No dia 6 de julho, a Nintendo e a Niantic lançaram Pokémon GO, um jogo de realidade aumentada que virou um fenômeno instantâneo. Mas as aplicações dessa tecnologia vão muito além dos games: diversos negócios podem alçar voos mais altos com ela. E já é possível ganhar muito dinheiro ou fazer belas economias com investimentos mínimos, ao alcance de qualquer um.
Muita gente acha que é coisa de ficção científica ou que funciona apenas para grandes corporações. Mas a verdade é que não é preciso ser o Tony Stark para aproveitá-la: indústria, varejo e diferentes serviços de qualquer porte, como escolas e até um salão de cabeleireiros, podem usar a realidade aumentada agora. Basta pensar criativamente e lançar mão de algum dos diversos aplicativos gratuitos disponíveis no mercado.
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O vídeo acima traz exemplos de todas as aplicações mencionadas no texto
Para quem não sabe do que se trata, realidade aumentada é um conjunto de tecnologias que permite que elementos que só existem no mundo digital sejam projetados no mundo real. Mais que isso: é possível manipular esses objetos como se eles fossem reais e estivessem de fato no ambiente. O conceito não é novo. Alguns experimentos nessa área já eram feitos nos anos 1970. Mas não há dúvida que ela ficou incrivelmente mais poderosa e disseminada com a popularização dos smartphones, que puseram, na mão de qualquer pessoa, um computador com grande poder de processamento, permanentemente online e com recursos de geolocalização.
Ela não deve ser confundida com outra “realidade” que também está ficando bastante popular: a realidade virtual, aquela dos Oculus Rift. Nesse caso, o usuário é “transportado” para um ambiente digital bastante imersivo, que faz com que ele se sinta em uma outra situação. Já na realidade aumentada, isso acontece exatamente onde a pessoa está, e isso a torna tão interessante para qualquer empresa.
Mas, afinal, como essa coisa pode ajudar o seu negócio?
Varejo e indústria
Se você vende qualquer coisa, a resposta é muito simples: permitindo que o consumidor veja o produto em detalhes e por todos os ângulos. Como consultor de e-commerce, posso afirmar que a impossibilidade para se experimentar o produto é uma grande barreira para as vendas online.
Muitos poderiam argumentar que bastaria colocar um modelo tridimensional no seu site para resolver esse problema. Isso é parcialmente verdade: um modelo desses realmente permitiria ao potencial comprador olhar o produto (por exemplo, um tênis) por todos os lados. Já seria uma grande ajuda, porém os e-commerces não fazem nem isso. Mas e se a pessoa estiver comprando um novo sofá, uma mesa ou uma TV? Como eles ficariam na SUA sala? Ficariam bonitos? Combinariam com o resto da mobília? Encaixaria naquele espaço? São perguntas que pedem que a TV, a mesa, o sofá estejam na casa do cliente, ainda que virtualmente. A realidade aumentada pode responder isso, projetando esses produtos em tamanho real e tridimensionalmente onde eles ficarão na casa do cliente.
Outra aplicação bastante evidente no varejo é o teste de um mostrador em um ponto de venda. Ele chamaria a atenção do consumidor? Qual o melhor lugar da loja para ele ficar? Ele cabe naquele espacinho? Com a realidade aumentada, não é preciso criar modelos caros para testar tudo isso: basta um modelo digital e alguém com um tablet posicionando-o na loja. Como se ele realmente estivesse lá! No caso de uma rede de lojas espalhadas pelo país, a economia é ainda maior, pois, além de não ser mais necessária a produção dos modelos, tampouco é preciso transportá-los a cada um dos pontos de venda a serem testados.
Na indústria os ganhos também podem ser enormes. Tomemos como exemplo os projetos de um novo produto ou a alteração de algo já existente. A realidade aumentada pode simular, por exemplo, o impacto de uma nova peça no produto. Além disso, equipes distribuídas em cidades diferentes podem não apenas participar de reuniões virtuais como se estivessem em um mesmo local, como manipular objetos digitais simultaneamente, colocado “sobre a mesa” de todos os participantes.
Médicos, cabeleireiros e professores
A medicina também tem feito grande uso dessa tecnologia. Médicos ganham “visão de raio-X” em cirurgias, conseguindo ver os órgãos de seus pacientes graças a óculos ou telas que os projetam sobre a pele, tornando os procedimentos muito mais assertivos.
Mencionamos no início do artigo o caso de cabeleireiros. Seus clientes ficariam muito mais felizes se pudessem ver, em tempo real e tridimensionalmente, como ficaria seu novo corte no próprio cabelo. Isso antes que qualquer fio fosse tocado.
Há ainda a educação, uma área que pode atingir um nível novo e incrível com a realidade aumentada. Afinal, muito do que se aprende em sala de aula é essencialmente abstrato. Por exemplo, como os átomos se conectam em uma ligação covalente? Mais que isso: quantos átomos são necessários para se formar uma molécula específica? Todo aluno do Ensino Médio estuda isso, porém de maneira teórica. Mas o aprendizado seria mais eficiente (e divertido) se ele pudesse, de alguma maneira, manipular os átomos com as próprias mãos e visse o compartilhamento dos elétrons acontecendo diante de seus olhos.
A realidade aumentada também pode ser útil para que os estudantes se apropriem do espaço em que vivem, como seu bairro ou cidade, com atividades pedagógicas. A fundação holandesa Waag vem realizando coisas incríveis nesse sentido! Um incrível exemplo é o game Frequency 1550, que nem é tão novo, mas faz com que alunos do Ensino Médio de Amsterdã saiam para as ruas com seus smartphones para realizar tarefas associadas ao conhecimento histórico da cidade. Funcionando como uma gincana, diferentes equipes de estudantes têm que ir até pontos específicos da cidade para realizar tarefas. Um detalhe interessante: na tela dos aparelhos, os alunos veem um mapa da Amsterdã medieval, e a localização de cada um é exibida no mapa em tempo real. Em determinados pontos da cidade, os alunos podem colocar os aparelhos na vertical para ver ilustrações medievais daquele mesmo local. Todas as tarefas acadêmicas são realizadas e enviadas pelos próprios smartphones. Outros games semelhantes, como The Island, colocam alunos de países diferentes em contato (nesse caso, Holanda e Estados Unidos).
Dá vontade de voltar aos bancos escolares para aprender dessa forma!
Como participar de tudo isso?
Criar uma aplicação como Pokémon GO não é para qualquer um. Mas a realidade aumentada hoje está ao alcance de todos. Para isso, existem diversas aplicações e serviços, muitas delas gratuitas.
Algumas delas dispensam qualquer programação, oferecendo um ambiente de fácil operação, que torna o processo tão simples quanto montar uma apresentação. Entre os melhores exemplos dessa categoria, estão o Augment e o Aurasma. Outros, como o LayAR, trazem também recursos para programadores.
Para essa turma que sabe como polir os bits e criar aplicações inteiras, várias plataformas oferecem tudo para introduzir poderosos recursos de realidade aumentada nos seus produtos. Entre elas, destacam-se o Vuforia, o WikiTude, o Kudan AR e o ARToolKit.
O interessante disso tudo é que se pode ir tão longe quanto se queira na oferta de realidade aumentada, e um bom resultado depende muito mais de um uso criativo de suas potencialidades que o domínio de ferramentas de programação. Os ganhos podem ser surpreendentemente bons. Claro que eles são proporcionais ao tamanho do seu negócio e do investimento que fizer.
Vejamos o caso do Pokémon GO, mencionado no primeiro parágrafo. Apesar de, no momento em que este artigo está sendo escrito, ainda estar disponível apenas nos EUA, Reino Unido, Alemanha, Austrália e Nova Zelândia, o game surpreendeu a Niantic e a Nintendo. Em apenas cinco dias, teve 7,5 milhões de downloads, e já está sendo executado em mais de 3% dos smartphones Android do mundo, superando o Tinder (2%) e encostando no Twitter (3,5%).
Os desenvolvedores estão correndo para aumentar a potência de seus servidores, que estão abrindo o bico diante de tantos acessos. E isso significa muito dinheiro entrando: apesar do game ser gratuito, ele permite que os jogadores comprem itens para facilitar sua vida no game. Essas microtransações renderam US$ 14 milhões na primeira semana. Além disso, as ações da Nintendo dispararam, acrescentando US$ 9 bilhões ao valor da empresa.
Mas se usar a realidade aumentada é relativamente simples, por que então não a temos espalhada por milhares de negócios em toda parte? Na verdade, do pouco que se vê, a maioria a maioria é composta de uns experimentos bem toscos e de utilidade duvidosa.
Isso acontece por pouco conhecimento das possibilidades ou por achar que “é areia demais para seu caminhãozinho”. E principalmente falta de criatividade para sair do básico de se colocar uma animação 3D no lugar de uma imagem plana. Isso é divertido, mas dá para fazer muito mais com as mesmas ferramentas! A criatividade é a chave: nem é preciso desenvolver nada para ganhar com essa tecnologia.
Por exemplo, uma pizzaria de Long Island (EUA) está usando um recurso que pode ser comprado no Pokémon GO para atrair clientes. O proprietário paga, com um smartphone que fica no estabelecimento, para que temporariamente um grupo de pokémons virtuais sejam atraídos para o aparelho. Junto com os monstrinhos, um monte de gente vai até a pizzaria para capturá-los. E algumas dessas pessoas podem decidir comer uma pizza.
Então, a criatividade é o que manda! A realidade aumentada pode ajudar qualquer negócio, de maneiras simples ou elaboradas. Felizes aqueles que conseguiremos pular nesse “cenário de negócios aumentado”.
Vá pegar o seu!
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