas não nutrem exatamente simpatia pela iniciativa do Governo de São Paulo de distribuir material complementar, especialmente o que o próprio governo produz (como no caso das obras com os Paraguais). Agora, interesses econômicos à parte, elas têm razão, pois produzir material didático não é para qualquer um: é um trabalho extremamente detalhado e exaustivo, que envolve grandes equipes e muito tempo e dinheiro. E, mesmo com todo o investimento das editoras, muitas obras são recusadas ano após ano pelas comissões avaliadoras. Ver essas mancadas grotescas depois de tudo isso é de lascar!

Enem X vestibular

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O ministro da Educação quer modificar o Enem para que ele substitua o vestibular

O ministro da Educação quer modificar o Enem para que ele substitua o vestibular

O governo federal lançou a proposta de modificações no Enem para que ele passe a servir como uma alternativa aos vestibulares das universidades federais do país. A ideia é que o aluno faça a prova e possa escolher, de acordo com a sua pontuação, entre cinco cursos de uma mesma universidade ou de até cinco instituições diferentes. O discurso demagógico se completa com “uma ferramenta para democratizar o acesso dos estudantes à universidade” e ainda a chance de os alunos escolherem faculdades de qualquer parte do país facilmente.

Na teoria, a proposta é boa, pois o vestibular é um modelo perverso. Mas acho que eu perdi alguma coisa… É razoavelmente simples de se concluir que deve acontecer o contrário disso. Essa história só seria verdadeira se a qualidade do ensino fosse homogênea em todo o país, e isso não é verdade nem entre as escolas particulares. Que dizer então das escolas públicas?

No final das contas, o processo vai acabar elitizando ainda mais o ensino superior federal. Os melhores cursos, quase sempre localizados nas instituições paulistas e cariocas, acabarão ocupados por alunos da rede particular de ensino do Sudeste, onde está a grande maioria das melhores escolas. E hoje a ajuda que o atual Enem representa na pontuação dos vestibulares tradicionais, que beneficia alunos da rede pública, deixaria de existir, pois o Enem seria o próprio vestibular.

Há ainda um outro ponto a ser considerado: o Enem, desde que foi criado, se propõe a traçar um perfil amplo da formação do aluno, indo muito além do conteúdo e concentrando-se principalmente na aquisição de competências esperadas do Ensino Médio. Pelo novo modelo, as atuais 63 questões passariam a 200, para acomodar a verificação de conteúdo, o que contraria essa proposta original.

As universidades devem ainda dizer se aceitam o novo formato: elas têm autonomia para rejeitar a proposta. O governo federal tem pressa -inclusive porque o ministro da Educação, Fernando Haddad, tem pretensões eleitorais. Diante disso, afirmou que as universidades que adotarem o novo sistema receberam mais verbas para assistência estudantil. E por falar em política, Paulo Renato Souza, que acabou de assumir a secretaria de Educação paulista e criou em 1998 o Enem (quando foi ministro da Educação de FHC), já declarou publicamente que desaprova o novo formato.

O governo Lula não tem exatamente se destacado no campo da educação. Em algumas semanas, devemos começar a ver a adesão das universidades. Se tudo correr como pretende o governo, pode ser o início do fim do vestibular. A conferir.

“Paraguais” derrubam secretária

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Paulo Renato disse que "manterá o bom trabalho e a equipe" de Maria Helena

Paulo Renato disse que "manterá o bom trabalho e a equipe" de Maria Helena

Dez dias depois de o governador José Serra anunciar que recolheria apostilas que traziam um mapa da América do Sul com o Paraguai em duas posições (ambas erradas), a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, caiu hoje. As apostilas, produzidas pela Secretaria da Educação com a Fundação Vanzolini, seriam distribuídas para alunos do 6º ano da rede estadual de ensino.

Antes de pedir o recolhimento, Serra chegou a dizer que “não é um erro grave, mas é um erro” e cogitou recolher apenas 1,55% dos cadernos impressos, que supostamente seriam os atingidos pela falha. Além de minimizar o problema, a Secretaria da Educação tentou se isentar da responsabilidade, jogando-a sobre a Vanzolini, que se isentou da culpa, afirmando que o material foi produzido por professores indicados pela secretaria. No final, ficou decidido que a Fundação recolheria todos os 500 mil exemplares e arcaria com as despesas. Mas agora, depois de todo esse circo, Maria Helena vai embora “por motivos estritamente pessoais”.

Em seu lugar, assume Paulo Renato, o aclamado ex-ministro da Educação de FHC. Entrou prometendo manter todo o bom trabalho e a equipe de sua antecessora. Justiça seja feita: Maria Helena conseguiu alguns avanços tão importantes quanto polêmicos, como pagamento de bônus a professores mediante resultados mensuráveis e sistema de metas por escolas. Ela também reformulou o Saresp -exame estadual de escolas- e criou o Idesp -índice para avaliar o nível de aprendizado dos alunos da rede pública.

Chega a ser uma pena vê-la cair por um erro tão estúpido. Estúpido, mas grave, ao contrário do que declarou Serra.