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Como ganhar muito com pequenos influenciadores digitais (até mais que com os grandes)

By | Tecnologia | 4 Comments

Imagem: foilman/Creative Commons

Você provavelmente já ouviu falar deles: os influenciadores digitais. Eles são a bola da vez das campanhas de marketing e todo tipo de empresa quer usar sua influência para ficar bonita na foto com seus clientes. Mas a verdade é que poucas empresas ou agências sabem como tirar real proveito desse poderoso recurso. Tanto que a maioria ignora aqueles que podem trazer o maior retorno para esse investimento: os pequenos influenciadores.

Para quem não sabe direito o que são os influenciadores digitais, eles são produto da explosão do uso das redes sociais. São pessoas que, até há bem pouco tempo, eram completas desconhecidas, mas que, graças ao seu talento e a sua capacidade de usar os recursos digitais, tornaram-se celebridades da noite para o dia. Chegando a ter milhões de fãs, muitos viraram queridinhos de empresas, pela sua capacidade de sugerir a seus seguidores a aquisição de produtos de todo tipo.


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Mas agora vivemos um segundo momento desse fenômeno, em que as empresas começam a perceber que alguém com “apenas” milhares de seguidores pode influenciar muito mais e melhor que outro com milhões. E por um custo muito menor.

A explicação é simples e tem tudo a ver com a própria essência das redes sociais e com a nossa natureza humana. Tendemos a acreditar mais nas pessoas que se parecem ou pensam como nós. Portanto, podemos seguir um youtuber porque ele é engraçado e nos faz rir muito. Entretanto, se precisássemos passar uma mensagem mais séria e elaborada, será que pensaríamos nele? Ou escolheríamos uma pessoa que construiu uma reputação em torno daquele assunto, sendo admirada e “seguida” por isso?

O segundo caso vem trazendo resultados mais consistentes. Mas ele exige alguns cuidados.

O uso dos influenciadores para vender produtos ganhou força há alguns anos com blogueiras de maquiagem. Como elas já usavam cosméticos para produzir seu conteúdo, as marcas perceberam que poderiam transformá-las em garotas-propaganda eficientíssimas, se pagassem para que usassem seus produtos, falando (muito) bem deles.

Essa fórmula se ampliou para uma enorme variedade de indústrias e continua valendo até hoje. Mas começa a sofrer sinais de desgaste. Ficou banalizada! E aí reside o primeiro ensinamento aqui: uma boa campanha com um influenciador digital não o deve usar como um mero garoto-propaganda.

Ele é muito mais que isso!

 

Reputação digital

No final das contas, tudo gira em torno de outro conceito derivado da nossa ubiquidade digital: a reputação que construímos nas redes sociais.

Um bom influenciador digital é aquele que conseguiu se tornar uma autoridade naquilo que se propõe a falar. As pessoas o “seguem”, gostam dele e o respeitam por isso. É algo que se constroi com muito trabalho e um trabalho consistente e sério. Mas, se isso não for continuamente cultivado, pode descer pelo ralo.

Justamente por isso a fórmula das blogueiras de maquiagem que se transformaram em garotas-propaganda começa a fazer água: as pessoas não são trouxas! Quando essas formadoras de opinião usavam os cosméticos de uma maneira genuína, para ensinar como se maquiar, estavam construindo sua reputação. Mas quando trocaram isso por uma exibição escancarada de produtos, inclusive produtos de qualidade reconhecidamente abaixo do que elas realmente usariam, sua credibilidade começou a borrar com a maquiagem. E aí aquela refinada e eficiente capacidade de plantar e adubar com reputação uma ideia acaba virando um comercial ordinário.

Portanto, empresas que sabem fazer uma boa campanha com um influenciador digital não matam o que eles têm de melhor, que é a sua reputação e a sua capacidade de cultivar conceitos ao longo do tempo. E esse é o segundo ensinamento: em uma boa campanha com um influenciador, todos devem ganhar, começando pela marca, passando pelo influenciador e terminando em seu público. Sem forçar a amizade!

Nessa hora, os melhores perfumes podem estar mesmo nos menores frascos.

 

Relação de confiança e proximidade

Se estamos falando em estabelecer um canal de confiança, muitas vezes a proximidade entre o influenciador e seu público pode ser a chave para o sucesso de uma campanha. Evidentemente nem um pequeno influenciador conhece todos os seus seguidores, mas, ao contrário do que se vê nos megainfluenciadores, os pequenos normalmente cultivam uma relação mais próxima com muitos de seus fãs, que acabam se tornando amigos e servindo para reverberar ainda mais a sua mensagem.

Por isso, antes de escolher um influenciador, faça sua lição de casa e pesquise quem ele é, sobre o que costuma falar, que tipo de pessoa gosta dele e até mesmo a sua linguagem. Daí faça uma pergunta a si mesmo: isso tem a ver com o seu produto ou a sua marca?

Se a resposta for não, esse influenciador não é o que vai ajudar você na sua campanha. Resista à tentação de contratar alguém apenas por ser famoso ou porque VOCÊ gosta dele. Se forçar o influenciador a mudar o que ele é apenas para se adequar a uma campanha, caímos novamente no problema acima, o do garoto-propaganda.

 

E como ficam os grandes?

Mas então o grande influenciador digital não tem mais espaço nas campanhas? Claro que tem! Mas suas vantagens são complementares às dos pequenos.

Por exemplo, se a sua necessidade é expor seu produto ou a sua marca para o maior número de pessoas possível, gerar “awareness”, um influenciador megacelebridade pode funcionar melhor. Mas, mesmo nesse caso, resista a tentação de reduzi-lo a um garoto-propaganda, como a televisão sempre fez com as suas estrelas, que se limitam a emprestar seu rosto e sua fama às marcas, em peças de 30 segundos.

A fama alheia certamente abre portas e é ótima para jogar holofotes sobre um produto. Mas ela não é capaz de envolver o público com ele, para que essas pessoas se tornem clientes não porque um galã disse para comprarem algo, e sim porque entenderam seu conceito, conheceram a marca, identificaram suas reais vantagens e finalmente introjetaram isso tudo em seu cérebro.

Esse é o grande segredo, o “crème de la crème” desse novo jeito de fazer marketing. Mas ele só é possível se for executada por pessoas que têm uma boa reputação junto a seu público.

Afinal, a ideia mais crível e mais eficiente é aquela que você acha que é sua. Mesmo que, na verdade, tenha sido plantada em sua cabeça por alguém em quem você confia.


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Não olhe agora, mas você pode estar financiando um terrorista

By | Jornalismo | One Comment

Imagem: montagem sobre reprodução

Há alguns dias, cerca de 250 grandes empresas, como McDonald’s, Volkswagen, L’Oreal, e HSBC, disseram que estavam deixando de anunciar em produtos do Google, como o YouTube. O motivo: seus anúncios estavam aparecendo em vídeos que promoviam terrorismo, racismo e outros conteúdos para lá questionáveis. Você pode estar se perguntando: “e o que eu tenho a ver com tudo isso?”

Muita coisa!

Longe de ser apenas uma questão comercial, essa crise potencialmente pode mudar a Internet como a conhecemos. Em uma situação extrema, muitos serviços comuns em nosso cotidiano, que hoje são gratuitos, poderiam passar a ser pagos. Mas algumas atitudes simples nossas podem evitar isso.


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Para quem não sabe do que se trata tudo isso, uma breve explicação. Pelo método criado pelo Google e largamente adotado é copiado por empresas na Internet, os anunciantes não sabem exatamente em que conteúdo sua publicidade aparecerá. Eles cadastram suas peças e dão diretrizes ao sistema sobre assuntos aos quais as peças devem ser associadas. Mas quem define esse destino, em última instância, são os algoritmos do Google e das outras empresas que vendem publicidade digital, pois se trata de um processo automatizado.

Justamente nisso reside o maior poder do marketing digital. Graças a esses algoritmos, a chance de um anúncio aparecer associado a um conteúdo que tem forte relação com ele aumenta muito. E existem literalmente milhões de páginas e vídeos disponíveis para isso. Consequentemente a probabilidade de o anúncio ser relevante para a pessoa que está vendo tal conteúdo aumenta muito! Logo, as vendas do anunciante tendem a ser muito maiores que as feitas com uma publicidade tradicional.

Mas os algoritmos não são perfeitos. Muitas vezes, o anúncio acaba sendo exibido junto a conteúdos que não têm relação com ele. Pior que isso: pode ser exibido associado a conteúdos que nem deveriam estar na plataforma, como os que estão causando toda essa celeuma.

Mas qual é o real tamanho desse problema?

 

Tempestade em copo d’água

A retirada das campanhas do Google vazou para a imprensa, que botou a boca no trombone. Ao meu ver, a reação desses anunciantes é um tanto exagerada. Pode-se argumentar que é uma questão de princípios: nem um único banner deve ser associado a uma atividade ilícita. Até aí, tudo bem. Mas a repercussão na imprensa deu a entender que o Google é inundado de conteúdos pró-terrorismo e que os banners dos seus anunciantes estariam viabilizando atividades do Estado islâmico e sua turma, o que evidentemente é um despropósito.

Porém isso foi suficiente para criar possivelmente a maior crise de reputação que o Google já teve. E isso pode colocar em risco todo o seu modelo de negócios e a internet como a conhecemos. Afinal, podemos usar gratuitamente os seus diversos produtos justamente porque eles são bancados pela publicidade. E quanto mais os usamos, mais banners são exibidos, gerando mais dinheiro para o Google.

Em outras palavras, ao usar, por exemplo, o YouTube ou o próprio buscador, nós não somos os clientes do Google: somos parte do produto! Os clientes são os anunciantes. E isso vale para todas empresas que vendem publicidade de maneira semelhante, como o Facebook.

Para piorar a confusão, nessas horas sempre aparecem oportunistas.

 

Solução no passado?

No meio da tempestade, o UOL resolveu publicar uma “carta aberta” em que se coloca como a solução para o problema. No documento, o portal joga mais lenha na fogueira, colocando em xeque o modelo da publicidade digital do Google. Pior que isso: usa muita desinformação para confundir ainda mais o público e os anunciantes, como quando sugere que, no marketing digital, o conteúdo deixa de ser relevante. Oras, mas é exatamente o contrário disso! O conteúdo é essencial no processo, pois os algoritmos tentam vincular cada anúncio a um conteúdo semelhante a ele.

Claro que o site se coloca como a solução para o dilema, pois garantiria todo o conteúdo criado por ele e suas centenas de parceiros. Isso é uma falácia, pois o UOL não tem controle editorial sobre nenhum deles, nem pré-aprova o que publicarão. Logo, não pode garantir nada.

Isso me lembra um outro documento, publicado apenas um dia antes pela Folha de S.Paulo, principal acionista do mesmo UOL, em que se coloca como a solução para a crise de notícias falsas que as redes sociais vivem. Segundo a Folha, apenas o jornalismo profissional poderia garantir que tudo o que lemos é confiável e tolerante.

Seria verdade, se o tal jornalismo tradicional praticasse esses valores sempre. Desgraçadamente, vemos, dia após dia, veículos de comunicação tradicionais protagonizando vergonhosos exemplos de imprecisão e distorções causadas por interesses políticos e econômicos. A cobertura da “Operação Carne Fraca”, da Polícia Federal, foi um patético exemplo de como a imprensa profissional pode fazer um péssimo trabalho, desinformando todo o país.

Portanto, muito cuidado com aqueles que promovem soluções oportunistas em algo que estão perdendo feio de concorrentes que estão sob os holofotes no momento.

 

Para onde podemos correr?

É bom que fique claro que esse artigo não pretende defender o Google ou as demais empresas que distribuem grandes volumes de mídia digital de maneira automática, como o Facebook ou a AOL. A ideia aqui é apenas discutir os fatos e propor caminhos para essas empresas, anunciantes e cada um de nós, internautas.

Naturalmente Google e afins têm que dar seus pulos para tentar melhorar dois aspectos essenciais. O primeiro é melhorar os sistemas que varrem automaticamente conteúdos publicados em suas plataformas, como o YouTube, para banir aqueles que são inadequados. Sistemas semelhantes já existem para evitar, por exemplo, que sejam publicados conteúdos que violem direitos autorais, e eles são bastante eficientes.

A outra coisa que precisa ser feita é calibrar os algoritmos que associam os anúncios nele cadastrados a qualquer conteúdo, inclusive àqueles que não estão em suas plataformas (qualquer site pode exibir anúncios vendidos pelo Google e ser remunerado por isso). Dessa forma, o problema seria controlado nas suas duas pontas.

Como se pode ver, existem soluções. É improvável que essa crise se agrave ou mesmo se prolongue por muito tempo. Rapidamente os anunciantes que pularam fora do barco perceberão que esse modelo de publicidade digital é o mais eficiente para que tenham melhor retorno de suas campanhas, resultado de uma evolução contínua de 22 anos de mídia digital.

Portanto, não matemos a vaca para acabar com o carrapato! É claro que banners legítimos não devem ser usados para financiar o terrorismo ou qualquer outra iniciativa moral ou legalmente condenável. Ocorrências assim devem, portanto, ser combatidas, mas não acabando com uma plataforma que redefiniu o mundo da publicidade e do conteúdo, tornando-o um espaço muito mais democrático e eficiente.

Cada um de nós, como usuários, temos o poder e o dever de combater não apenas o mau conteúdo, mas também a má publicidade, que sempre existiram e sempre existirão. Para isso, as próprias plataformas oferecem recursos. Além disso, devemos cobrar que essas mesmas se empenhem para, de seu lado, criar mecanismos ainda mais eficientes para eliminar essas laranjas podres assim que surjam.

Só não podemos cair nessas conversinhas moles de quem está querendo só se promover em cima da crise, propondo uma volta a um passado. Um passado que os próprios usuários já enterraram.


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