respeito ao consumidor

Turma do atraso quer atrapalhar a Netflix e prejudicar o consumidor

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Cena da terceira temporada de "House of Cards", um dos maiores sucessos da Netflix - Foto: divulgação

Cena da terceira temporada de “House of Cards”, um dos maiores sucessos da Netflix

As operadoras de TV por assinatura declararam guerra à Netflix. O motivo: segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), elas perderam mais de meio milhão de assinantes de maio a novembro. Em contrapartida, a Netflix não para de crescer e sua operação local já é maior que o SBT.

Embates comerciais fazem parte de qualquer negócio. Mas é inadmissível que a linha de ação dessa turma do atraso contra a Netflix prejudique pesadamente o consumidor. E isso acontece porque, ao invés de tentar melhorar o seu produto e as suas ofertas, assume a sua incompetência e se restringe a tentar dificultar a operação da concorrente com manobras políticas.

Em nenhum momento, passou por suas cabeças que vivem essa sangria desatada menos pela concorrência e muito mais por oferecerem uma programação ruim, baseada em incontáveis reprises, entremeada com uma quantidade obscena de comerciais, canais obscuros empurrados para o consumidor, com mensalidades que começam em R$ 75, mas que, para que sejam minimamente decentes, superam os R$ 100 facilmente.

Ou seja, é ruim, mas, em compensação, é caro!

A Netflix, por sua vez, oferece ao consumidor exatamente o contrário disso, que pode ser resumido em uma palavra: liberdade! Liberdade para assistir à programação que quiser, no momento que quiser, no dispositivo que quiser, onde estiver, e sem comerciais ou grade de programação. Tudo por R$ 19,90 ao mês. Por R$ 29,90, o assinante receber imagem com qualidade Ultra HD, nove vezes superior à resolução HD entregue pelas operadoras de TV. E ainda quatro pessoas podem usar a conta simultaneamente em qualquer ponto do país. Sem falar no atendimento ao consumidor, normalmente bom na Netflix e motivo de incontáveis processos contra as operadoras de TV por assinatura.

Quero que fique claro que não estou fazendo propaganda da Netflix aqui. Estou apenas expondo os fatos para que fique claro o motivo dessa migração de assinantes da TV paga para a empresa controlada por Reed Hastings.

É qual é o plano das operadoras de TV por assinatura para ganhar o coração dos consumidores? Manter o mesmo nível sofrível de seus produtos e tentar deixar a vida da Netflix mais difícil no país.

Ele se organiza em quatro frentes. A primeira pressionará a Agência Nacional do Cinema (Ancine) para que ela exija da Netflix o pagamento da Condecine, uma taxa de R$ 3.000 por cada filme no seu catálogo. O lobby também atuará nos governos estaduais, para que passem a cobre ICMS sobre as assinaturas da Netflix.

A turma do atraso também quer forçar duas coisas que claramente são contrárias ao interesse do consumidor: exigir que pelo menos 20% do conteúdo da Netflix seja forçosamente nacional, e que as os usuários paguem mais pela sua conexão à Internet, porque “o serviço consome muita banda larga”.

Ou seja, o consumidor que se lasque!

 

Chutando a lei

Vamos por partes na análise dessas quatro propostas abomináveis.

As duas primeiras funcionariam como uma penalidade à Netflix, infligindo-lhe uma considerável perda financeira. Naturalmente isso impactará no valor da assinatura cobrada do consumidor. Ainda assim, a assinatura da Netflix deve ficar muito abaixo do cobrado pelas operadoras de TV por assinatura. E seu produto naturalmente continuaria sendo melhor.

Mas o pior são as duas outras estratégias das operadoras. A última é contra a lei!

A questão dos 20% de programação nacional é delicada, porque há duas formas de isso ser atingido: diminuindo o tamanho total do acervo ou ampliando a quantidade de títulos nacionais, o que também impactaria o preço. Em ambos casos, novamente o consumidor sai perdendo, seja por sua capacidade de escolha ser prejudicada, seja por ser obrigado a pagar mais.

Acho ótimo incentivar a produção audiovisual brasileira, mas não concordo que isso seja feito por decreto, muito menos para prejudicar uma empresa específica e, de forma alguma, penalizando o consumidor. Vale lembrar que temos ótimo conteúdo já sendo produzido no Brasil, muitos deles já disponíveis no acervo da Netflix. Também vale destacar que a Globo, maior produtora de conteúdo audiovisual no país, não quer nem ouvir falar de Netflix, assim como a Band. A Record, por outro lado, já oferece algumas de suas produções no serviço, incluindo a novela “Os Dez Mandamentos”, que atingiu uma ótima audiência no canal.

Mas o pior mesmo é a proposta indecente de cobrar mais nas assinaturas da Internet de quem use a Netflix. Isso contraria o maior ganho do Marco Civil da Internet, que é a “neutralidade da rede”, criada justamente para impedir esse tipo de abuso econômico de empresas. Segundo essa cláusula, as empresas não podem alterar velocidade ou preços de acordo com o conteúdo que o usuário trafega pela Internet.

 

De vento em popa

Apesar de toda gritaria e ranger de dentes, a Netflix continua sua história de crescimento. No dia 19, a empresa anunciou a impressionante marca de 75 milhões de assinantes no mundo, 60% disso nos EUA. Uma semana antes, a empresa também anunciou que passava a oferecer seu serviço em 130 novos países. Ficam de fora apenas a China, a Coreia do Norte, a Crimeia e a Síria. E naturalmente o mercado chinês está na mira da empresa.

No Brasil, estima-se que a companhia, que não informa números locais, terminou 2015 com cerca de 4 milhões de assinantes, o que lhe renderia um faturamento estimado de R$ 1,1 bilhão. Isso significa que a operação brasileira já é cerca de 30% maior que o SBT, segunda maior rede de TV do país, cujo faturamento estimado no mesmo período foi de R$ 850 milhões.

Outro segredo para o sucesso da Netflix é a produção de seu conteúdo original, como as séries “House of Cards”, “Orange Is the New Black”, “Demolidor”, “Jessica Jones”, entre muitas outras. Para este ano, a empresa deve lançar mais de 30 novas produções, inclusive uma totalmente brasileira: “3%”, estrelada por João Miguel e Bianca Comparato. Também devem começar a surgir títulos dedicados a crianças. E há ainda rumores da entrada da empresa no mercado de jornalismo e esportes.

As operadoras de TV por assinatura podem tentar dificultar a vida da concorrente, mas o máximo que conseguirão será enlamear ainda mais a sua imagem já suja junto à opinião pública.

Quem você prefere na sua TV?

 

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