Monthly Archives: outubro 2020

Temos que pagar pela verdade, mas nos dão a mentira de graça

By | Jornalismo | No Comments

Quem nunca tentou acessar um conteúdo de qualquer tipo e “bateu com a cara” em um paywall, aqueles sistemas que bloqueiam nosso acesso, a menos que paguemos por ele?

A justificativa –bastante razoável– é que produzir bom conteúdo custa dinheiro, o que é verdade. Logo, para se consumir aquilo, é preciso pagar.

O problema é que, em um mundo inundado de conteúdo gratuito, fica cada vez mais difícil convencer alguém a fazer uma assinatura ou mesmo pagar por um conteúdo individual. Como resultado, o usuário não só não paga, como deixa de aprender algo útil ali, o que teria sido bom para a marca do autor. Para piorar, a pessoa, no lugar disso, consumirá um conteúdo gratuito que pode ter uma qualidade pior, isso se não for deliberadamente mentira, como é o caso das fake news.

E aí, todo mundo perde, do produtor de bom conteúdo a toda a sociedade.


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A “cultura do grátis” não para de crescer e impacta cada vez mais setores da economia. Talvez o seu negócio já esteja sendo afetado por ela, e você ainda nem percebeu.

O fato é que, para se ter sucesso hoje em qualquer área, ter um bom produto é condição absolutamente necessária, mas longe de ser suficiente. Além disso, temos que ser relevantes para nosso público. Entender e se apropriar desse conceito é o que separa as empresas que fizeram sucesso no passado das que farão sucesso no futuro.

Temos que entender também que nosso concorrente não é mais apenas grandes empresas com quem disputamos o mercado há décadas. Pode ser um novo entrante com ideias inovadoras e uso criativo da tecnologia, e até um adolescente em seu quarto que cria algo incrível e que chama a atenção de nosso público. Por isso, temos que usar todos os recursos disponíveis para facilitar o acesso a nosso produto, e não dificultar isso. Possivelmente teremos que mudar nosso modelo de negócios e até em como vemos o que fazemos.

Isso está em toda parte: estou assistindo à série mais falada do momento, “Emily in Paris”, que estreou na Netflix no dia 2 de outubro. Apesar de estar carregada de clichês e estereótipos (que, aliás, enfureceram os franceses), sua história descompromissada pode ensinar algumas práticas inovadoras de marketing.

Por exemplo, em um dos episódios, a CEO de uma fabricante de cosméticos explica que não trabalha mais com agências de publicidade, apenas com influenciadores digitais. Ela pinta as agências como dinossauros em extinção, por serem “caras e ineficientes”. O que não quer dizer que qualquer influenciador seja bom: é preciso “separar o joio do trigo”, pinçando os bons profissionais daqueles que “trabalham em troca de batom” e não trazem bons resultados para a marca.

O fim dos dinossauros

Quer dizer então que as agências estão condenadas?

Claro que não! Quer dizer, as que estiverem dispostas a se modernizar alçarão novos voos. As que continuarem fazendo o trabalho como sempre fizeram realmente já se tornaram dinossauros e nada fará com que sobrevivam a médio prazo.

Estava falando anteriormente dos paywalls. Apesar de eles funcionarem bem em raríssimos casos, como o do “The New York Times”, eu sempre os considerei uma aberração, desde que se popularizaram, há uma década. Na prática, com eles, os veículos de comunicação mandam seu público embora, já que a maioria simplesmente não pagará pelo conteúdo. Assim, a empresa perde duas vezes, pois não consegue monetizar sua produção e ainda se torna cada vez menos relevante para a sociedade.

Ninguém paga por algo que não seja relevante para sua vida!

Mas a sociedade também perde, pois as pessoas começam a consumir conteúdos de qualidade cada vez mais duvidosa. Isso quando não são a mais completa porcaria! Esse é o terreno fértil para o florescimento das fake news.

E isso é tão verdade que o crescimento explosivo desse lixo, que nos é entregue sem nenhuma restrição, de graça e usando eficientemente os meios digitais, resultou nessa polarização extrema e irracional, que está destruindo a sociedade.

As empresas de comunicação têm, portanto, além dos concorrentes que citei há pouco, mais um, talvez o mais agressivo e perigoso de todos: a mentira! Afinal, os fatos e a verdade podem ser às vezes monótonos. E ainda se pede que as pessoas paguem por eles! Já a mentira e a versão enviesada são sempre suculentas. E gratuitas!

Não se pode trabalhar de graça, claro! E produzir um bom conteúdo, sim, custa muito dinheiro. Como resolver essa aparente contradição?

Certamente não é insistindo em modelos de negócios moribundos, como o binômio assinatura e publicidade. Também não adianta jogar a culpa no público, dizendo que as pessoas não leem mais ou que não pagam mais por conteúdo: isso é conversa de quem não quer fazer as mudanças necessárias, não quer sair da sua zona de conforto.

Talvez só não paguem pelo seu conteúdo, ou mais precisamente pela maneira como você quer cobrar por ele.

Nunca consumimos tanto conteúdo, como música, vídeo ou jornalismo. Mas forçar o velho modelo talvez não funcione mais.

Veja o caso da música: as pessoas não compram mais álbuns, como CDs. Esse era o modelo tradicional de remunerar a indústria fonográfica, mas ele foi destruído pela Apple, com o iPod e o iTunes, na virada do século, que permitiram que as pessoas passassem a comprar uma única faixa, com grande facilidade e qualidade, pagando centavos.

A Apple se transformou na maior vendedora de música do mundo e a indústria fonográfica tradicional praticamente quebrou. Mas –veja só– esse novo modelo também já não funciona mais! Hoje o vencedor é o do Spotify, em que as pessoas podem ouvir músicas de maneira ilimitada e de graça. Mas, ao pagar um pouquinho, você faz isso com recursos adicionais interessantes.

E aí as pessoas –muitas pessoas– pagam!

Os artistas precisam estar nessas plataformas, que lhes rendem muito pouco diretamente, mas que são essenciais para se manterem relevantes a seu público. A partir disso, eles podem ganhar dinheiro arrastando multidões para shows.

Novos jeitos de se monetizar

Aí reside outro grande ensinamento a partir das mudanças culturais do nosso tempo: talvez não consigamos mais ganhar tanto dinheiro COM o nosso produto principal, mas podemos ganhar “outros dinheiros” GRAÇAS a ele.

Os músicos, no exemplo acima, não ganham quase nada vendendo a música, mas podem ganhar muito graças a ela, em seus shows.

Isso pode estar acontecendo agora no seu negócio!

Nessa hora, o ego pode estar gritando de dor! E, em um primeiro momento, isso pode afetar severamente seu bolso. Mas é a verdade dos fatos! Aceite isso para colocar a mudança para trabalhar a seu favor, e não contra você.

Já que falamos tanto de empresas de comunicação, veja um exemplo recente da área.

Há duas semanas, a CNN Brasil anunciou uma nova unidade de negócios que organizará eventos corporativos para quem estiver disposto a pagar, algo que já existe na matriz americana.

Além da força da marca e da experiência nisso, a empresa também oferece diferenciais como uma ótima promoção do acontecimento e –o que é mais interessante– seus profissionais, alguns deles sendo grandes estrelas do jornalismo nacional, são escalados para trabalhar no evento. Cobrar por isso só é possível porque eles se mantêm relevantes junto a seu público, pela qualidade de seu produto e por ele chegar fácil às pessoas.

Vivemos em um mundo em que tudo está pulverizado. Ninguém mais consegue ter amplo domínio sobre coisa alguma.

Não dá para trabalhar de graça: jamais sugeriria isso! Mas temos que aprender a ganhar dinheiro de outras formas além das óbvias, das tradicionais. E nos mantermos relevantes a nosso público é absolutamente essencial para vencermos na realidade atual.

Não adiante mais o que achamos sobre nossas entregas, e sim o que o público acha. Se você confiar apenas no que gostaria que fosse verdade e não atender o que as pessoas acham relevante, acabará sendo “chutado” para fora do mercado.

E ninguém quer dar isso de graça, não é mesmo?

Me engana, que eu gosto!

By | Tecnologia | No Comments

Será que chegamos em um ponto em que o fim justifica os meios, qualquer meio? Vivemos em um mundo de aparências em que só se consegue vender algo “dourando a pílula” além do limite da responsabilidade?

Felizmente a resposta é não. Mas, se você, como eu, acredita ser possível vencer falando a verdade e fazendo o bem, precisa entender os mecanismos desse novo mundo, para não ser soterrado por ele.

Existe um ditado que diz que “à mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Isso talvez servisse na Roma Antiga. Na atualidade, esse conceito se transformou em outra coisa.

Agora, para muita gente, não é preciso ser honesto: basta parecer honesto. E as redes sociais depois legitimam qualquer pecado. O problema é que, com isso, estamos perdendo a capacidade de diferenciar verdade de ficção, ou simplesmente da mais deslavada mentira.


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Estou terminando de assistir à segunda temporada da série “The Boys”. Apesar de ser uma história de ficção, com pessoas comuns enfrentando seres superpoderosos, ela embute uma feroz crítica ao mundo real.

A princípio, seu roteiro se baseia em uma paródia de super-heróis da DC: eles têm suas versões do Super-Homem, do Batman, da Mulher Maravilha, do Flash, do Aquaman e muitos outros. Mas o que seria a Liga da Justiça, nesse universo é representado por uma empresa, chamada Vought, que agencia os tais personagens para faturar bilhões de dólares com a exploração de sua imagem. E os “supers”, de heróis, não têm nada: são indivíduos de fato incrivelmente poderosos, mas egoístas, extremamente violentos e narcisistas.

A opinião pública continua, entretanto, vendo esses personagens como maravilhosos, graças a uma cuidadosa estratégia de marketing, ações judiciais intimidatórias e um uso eficientíssimo das redes sociais.

E aí a coisa começa a se parecer a nossa realidade.

Hoje podemos vender qualquer coisa a qualquer um. É só apresentar isso do jeito que as pessoas desejam.

O pacote chega a ser mais importante que o produto!

Não por acaso, “pós-verdade” foi escolhida como a palavra do ano de 2016 pelo Dicionário Oxford. Pela sua definição, o termo é “relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais”. Em outras palavras, as pessoas hoje acreditam muito mais em uma historinha bem contada, que as emocione por reforçar o que elas acreditam ou desejam.

Os superseres de “The Boys” são muito mais supervilões que super-heróis. Entretanto, graças à construção cuidadosa de sua imagem, a população os vê como seus benfeitores e protetores.

Já percebe semelhanças com o nosso mundo atual?

O ódio vende mais que o amor?

A série também se apropria de outra profunda mudança cultural do nosso mundo, que é a manipulação do ódio das pessoas para se atingir objetivos individuais.

Na sua primeira temporada, observa-se como a Vought investe milhões de dólares para fazer com que a população ame seu produto, ou seja, seus heróis. É uma estratégia de massificação da idolatria para se vender todo tipo de coisa, de filmes no cinema a copos dos personagens.

Ou seja, o bom e velho marketing, mais velho que bom.

Na segunda temporada, uma nova superser aparece, muito mais “antenada” com a sociedade. Ela percebe que não é mais possível conquistar toda um povo, e que obter o amor e a admiração das massas é cada vez mais difícil e pouco produtivo. Ao invés disso, descobre que é muito mais eficiente manipular o ódio de uma parcela menor da sociedade.

Como ela explica, é muito melhor ter soldados que fãs, que cinco milhões de pessoas com raiva são mais eficientes para vender qualquer coisa que cinquenta milhões que amam. Ela entendeu que não vivemos mais no mundo da cultura de massas, e sim da “viralização”.

Percebe alguma relação com a nossa realidade?

Trazendo para um produto real, que é consumido anualmente por milhões de pessoas, temos o Big Brother. Quando o programa estreou, há 20 anos, ele era dramaticamente diferente do que é hoje. Existia uma inocência quase pueril dos participantes das primeiras edições. Ela contrasta com movimentos friamente calculados dos atuais personagens. Sim, porque o que os competidores das edições mais recentes mostram, na “casa mais vigiada do Brasil”, não é o que eles realmente são, e sim imagens construídas para manipular o público.

Aliás, um dos critérios mais importantes para a Globo selecionar quem entra na casa nos últimos anos é justamente a capacidade que o jogador tem de trabalhar seu público nas redes sociais. Isso ficou escancarado na edição desse ano.

Eu me pergunto até quando essa manipulação pela pós-verdade é sustentável.

Difícil dizer.

Por um lado, as pessoas dão sinal de que estão cansadas dessas “formulinhas de lançamento”, que ficam “empurrando qualquer porcaria” sempre do mesmo jeito. Esse modelo começa a dar sinais de desgaste. Mas normalmente quem usa essas fórmulas são amadores, pessoas que têm um produto (na melhor das hipóteses) mediano e capacidade de comunicação limitada.

Aqueles que realmente dominam a capacidade de “viralização” de suas ideias e produtos estão muito à frente disso. Esses não param de crescer, o que demonstra que seu formato continua entregando o que as pessoas desejam ouvir, ressoando na parte mais primitiva de seus cérebros, aquela que cuida, por exemplo, de sua autopreservação. E isso não apresenta nenhuma indicação de enfraquecimento.

A única exigência é o “produto” conseguir sustentar sua imagem e suas ideias, porque, quando “a máscara cai”, o prejuízo é devastador e normalmente não tem volta. Então é preciso manter, o tempo todo, seus “soldados” aquecidos. É necessário estar em constante estado de alerta para manter o personagem vivo e seus ideais ativos junto ao seu público.

Pessoas de bem

Mas o que fazer se você não é nada disso, se você não topa fazer esse jogo sujo, se você quer vencer na vida dizendo apenas a verdade?

A narrativa das redes e seus algoritmos de relevância parecem invencíveis e inevitáveis, por isso são tão sedutores. O grande desafio de profissionais e de empresas que querem vencer sem usar esses métodos sórdidos é encontrar o seu caminho nessa realidade, para usar esses recursos para atender seu público.

Em primeiro lugar, é preciso ser honesto consigo mesmo. Ter apenas um produto incrível pode não ser mais suficiente para se ter sucesso: é preciso que esse produto atenda a necessidades de seus clientes.

Você conhece mesmo seus clientes, sabe quais são seus desejos e seus medos?

As mesmas redes sociais podem ajudar incrivelmente no processo de descoberta disso. E estou aqui falando de usos éticos e legais dessas plataformas.

Com essa informação, podemos saber onde as pessoas colocam valor no que fazemos: pode ser surpreendente descobrir que é em algo que nunca havíamos pensado. Com isso, podemos atualizar o nosso produto e criar comunicações mais eficientes.

Não estou dizendo para “abraçar o diabo”, e sim para aprender a jogar o jogo!

Não espere que as pessoas comprem de você apenas pelos seus lindos olhos. Isso não vai acontecer!

Você pode ter um produto incrível e morrer na praia com ele! Não cometa esse erro! Conquiste pela sinceridade e pela qualidade, mas também por uma entrega alinhada a seus clientes e uma comunicação eficiente. Então pare de olhar tanto para si mesmo, e comece a olhar para quem realmente importa, que é o seu público.

Você consegue fazer isso?

O digital lhe tornará um gênio ou uma besta: você decide

By | Tecnologia | No Comments

A tecnologia está literalmente nos transformando, de maneiras que a maioria das pessoas sequer imagina! Mas nos converte em que: gênios ou bestas?

Incrivelmente, a decisão está em nossas mãos!

Tenho acompanhado o crescimento de desconfiança em relação ao meio digital, especialmente às redes sociais. Sistemas que nos rastreiam e coletam nossos dados continuamente, algoritmos de relevância que nos empurram goela abaixo todo tipo de informação e nos manipulam, incontáveis notificações que nos mantêm continuamente engajados, fake news, deef fake, filtros bolha… Tudo isso existe mesmo e chega a ser assustador!

Entretanto, ninguém deixará de usar as redes sociais, buscadores, smartphones e outros recursos do mundo digital, mesmo sabendo que esses sistemas estão o tempo inteiro nos rastreando e coletando informações de todo tipo sobre nós.


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Não temos como colocar o gênio de volta na lâmpada!

Os meios digitais nos garantem altas doses de dopamina enquanto os usamos! Nossas vidas ficaram muto mais fáceis e divertidas com todos esses sistemas. Pagamos com o nosso tempo e a nossa atenção aos anunciantes dessas plataformas.

Mas o buraco é mais embaixo.

A superexposição aos recursos digitais está nos provocando alterações até mesmo do ponto de vista fisiológico.

Em 2011, a pesquisadora em psicologia Betsy Sparrow realizou um estudo na Universidade Columbia (EUA), que identificou alterações em nosso cérebro pelo uso do Google e de outros buscadores. Ela concluiu que, graças a ele, nós passamos a memorizar muito menos informação.

O Google não quis criar isso. Mas acabou promovendo a mudança.

Responda a si mesmo: de quantas pessoas você sabe o número de telefone de cor? Provavelmente muito poucas, possivelmente menos que dez! Mas se eu lhe fizesse essa pergunta há 15 anos, você provavelmente saberia o telefone de muita gente e até de empresas.

O que aconteceu? Estamos ficando mais burros?

Não é nada disso! Acontece que nosso cérebro tem uma plasticidade incrível! Informações ou habilidades que ficam menos importantes para nossa vida abrem espaço nele para novos recursos, que estamos efetivamente usando.

A pesquisa de Sparrow demonstra que toda a informação que sabemos que pode ser facilmente encontrada (por exemplo na Internet) é eliminada de nossa memória. Em compensação, melhoramos nossa capacidade de encontrar pessoas, objetos e informações com os recursos que tivermos a nossa disposição. Ou seja, refinamos uma habilidade importantíssima, a de encontrar o que procuramos, mas memorizamos menos coisas.

Essa conclusão é muito importante para ajustarmos como levamos nossas vidas e até como aprendemos coisas novas.

A diferença entre informação e conhecimento

Não é de hoje que observo como os alunos já chegam na sala de aula com uma quantidade incrível de dados, que eles encontram na rede.

Como professor, se eu ficasse simplesmente passando informação, como os professores costumavam fazer (e infelizmente muitos ainda fazem), seria um enorme desperdício de tempo! Muito melhor é ajudar os alunos a juntar as informações que todo o grupo traz para o debate e construir um conhecimento novo e útil a partir disso.

Podemos também pensar no varejo, como exemplo. Hoje, quando o cliente vai a uma loja para comprar algo, muito provavelmente já pesquisou sobre aquele produto na Internet e talvez tenha mais informação sobre ele que o próprio vendedor. Se ele tentar convencer o consumidor simplesmente passando esses mesos dados, corre o risco de perder a venda. Precisa trazer algo novo e contextualizado para aquele cliente! E aí a tecnologia pode ser de grande ajuda, pois ele pode receber, em tempo real, muitas informações valiosas sobre a pessoa que estiver a sua frente, para que ele mostre como o produto a ajudará a satisfazer suas necessidades específicas, e não coisas genéricas.

Isso é bom não apenas para o varejista (porque vai aumentar suas vendas), mas também para o consumidor, que levará para casa um produto que realmente atende suas expectativas, e não qualquer outra coisa, resultado de uma compra ruim.

Infelizmente nem todos estão dispostos a usar esses recursos, essa informação, essa transformação de maneira positiva. Muitos, possivelmente a maioria da população, entrará “no modo automático” e se deixará levar pelos infames algoritmos das plataformas digitais.

E aí é para se ter medo mesmo! Pois essas pessoas já se tornaram massa de manobra de grupos políticos, ideológicos e econômicos. Na prática, terceirizaram seu senso crítico, sua habilidade de pensar criativa e construtivamente.

Esse é um dos maiores desafios dessa geração, pois os sistemas dessas plataformas estão cada vez mais eficientes, para que elas se tornem mais sedutoras. Por outro lado, a turma que quer manipular a população para atingir os seus objetivos –muitas vezes condenáveis– domina mais e mais esses recursos.

Temos que recuperar as rédeas de nossa vida, ou esse poder de transformação do meio digital pode nos converter em bestas, quando poderia nos tornar gênios!

No momento, o lado ruim de toda essa entrega tecnológica está ganhando. Você não precisa ir longe para comprovar isso. Basta olhar, nas redes sociais que você usa, o nível das publicações.

É assustador como elas são rasas e de uma mesmice atroz! Parece que, qualquer que seja o assunto, acabamos tendo apenas algo como meia dúzia de opiniões, que são replicadas indefinidamente pela massa.

Somos seres pensantes, e não gado! Aliás, essa é uma das coisas que mais nos diferenciam de todos os outros animais.

Entretanto, bem em linha com as transformações promovidas em nós pelo meio digital, aquela visão medíocre da vida que se vê nos posts nas redes sociais já invadiu o cotidiano das pessoas. Tudo que é profundo, que exige mais pensamento, perde espaço para aquilo que é mais que simples: simplório! As pessoas querem coisas cada vez mais fáceis, mais básicas, mais rápidas, mais baratas, para um consumo desenfreado e descartável, com as mesmas características.

Vejo isso na evolução da pós-graduação, com o crescimento dos cursos de curtíssima duração, com poucas horas, e o encolhimento da procura por cursos com mais de um ano, como especializações e MBAs. Que dizer então de mestrados e doutorados?

Não há nada de errado em se aprender uma habilidade específica para aplicá-la imediatamente no seu cotidiano. Mas, se estamos sempre reclamando que nosso país e o mundo estão ruins, precisamos colocar mais de nós mesmos para mudar essa situação. Temos que sair da zona de conforto! Temos que desafiar o status quo!

Temos que usar os recursos digitais para nos tornarmos pessoas melhores, e não o contrário!

O discurso, o diálogo, as entregas estão muito empobrecidos! As pessoas estão perdendo a sua capacidade de pensar, de criar, de se libertar! Se isso continuar, teremos, em breve, um futuro distópico em que poucos grupos terão ainda mais controle sobre toda a população.

Temos que usar a tecnologia para nos livrar disso, e não para nos levar a isso.

Quais serão os seus próximos passos com ela?

Já dá para voltar às salas de aula?

By | Educação | No Comments

Já dá para voltar para a escola ou é melhor continuar estudando em casa?

Um dos setores que enfrenta mais dúvidas para retomar suas atividades diante da pandemia de Covid-19 é a educação. De um lado, há o alto risco de contaminação de estudantes e de professores, que podem levar a doença para dentro de suas casas. Do outro, os inegáveis prejuízos no aprendizado e até na formação dos alunos, especialmente entre os mais jovens. Há também a pressão de escolas particulares pela reabertura, temendo que ainda mais clientes cancelem suas matrículas.

Em paralelo, corre outra discussão: a tecnologia dá conta de suprir as demandas de aprendizagem, para que as aulas em casa sejam eficientes?


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No meio de toda essa indefinição, muitas cidades reabriram suas escolas públicas e privadas já há várias semanas, enquanto outras ainda resistem. É o caso da maior cidade do país, São Paulo, que autorizou a volta apenas de alunos do Ensino Superior no dia 7 de outubro. Os Ensinos Infantil, Fundamental e Médio voltam nesse dia apenas com atividades extracurriculares opcionais.

Aula mesmo, ainda não se sabe quando. No dia 3 de novembro, será apresentada uma nova posição do município, com base na evolução da pandemia.

E se não voltar?

A tecnologia desponta em um papel central para solucionar esse problema. Mas, como tudo nessa vida, há um jeito certo e um jeito errado de se usar esse recurso.

Algumas coisas precisam ser levadas em consideração, e muitas delas vêm antes da própria tecnologia. A primeira é que a dificuldade de um aluno se concentrar em uma aula online é tão maior, quanto mais jovem ele for.

O ensino à distância pode ser excelente, mas exige muita dedicação do estudante. Por isso, ele tende a funcionar muito bem para o Ensino Superior, e mal para os Ensinos Infantil e Fundamental. As crianças normalmente se dispersam das atividades na tela, o que tem exigido muito de pais e mães para acompanhá-los nas aulas. E, depois de sete meses de distanciamento social, muitos desistiram dessa tarefa.

Além disso, a maioria dos alunos, incluindo muito de escolas particulares, não tem a infraestrutura necessária para estudar em casa. Falta uma boa conexão de Internet, para começar. Ela precisa ter uma boa velocidade e não ser limitada. Mas a maioria dos domicílios brasileiros não tem isso, com a Internet restrita aos planos para smartphones, que são lentos e com uma franquia de dados que acaba rapidamente. Sem falar que muitos simplesmente não têm conexão alguma.

Algumas instituições estão dando chips de celular com plano de dados para estudantes de baixa renda, o que é uma iniciativa muito bem-vinda. Mas infelizmente isso é um privilégio para poucos.

Vale dizer também que a experiência de aprendizagem fica muito melhor em uma tela grande, como a de um tablet e principalmente a de um computador. Só que, segundo o relatório PNAD Contínua do IBGE, apenas 48,1% dos domicílios brasileiros com Internet tinham um computador em 2018. E essa porcentagem vem caindo: em 2017, eram 52,4%. O uso dos tablets também diminuiu: de 15,5% em 2017 para 13,4% em 2018. Já os smartphones crescem, passando de 98,7% dos domicílios em 2017 para 99,2% em 2018. Ou seja, praticamente todos os domicílios brasileiros com Internet têm celulares, sendo que, em 45,5% dos casos, é a única forma de conexão.

Mas calma: nem tudo são notícias ruins!

Quando e como a tecnologia ajuda

Apesar de todas essas dificuldades, coisas muito interessantes surgiram desse processo de transformação digital acelerado.

Sou especializado na criação de conteúdo digital e acompanho a evolução do mercado de educação à distância há 15 anos e de mídia digital desde seu dia zero, há 25 anos. Desde o início da pandemia, em março, ministrei cerca de 350 horas de aulas em salas digitais, e cerca de 30 horas de palestras também online. E os resultados têm sido muito bons!

Por que dá certo para alguns e errado para outros?

Temos que entender que o meio digital pode ser uma ferramenta incrível, mas ela nunca pode substituir os conceitos básicos de uma boa educação e nem o professor. Por exemplo, a aula que eu dou online é a mesma que eu ministro presencialmente: nenhum conteúdo fica de fora!

Por mais que as íntegras das aulas sejam gravadas, elas são dadas ao vivo, e os alunos participam na hora marcada da aula, pois a sua experiência fica muito melhor assim. Os alunos fazem suas perguntas e debatem livremente, por voz, exatamente como em uma sala de aula presencial.

Aliás, a quantidade de alunos por sala também é a mesma de um curso no prédio da escola, limitado a 30, no máximo 40 alunos. Isso me permite conhecer cada um deles! Se tiver mais gente, abre-se uma nova turma, com horário próprio. Como as gravações incluem todas as interações com os alunos, elas só servem para aquela turma, não sendo reaproveitadas para outras.

É a mesma experiência que teríamos se estivéssemos em sala de aula? Claro que não! Eu mesmo sinto falta de estar na sala com meus alunos. Sou uma pessoa cinestésica e sei das perdas.

Por outro lado, sei também que há ganhos, muitos associados à vida moderna. Por exemplo, não é necessário gastar um tempo enorme no trânsito para se chegar à escola. Aliás, se não for possível chegar na hora, não tem problema: a aula não será perdida, pois ela fica gravada.

Além disso, meus alunos agora não ficam restritos a São Paulo. Nesse período, cheguei a ter uma aluna que assistia às aulas ao vivo de Dubai (Emirados Árabes Unidos), mesmo estando cinco horas a nossa frente. Ou seja, ela ficava, por iniciativa própria, acordada de madrugada para participar ao vivo das aulas, que aconteciam das 19h às 22h (hora de Brasília). Sem falar de muitos alunos do interior de São Paulo e de muitos Estados brasileiros, que agora podem se matricular nos cursos.

Posso garantir que todos os objetivos de aprendizagem são atingidos nessas aulas à distância. Os alunos aprendem tudo que aprenderiam presencialmente.

Muitas coisas são necessárias para esse sucesso. Primeiramente, os alunos são todos adultos. Portanto, eles estão assistindo aula porque querem, e estão pagando por isso. Eles têm a disciplina para cumprir as exigências do curso.

Além disso, eu tenho o privilégio de ministrar aulas em instituições sérias que se preocupam com a qualidade do ensino. E aqui cito nominalmente a PUC de São Paulo, a Universidade Presbiteriana Mackenzie e a ESPM, onde estou dando aulas nesse período de pandemia. Todas elas proporcionaram o que eu disse acima. Ofereceram a estrutura necessária para a viabilização dos cursos e respeitaram alunos e professores nesse momento de transformação.

Por outro lado, vejo com muita tristeza outras instituições, que não vou citar seus nomes aqui, fazendo mudanças inaceitáveis! Por exemplo, salas de aula que antes tinham 30 alunos agora passam a ter 500! Elas agrupam todas as turmas de uma mesma disciplina, de diferentes campi, às vezes de diferentes cursos, colocando todo mundo em um “saco” só, com um único professor. E daí dispensaram os professores que “sobraram”.

Que atenção esses professores podem dar aos 500 alunos? Que interação pode acontecer nessas aulas?

Há casos de professores que foram demitidos por um pop-up que apareceu em sua tela, quando tentaram entrar na plataforma da universidade para dar uma aula. Há ainda casos de provas dissertativas sendo corrigidas por robôs. A despeito dos avanços da inteligência artificial, qual a garantia que os alunos têm de uma avaliação justa nesses casos?

Que nível de ensino essas instituições estão oferecendo a seus alunos? E que falta de respeito com seus profissionais é essa? Isso é obsceno, e essas escolas deveriam se envergonhar por se dizer instituições de ensino.

A educação é essencial para que o Brasil avance! Muitos dos problemas de nossa sociedade seriam resolvidos se tivéssemos uma população mais bem educada, no sentido amplo da palavra.

A tecnologia é uma ferramenta magnífica para melhorarmos a educação. Mas ela deve ser usada exatamente para isso: para melhorar a educação, e não para piorar a experiência de alunos e de professoras.

Por isso, escolha bem onde você vai estudar. E estude!